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* Linfadenopatia Febril Prof. Alexandre Vargas Schwarzbold Universidade Federal de Santa Maria Curso de Medicina Departamento de Clínica Médica Disciplina de Doenças Infecciosas * CASO CLÍNICO (01/09) ID: JVJB, 1 ano e 7 meses de idade, DN: 21/01/05, procedente de São Paulo-SP; QP: Diminuição da diurese há 1 semana; HDA: Criança encaminhada com diminuição da diurese e anúria há 1 dia. Hoje urinou 3 x pela manhã. Aceitando a dieta, evacuando normalmente, nega febre. ANT: Filho único, cesárea, P=3810g, vacinação em dia, avô e tia maternos com DM. * Exame Físico Geral: BEG, hidratado, palidez cutânea (2+/4+), afebril, linfonodos cervicais bilaterais 2x2 cm, indolores e móveis, eupnéico, normocárdico; ORO/OTO: não permitidos pela criança; ACV: RCR em 2T, BNF, s/ sopros, FC: 96 bpm; AR: MVF+, s/ RA; ABD: globoso, RHA+, flácido, aparentemente indolor, fígado a 6 cm do RCD e baço a 4 cm do RCE; EXT: sem alterações. * Exames Complementares Hemograma: leu 21600 (8-Ø-39-3) com 50% de linfócitos atípicos; HG: 9,1; HT: 32%; Bioquímica: uréia: 18; creat: 0,7; Na: 137 K: 4; Cl: 102; LDH: 1403; PT e frações: PT=6,6; alb=3,7; glob=2,9; EQU: dens.:1020; pH: 6; muco: +; flora bact.: +; Hemograma: GB 25.500 (metamielócitos com linfócitos atípicos); Hg: 8,6; HT: 29%; plaq.: 216000; * Exames Complementares USG abdome : Leve a moderada hepatoesplenomegalia com fígado e baço apresentando contornos livres e textura homogênea. Bioquímica: uréia: 24; creat.:0,4; LDH:1825; EQU: dens.: 1020; pH: 5,5; CED raras; leu raros; hemácias raras; muco +; flora +; Hemograma: leu 9900 (38-2-48-1-6-1) com 4% de linfócitos atípicos; Hg: 8,9; HT: 29,7%; plaq.: 522000. * Evolução Encaminhado a Hematologia onde ficou internado para investigação; Em 06/09 apresentou febre de 38°, foi instituída cefalexina e a criança foi encaminhada à DI; * Evolução Em 07/09 a antibioticoterapia foi suspensa e a criança apresentou tosse e vômitos, com MV rude e roncos, sendo prescrito nebulização e prednisolona; Em 11/09 encontrava-se bem, porém pálido (3+/4+), sendo solicitado hemograma; Alta dia 12/09 com sulfato ferroso. * Diagnóstico Sindrômico Linfadenopatia cervical + Hepatoesplenomegalia febril a esclarecer. * Como descrever um linfonodo palpável? Localização: por exemplo - supraclavicular, inguinal, occipital. Tamanho: estimar em centímetros. Até 1cm (mesmo palpável) – raramente maligno. Consistência: elástica, fibroelástica, pétrea. Mais endurecidos – maior chance de malignidade. Mobilidade: a imobilidade deve-se à aderência a planos profundos, achado freqüente mente associado a neoplasia maligna. Dor: indica crescimento rápido com distensão capsular. Assim, as causas infecciosas e inflamatórias são as mais associadas ao achado de um linfonodo doloroso. Presença de fístula cutânea: adenite tuberculosa (escrófula), paracoccidioidomicose, doença da arranhadura do gato. Tempo de evolução: aguda (dias), subaguda (semanas), crônica (meses). * * SUGESTÕES Linfadenopatia + esplenomegalia = doença sistêmica (mononucleose infecciosa, linfoma, leucemia aguda ou crônica, LES, sarcoidose, toxoplasmose, doença da arranhadura do gato) * Quando Biopsiar? Indicações Tamanho: maior que 2 cm Localização supraclavicular e escalênica Persistência por mais de 4 a 6 semanas Crescimento progressivo Aderência a planos profundos * Hipóteses Diagnósticas Leucemia Linfocítica Aguda; Linfoma; Calazar; Síndromes mononucleose-símile; Mononucleose infecciosa clássica; Paracoccidioidomicose; Doença da Arranhadura do Gato Tuberculose. * Leucemia Linfocítica Aguda Doença clonal aguda, com proliferação desordenada de uma única célula progenitora com habilidade de se expandir indefinidamente; Representa 75% das leucemias em idade pediátrica; Pico inicial de incidência entre 3 e 5 anos, com discreto predomínio no sexo