superiores às esperadas. Os desvios estão, sobretudo, ligados aos internamentos nos centros de saúde. O nível de despesas que aí é observado merece a implementação de um controlo das prestações; � o número de pessoas que deviam aderir foi mesmo de 500, mas o dos beneficiários é apenas de 2 500 pessoas; consequentemente, o montante total das quotizações será apenas de 5 375 000 UM. Além disso, vários aderentes não pagaram a sua quotização integralmente, prome- tendo pagar o resto em Julho. Resta, assim, por cobrar um montante de 237 810 UM. O plano de tesouraria A tesouraria de uma mutualidade, como de qualquer outra organização, designa o dinheiro imediatamente disponível (disponibilidades) na caixa e nas contas bancárias, que lhe permite efectuar despesas sem ter que vender um activo. A gestão da tesouraria visa, simultaneamente: � dispor da liquidez necessária para fazer face em qualquer momento aos compromissos para com os aderentes e os prestadores de cuidados; � utilizar da melhor forma a liquidez, determinando os montantes que podem ser aplica- dos para gerar produtos financeiros. O plano de tesouraria é o documento no qual assenta a gestão da tesouraria. Trata-se de um quadro de previsão dos depósitos e dos levantamentos da caixa a realizar mês a mês e durante o exercício. 2.1 As funções do plano de tesouraria O plano de tesouraria permite a uma mutualidade optimizar a sua gestão de tesouraria: � permite à mutualidade assegurar a sua solvabilidade, isto é, a sua capacidade em fazer face, a qualquer momento, aos seus compromissos e aos seus prazos de venci- mento; � permite determinar, no caso de tesouraria positiva, os montantes que possam ser aplica- dos e as durações desejáveis para essas aplicações; � constitui uma ferramenta de planificação e de previsão; � é também um instrumento de acompanhamento e de controlo; � permite, no caso de previsões de dificuldades de tesouraria, negociar empréstimos ou prorrogações de prazos de pagamento para com os credores. 2.2 A elaboração do plano de tesouraria A elaboração de um plano de tesouraria está ligada à do orçamento, já que se trata de estimar as receitas e as despesas do ano. Contudo, diferentemente deste último, o plano de tesouraria é estabelecido mês a mês e interessa-se, unicamente, pelos fluxos de liquidez. O plano de tesouraria apresenta-se como um quadro de síntese que faz ressaltar, para cada mês: � o saldo do mês anterior; � o total mensal dos depósitos em caixa; � as disponibilidades do mês: saldo anterior + total dos depósitos em caixa; � o total mensal dos levantamentos da caixa; � o saldo do mês: disponibilidades do mês – total dos levantamentos da caixa. 192 Guia de gestão das mutualidades de saúde em África BIT/STEP O saldo mensal pode ser positivo ou negativo. � Quando é positivo, isso significa que as disponibilidades do mês são superiores aos levantamentos da caixa e, portanto, que não haverá problemas de liquidez. Se este saldo é importante, a mutualidade pode considerar aplicar parte dele, a fim de gerar produtos financeiros. � Quando o saldo é negativo, isso significa que os levantamentos da caixa são superio- res às disponibilidades. A mutualidade não disporá suficientemente de dinheiro para fazer face aos seus compromissos. Neste caso simbólico, várias soluções podem ser consideradas. Em particular: ✔ negociar um empréstimo a curto prazo para “equilibrar o orçamento”; ✔ deferir certas despesas (por exemplo obtendo aumentos de prazos de pagamento); ✔ empreender acções para aumentar os depósitos em caixa (por exemplo, condu- zindo uma campanha de cobrança das quotizações em atraso). A elaboração de um plano de tesouraria é um trabalho particularmente delicado no qua- dro de uma mutualidade de saúde. As dificuldades são as mesmas que as encontradas para a elaboração do orçamento e respeitam, sobretudo, à estimativa das despesas em prestação doença. A sua previsão deve com efeito ter em conta variações sazonais da morbidez (mais o paludismo durante