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Conteúdo: ORÇAMENTOS, CUSTOS E FINANÇAS NO SETOR PÚBLICO Iraneide S. S. Azevedo Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A994o Azevedo, Iraneide S. S. Orçamentos, custos e finanças no setor público / Iraneide S. S. Azevedo, Aline Alves ; [revisão técnica: Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 440 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-130-3 1. Finanças - Orçamentos. 2. Serviço público. I. Alves. Aline. II. Título. CDU 336.13 Revisão técnica: Lilian Martins Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário (UNIFIN) Professora do Curso de Ciências Contábeis (Faculdades São Judas Tadeu, FAPA e UniRitter) Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF) das Faculdades São Judas Tadeu Orçamentos custos e finanças_Iniciais_Impressa.indd 2 17/07/2017 17:40:11 Receita Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Elencar as receitas orçamentárias e extraorçamentárias. n Reconhecer as fases da receita pública. n Conhecer os procedimentos contábeis referentes à receita pública. Introdução Receita, pelo enfoque orçamentário, são todos os ingressos disponíveis para cobertura das despesas orçamentárias e das operações que as financiam. A gestão pública está relacionada com o orçamento anual, o mo- vimento financeiro e as mutações patrimoniais ocorridas no exercício financeiro anual. Entre os meios de que a administração pública dis- põe, estão os ingressos orçamentários, tratados aqui como receitas, e os ingressos extraorçamentários, que, por sua vez, não são receitas. Em respeito ao princípio orçamentário da universalidade, todos os ingressos orçamentários são caracterizados como receitas. Além disso, estão previs- tos no orçamento anual, em que estão destacadas as receitas tributárias (impostos, taxas e contribuição de melhoria). Neste texto, você irá conhecer características, fases e fontes de des- tinação de recursos da receita pública. Receita pública Segundo Piscitelli e Timbó (2012), a receita pública, em sentido amplo, se caracteriza como um ingresso de recursos no patrimônio público. Mais es- pecifi camente, ela é uma entrada de recursos fi nanceiros que se refl ete no aumento de disponibilidades. Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 244 17/07/2017 13:45:09 Classificação A receita pública se divide em dois grandes grupos, como você pode ver a seguir: n Orçamentária. n Extraorçamentária. Essa subdivisão considera a relação que a receita tem, levando em conta a sua participação no orçamento. Portanto, de maneira geral, você pode verifi car, pela própria nomenclatura, que uma das divisões será contemplada no orçamento enquanto a outra não estará descrita nele. Receita orçamentária É aquela devidamente discriminada no orçamento público. São os tributos, as rendas, as transferências, as alienações, os retornos de empréstimos e as operações de créditos por prazo superior a 12 meses. Observe os exemplos: n Recebimento de tributos. n Obtenção de empréstimos. n Alienação de bens, etc. A Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964), em seu artigo 11, classifica a receita orçamentária em duas categorias econômicas: receitas correntes e receitas de capital. Receitas correntes Constituem-se de receitas tributárias, contribuições patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras. Também incluem contribuições provenientes de recursos fi nanceiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender a despesas classifi cáveis como correntes. 245Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 245 17/07/2017 13:45:09 A receita tributária é composta por impostos, taxas e contribuições de melhoria. Ela é definida como a resultante da cobrança de tributos pagos pelos contribuintes em razão de suas atividades, suas rendas, suas propriedades e dos benefícios diretos e imediatos recebidos do Estado. A Lei nº 4.320/64 descreve que (BRASIL, 1964): Tributo é a receita derivada, instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e contribuições nos termos da Constituição e nas leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou específicas exercidas por essas entidades. Exemplos: impostos sobre o comércio exterior, Imposto sobre a Exportação (IE), Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), taxas pelo exercício do poder de polícia, taxa de serviços administrativos, contribuição de melhoria para expansão da rede de iluminação pública na cidade, etc. n A receita de contribuições também é uma fonte das receitas correntes. Ela é destinada a arrecadar receitas relativas a contribuições sociais e econômicas, destinadas, geralmente, à manutenção dos programas e serviços sociais e de interesse coletivo. Exemplos: Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), contribuição