masculino; Quadro clínico: febre, hepatomegalia, adenomegalia, esplenomegalia, palidez, astenia, sangramentos e dores ósseas; Diagnóstico: mielograma com mais de 25% de blastos; usuario - > 5% de blastos no mielograma já é indicativo de LLA; Pode ocorrer das células leucêmicas serem confundidas com linfócitos atípicos, o que prejudica o diagnóstico. * Leucemia Linfocítica Aguda Tratamento → 3 anos, com 4 fases: 1ª. Indução de remissão (glicocorticóides, vincristina, asparaginase e daunomicina); 2ª. Consolidação (metotrexato, citarabina epipodofilotoxinas ou asparaginase); 3ª. Manutenção (metotrexato e 6-mercaptopurina, com pulsos periódicos de corticóides e vincristina); 4ª. Tratamento e profilaxia de envolvimento do SNC (aplicações intratecais de metotrexato/ citarabina e dexametasona). usuario - Fase 1: objetiva a remissão completa da doença, com restauração da hematopoiese; Fase 2: tto intensivo, para evitar o surgimento de clones resistentes a drogas; Fase 3: o tto é prolongado (3 anos) pois há evidencia que tto mais curtos implicam em maiores taxas de remissão; Fase 4: radiação também pode ser utilizada, mas devido aos seus efeitos colaterais no SNC, é realizada apenas em pacientes com alto índice de recaída. Citarabina: antimitótico, inibe DNA polimerase; Vincristina: antimitótico, inibe a formação dos microtúbulos do fuso mitótico; Asparaginase: enzima que impede a utilização de aminoácido pela célula neoplásica; usuario - 4ª fase: também chamada de intensificação tardia em adultos, é etapa opcional, realizada principalmente em homens, pela possibilidade da persistência de células leucêmicas nos testículos e SNC. * Linfomas Não-Hodgkin Desorganização proliferativa maligna dos linfócitos e/ou do sistema macrofágico; Acometimento sistêmico; Responsáveis por 10% das neoplasias pediátricas; Mais comum no sexo masculino (2:1 a 3:1); Pico de incidência entre 4 e 11 anos; * Linfomas Não-Hodgkin Acometimento extraganglionar: 1°. Abdominal: grandes massas intraperitoneais de crescimento rápido, vômitos, obstipação ou diarréia, ascite, hepatoesplenomegalia, febre, anemia, edema; 2°. Mediastino: sintomas de obstrução de estruturas respiratórias, distúrbios por compressão de grandes vasos, derrame pleural e infiltração de medula óssea; 3°. Cabeça e pescoço: acometimento de seios da face, anel de Waldeyer e gândlios cervicais; 4°. Outras localizações (ossos, pele, tireóide, rins...); * Linfomas Não-Hodgkin Diagnóstico: mielograma (células neoplásicas), biópsia e exames de imagem; Tratamento: quimioterapia e radioterapia (descompressão rápida). * Linfomas Hodgkin Doença do sistema linfóide com aumento progressivo dos linfonodos e considerada unicêntrica na origem; Predomina no sexo masculino e entre 10 a 15 anos (rara em < 3 anos); Associado a infecção prévia por Epstein-Barr; Quadro clínico: linfadenomegalia cervical ou supraclavicular de crescimento lento, indolor, sem sinais infecciosos de vias respiratórias altas, com febre, perda de peso e suodorese noturna. * Linfomas Hodgkin Acometimento abdominal, de mediastino ou de retroperitônio: sintomas gastrintestinais, esplenomegalia, tosse, dispnéia, disfagia, sintomas urinários. Diagnóstico: análise histopatológica (presença obrigatória de células de Reed-Sternberg); Tratamento: radioterapia (padrão-ouro) e quimioterapia. * Calazar Doença com acometimento visceral causada pela Leishmania donavani; Maior prevalência entre 1 e 4 anos (áreas endêmicas); Discreta prevalência no sexo masculino; Quadro clínico variável: anemia, perda de peso, linfadenomegalia, febre, hepatoesplenomegalia, manifestações hemorrágicas, etc; Diagnóstico: clínico e isolamento do parasita; Tratamento: Glucantime, Anfotericina B. usuario - Diagnóstico clínico para início do tratamento; Isolamento do parasita por mielograma, mielocultura, aspirado de baço e biópsia de fígado. usuario - glucantime: 20 mg/kg/dia, por 20 dias, podendo ser utilizado por mais 2 semanas dependendo do quadro clínico; Anfotericina B: 0,5 a 1 mg/kg/dia, em infusão lenta, dose máxima acumulada de 15 a 20 mg/kg. usuario - Manifestações pulmonares e entéricas, astenia, anorexia também são comuns. * Síndromes Mononucleose-símile Causadas principalmente por alguns vírus do grupo dos herpesvírus e pelo Toxoplasma gondii; Existem mais de 40 vírus neste grupo, sendo que 8 causam infecção no homem: citomegalovírus, Epstein-Barr, herpesvírus simples tipo 1 e 2, hespesvírus tipos 6 e 7; Destes, CMV, Epstein-Barr e herpesvírus tipo 6 causam manifestações clínicas mono-like. usuario - Herpesvírus simples tipo 1: gengivoestomatite na primo-infecção; Herpesvírus simples tipo 2: é o herpes genital, na maioria das vezes; Herpesvírus tipo 7: lesões do trato respiratório alto e quadros semelhantes com o exantema súbito na infância. * Síndromes Mononucleose-símile Citomegalovírus: Transmitido por secreções humanas; em crianças, secreções respiratórias; Infecção congênita: geralmente assintomática. Forma grave: icterícia, hepatoesplenomegalia, petéquias, microcefalia, coriorretinite, calcificações cerebrais, anemia hemolítica, pneumonite intersticial; Infecção adquirida: maioria assintomática, febre prolongada, astenia e hepato e/ou esplenomegalia. Linfadenopatia e exudato de amígdalas só ocorrem no adulto; usuario - Forma grave da infecção congênita, também chamada de doença da inclusão citomegálica, ocorre em apenas 10% dos RN infectados, porém deixa sequelas na grande maioria das vezes, como surdez, cegueira, retardo menta e paralisia flácida ou espástica. * Síndromes Mononucleose-símile Citomegalovírus: Diagnóstico: demonstração de células grandes com inclusões intracelulares, isolamento do CMV em culturas, anticorpos IgG específicos, PCR. Tratamento: sintomáticos e em caso de infecção congênita grave ou em imunodeprimidos, antivirais como o ganciclovir. usuario - Os antivirais têm eficácia baixa a moderada nas infecções congênitas, pois logo após a retirada da medicação os RN retornam a apresentar viremia. usuario - Encontram-se células com inclusões citomegálicas em fragmentos de tecidos como fígado, rins e pulmões, no sedimento urinário e no lavado gástrico; este método, porém apresenta alto n° de falsos-negativos. * Síndromes Mononucleose-símile Herpesvírus tipo 6: Primo-infecção: febre alta, adenomegalia e exantema macular após a resolução da febre. Existem relatos de encefalites; Diagnóstico: isolamento do vírus de linfócitos do sangue periférico e anticorpos específicos; Tratamento: sintomáticos. * Síndromes Mononucleose-símile Toxoplasmose: Doença de alta infecciosidade e baixa patogenicidade; “Doença das mil faces”: linfadenopatia febril com acometimento do estado geral, hepatoesplenomegalia e linfocitose com forma atípicas. A formas exantemática é pouco comum. Formas raras: miosítica, encefalítica, “gripe-símile”; * Síndromes Mononucleose-símile Toxoplasmose: Diagnóstico: imunofluorescência (teste confirmatório), ELISA, hematoaglutinação, isolamento do protozoário, PCR, tomografia computadorizada e ressonância magnética (encefalite); Tratamento: sintomáticos; nos casos prolongados, em imunocomprometidos e nas infecções congênitas utiliza-se pirimetamina e o trimetropim, sulfadiazina, clindamicina e ác. folínico. Dapsona também é usada. usuario - Ácido folínico é usado para evitar a mielotoxicidade da pirimetamina. * Mononucleose Infecciosa Clássica Também chamada de “febre ganglionar” ou “doença do beijo”, é uma doença aguda infecciosa, de baixa mortalidade e letalidade, causada pelo vírus Epstein-Barr; Está associada com o nível sócio-econômico; Quadro clínico polimorfo: mal-estar geral, astenia, febre, cefaléia, linfadenomegalia cervical indolor e móvel, faringoamigdalite com exudato