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Professora Adeline Palmeira Universidade Federal de Rondonópolis Curso de Medicina Turma 5 Atenção Integral à Saúde da Criança GRUPO 2 Constipação Sumário CASO CLÍNICO EPIDEMIOLOGIA CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO FATORES DE RISCO FISIOPATOLOGIA CLÍNICA E CRITÉRIOS DE ROMA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TRATAMENTO QUESTÕES Miguel, 5 anos e 7 meses, sexo masculino, é trazido até a ESF. Paciente vai à consulta de rotina pela primeira vez naquele consultório. Entra cabisbaixo, fala pouco e não responde às perguntas da anamnese. Os pais dizem que está bem e não tem queixas clínicas. Referem que o paciente não aceita todos os alimentos oferecidos, recusando hortaliças, legumes e a maioria das frutas. Prefere alimentos fritos e guloseimas. Ao serem questionados sobre o hábito intestinal, os pais respondem apenas que não é muito bom. Ao descrever a situação, dizem que já chegou a ficar 15 dias sem evacuar e que quando “fica assim”, vai ao pronto socorro para realização de clister glicerinado. Dizem que, no momento, “está melhor”, evacuando 2 vezes na semana e que “deixa as fezes saírem na roupa” quase todos os dias. Na verdade, o hábito intestinal deixou de ser diário desde o início da alimentação complementar, aos 6 meses de vida, com piora após os 4 anos de idade. O escape fecal já ocorre há quase 1 ano. Contam que têm vergonha de falar sobre isso ao pediatra e que apenas uma vez disseram, mas que não havia sido iniciado tratamento ou encaminhado para gastroenterologista. O exame abdominal evidencia um fecaloma de grande monta. Caso Clínico Qual será o possível diagnóstico de Miguel? Quais os pontos que o caracterizam? O que pode ser a causa? Qual a melhor conduta pra Miguel? VOCÊ SABE A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA CONSTIPAÇÃO? Vejamos... Acarreta sérios prejuízos para o indivíduo, sua família e os sistemas de saúde. Os casos diagnosticados são a ponta do iceberg. Dificuldade de diagnóstico Prevalência está aumentando e varia (14,7 a 38,4%). Heterogeneidade na definição de constipação. Mais prevalente em meninos (3 a 6:1). TORRES, Marcia Regina Fantoni. CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL EM CRIANÇAS. Centro de Inovação Unimed Bh, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-28, ago. 2018. 3% dos atendimentos em ambulatórios de pediatria. 25% dos atendimentos no ambulatório de gastroenterologia. 90-95% funcional. Sai cocozinho do butico do Miguel! Sai cocozinho do butico do Miguel! Caracteriza-se pela eliminação de fezes endurecidas com dor, dificuldade ou esforço; Comportamento de retenção - ciclo vicioso; Conceito Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Constipação Funcional - resultado da interação de fatores biopsicossociais Constipação Orgânica (crônica) - resultado de outras causas orgânicas base: ->Causas anatômicas ->Causas metabólicas e intestinais ->Causas neurológicas ->Distúrbios da musculatura e sistema nervoso entérico ->Doenças do tecido conectivo ->Drogas Classificação Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 FISIOPATOLOGIA Motilidade colônica e função anorretal normais; Alterações da motilidade intestinal; Sensibilidade anorretal diminuída; Disfunção da musculatura do assoalho pélvico Motilidade colônica e função anorretal normais Mais comum na prática clínica Pode estar ligada tanto à dieta quanto ao comportamento voluntário de retenção de fezes Fissura Anal Defecações Dolorosas Medo de defecar Retenção Fecal Comportamento Retentivo Fezes Ressecadas Ciclo Dor-Retenção-Dor Tratado de pediatria, 2010 Escape fecal Baixa auto-estima Estase fecal prolongada Reabsorção de fluidos Consistência e/ou Calibre FECALOMA • Eventos estressantes •Alterações da dieta • Mudança no estilo de vida • Treinamento esfincteriano inadequado • Predisposição familiar Fatores de Risco Evacuação dolorosa (Fezes calibrosas, fissuras) Sensibilidade retal Retenção voluntária (Postura retentiva) TORRES, Marcia Regina