social do salário-educação, contribuições para o Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, etc. n As receitas patrimonial, agropecuária e industrial são fontes que se compõem de rendas provenientes, respectivamente, da utilização de bens pertencentes ao Estado, como aluguéis, arrendamentos, foros, laudêmios, juros, participações e dividendos; da produção vegetal, ani- mal e de derivados; e da indústria extrativa mineral, de transformação e de construção. Orçamentos, custos e finanças no setor público246 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 246 17/07/2017 13:45:10 Exemplos: aluguéis, arrendamentos, foros, juros de títulos de renda, divi- dendos, remuneração de depósitos bancários, etc. n As receitas de serviços são outra fonte das receitas correntes que se originam da prestação de serviços comerciais, financeiros, de transporte, de comunicação, entre outros. Também advêm de tarifas de utilização de faróis, aeroportuárias, de pedágio. Exemplos: serviços de transporte rodoviário, serviços de saúde, serviços portuários, serviços de armazenagem, serviços de processamento de dados, serviços de inscrição em concursos públicos, etc. n As transferências correntes são uma fonte oriunda de recursos finan- ceiros recebidos de outras entidades de direito público ou privado e destinados ao atendimento de gastos, classificáveis em despesas correntes. Exemplos: cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), cota-parte do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), cota-parte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), transferência de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), cota-parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cota-parte do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), transferências de convênios, etc. Outras receitas correntes também são fonte de receitas correntes originárias da co- brança de multas e juros de mora, indenizações e restituições, receita da dívida ativa e receitas diversas. Exemplos: multas e juros de mora dos tributos, indenizações e restituições, receita da dívida ativa, receitas diversas, etc. n Receitas de capital: são as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas, bem como da conversão, em espécie, de bens e direitos. Também incluem os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender a despesas classificáveis como de capital. 247Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 247 17/07/2017 13:45:10 n As operações de crédito são fontes oriundas da realização de recursos financeiros advindos da constituição de dívidas, por meio de emprés- timos e financiamentos. Essas fontes podem ser internas ou externas. Exemplos: operações de crédito internas, títulos de responsabilidade do tesouro, Títulos da Dívida Agrária (TODA), operações de crédito externas, etc. nAs amortizações de empréstimos são fontes das receitas de capital. Por meio delas, se recebem valores dados anteriormente por empréstimos a outras entidades de direito público. Exemplo: pagamento de financiamento pelo Sistema de Amortização Constante (SAC). n As alienações de bens são outra fonte das receitas de capital. Elas são captadas por meio da venda de bens patrimoniais móveis e imóveis. Além disso, dizem respeito às conversões de bens e valores em espécies, isto é, à conversão desses bens e valores em moeda corrente. Exemplos: alienação de bens móveis (alienação de veículos, alienação de equipamentos), alienação de bens imóveis (alienação de imóveis urbanos, alienação de imóveis rurais), etc. n As transferências de capital são outra fonte de recursos recebidos de entidades de direito público ou privado, destinados a atender a despesas classificáveis como de capital. Exemplos: transferências de convênios, transferências de recursos desti- nados a programas de educação, transferências de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), etc. Orçamentos, custos e finanças no setor público248 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 248 17/07/2017 13:45:10 Há ainda outras receitas de capital. Elas são uma fonte das receitas de capital destinada a arrecadar outras receitas de capital que, por sua vez, constituirão uma classificação genérica não enquadrável nas fontes anteriores. Exemplos: resultado do Banco Central do Brasil, receita da dívida ativa proveniente de amortização de empréstimos e financiamentos, etc. Receita extraorçamentária É aquela que não integra o orçamento público. Sua realização não se vincula à execução do orçamento e tampouco constitui renda para o Estado. É verdade que o dinheiro recebido a título de receita extraorçamentária se soma às disponibilidades financeiras. Mas, em contrapartida, constitui um passivo exigível. Assim sendo, será restituído quando reclamado. Observe os exemplos: n Cauções; n Consignações em folha de pagamento; n Retenções na fonte; n Salários não reclamados; n Operações de crédito a curto prazo. É importante você entender que uma receita extraorçamentária pode vir a se incorporar definitivamente ao patrimônio público. É uma espécie de metamorfose de receita, ou seja, a receita extraorçamentária se transforma em orçamentária. Exemplos: depósitos de terceiros, salários não reclamados, consignações a pagar, etc. Porém, itens como esses sempre representarão um passivo financeiro, a ser restituído ao seu verdadeiro proprie tário em momento oportuno. 249Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 249 17/07/2017 13:45:10 Fases da receita pública As fases também são conhecidas como estágios ou etapas da receita pública. Elas demonstram o caminho percorrido pela receita no seu processo de gestão, conforme você pode observar na Figura 1. Figura 1. Fases da receita. Fonte: Paludo (2010). Previsão Trata-se do primeiro estágio da receita. É a estimativa de quanto se espera arrecadar durante o exercício. É a individualização, o relacionamento e a discriminação da espécie e do seu valor. Em outras palavras, o Governo estima quanto irá arrecadar no exercício financeiro por meio de metodologias de projeção, observando ainda as dispo- sições da legislação aplicável. O planejamento orçamentário é materializado na Lei Orçamentária Anual (LOA). Ela prevê a receita e fixa a despesa a serem executadas. O Poder Executivo elabora o orçamento e o envia ao Legislativo por meio de um projeto de lei. Esse projeto, por sua vez, é discutido e modificado. Posteriormente, ele é devolvido ao chefe do Executivo para sanção. O planeja- mento para a arrecadação de receitas e a realização de despesas públicas no Brasil é obrigatório. Ele é previsto em normas cogentes, em especial na Constituição Federal, na Lei nº 4.320/64 e na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Constituição Federal (CF/88) (BRASIL, 1988): Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Orçamentos, custos e finanças no setor público250 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 250 17/07/2017 13:45:10 Lei do Orçamento (Lei nº 4.320/64) (BRASIL, 1964): Art. 2°. A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/00) (BRASIL, 2000): Art. 1º, § 1º. A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. Assim, objetivando atender ao Princípio da Legalidade, o Estado deve planejar a arrecadação de receitas e a realização de despesas. Também deve submeter esse planejamento à apreciação do Poder Legislativo, verdadeiro e legítimo representante do povo. Os parâmetros para a previsão da receita visam a efetividade dos princípios do plane- jamento e da responsabilidade na gestão fiscal estabelecidos na LRF. Nesse sentido, constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, a previsão e a arrecadação efetiva de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação (artigo 11 da LRF) (BRASIL, 2000). Com base nessa linha de pen- samento, essa norma indicou parâmetros para a projeção das receitas orçamentárias. Você pode observar esses parâmetros a seguir (BRASIL, 2000). “Art. 12. As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstra- tivo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas.” 251Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 251 17/07/2017 13:45:10 Lançamento O lançamento consiste no procedimento administrativo em que se verifi ca a procedência do crédito fi scal. Nele também se apuram quem é o devedor e quando ele deverá cumprir sua obrigação de pagamento. Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964): Art. 52. São objeto de lançamento os impostos diretos e quaisquer outras rendas com vencimento determinado em lei, regulamento ou contrato. Art. 53. O lançamento da receita, o ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. Tendo ocorrido o fato gerador, há condições de se proceder ao registro contábil do direito da fazenda pública em contrapartida a uma variação ativa, em contas do sistema patrimonial, o que representa o registro da receita por competência. Tendo ocorrido o fato gerador, há condições de se proceder ao registro contábil do direito da fazenda pública em contrapartida a uma variação ativa, em contas do sistema patrimonial. Isso representa o registro da receita por competência. A etapa de lançamento se situa no contexto de constituição do crédito tributário. Ou seja, se aplica a impostos, taxas e contribuições de melhoria. Lançamento de créditos tributários Segundo o artigo 142 do Código Tributário Nacional (CTN), “[...] compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido como o procedimento administrativo tendentea verifi car a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, deter- minar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identifi car o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível.” (BRASIL, 2012b). Orçamentos, custos e finanças no setor público252 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 252 17/07/2017 13:45:10 O CTN informa a existência de três modalidades de lançamento para constituição do crédito tributário (BRASIL, 2012b): 1. Lançamento de ofício ou direto Art. 149, inciso 7º: “[...] quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação.”