de que mesmo a supres- são viral parcial (queda superior a 0,5 log da carga viral inicial) se correlaciona com benefícios clínicos transitórios (Murray e cols, 1999). Outros estudos de coorte sugerem que benefícios imunológico e clínico continuados podem ocorrer com carga viral inferior a 10 a 20 mil cópias (Raffanti e cols 2004; Ledergerber e cols 2004). Portanto, nos casos em que a obtenção de carga viral indetectável não é factível e não há condições de se aguardar um esquema potente, sob o risco de progressão clínica, a redução da carga viral ao nível mais baixo possível pelo maior período de tempo possível deve ser o objetivo do tratamento, mesmo na vigência da falha virológica. Enfatiza-se que resgates mais eficazes devem ser tentados à medida que novas opções de anti-retrovirais estejam disponíveis. Causas de falha terapêutica A presença de carga viral detectável durante o tra- tamento anti-retroviral caracteriza a falha virológica. Deve-se salientar, entretanto, que existe uma associa- ção extremamente freqüente entre a presença da falha virológica e a resistência aos anti-retrovirais (Sucupira 2001), podendo a resistência ser a causa ou mesmo a conseqüência da replicação viral a despeito do uso de TARV. De fato, na falha virológica, é identificada resis- tência em mais de 90% dos casos [Sucupira 2001]. Inúmeros fatores podem contribuir para falha virológica aos anti-retrovirais, por vezes culminando com a carga viral detectável, na ausência de resistência no teste de genotipagem. Alguns desses fatores podem ser citados: Adesão: uma das causas mais freqüentes de falha virológica é a baixa adesão ao tratamento, dada a complexidade da posologia e a ocorrência de efeitos adversos do tratamento. A perda de uma única dose de alguns medicamentos pode resultar na queda dos níveis séricos, atingindo-se níveis inferiores àque- les requeridos para inibir a replicação viral, o que favorece, assim, a emergência de cepas resistentes. Deve-se permanecer atento ao fato de que a adesão pode diminuir ao longo do tempo. Potência: a insuficiente potência do esquema anti- retroviral também pode acarretar supressão viral parcial, o que é, particularmente, visto em esquemas subótimos como esquemas duplos contendo inibi- dores de transcriptase reversa ou em qualquer tipo de monoterapia. Fatores farmacológicos: podem levar à presença de carga viral detectável, à má absorção do anti-retro- viral, à eliminação acelerada do medicamento e à baixa penetração em alguns santuários de replicação viral. Esta última pode ser uma explicação para a presença de carga viral detectável em estudos de tratamento com monoterapia com inibidores de protease incrementados com ritonavir. Além desses fatores, as interações com outros medicamentos que provoquem indução do sistema hepático CYP-450 podem ocasionar aumento da metabolização dos ARV e com isso redução de seus níveis séricos. Recomendações para Terapia Anti-retroviral em Adultos Infectados pelo HIV 4� Transativação heteróloga: pode elevar em até 184 vezes a carga viral, sem ocasionar repercussões clínicas relevantes, seleção de resistência ou mesmo predispor à falha virológica definitiva. Pode durar até três semanas após infecção aguda, vacinação ou transfusão e, portanto, deve-se confirmar o retorno da carga viral aos níveis indetectáveis após três ou quatro semanas. Resistência celular: a partir de um mecanismo seme- lhante ao que proporciona a resistência das células neoplásicas aos quimioterápicos, pode haver altera- ção na concentração intracelular dos inibidores da protease, por ação da glicoproteína que se expressa na superfície celular. Em alguns casos, ela seria responsável pela extrusão dos IP após sua absorção, tanto no trato gastrintestinal como nos linfócitos. O mecanismo proposto é o aumento na expressão dessa proteína na superfície celular, proporcional à duração do uso do IP, levando a uma conseqüente queda na concentração intracelular