Fantoni. CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL EM CRIANÇAS. Centro de Inovação Unimed Bh, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-28, ago. 2018. Alterações da motilidade intestinal Disfunção primária da musculatura lisa colônica Distúrbios de peptídios neuroendócrinos colônicos, com redução de substância P e aumento de peptídio vasoativo intestinal ou óxido nítrico Redução e morfologia anormal das células intersticiais de Cajal Neuropatia degenerativa do SNA ou do SNE Síndrome de Hirschsprung Alteração congênita do sistema nervoso entérico Zonas de aganglionose Tratado de pediatria, 2010 Sensibilidade retal diminuída Retenção fecal prolongada Distensão da parede do reto Cessação dos impulsos aferentes dos neurônios sensoriais do reto Redução da sensibilidade dos plexos neurais e dificuldade de ativação dos neurônios sensoriais por estímulo mecânico A retenção fecal crônica torna o reto dilatado e a musculatura hipotônica Disfunção da musculatura do assoalho pélvico Não há ação coordenada das estruturas anorretais Esforço excessivo para vencer a hipertonia muscular Pode levar a outros problemas como incontinência fecal e urinária, prolapso genital e disfunções sexuais Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 10 Conceitos importantes Incontinência fecal não retentiva Crianças com mais de 4 anos de idade fazem evacuações em locais inapropriados, pelo menos uma vez ao mês Evacuação ocorre na sequência fisiológica natural Também chamado de soiling ou escape fecal Incontinência fecal por retenção Paciente possui constipação funcional e por um processo involutário acaba ocorrendo escape fecal Disquezia do lactente Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 pelo menos 10 minutos de esforço e choro antecedendo a eliminação de fezes moles Impactação fecal Presença de massa fecal volumosa no reto ou palpável no abdome, com pouca probabilidade de ser eliminada espontaneamente Quadro clínico Evacuação dolorosa de fezes endurecidas Entupimento do vaso sanitário em função da eliminação de fezes muito volumosas Ampliação do intervalo entre as evacuações Dor abdominal crônica reversível com o controle da constipação intestinal Enurese noturna Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Quadro clínico Falta de apetite Sintomas de infecção urinária atual ou pregressa Poucas evacuações semanais Exame físico Massa abdominal palpável Ampola retal com fezes endurecidas Distensão abdominal Fissura anal Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Diagnóstico Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 ; R am os e t al ., 20 19 Eminentemente clínico Critérios de ROMA (III e IV) Definir diagnóstico de transtorno gastrointestinal mesmo na ausência de investigação laboratorial específica Pesquisa de doença celíaca pela sorologia Dosagem de cálcio Exame de urina Urocultura Casos refratários ou recorrentes: Testes de função tireoidiana anticorpos antitransglutaminas e antiendomísio Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Na presença de sinais de alerta: Constipação com início no primeiro mês de vida Retardo na eliminação de mecônio Antecedente familiar de doença de Hirschsprung Eliminação de fezes em fita Sangue nas fezes na ausência de fissura anal Déficit de crescimento Febre Vômitos biliosos Glândula tireoide anormal Distensão abdominal intensa Fístula perianal Posição anormal do ânus Ausência do reflexo cremastérico Anormalidades neuromotoras nos membros inferiores Tufo de pelos na região sacral Depressão (dimple) na região sacral Desvio do sulco interglúteo Medo excessivo durante a inspeção anal Cicatrizes anais Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Diagnóstico diferencial Ânus imperfurado Estenose anal Ânus anteriorizado Causas anatômicas Síndrome de prune belly Gastrosquise Síndrome de Down Anormalidades da musculatura abdominal Esclerodermia Lúpus eritematoso sistêmico Síndrome de Ehlers- Danlos Doenças do tecido conectivo Hipotireoidismo Hipercalcemia Hipocalemia Fibrose cística Diabete