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Cap. 2 – Fratura dos metais 381 MÓDULO QUATRO – Capítulo 2: FRATURA DOS METAIS 2.1 – Conceito de Falha Uma parte, ou o conjunto todo de uma estrutura é considerado "falhado" a partir de uma das três condições abaixo: • quando a estrutura fica completamente inutilizada; • quando ela ainda pode ser utilizada, mas não é mais capaz de desempenhar a sua função satisfatoriamente; • quando uma séria deterioração a torna insegura para continuar a ser utilizada. As causas para a falha da maioria das estruturas geralmente estão relacionadas com os seguintes problemas: 1. negligência durante o projeto, a construção ou a operação da estrutura; 2. aplicação de um novo projeto, ou de um novo material, que vem a produzir um inesperado (e indesejável) resultado. No primeiro caso, procedimentos existentes são suficientes para se evitar a falha, mas não são seguidos por uma ou mais das partes envolvidas, devido a erro humano, ignorância, ou procedimento proposital. Fabricação mal feita, materiais inapropriados ou abaixo de especificações, erros na análise de tensões, e erro de operação são exemplos de casos onde tecnologias apropriadas e experiência estão disponíveis, mas não são aplicadas. O segundo caso é muito mais difícil de se evitar. Quando um projeto "melhorado" é introduzido, existem certos fatores que o projetista pode não conhecer. Novos materiais podem oferecer tremendas vantagens, mas também problemas em potencial. Consequentemente, um novo projeto ou novo material deve ser colocado em serviço somente após um longo período de testes e análises. A história da humanidade está repleta de casos em que acidentes catastróficos ocorreram por falhas estruturais, associadas com o emprego de novos materiais e/ou novas tecnologias. Alguns exemplos são citados por Anderson (1995) e Landes (1998): • fraturas ocorridas nos navios de transporte Liberty no início da década de 1940 (os primeiros a usar solda ao invés de rebites na fabricação) – Figura 2.1; • fratura em um tanque de armazenamento de gás natural liquefeito nos Estados Unidos em 1944 – Figura 2.2; • acidentes com os aviões ingleses Comet na década de 1950 – Figura 2.3; • acidentes durante o desenvolvimento do sistema de mísseis polaris na década de 1960; • colapso da ponte Point Pleasant nos Estados Unidos em 1967 – Figura 2.4; • acidentes no desenvolvimento da aeronave militar F-111 na década de 1970; • fratura por fadiga da parede traseira de um Boeing 747 no Japão em 1985 – Figura 2.5; Mesmo nos dias de hoje a falha dos materiais ainda não é um fenômeno incomum, mesmo em aplicações de alta exigência estrutural. Inclusive, atualmente, devido ao desenvolvimento de novas tecnologias de fabricação, escala de produção e necessidades de redução de custo MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 382 (extensão da vida e severidade das condições de serviço), as falhas tornaram-se mais frequentes em aplicações de média e baixa exigências. Figura 2.1 – Fratura frágil ocorrida em um navio de carga Liberty que separou o navio em duas partes em 1941. Figura 2.2 – Fratura da estrutura de sustentação de uma correia transportadora de uma mineração no Arizona – Estados Unidos (problema: concentração de tensão e solda incorreta de um dos componentes mostrado ao lado). Cap. 2 – Fratura dos metais 383 Figura 2.3 – De cima para baixo: o avião Comet (primeiro avião a jato comercial) pousado em um aeroporto do norte da África. Programa de testes mecânicos de larga escala em um avião real. Fratura detectada ao final de milhares de ciclos de carregamento e descarregamento na quina de uma das janelas. Figura 2.4 – Resultado final da falha da ponte “Pointe Pleasant” ocorrida em 1967 em Ohio – Estados Unidos. Figura 2.5 – Detalhamento da região falhada na traseira de um Boeing 747 no Japão em 1985. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 384 Landes (1998) apontou que em 1982, nos Estados Unidos, o custo total das falhas seria de US$132 bilhões, o que representava uma quantia significativa do PIB norte-americana à época (cerca de 5%). Deste total, pelo menos 50% poderia ser evitado com a utilização correta das tecnologias desenvolvidas. No Brasil, não existe estatística deste tipo disponível, mas estima- se que a situação atual seja bem semelhante à existente nos Estados Unidos àquela época. Alguns exemplos de falhas recentes podem ser obtidas em diversas fontes bibliográfica e também pela internet. Alguns exemplos atuais, retirados do curso “Análise de Falhas” da ABM e da revista “Practical Failure Analysis” são citados a seguir. Figura 2.6 – Fratura ocorrida em uma peça de um grande moinho de minério de ferro (problema: fadiga nas juntas soldadas). Cap. 2 – Fratura dos metais 385 Figura 2.7 – Fratura ocorrida entre um eixo e um rotor de uma grande bomba centrífuga industrial (problema: material inadequado e sobrecarga de operação). MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 386 Figura 2.8 – Falhas ocorrida em parafusos de fixação do êmbolo de uma grande bomba de pistão (problema: fixação e projeto de junta inadequados). Cap. 2 – Fratura dos metais 387 Figura 2.9 – Fratura ocorrida em uma mola de um compressor (problema: falta de lubrificação no processo de fabricação levando a uma condição superficial rugosa inadequada para a aplicação). MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 388 Figura 2.10 – Fratura em um pistão de motor de combustão interna detectada após milhares de horas de uso do motor em teste. Cap. 2 – Fratura dos metais 389 2.2 – Tipos de fratura Serão citados, sumariamente, as diferentes formas como podem se apresentar uma superfície de fratura de um material 2.2.1 – Fratura Dúctil Em materiais dúcteis o papel da deformação plástica é muito importante. A característica importante é a mobilidade de defeitos na sua estrutura. No caso dos metais, estes defeitos na sua estrutura cristalina são conhecidos por discordâncias. A Figura 2.11 ilustra esquematicamente o comportamento de um metal dúctil sob carregamento uniaxial em tração. Ao longo do ensaio, no ponto de carregamento máximo, atinge-se a instabilidade, onde não ocorre mais o endurecimento por deformação, pois ocorre deformação localizada (diminuição da seção do corpo-de-prova), desenvolvendo-se o empescoçamento do CP. Figura 2.11 - Representação esquemática de uma curva tensão versus deformação de um ensaio de tração para materiais puros e usuais empregados em Engenharia. Para o desenvolvimento da fratura dúctil, comumente, são observados os seguintes estágios: 1. formação de uma superfície livre através de uma inclusão ou partícula de segunda-fase, ou por decoesão interfacial ou por trincamento da partícula; 2. crescimento de vazios ao redor da partícula através de deformação plástica e tensão hidrostática; 3. coalescência entre vazios adjacentes. A Figura 2.12 (a,b,c) mostra a evolução de uma fratura dúctil durante o ensaio de tração a partir do ponto onde ocorre deformação plástica localizada. Pode-se notar que a fratura dúctil ocorre com apreciável deformação plástica, através de um lento rompimento, e com conseqüente elevado gasto de energia para a fratura. As principais características de uma fratura dúctil estão resumidas na tabela 2.1. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 390 (a) (b) (c) Figura 2.12 - Deformação plástica localizada de um material com comportamento dúctil; (a) representação esquemática; (b) seção de um CP ensaiado em tração; (c) tubo de aço inoxidável ferrítico AISI 409 fraturado em tração. Tabela 2.1 – Principais características de uma fratura dúctil. Aspectos macroscópicos: • zona fibrosa: início e propagação estável da trinca; • zona de cisalhamento a 45o: formada em conseqüência do alívio de triaxialidadede tensões. Aspectos microscópicos: • grande mobilidade de discordâncias - flexibilidade de deslizamento; • criação de microcavidades, a partir da quebra de inclusões decoesão interfacial partícula-matriz; • quando a capacidade para encruamento é exaurida, o empescoçamento inicia-se, e as tensões triaxiais resultantes causam a extensão lateral das microcavidades, ocorrendo o coalescimento e a formação de uma trinca central. Fractografia: • superfície com cavidades hemisféricas ou parabólicas, conhecid como dimples; • tipos de ruptura: normal, por cisalhamento, por rasgamento; • fratura tipo: “taça-cone” ou “copo-cone”; • fratura tipo: “aresta de faca”. A Figura 2.13 ilustra esquematicamente as etapas de iniciação, crescimento e coalescência de microcavidades no vértice de uma trinca pré-existente. Quando uma estrutura trincada é carregada, o estado de tensão e deformação no vértice da trinca torna-se suficiente para nuclear vazios. Os vazios crescem quando ocorre o embotamento de trinca, e eventualmente eles são unidos a uma trinca principal. Com a continuidade deste processo, tem-se o crescimento de trinca. Cap. 2 – Fratura dos metais 391 Figura 2.13 - Representação esquemática do mecanismo de crescimento de trinca para uma fratura dúctil. As figuras 2.14 (a,b,c,) e 2.15 (a,b) apresentam a formação de uma superfície de fratura dúctil sob diferentes modos de aplicação de cargas. Nota-se na Figura 2.14 (a) que os vazios formados (dimples) apresentam aspecto equiaxial (são chamados de dimples normais) em função do modo de carregamento. No entanto, na Figura 2.14 (b,c) eles aparecem alongados. A Figura 2.15 mostra dimples obtidos por cisalhamento, em diferentes aumentos. Quando uma trinca cresce, em um material, por coalescimento de microcavidades, a trinca exibe um efeito de tunelamento (tunneling), onde ela cresce mais rápido no centro do material, devido ao estado triaxial de tensão desenvolvido nesta região. Esta variação de tensão pode produzir a zona cisalhante (shear lips), onde o crescimento da trinca próximo à superfície ocorre com um ângulo em torno de 45o em relação ao eixo de carregamento, como mostrado na Figura 2.16. Na prática, os metais geralmente contêm uma grande quantidade de fases dispersas. Estas podem ser de partículas muito pequenas (1 a 20 nm) tais como o carbonetos de elementos de liga, partículas de tamanho intermediário (50 a 500 nm) tais como compostos de elementos de liga (carbonetos, nitretos, carbonitretos) em aços, ou partículas dispersas tais como Al2O3 (alumina) em alumínio e ThO2 em níquel. Se partículas de uma segunda-fase são frágeis e a matriz é dúctil, elas não serão capazes de acomodar