as chuvas, mais as meningites durante o harmatão*, etc.). A experiência mostra, igualmente, que, quando uma mutualidade pratica uma quotização fraccionada (semanal, mensal, etc.), ela deve prever uma variação mensal da sua taxa de cobrança. Com efeito, esta sofrerá variações em função dos períodos de fortes ou de fra- cos rendimentos. Consequentemente, são, geralmente, precisos vários anos a uma mutuali- dade antes de controlar as suas estimativas. Será, pois, necessário ser particularmente pru- dente durante esse período em matéria de aplicações. Parte V • A gestão provisional 193 * Vento leste, quente e seco (Nota da tradução) 194 Guia de gestão das mutualidades de saúde em África BIT/STEP Exemplo A mutualidade dos Pescadores de la Lagune elabora um plano de tesouraria a seis meses. Este, para o primeiro semestre de funcionamento da mutualidade, apresenta-se assim: Os saldos mensais previstos para os primeiros meses são importantes e resultam do período de obser- vação que se estende de Janeiro a Abril. Os responsáveis da mutualidade prevêem, então, aplicar uma parte da tesouraria numa conta poupança, a fim de promover a rentabilização de uma parte dos fundos. É o que fazem desde Janeiro, aplicando 6 500 000 UM num depósito a prazo de três meses, no vencimento do qual, a mutualidade vai arrecadar produtos financeiros. No início de Maio, recolo- cam este fundo num depósito a prazo de três meses, retirando 1 500 000 UM, depositados na conta bancária corrente, como previsão das primeiras prestações de doença. Para o segundo semestre, a mutualidade decide estabelecer planos de tesouraria mensais, esperando um bom controlo das suas despesas com prestações de doença. PPaarrttee 66 A gestão dos riscos ligados ao seguro Uma mutualidade é exposta a um certo número de riscos que decorrem em parte da inci- dência do seguro sobre o comportamento dos beneficiários e dos prestadores de cuida- dos. Estes riscos são conhecidos e podem ser prevenidos ou limitados pela implementação de medidas técnicas e financeiras adequadas. Esta parte, compreendendo dois capítulos, examina os diferentes riscos ligados ao seguro, apresenta as medidas, visando limitá-los, e introduz os mecanismos destinados a consolidar a situação financeira da mutualidade. Capítulo 1 Os principais riscos ligados ao seguro e a sua prevenção Este primeiro capítulo descreve os principais riscos ligados ao seguro de saúde, em particular, o risco moral, a selecção adversa, os abusos e frau- des. Passa em revista as diferentes categorias de medidas, visando prevenir esses riscos ou limitar-lhes o impacto. As condições de aplicação destas medidas são aí descritas e compreendi- dos os seus possíveis efeitos negativos sobre certos aspectos do funciona- mento das mutualidades. Capítulo 2 Os mecanismos de consolidação financeira Este segundo capítulo trata dos mecanismos financeiros que podem ser utili- zados para fazer face às incertezas, em matéria de custos das prestações da mutualidade. São, assim, introduzidos a constituição de reservas financei- ras, a participação num fundo de garantia e a subscrição de um sistema de resseguro. Os principais riscos ligados ao seguro e à sua prevenção Uma mutualidade de saúde é confrontada com certos riscos ligados ao seguro. Estes riscos decorrem, em grande parte, das escolhas e das modalidades de comparticipação das despesas de saúde dos beneficiários, assim como mecanismos de funcionamento da mutualidade. Por exemplo, nota-se que: � as consultas ambulatórias são fortemente submetidas ao risco de uma utilização abusiva por parte dos beneficiários. Com efeito, a comparticipação destas consultas pelo seguro pode incitar os beneficiários a recorrer a ele mais do que o necessário para “valorizar” o mais possível a sua quotização; � a comparticipação das doenças crónicas e da cirurgia programável expõe a mutuali- dade ao risco de uma adesão maciça de pessoas sofrendo dessas doenças ou neces- sitando de ser operadas. Sendo conhecidos estes