acinzentado, dor abdominal, hepatoesplenomegalia, exantema, sinal de Hoagland; usuario - Esplenomegalia mais acentuada que a hepatomegalia; Exantema ocorre em 80% dos pacientes com MI que recebem penicilinas; Sinal de Hoagland: edema bipalpebral; Linfadenopatia pode ocorrer de forma generalizada, também. * Mononucleose Infecciosa Clássica Diagnóstico: hemograma → leucocitose (10.000 a 20.000), linfocitose com linfócitos atípicos (>10%), anemia, moderada trombocitopenia; Função hepática → aumento discreto das transaminases e da fosfatase alcalina, hiperuricemia; Sorologias → anticorpos heterófilos e anticorpos antivírus Epstein-Barr; Isolamento do vírus → cultura de saliva ou de céls sanguíneas mononucleares, PCR. * Mononucleose Infecciosa Clássica Tratamento: Repouso relativo no leito por 3 semanas (risco de ruptura esplênica); Em caso de grave comprometimento hepático, tratar como hepatite aguda; Corticosteróides → anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica de rápida evolução, obstrução de vias aéreas; Antibióticos: uso controverso, parece haver melhora na faringoamigdalite da MI; Aciclovir: Não altera a duração dos sintomas; Interferon gama: resultados benéficos, devendo ser utilizado nos casos graves. * Paracoccidioidomicose Doença sistêmica de caráter crônico ou subagudo, causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis ; P. brasiliensis habita solos úmidos com clima temperado; Rara em crianças, predomina em homens entre 30 a 60 anos; Infecção por inalação; Formas juvenil e crônica; * Paracoccidioidomicose Forma juvenil: evolução rápida, perda de peso, linfadenomegalia, manifestações digestivas, hepatoesplenomegalia, envolvimento osteoarticular e lesões cutâneas; Forma crônica: ocorre em 90% dos casos, progressão lenta, manifestações pulmonares, febre, perda de peso. Diagnóstico: biópsia; Tratamento: anfotericina B, itraconazol, sulfametoxazol + trimetropina. * Doença da Arranhadura do Gato Também chamada de bartonelose, manifesta-se com linfadenopatia regional e dolorosa, de evolução subaguda (semanas) após uma arranhadura ou mordida de gato. Em alguns poucos casos, ocorre linfadenopatia generalizada. É causada pela bactéria Bartonella henselae, que está comumente presente em gatos infestados por pulgas. Cerca de 3 a 5 dias após a arranhadura, surge uma pápula, que evolui para pústula e então crosta, associada a adenopatia localizada, dolorosa, que eventualmente supura, nos linfonodos responsáveis pela drenagem da região arranhada. * Doença da Arranhadura do Gato Caso a doença não seja identificada e tratada, a adenopatia pode persistir por meses. Encefalite, meningite, hepatite e infecção disseminada são formas raras. * Tuberculose Ganglionar Superficial Também chamada de Escrofulose; Forma mais comum da tuberculose extrapulmonar; Quadro clínico: linfadenomegalia (tonsilares e submandibulares) de crescimento lento, inicialmente indolores e livres, evoluindo com coalescência e flutuação, podendo fistulizar, e febre baixa; Diagnóstico: punção aspirativa → histopatológico - granuloma (baciloscopia negativa). usuario - Na criança a TB geralmente é paucibacilar, sendo o diagnóstico presuntivo com base na epidemiologia e na clínica. * Tuberculose Miliar Ocorre por disseminação linfo-hematogênica; Quadro clínico: perda de peso, anorexia, febre persistente, hepatoesplenomagalia, linfadenopatia generalizada, poucos sinais respiratórios, pode ocorrer acometimento do SNC; Diagnóstico: difícil, isolamento do bacilo. * Tuberculose Tratamento: prolongado, com vários esquemas de acordo com a situação clínica do paciente; Tratamento para casos novos, sem tratamento anterior: 1ª fase (2 meses) → Rifampisina, Isoniazida e Pirazinamida; 2ª fase (4 meses) → Rifampisina e Isoniazida. * Conclusão SÍNDROME MONONUCLEOSE - SÍMILE!
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