a grande deformação plástica da matriz, e conseqüentemente estas partículas serão fragilizadas no início da deformação plástica. Quando a interface partícula/matriz for muito fraca, a separação interfacial ocorrerá. Em ambos os casos, microcavidades são nucleadas a partir destes sítios. Geralmente, os vazios são nucleados a partir de pouca percentagem de deformação plástica, enquanto que a separação final pode ocorrer em torno de 25%. As microcavidades crescem com o deslizamento, e o material entre as cavidades pode ser visualizado como uma pequena parte do material sob esforço trativo. O material entre os vazios sofre estricção em uma escala microscópica, onde os vazios são unidos, promovendo o fenômeno de coalescimento. Este mecanismo de iniciação, crescimento e coalescência de microcavidades dá uma superfície de fratura com aparência característica. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 392 Figura 2.14 - Representação esquemática de como os dimples se apresentam em função do tipo de carregamento. (a) (b) Figura 2.15 - Representação esquemática de mecanismos de coalescimento de microcavidades (ruptura normal; ruptura por cisalhamento; ruptura por rasgamento). Cap. 2 – Fratura dos metais 393 Figura 2.16 - Representação esquemática de como ocorre de fratura de um material com a evolução do trincamento. A Figura 2.17 ilustra a formação da fratura do tipo “taça-cone”, que é comumente observada em CPs de tração. O empescoçamento produz um estado de tensão triaxial no centro do CP, que promove nucleação e crescimento de vazios a partir das partículas maiores. Para esforços maiores, os vazios coalescem, resultando em uma fratura, onde em função do alívio de tensões na superfície tem-se uma região característica com aproximadamente 45o em relação ao eixo de tração. A região central da superfície de fratura apresenta uma aparência fibrosa, em baixos aumentos, mas a outra região é relativamente plana. Figura 2.17 - Representação esquemática de uma fratura do tipo “taça- cone” O termo “ductilidade“ significa um material que apresenta capacidade de sofrer deformação plástica. Ductilidade não é uma propriedade fundamental do material, pois a deformação plástica antes da fratura é uma função do estado de tensão, da taxa de deformação, da temperatura, meio ambiente, e da história do material. Por exemplo, um aumento no grau da triaxialidade de tensão resulta em um decréscimo na ductilidade do material. Isto pode ser observado em materiais que apresentam “grandes” espessuras, onde internamente desenvolve-se o estado plano de deformação. A temperatura e a taxa de deformação MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 394 apresentam efeitos contrários. Uma “alta” temperatura (ou uma “baixa” taxa de deformação) possibilita uma “alta” ductilidade; no entanto, uma “baixa” temperatura (ou “alta” taxa de deformação) proporciona uma “baixa” ductilidade. 2.2.2 – Fratura Semifrágil É o tipo de fratura com características intermediárias entre dúctil e frágil. A tabela 2.2 apresenta quais são as suas principais características. Tabela 2.2 – Principais características de uma fratura semifrágil. Aspectos macroscópicos: • zona fibrosa • zona radial • zona cisalhante Aspectos microscópicos: • ruptura de ligações e mobilidade de discordâncias; • clivagem numa escala bem pequena e em planos não bem definidos. Fractografia: • características intermediárias entre as fraturas dúctil e frágil. 2.2.3 – Fratura Frágil É o tipo de fratura que ocorre sem deformação plástica macroscópica, sob tensões inferiores às correspondentes ao escoamento generalizado, e com velocidade de propagação de trinca bem elevada. A Figura 2.18 e 2.19 mostram dois casos deste tipo de fratura. A tabela 2.3 descreve as principais características desta fratura. Tabela 2.3 – Principais características de uma fratura frágil. Aspectos macroscópicos: • zona radial: início e propagação instável da trinca • zona de cisalhamento a 45o Aspectos microscópicos: • ruptura de ligações - clivagem -, sem deformação plásti macroscópica; • ocorre por uma separação direta ao longo dos planos cristalográficos específicos, por um simples arrancamento de ligações atômicas. Fractografia: • facetas de clivagem: numerosos platôs, normalmente mostrando um alto grau de perfeição geométrica e refletividade; • “marcas de rios” (river patterns): resultantes do crescimento de trincas simultaneamente em dois ou mais planos cristalográficos paralelos, juntando-se e formando-se degraus; • “linguas de clivagem” (tongues): formadas quando a trinca propaga-se, por uma distância relativamente curta, ao longo de um plano principal de clivagem (interface macla-matriz); • fratura transgranular: a trinca propaga-se pelo interior de cada grão; • fratura intergranular: fratura de baixa energia, com a trinca percorrendo os contornos de grão do material, principalmente devido a presença de partículas de segunda-fase. Cap. 2 – Fratura dos metais 395 Figura 2.18 – Macrofractografia de um aço SAE 1050 com fratura frágil na superfície externa; carregamento: impacto. Figura 2.19 – Fratura frágil de um suporte de panela de metallíquido devido à concentração de tensão, presença de um cordão de solda inadequado