. A administração pública coleta as informações e realiza todo o procedi- mento administrativo, sem auxílio do sujeito passivo no momento do lançamento. n Exemplos: IPTU e IPVA. Conforme você pode observar nos exemplos, o ente estatal já possui em seu banco de dados os proprietários de imóveis e de veículos automotores. Assim, não necessita do auxílio do sujeito passivo no exato momento do lançamento. Suas principais características são a iniciativa da autoridade tributária e a independência da colaboração do sujeito passivo. 2. Lançamento por declaração ou misto Art. 147: “[...] com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.”. O sujeito passivo presta informações à autoridade tributária quanto à matéria de fato, cabendo à administração pública apurar o montante do tributo devido. O Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) é um exemplo: o município cobra o tributo tendo por base as informações prestadas pelo contribuinte. Suas principais características são: o sujeito passivo fornece informações à autoridade tributária; somente com tais informações será calculado o valor devido e lançado o tributo. 3. Lançamento por homologação ou autolançamento Art. 150: “[...] atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.”. O sujeito passivo antecipa o pagamento em relação ao lançamento, sem prévio exame da autoridade tributária. Assim, seus atos ficam sujeitos à confirmação 253Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 253 17/07/2017 13:45:11 posterior da autoridade competente. O Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) é um exemplo: o contribuinte antecipa o pagamento e no ano seguinte faz a declaração anual de ajuste do imposto de renda. De posse da declaração, a autoridade fiscal irá analisar as informações e homologar (ou não) o procedimento do sujeito passivo. Arrecadação A arrecadação ocorre no momento em que o contribuinte ou devedor efetua o pagamento. Assim, a arrecadação consiste na entrega dos recursos devidos ao Tesouro Nacional realizada pelos contribuintes ou devedores aos agentes arrecadadores autorizados pelo ente. Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964): Art. 55. Os agentes da arrecadação devem fornecer recibos das impor- tâncias que arrecadarem. Os agentes arrecadadores, normalmente ins- tituições financeiras, precisam estar previamente cadastrados e ligados à rede de arrecadação do ente. Observe, por exemplo, o carnê para pagamento do IPTU encaminhado pela prefeitura de sua cidade. Nele consta o nome de todos os bancos que estão autorizados a arrecadar o imposto. É na fase de arrecadação (e não no recolhimento) que a receita é considerada realizada sob o aspecto orçamentário, para fins de acompanhamento e execução do orçamento. Recolhimento O recolhimento ocorre no momento em que o agente arrecadador transfere o recurso ao ente. Assim, o recolhimento da receita consiste na transferência dos valores arrecadados à conta específi ca do Tesouro responsável pela ad- ministração e controle da arrecadação e pela programação fi nanceira. Nesse sentido, se deve observar o Princípio da Unidade de Caixa, representado pelo controle centralizado dos recursos arrecadados em cada ente da Federação. Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964): Orçamentos, custos e finanças no setor público254 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 254 17/07/2017 13:45:11 Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais. Estágios da receita são etapas, períodos, operações, classificados para efeitos didáticos, que guardam relação com definições legais específicas e com a sistemática adotada pela administração pública. Leia mais sobre esse assunto no capítulo 8 do livro de Piscitelli e Timbó (2012) Con- tabilidade Pública: uma abordagem da administração financeira pública (veja detalhes sobre a obra no final deste texto). Procedimento contábil referente à receita orçamentária Deduções da receita orçamentária O critério do ingresso de disponibilidades é o parâmetro mais geral utilizado para o registro da receita orçamentária. Na administração pública, a dedução de receita orçamentária é usada em situações específi