melito Doença celíacaCausas metabólicas e intestinais Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 Diagnóstico diferencial Anormalidades medulares Trauma da medula Medula presa Encefalopatia crônica não progresssiva Causas neurológicas Opiáceos Fenobarbital Sucralfato Antiácidos Anti-hipertensivos Anticolinérgicos Antidepressivos Simpatomiméticos Drogas Intoxicação por vitamina D Botulismo Alergia à proteína do leite de vaca Ingestão de chumbo Outras Doença de Hirschsprung Displasia neuronal Miopatias viscerais Neuropatias viscerais Distúrbios da musculatura e do sistema nervoso entérico Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 A manometria anorretal com reflexo inibitório presente permite descartar o diagnóstico Retardo na eliminação de mecônio; Eliminação explosiva de fezes ao toque retal; Distensão abdominal; Massa fecal abdominal volumosa; Eliminação de fezes em fita; Ampola retal vazia. Doença de Hischsprung Diagnóstico Raio-X simples Enema opaco Manometria anorretal Biópsia Tratado de pediatria, 2017 Cuidado, TPO pode desencadear reações de anafilaxia Alergia a proteína do leite de vaca Constipação intestinal iniciada logo após a introdução da proteína do leite de vaca na dieta; Presença de fissura anal persistente; Antecedente de perda de sangue nas fezes; Falta de resposta a terapêutica convencional. Diagnóstico Pesquisa de anticorpos IgE específicos (cutâneos e no sangue) Testes diagnósticos Desafio oral/teste de provocação oral Tratado de pediatria, 2017 Polietilenoglicol (PEG) 1,5 g/kg/dia 3350 ou 4000 (macrogol) Solução fosfatada (3-5 ml/kg/dia) Solução de sorbitol 1 bisnaga 1x/dia Solução glicerinada Opções: 1. a. 2. 3. 4. Tratamento Orientação da Família Desimpactação Fecal Via Oral Enema Manual Sonda Nasogástrica 1. 2. a. b. c. d. Retenção Palpação Abdominal Toque retal RX de abdome Tr at ad o d e p ed ia tr ia , 2 0 17 3. Mudança na dieta 4. Treinamento de Toalete 5. Tratamento de Manutenção a. Mínimo de 3 meses. Tratado de pediatria, 2017 Polietilenoglicol (PEG) 0,26 à 0,84 g/kg/dia Osmóticos: lactulose 1 - 3 ml/kg/dia Lubrificantes: Óleo Mineral 3 ml/kg/dia 1. 2. 3. https://kahoot.it/ PIN: QUESTÃO 1 Recém-nascido de 20 dias é levado à consulta de puericultura. Mãe demonstra preocupação, pois o bebê evacua cerca de 6 a 8 vezes ao dia fezes semilíquidas de coloração amarelada ou esverdeada, intercalando com períodos em que fica 2 ou 3 dias sem evacuar. Encontra-se em aleitamento materno exclusivo, com diurese normal, e apresenta cólicas há aproximadamente 1 semana. Peso de nascimento de 3100 g, peso atual de 3380 g. Considerando os relatos sobre o caso, é correto afirmar: UFPR QUESTÃO 2 A combinação de laxantes e mudanças de comportamento como melhorar o treinamento evacuatório, acrescentar alimentos ricos em fibras, pode diminuir o tempo de remissão da constipação intestinal. EBSERH 2013 - Médico gastroenterologista pediatrico VERDADEIRO OU FALSO? QUESTÃO 3 O hidróxido de magnésio, a lactulose e sorbitol (laxantes osmóticos) são medicamentos seguros e eficazes. EBSERH 2013 - Médico gastroenterologista pediatrico VERDADEIRO OU FALSO? QUESTÃO 4 Escolar, 9 anos de idade, comparece ao ambulatório geral devido a quadro de constipação intestinal. Mãe relata que, desde os 2 anos de idade, ele apresenta aumento da consistência das fezes, com aumento do intervalo entre as evacuações. Atualmente, ele apresenta 1 evacuação a cada 10 dias, de consistência muito endurecida e em grande volume, que algumas vezes chega a entupir o vaso sanitário. Algumas evacuações são acompanhadas de estrias de sangue, e todas elas são dolorosas. Nos últimos 6 meses, tem sujado a roupa íntima com fezes e foi repreendido várias vezes pelos pais devido ao descuido com a higiene. Toma de 4 a 5 copos de leite com achocolatado por dia e come bolachas várias vezes ao dia. No almoço e no jantar, come apenas a carne e o arroz (diz não gostar de verduras e legumes). Raramente come frutas. Ingere mais refrigerante que água. Exame físico com presença de massa palpável em hipogástrio compatível com fecaloma, com abdome ligeiramente distendido. Toque retal com presença de fezes. Presença de fissuras e plissamos em ânus. Peso de 33 kg (escore +1) e estatura de 1,35 m (entre escores 0 e 1). Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a conduta inicial adequada para esse paciente: QUESTÃO 4 A-Iniciar óleo mineral de 10 a 15 mL/dose de 2 a 3 vezes ao dia. Orientar aumento de fibras na dieta e realização de atividade física ao menos 3 vezes por semana. B- Orientação alimentar, com acompanhamento de nutricionista, para aumento de ingestão de fibras. Iniciar leite de magnésio se não aderir à dieta. C- Prescrever PEG 4000 até 40 g/dia por 5 dias, depois manter 20 g/dia. Orientar dieta e, se possível, acompanhamento com nutricionista, e beber água. D- Orientação alimentar para aumento de ingestão de fibras e água ou suco natural, realizar atividade física diária, sentar no vaso sanitário após as refeições. QUESTÃO 5 Lactente de três meses é levado a atendimento médico devido a história de distensão abdominal e constipação. A mãe informa que a criança passa vários dias sem evacuar e que a eliminação fecal é difícil, por vezes sendo necessária a utilização de estímulo retal com supositório de glicerina. O lactente foi desmamado com 12 dias de vida e, no momento, faz uso de “leite de vaca engrossado”. Exame físico: abdome distendido e doloroso à palpação; toque retal: ampola retal vazia. Após o toque, houve eliminação explosiva de fezes em grande quantidade. A hipótese diagnóstica que justifica todos os achados é: TEP, 2005 QUESTÃO 5 A) erro alimentar B) constipação funcional C) megacólon agangliônico D) padrão normal de evacuações Miguel, 5 anos e 7 meses, sexo masculino, é trazido até a ESF. Paciente vai à consulta de rotina pela primeira vez naquele consultório. Entra cabisbaixo, fala pouco e não responde às perguntas da anamnese. Os pais dizem que está bem e não tem queixas clínicas. Referem que o paciente não aceita todos os alimentos oferecidos, recusando hortaliças, legumes e a maioria das frutas. Prefere alimentos fritos e guloseimas. Ao serem questionados sobre o hábito intestinal, os pais respondem apenas que não é muito bom. Ao descrever a situação, dizem que já chegou a ficar 15 dias sem evacuar e que quando “fica assim”, vai ao pronto socorro para realização de clister glicerinado. Dizem que, no momento, “está melhor”, evacuando 2 vezes na semana e que “deixa as fezes saírem na roupa” quase todos os dias. Na verdade, o hábito intestinal deixou de ser diário desde o início da alimentação complementar, aos 6 meses de vida, com piora após os 4 anos de idade. O escape fecal já ocorre há quase 1 ano. Contam que têm vergonha de falar sobre isso ao pediatra e que apenas uma vez disseram, mas que não havia sido iniciado tratamento ou encaminhado para gastroenterologista. O exame abdominal evidencia um fecaloma de grande monta. Caso Clínico Qual será o possível diagnóstico de Miguel? Quais os pontos que o caracterizam? O que pode ser a causa? Qual a Melhor Conduta pra Miguel? Criação de Storyboard Crie um script curto em qualquer assunto que tiver em mente. Certifique-se de incluir uma análise de público, explicando qual é o público pretendido do seu projeto e por quê. REFERÊNCIAS TORRES, Marcia Regina Fantoni. CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL EM CRIANÇAS. Centro de Inovação Unimed Bh, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-28, ago. 2018. RAMOS A. R.L.; PINTO R.B.; SANFELICE F.S. Constipação crônica funcional: como o pediatra deve manejar. Porto Alegre, 2019. Disponível em< www.sprs.com.br>. Acesso em: 18 Jul 2021. MAZZEI I. T; NETO U.F. Transtornos Gastrointestinais Funcionais: Critérios de Roma IV – lactentes, escolares e adolescentes. Instituto de gastroenterologia pediátrica de São Paulo, 2018. Disponível em: <www.igastroped.com.br>. Acesso em: 18 Jul 2021. Pediatria, S.B. P. Tratado de Pediatria,Volume 1. 4° ed. Barueri,SP: Editora Manole, 2017.
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