e a operação inadequada (impactos). MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 396 A clivagem é um tipo de fratura frágil que pode ser definida pela rápida propagação de uma trinca ao longo de um plano cristalográfico particular. Clivagem tem caráter frágil, mas ela pode ser precedida por uma deformação plástica, que pode ser grande ou não. Os planos de clivagem preferenciais são aqueles onde existem ligações mais fracas, como o caminho da fratura é transgranular em materiais policristalinos, a propagação da trinca muda de direção cada vez que ela cruza um contorno de grão, conforme mostrado na Figura 2.20. As facetas de clivagem vistas através de grãos apresentam “alta” refletividade, que dá à superfície de fratura um aspecto brilhante. Figura 2.20 – Representação esquemática da propagação de uma clivagem transgranular. Em geral, a clivagem é característica de metais duros, resistentes e sensíveis ao entalhe, serem frágeis, embora são feitas pesquisas no sentido de melhorar a performance destes materiais sem o perigo de ocorrer fratura frágil. Outros metais (ligas) comuns, particularmente aço baixo-carbono e médio-carbono, que são muito utilizados na indústria, são geralmente considerados dúcteis e são normalmente utilizados em situações onde se deseja certa plasticidade aos mesmos. No entanto, sob certas combinações de circunstâncias, estes aços normalmente dúcteis podem ser fraturados de maneira totalmente frágil. Este comportamento completamente não previsto tem sido, principalmente no passado, a causa de muitas falhas catastróficas. Também, não é necessário ter alto nível de carregamento na estrutura; fratura frágil pode ocorrer com apenas tensão residual (Figura 2.1), com nenhum tipo de carga, ou com qualquer combinação de tensões aplicadas e residuais. A Figura 2.21 mostra, por exemplo, as curvas de transição dúctil-frágil de aços utilizados. Alguns aspectos macroscópicos da fratura frágil, que são característicos, facilitam a identificação desta falha e conseqüente determinação do seu ponto de origem. As figuras 2.22 a 2.24. A fratura frágil de metais extremamente duros, com grãos finos, usualmente apresenta pouca ou nenhuma marca visível na superfície de fratura. Nestes casos, pode ser muito difícil localizar a origem do trincamento. A fratura frágil usualmente propaga-se por clivagem e/ou de maneira intergranular. Em muitos casos é necessário visulizar a fratura pelo MEV. A fratura frágil causada pela presença de uma transição dúctil-frágil em alguns materiais (Figura 2.21) ocorreu primeiramente em estruturas grandes, vasos de pressão, tanques, tubos, navios, pontes e outras estruturas unidas por soldagem. Este tipo foi um sério problema durante a 2a Guerra Mundial quando mais de 250 navios trincaram ou foram fraturados, onde 19 deles sofreram fraturas completas. Cap. 2 – Fratura dos metais 397 Figura 2.21 – Curvas de transição dúctil-frágil do aço utilizado para a produção do casco do navio Titanic e de aços atualmente utilizados para este fim (Practical Failure Analysis v1 n2 p34). Figura 2.22 – “Marcas de rio” em superfícies de fratura frágil indicando os pontos de origem de trincas. Figura 2.23 – Representação esquemática de uma fratura frágil destacando a origem do trincamento; marcas em V. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 398 (a) (b) (c) Figura 2.24 – Morfologias de fratura frágil indicando os pontos de origem do trincamento e presença marcante da zona radial A Figura 2.25 e 2.26 mostra, os resultados de ensaios de impacto onde nota-se a mudança no aspecto de fratura em função da temperatura de ensaio. (a) (b) Figura 2.25 – Representação esquemática do efeito da temperatura na tenacidade de metais que exibem transição dúctil-frágil (a); efeito da taxa de carregamento (b). Cap. 2 – Fratura dos metais 399 Figura 2.26 – Superfícies de fratura de CP´s Charpy de um mesmo aço testados a várias temperaturas. 2.3 – Fator de concentração de tensão O fator de concentração de tensão Kt descreve o efeito da geometria da trinca no nível de tensão local na ponta da trinca. Este fator aumenta com o comprimento da trinca e com o decréscimo do raio da trinca. Assim, se o componente estrutural possuir uma distribuição de defeitos, deve-se manter o seu tamanho tanto menor quanto for possível. Uma maneira de controlar a existência de defeitos consiste na inspeção periódica do componente, com a troca de alguma parte que possua trincas de tamanho perigoso. Por outro lado, se uma trinca se desenvolveu no componente, a severidade relativa da concentração de tensão pode ser reduzida através do corte de uma cavidade mais suave na ponta da trinca. Existem manuais padronizados que descrevem como varia Kt com a configuração da trinca e do componente estrutural, como por exemplo, aquela publicado por Peterson (1974). Pode-se observar que Kt sempre aumenta quando existe uma grande alteração da seção transversal do componente e/ou quando o associado raio de concordância for pequeno. O anexo A13 ilustra alguns dos vários ábacos disponíveis com fatores de concentração de tensão, assim como a figura 2.27. Para um material com comportamento completamente linear elástico a presença de um concentrador de tensão afeta drasticamente a sua resistência à fratura. A resistência à fratura de um material deste tipo decresce com a elevação de Kt. Já para um material com comportamento elástico e plástico a presença do concentrador de tensão é sempre MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 400 minimizada, devido ao escoamento plástico que ocorre na região à frente da ponta da trinca. Nesta situação, a trinca fica embotada, e a severidade do concentrador de tensão é diminuída. Figura 2.27 – Fator de concentração de tensões para diversas geometrias. Cap. 2 – Fratura dos metais 401 Figura 2.27 (continuação) – Fator de concentração de tensões para diversas geometrias. 