cas. Você pode ver algumas dessas situações a seguir: n Recursos que o ente possua a competência de arrecadar, mas que são de outro ente, conforme a lei vigente (caso não exista a previsão como despesa); n Devolução de tributos coletados a mais ou indevidamente. Caso a receita arrecadada tenha parcelas designadas para outros entes (repartição tributária), é possível registrar a transferência como dedução de receita. Ela também pode ser assinalada como despesa orçamentária, conforme a legislação em vigor. Além disso, se for preciso restituir parcelas, estas não devem ser tratadas como despesa orçamentária. É necessário considerá-las dedução de receita orçamentária. Isso ocorre porque essas parcelas são recursos arrecadados que não pertencem à entidade pública. Também não é possível aplicá-las em progra- mas e ações governamentais sob a responsabilidade do ente arrecadador. Elas não necessitam, assim, de autorização orçamentária para serem executadas. 255Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 255 17/07/2017 13:45:11 A contabilidade se vale da conta redutora de receita orçamentária para apresentar o fluxo de recursos da receita orçamentária bruta até a líquida, o que ocorre devido às suas operações sociais e econômicas. Restituições de receitas orçamentárias Mesmo após o reconhecimento das receitas orçamentárias, podem surgir ocorrências supervenientes que criem a necessidade de restituições. Caso isso aconteça, se deve registrar essas ocorrências como dedução da receita orçamentária. Isso permite que haja mais transparência com relação às infor- mações sobre a receita bruta e a líquida. A restituição é a devolução total ou parcial de receitas orçamentárias recolhidas a mais ou de modo indevido. Estas precisam ser reembolsadas, de acordo com os princípios da capacidade contributiva e da vedação ao confisco, apresentados na Constituição. Nesse sentido, a autorização orçamentária não é requerida para a devolução. A União compreende a restituição como dedução de receita. Caso fosse registrada como despesa orçamentária, a receita corrente líquida teria um montante maior que o real, já que o efeito da arrecadação indevida não seria descontado. Para viabilizar a padronização contábil e garantir a transparência da res- tituição de receitas, a legislação federal define alguns procedimentos, como você pode observar a seguir. Lei nº 4.862/1965 (BRASIL, 1965): Art. 18. A restituição de qualquer receita da União, descontada ou recolhida a maior será efetuada mediante anulação da respectiva receita, pela autoridade incumbida de promover a cobrança originá- ria, a qual, em despacho expresso, reconhecerá o direito creditório contra a Fazenda Nacionale autorizará a entrega da importância considerada indevida. [...] §4º. Para os efeitos deste artigo, o regime contábil fiscal da receita será o de gestão, qualquer que seja o ano da respectiva cobrança. Orçamentos, custos e finanças no setor público256 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 256 17/07/2017 13:45:11 §5º. A restituição de rendas extintas será efetuada com os recursos das dotações consignadas no Orçamento da Despesa da União, desde que não exista receita a anular. Decreto-lei nº 1.755/1979 (BRASIL, 1979): Art. 5º. A restituição de receitas federais e o ressarcimento em espécie, a título de incentivo ou benefício fiscal, dedutíveis da arrecadação, mediante anulação de receita, serão efetuados através de documento próprio a ser instituído pelo Ministério da Fazenda. Decreto nº 93.872/1986 (BRASIL, 1986): Art. 14. A restituição de receitas orçamentárias, descontadas ou recolhidas a maior, e o ressarcimento em espécie a título de incentivo ou benefício fiscal, dedutíveis da arrecadação, qualquer que tenha sido o ano da res- pectiva cobrança, serão efetuados como anulação de receita, mediante expresso reconhecimento do direito creditório contra a Fazenda Nacio- nal, pela autoridade competente, a qual, observado o limite de saques específicos estabelecido na programação financeira de desembolso, autorizará a entrega da respectiva importância em documento próprio. Parágrafo único. A restituição de rendas extintas será efetuada com os recursos das dotações consignadas na Lei de Orçamento ou em crédito adicional, desde que não exista receita a anular. Desse modo, e visando a uma correta consolidação das contas públicas, se recomenda que a restituição de receitas orçamentárias arrecadadas em quaisquer exercícios ocorra por meio da dedução da respectiva natureza de receita orçamentária. As rendas extintas durante o exercício exigem o uso do procedimento de dedução até o montante de receita passível de compensação. Além disso, se deve registrar como despesa o valor que exceder o saldo da receita a descontar. As rendas extintas são aquelas cujo fato gerador da receita não consiste mais em uma situação capaz de produzir arrecadações para o ente. 257Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 257 17/07/2017 13:45:11 Quando ocorrer devolução de saldos de convênios, contratos e congêneres, é necessário seguir alguns procedimentos. Você pode vê-los a seguir. 