do anti-retro- viral. Por outro lado, alguns receptores celulares também podem assumir o papel de extrusão celular dos ITRN (como o BCRP/ABCG2). A resistência celular leva a um aumento modesto da carga viral, variando entre 100 e 10.000 cópias/ml. Laboratório: uma das possibilidades está associada a problemas laboratoriais, como, por exemplo, ao tubo PPT, o qual contém gel que separa o plasma (que deve ficar acima do gel) do conteúdo celular (que deve ficar abaixo do gel) (García-Bujalance 2007). É comum a separação incompleta entre plasma e conteúdo celular (linfócitos e plaquetas). Caso as células permaneçam junto ao plasma, o vírus in- tegrado a essas células será detectado e o resultado estará falsamente superestimado. Em alguns casos, a carga viral indetectável revelará um resultado detectável, sendo que nesses casos a carga viral será baixa, normalmente inferior a 5.000 cópias/ml, e a recomendação é que o laboratório confirme a viremia na vigência de tubo sem gel (frasco com EDTA). Teste de genotipagem Estudos iniciais sobre a utilidade do teste de ge- notipagem para detecção de resistência do HIV aos medicamentos anti-retrovirais apontaram para bene- fício da resposta virológica à TARV quando o teste é utilizado para auxiliar na escolha de um esquema de resgate. Nesses estudos, quando se comparou pros- pectivamente magnitude de queda da carga viral ou porcentagem de pacientes com carga viral indetectável após instituição de um esquema de resgate montado sem e com auxílio de genotipagem, o desempenho dos esquemas baseados no teste foi superior (Durant 1999, Baxter 2000, Tural 2002). Inferiu-se, então, que a resposta virológica melhor deveria repercutir posi- tivamente na sobrevida. Recentemente, dados de um estudo observacional mostraram que, naquela coorte norte-americana, a realização da genotipagem foi a variável independente mais relevante com relação ao tempo de sobrevida, tendo sido estatisticamente supe- rior a variáveis como possuir seguro médico privado, raça, idade e nadir de CD4 (Palella e cols 2006). Na prática clínica, a utilidade do teste de genoti- pagem para detecção de resistência a drogas pode ser resumida abaixo: 1. Possibilita trocas de esquemas anti-retrovirais com resistência identificada, ao invés de resistência pre- sumida; 2. Propicia o uso de drogas ativas por períodos mais prolongados; 3. Evita trocas desnecessárias de anti-retrovirais; 4. Evita toxicidade desnecessária de drogas inativas; 5. Economiza custos relacionados a trocas de drogas; 6. Promove uma noção mais realista do desempenho futuro do tratamento. Uma das dificuldades do manejo da falha da tera- pia anti-retroviral reside na utilização de conceitos de resistência genotípica e na aplicação dos achados do teste de genotipagem na prática clínica. Diversas va- riáveis influenciam o aparecimento, a manutenção e o significado das mutações de resistência. Características do paciente (adesão ao tratamento, estágio da doença, fatores genéticos), das drogas (tipo de esquemas anti- retrovirais utilizados previamente e no momento do teste, interações entre as drogas) e virais (subtipo viral, carga viral) interferem nos achados e na interpretação dos testes de genotipagem. Tratando-se de uma tecnologia de recente incor- poração, alguns conceitos devem ser enfatizados para a adequada interpretação do teste de genotipagem, conforme indicado na Tabela 1 . Guia de Tratamento50 O teste de genotipagem otimiza a terapia de resgate. Sua realização logo após confirmação da falha viroló- gica orienta a mudança precoce do esquema anti-retroviral, reduzindo a chance de acúmulo progressivo de mutações e de ampla resistência anti-retroviral. Tabela.1 Considerações.para.uso.adequado.do.teste.de.genotipagem.para.detecção.de.resistência.a.drogas.anti-retrovirais Considerações Observações O teste de genotipagem deve ser realizado com carga viral detectável. Geralmente, o número de mutações é maior quanto maior