2.4 – Efeito de um concentrador de tensões agudo (entalhe) Para um corpo de prova entalhado, quando se atinge o limite de escoamento o material na seção reduzida tende a se deformar plasticamente na direção paralela ao eixo de aplicação do carregamento. Admitindo a conservação de volume, o material na raiz do entalhe se contrai, mas é constrito pelo volume do corpo que ainda experimenta deformação elástica. O desenvolvimento de tensões de tração nas duas outras direções principais - as tensões de constrição - implica no aumento da tensão axial para iniciar a deformação plástica do corpo de prova. Quanto mais profundo for o entalhe, maior será a constrição e, consequentemente, maior a tensão para deformar a amostra. Desta forma, o limite de escoamento de um corpo de prova entalhado deverá ser superior ao limite de escoamento de um corpo de prova liso. Trata- se do efeito de endurecimento pelo entalhe. O fenômeno de endurecimento pelo entalhe não ocorre com todos os materiais. Um material com limitada capacidade para deformação plástica, como um aço martensítico AISI 4340, apresenta uma diminuição do seu limite de escoamento com o aumento da profundidade do entalhe, devido ao aumento na magnitude do concentrador de tensão. Em outras palavras, este material vai amolecer pelo entalhe. Somente um material dúctil, como os aços baixo carbono e as ligas de alumínio, terão o seu limite de escoamento aumentado com o aumento da profundidade do entalhe, como resultado da elevação da constrição plástica. Se por um lado a presença de um entalhe pode endurecer o material, por outro lado aumenta- se a tendência para uma fratura frágil deste material, devida aos seguintes fatores : • pela produção de elevadas tensões localizadas; • pela introdução de um estado triaxial de tensões de tração; • pela produção de um elevado endurecimento localizado por deformação e trincamento;• pela produção de uma elevação localizada na taxa de deformação. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 402 Figura 2.28 – Distribuição das tensões principais (σx, σy e σz) na frente de um entalhe mecânico. 2.5 – Conceito de tenacidade A tenacidade de um material é uma medida da energia que ele absorve antes e durante o processo de fratura. Trata-se de um parâmetro muito importante para a caracterização do material, uma vez que ele diz respeito à resistência à fratura do material. A área abaixo da curva tensão x deformação pode ser usada como medida da tenacidade: energia volume d f / = ∫σ εε 0 (2.1) Se esta energia for alta, o material é considerado tenaz, ou caracterizado por possuir uma elevada tenacidade à fratura . Por outro lado, se a energia for baixa, o material é descrito como frágil. Em amostras entalhadas, a determinação da tenacidade torna-se mais complexa. Neste momento, a relativa tenacidade ou fragilidade de um material pode ser estimada, notando-se a extensão da plasticidade ao redor da ponta da trinca. Uma vez que muito mais energia é dissipada durante a deformação plástica do que durante a deformação elástica, a tenacidade de um material entalhado vai crescer com o volume potencial da zona plástica na ponta da trinca. Conforme mostrado na Figura 2.29, quando o tamanho da zona plástica é pequeno logo antes da fratura, o nível de tenacidade do material é baixo, e o material é classificado como frágil. Por outro lado, quando a plasticidade se extende para bem longe da ponta da trinca, de tal forma a abranger todo o ligamento remanescente do material, a energia para fraturá-lo é elevada, e o material é considerado tenaz. Cap. 2 – Fratura dos metais 403 Figura 2.29 – Extensão da zona plástica na fratura para material frágil e tenaz. 2.6 – Caracterização da Mecânica de Fratura A Mecânica de Fratura consiste numa parte da Engenharia, que tem como objetivo promover respostas quantitativas para problemas específicos relacionados com a presença de trincas nas estruturas. Como ilustração, considere uma estrutura que contém defeitos preexistentes e/ou na qual trincas se iniciam em serviço. Estas trincas podem crescer com o tempo, devido a inúmeras causas (por exemplo, fadiga, fluência, corrosão sob tensão), aumentando gradualmente a sua velocidade, Figura 2.30a. A resistência residual da estrutura, que é a resistência à fratura em função do tamanho de trinca, decresce com o aumento no tamanho de trinca, Figura 2.30b. Após um certo tempo, a resistência residual será tão baixa, que a estrutura vai falhar em serviço. Figura 2.30 – Efeito da presença de uma trinca na resistência residual de um material. A