1. Caso a restituição aconteça no exercício no qual as transferências do convênio, contrato ou similar foram recolhidas, é necessário registrá- -la como dedução de receita até o limite de valor das transferências embolsadas no período; 2. Caso a restituição ultrapasse as transferências recebidas no exercício, o montante a mais precisa ser contabilizado como despesa orçamentária. 3. Caso a restituição seja realizada durante um exercício em que não houve transferência do convênio/contrato, é preciso computá-la como despesa orçamentária. Um exemplo disso pode ser a compra e a venda de imóveis. O comprador, para livrar a escritura, deve pagar o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). Isso é feito por meio do preenchimento da guia, que deve ser levada à autoridade fiscal competente para verificação. Após o visto, a guia será paga no agente arrecadador competente, nesse caso uma agência bancária. Como você deve imaginar, existem outros procedi- mentos contábeis referentes à receita orçamentária. Observe alguns: n Imposto de renda retido na fonte; n Transferências de recursos intergovernamentais; n Receitas orçamentárias por baixa da dívida ativa. Acesse o link ou código a seguir e leia mais sobre pro- cedimentos contábeis orçamentários (BRASIL, 2012a): https://goo.gl/dTkQWb Orçamentos, custos e finanças no setor público258 Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 258 17/07/2017 13:45:11 https://goo.gl/dTkQWb 1. A Receita Tributária conceitua-se como a resultante da cobrança de tributos pagos pelos contribuintes em razão de suas atividades, suas rendas, suas propriedades e dos benefícios diretos e imediatos recebidos do Estado. Ela é composta por ______________, _________ e ________________. Qual alternativa preenche corretamente as três composições da receita tributária? a) Impostos, Receita Patrimonial e Taxas b) Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria c) Taxas, Contribuições de Melhoria e Receita de Serviço d) Impostos, Contribuições de Melhoria e Multas e) Taxas, Contribuições de Melhoria e Dividendos 2. Qual receita corrente que se destina à manutenção dos programas e serviços sociais e de interesse coletivo? a) Receita de Serviços b) Receita Patrimonial c) Receita Tributária d) Receita de Contribuições e) Receita Industrial 3. As receitas extra-orçamentárias são aquelas que não fazem parte do orçamento público. Entre as alternativas a seguir, assinale aquela que cita um exemplo de receita-extraorçamentária. a) Transferências correntes b) Operações de crédito c) Cauções d) Amortização de empréstimos e) Transferência de capital 4. Conforme o estabelecido na Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964) e de acordo com as lições doutrinárias referentes à receita pública, é correto afirmar que: a) As receitas públicas, segundo as categorias econômicas, se classificam em receitas correntes e receitas de capital. b) Receitas tributárias e alienação de bens constituem receitas correntes. c) Operações de crédito e alienação de bens representam receitas de capital. d) O superávit do orçamento corrente constitui receita corrente. e) Os estágios da receita são empenho, fixação e recolhimento. 5. Assinale a opção que, de acordo com a Lei nº 4.320/64 (BRASIL, 1964), contém uma receita de capital, mas que não constitui item da receita orçamentária. a) Receita patrimonial. b) Receita industrial. c) Doações e subvenções em geral. d) Superávit do orçamento corrente. e) Transferências intergovernamentais para despesas correntes. 259Receita Orçamentos custos e finanças_U3_C18.indd 259 17/07/2017 13:45:12 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 maio 2017. BRASIL. Decreto nº 93.872, de 23 de dezembro de 1986. Brasília, DF, 1986. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d93872.htm>. Acesso em: 19 jun. 2017. BRASIL. Decreto-lei nº 1.755, de 31 de dezembro de 1979. Brasília, DF, 1979. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del1755.htm>. Acesso em: 19 jun. 2017. BRASIL. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Brasília, DF, 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>. Acesso em: 19 jun. 2017. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Brasília, DF, 1964. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 18 maio 2017. BRASIL. Lei nº 4.862, de 29 de novembro de 1965. Brasília, DF, 1965. 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