Mecânica de Fratura deve promover respostas quantitativas para as seguintes questões: • Qual é a resistência residual em função do tamanho de trinca ? MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 404 • Que tamanho de trinca pode ser tolerado em condições de carregamento em serviço, isto é, qual é o tamanho máximo permissível de trinca ? • Quanto tempo vai decorrer para uma trinca crescer de um tamanho inicial, por exemplo o menor tamanho de trinca detectável, até o tamanho máximo permissível da trinca ? • Qual é a vida em serviço da estrutura, quando um certo tamanho de defeito preexistente (por exemplo um defeito de fabricação) é considerado nesta estrutura ? Durante o período disponível para detecção da trinca quantas vezes deverá a estrutura ser inspecionada ? Diversas disciplinas estão envolvidas no desenvolvimento de procedimentos de projeto através da Mecânica de Fratura. Em uma escala dimensional os conceitos da Mecânica de Fratura podem estar relacionados com parâmetros que variam de 10-10m até 102 m. No final à direita desta escala se encontra a análise de cargas e tensões de engenharia. A mecânica aplicada determina os campos de tensão na ponta da trinca, assim como as deformações elásticas e plásticas do material nas vizinhanças da trinca. Figura 2.31 – A amplitude da mecânica de fratura no contexto da engenharia. As previsões realizadas sobre a resistência à fratura podem ser checadas experimentalmente. F esquerda da escala dimensional a ciência dos materiais tem como objetivo a descrição do processo de fratura ao nível atômico e discordâncias até grãos e impurezas. A partir da compreensão deste processo os critérios que governam o crescimento de trinca e a fratura do material podem ser obtidos. Estes critérios serão usados para se prever o comportamento de uma trinca em um dado campo de tensão e de deformação. A compreensão do processo de fratura pode também fornecer os principais parâmetros do material, que se relacionam com a sua resistência à propagação de trinca; estes parâmetros devem ser conhecidos, para que materiais com a melhor resistência à fratura possam ser desenvolvidos. 2.7 – Tenacidade à Fratura A tenacidade do material representa a sua habilidade inerente de resistir a uma dada intensidade de tensão na ponta de uma trinca presente neste material, evitando a sua fratura. Cap. 2 – Fratura dos metais 405 Para materiais com comportamento linear elástico a tenacidade pode ser descrita em termos do fator de intensidade de tensão K, nas seguintes condições: • Kc : carregamento estático, condição de tensão plana; • K1c : carregamento estático, condição de deformação plana; • Kd : carregamento dinâmico, condição de deformação plana; • KR : resistência ao crescimento estável de trinca. Para materiais com comportamento elasto-plástico a tenacidade será descrita pelos seguintes parâmetros : • δc : deslocamento crítico de abertura de trinca; • J1c : valor crítico da "Integral J" ; • JR ou δR : resistência ao crescimento estável de trinca. Através das Teorias da Elasticidade e da Plasticidade pode-se encontrar uma relação matemática entre a tenacidade, o tamanho da trinca e a tensão aplicada no material. Seja por exemplo a tenacidade descrita pelo fator K, desenvolvida por Irwin (EUA) na década de 1950. De uma maneira geral tem-se: ( )K f aW a= σ (2.2) K : fator de intensidade de tensão na ponta da trinca; f(a/W) : função da geometria do material; σ : tensão nominal aplicada no material; a : tamanho da trinca presente no material. A partir desta relação, conhecendo-se o valor crítico de K (Kc , K1c ou Kd ) , para um dado material com uma particular geometria, a uma dada temperatura e taxa de carregamento, o projetista pode determinar os tamanhos de trinca que devem ser tolerados na estrutura, para um dado nível de tensão de projeto. Alternativamente, o projetista pode determinar o nível de tensão de projeto que pode ser seguramente usado, para uma dada trinca que deve estar presente na estrutura. A relação geral entre a tenacidade do material, a tensão nominal e o tamanho de trinca está mostrada esquematicamente na Figura 2.32. Se uma combinação particular da tensão e do tamanho de trinca em uma estrutura (K1 ) alcançar o nível Kc , a fratura desta estrutura vai ocorrer. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 406 Figura 2.32 – Aplicação da mecânica de fratura no projeto estrutural. Desta forma, existem diversas combinações de tensão e de tamanho de defeito (por exemplo σf e af ) que podem causar a fratura de uma estrutura fabricada com um material que apresenta um valor particular de Kc , para uma dada temperatura, taxa de carregamento e espessura do material. Por outro lado, existem diversas combinações de tensão e de tamanho de defeito (por exemplo σo e ao ) que não vão causar a falha da estrutura. Dos valores críticos apresentados anteriormente para a tenacidade descrita a partir do fator K , o parâmetro K1c em deformação plana é especialmente relevante na avaliação de propriedades dos materiais, porque é uma constante essencialmente independente das dimensõesda amostra. Assim, quando há a necessidade de se caracterizar os materiais pela sua tenacidade, utiliza-se o valor de K1c , do mesmo modo como se utiliza os valores de limite de escoamento e de resistência tirados do ensaio de tração. O efeito da espessura do corpo de prova no fator de intensidade de tensão está esquematizado na Figura 3.4. Esta Figura mostra a definição de K1c , a partir de uma espessura B , dada empiricamente pela seguinte expressão : B K c ys ≥ ⎡⎣⎢ ⎤ ⎦⎥2 5 1 2 , σ (2.3) Figura 2.33 – Efeito da espessura na tenacidade à fratura. Cap. 2 – Fratura dos metais 407 A Tabela 2.3 apresenta valores típicos de K1c para diversos metais de Engenharia. Nesta Tabela mostra-se também o limite de escoamento destes metais. Cada valor está relacionado com uma orientação do corpo de prova (em função de sua direção de trabalho mecânico) e com a temperatura de ensaio. Quando o material estrutural apresenta uma espessura insuficiente para manter a condição de deformação plana, a análise linear elástica usada para calcular o fator K1c é invalidada pela formação de uma grande zona plástica na ponta da trinca e pelo comportamento elasto-plástico do material. Surgem assim os critérios COD - δc e integral J - J1c. No critério COD, desenvolvido por Wells (Inglaterra) no início da década de 1960, admite-se que a trinca existente no material só irá propagar-se após ser atingido um certo embotamento crítico na ponta da trinca, devido à formação de uma zona plástica nesta região. Em outras palavras, deve ocorrer um deslocamento δ das faces da trinca antes da propagação instável da trinca e da fratura do material. A Figura 2.34 ilustra esta situação e a definição de δ. Tabela 2.3 – tenacidade à fratura K1c para diversos materiais. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 408 Tabela 2.3 (continuação) – tenacidade à fratura K1c para diversos materiais. Figura 2.34 – Definição geométrica para CTOD. Cap. 2 – Fratura dos metais 409 No critério da integral J , desenvolvido por Rice (EUA) no final da década de 1960, define-se uma integral, que caracteriza as condições de tensão e de deformação existentes na ponta da trinca, em um material com comportamento elasto-plástico. A integral J representa a diminuição de energia potencial associada a um acréscimo infinitesimal no comprimento de trinca. Quando esta integral atinge um valor crítico, J1c , a fratura ocorrerá. A Figura 2.35 apresenta esquematicamente esta interpretação. Caso o material apresente crescimento estável de trinca, seja em comportamento linear elástico, seja em comportamento elasto-plástico, a tenacidade será descrita pela curva R de resistência à propagação de trinca. A idéia básica deste método é que a trinca só irá se propagar quando a força aplicada para extensão da trinca for igual ou superior à resistência do material a esta propagação de trinca. A Figura 2.36 esquematiza a curva R para dois tipos distintos de comportamento de materiais, o primeiro com uma curva R constante, e o segundo com uma curva R crescente com a propagação de trinca. Figura 2.35 – Decréscimo da energia não linear. Figura 2.36 – Diagramas de força para extensão de trinca e curva de resistência. 2.8 – Comparação com a tradicional Resistência dos Materiais A Figura 2.37 compara a aproximação fornecida pela Mecânica de Fratura com a tradicional metodologia para o projeto estrutural e a seleção de materiais. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 410 Figura 3.37 – Comparação da metodologia proposta pela mecânica de fratura para projeto estrutural com a tradicional abordagem da resistência dos materiais. Na aproximação tradicional a tensão de projeto é comparada com as propriedades de escoamento dos materiais candidatos; um material será considerado adequado se a sua resistência for maior do que a esperada tensão aplicada. Esta metodologia exige a aplicação de um fator de segurança na tensão, combinado com requisitos de deformação mínima de tração. Por outro lado, a aproximação da Mecânica de Fratura apresenta três importantes variáveis, no lugar das duas variáveis do método anterior. A variável estrutural adicional é o tamanho de trinca, e a tenacidade à fratura substitui a resistência mecânica como propriedade relevante do material. A Mecânica de Fratura quantifica as combinações críticas destas três variáveis. 2.9 – A estrutura da Mecânica de Fratura A Figura 2.38 apresenta, de uma maneira simplificada, a "árvore familiar" para o campo da Mecânica de Fratura. Figura 2.38 – “Árvore” familiar simplificada da mecânica de fratura. Cap. 2 – Fratura dos metais 411 A maioria dos trabalhos iniciais era aplicada somente para materiais com comportamento linear elástico, em condições de carregamento quase estático. Com a evolução da pesquisa em fratura, foram incorporados outros tipos de comportamento de materiais. No comportamento elasto-plástico considera-se deformação plástica em condições quase estáticas, enquanto que a mecânica de fratura dinâmica, viscoelástica e viscoplástica incluem o tempo como variável. Uma linha tracejada está traçada entre a mecânica de fratura linear elástica e a mecânica de fratura dinâmica, porque alguns primeiros trabalhos consideraram o comportamento linear elástico dinâmico. Os comportamentos em fratura do tipo elasto-plástico, viscoelástico e viscoplástico são geralmente incluídos no grupo mais amplo da mecânica de fratura não linear. 2.10 – Comportamento dos materiais O ramo da Mecânica de Fratura que será aplicado a um determinado problema obviamente depende do comportamento do material. Seja uma placa trincada carregada até a sua fratura. A Figura 2.39 mostra a variação esquemática da tensão de fratura em função da tenacidade à fratura K1c. Para materiais com baixa tenacidade a fratura frágil é o mecanismo que governa a falha, e a tensão crítica varia com a tenacidade de forma linear, como previsto pela equação 2.2. Para valores muito elevados de tenacidade a Mecânica Linear Elástica de Fratura - MLEF não é mais válida, e a fratura é governada pelas propriedades de escoamento do material. Para níveis intermediários de tenacidade existe uma transição entre a fratura frágil em condições lineares elásticas e a fratura dúctil. A Mecânica Não Linear de Fratura faz a ponte entre a MLEF e o colapso do material. Se a tenacidade for baixa, a MLEF é aplicável ao problema, mas se a tenacidade for suficientemente elevada a Mecânica de Fratura deixa de ser relevante ao problema, porque a tensão de fratura do material torna-se insensível à sua tenacidade. Para esta situação uma simples análise pela carga limite será necessária para prever a tensão de falha do material. A Tabela 2.4 lista diversos materiais, juntamente com o regime típico de fratura para cada material. Figura 3.39 – Efeito da tenacidade à fratura no mecanismo de fratura. MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 412 Tabela 2.4 – comportamento típico de fratura para diversos materiais. 2.11 – Crescimento subcrítico de trinca Existem basicamente três situações na prática onde ocorre o crescimento sub-crítico da trinca, até que se atinja a tenacidade do material e aconteça a sua fratura: • crescimento de trinca por fadiga; • crescimento de trinca por corrosão sob tensão; • crescimento de trinca por fluência. No caso da degradação do material por fadiga, a Mecânica de Fratura relaciona a taxa de propagação de trinca da/dN com o fator cíclico de intensidade de tensão ∆K (Kmax - Kmin em cada ciclo de fadiga). Tem-se uma relação do tipo : ( )da dN f K ⎛ ⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ = ∆ (2.4) que, colocada em um gráfico log-log, fornece uma curva “sigmoidal”, conforme esquematizado na Figura 2.40. No caso do fenômeno de corrosão sob tensão, a Mecânica de Fratura relaciona a taxa de propagação de trinca da/dt com o fator de intensidade de tensão K. Tem-se umarelação do tipo: ( )da dt g K ⎛ ⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ = (2.5) Cap. 2 – Fratura dos metais 413 Figura 2.40 – Típico comportamento de crescimento de trinca de fadiga em metais. A equação 2.5 novamente colocada em um gráfico log-log, fornece a curva esquematizada na Figura 2.41. Figura 2.41 – Típico comportamento de crescimento de trinca de corrosão sob tensão em metais. No caso da deformação em elevadas temperaturas, ou fluência, a Mecânica de Fratura relaciona a taxa de propagação de trinca da/dt com o parâmetro C* , que tem o mesmo significado físico que o fator K, porém para um comportamento viscoso do material. Tem-se uma relação do tipo: da dt h C ⎛ ⎝⎜ ⎞ ⎠⎟ = ( ) * (2.6) que, mais uma vez em um gráfico log-log, fornece a curva esquematizada na Figura 2.42. Em todas as situações descritas anteriormente, o objetivo principal é a determinação da vida do material. Desta forma, deve-se integrar a equação que relaciona a taxa de propagação da trinca em função de sua força motriz para propagação. Em todos os casos, os limites da integração em termos do tamanho de trinca são o tamanho inicial de trinca, determinado por MÓDULO QUATRO – Resistência Mecânica 414 uma técnica de ensaio não destrutivo, e o tamanho crítico de trinca, determinado a partir do conhecimento da tenacidade à fratura do material. Figura 2.42 – Crescimento de trinca por fluência em um aço Cr-Mo em três temperaturas. 2.12 – Referências ANDERSON, T.L.; Fracture Mechanics – Fundamentals and Applicatins. CRC Press, Boca Raton, 1995. ASM HANDBOOK, Failure Analysis and Prevention. ASM International, vol. 11, Materials Park, 1992. ASM HANDBOOK, Fractography. ASM International, vol. 12, Materials Park, 1992. ASM HANDBOOK, Fatigue and Fracture. ASM International, vol. 19, Materials Park, 1996. ASM HANDBOOK, Case Histories in Failure Analysis. ASM International, vol. 1 e 2, Materials Park, 1992 e 1994. CALLISTER Jr., W.D.; Materials Science and Engineering: an Introduction. John Wiley & Sons Inc., 4th ed., New York, 1997. DIETER, G.E.; Mechanical Metallurgy. McGraw Hill Book Company, SI Metric Edtion, 1988. DOWLING, N. E.; Mechanical Behavior of Materials. Prentice-Hall Inc., 1993. GODEFROID, L.B.; CANDIDO, L.C.; MORAIS, W.A.; Análise de Falhas – Curso. Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais-ABM, Cubatão, abril, 2003. LANDES, J.D.; Fracture Mechanics – Curse. University of Tennesse and CDTN/CNEN, Belo Horizonte, march, 1998. MEYERS, M.A.; CHAWLA, K.K.; Principles of Mechanical Metallurgy. Prentice-Hall Inc., 1983. PRATICAL FAILURE ANALYSIS, Journal of American Society for Materials-ASM, Materials park, 2001.
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