Com a progressão da infecção, começam a ser observadas apresentações atípicas das infecções, resposta tardia à antibioticote- rapia e/ou reativação de infecções antigas como, por exemplo, a tuberculose ou neurotoxoplasmose. À medida que a infecção progride, podem ocorrer sintomas constitucionais como febre baixa, sudorese noturna, fadiga, diarréia crônica, cefaléia, alterações neurológicas, infecções bacterianas (pneumonia, sinusite, bronquites) e lesões orais, como a leucopla- sia oral pilosa. Nesse período já é possível encontrar diminuição na contagem de T-CD4+, entre 200 e 300 células/mm³. Alguns achados clínicos de fácil diagnóstico são bons preditores de progressão para a aids, como a candidíase oral, a qual é um marcador clínico precoce de imunodepressão. No estudo MACS – Multicenter AIDS Cohort Study, a presença de candidíase oral estava associada ao subseqüente desenvolvimento de pneumonia por P. jirovecii (Polk et al, 1987). A presença de diarréia crônica e febre de origem indeterminada, bem como leucoplasia oral pilosa, também são preditores de evolução da doença. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida O aparecimento de infecções oportunistas e neo- plasias é definidor da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Entre as infecções oportunistas destacam- se: pneumonia por Pneumocystis jirovecii (antigamente P. carinii), toxoplasmose do sistema nervoso central, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, me- ningite criptocócica e retinite por citomegalovírus. As neoplasias mais comuns são: sarcoma de Kaposi, linfomas não-Hodgkin e o câncer de colo uterino em mulheres jovens. Nessas situações, a contagem de linfócitos T-CD4+ está, na maioria das vezes, abaixo de 200 células/mm³. Além das infecções e das manifestações não-infec- ciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto a certos órgãos ou devidas a processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e neuropatias que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo HIV-1. Referências bibliográficas 1- Niu MT, Stein DS et al. Primary human immunodeficiency virus type 1 infection: review of pathogenesis and early treat- ment intervention in humans. J Infect Dis. 1993; 168. 2 - Metroka CE, Cunninghan-Rundles S et al. Persistent diffuse lymphadenopathy in homosexual men. Ann Intern Med. 1983; 100. 3 - Polk BF, Fox R et al. Predictors of the acquired immunode- ficiency syndrome developing in a cohort of seropositive homosexual men. N Eng L Med 1987. 4 - Baccheti P. Incubation period of AIDS in San Francisco. Nature, 1989. Guia de Tratamento16 O diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV é baseado no desenvolvimento de anticorpos anti-HIV após a exposição ao vírus. Antes da realização da testagem para o HIV, é ne- cessário realizar aconselhamento pré e pós-teste, for- necendo informações acessíveis sobre alguns aspectos tais como as formas de transmissão, significados dos resultados dos exames, período de “janela imunoló- gica”. É necessário sempre obter o consentimento do usuário ou de seu responsável. Os testes para detectar anticorpos anti-HIV podem ser classificados como: Ensaios de triagem: desenvolvidos para detectar todos os indivíduos infectados, e Ensaios confirmatórios, desenvolvidos para identifi- car os indivíduos que não estão infectados, mas têm resultados reativos nos ensaios de triagem (1). Os testes de triagem se caracterizam por serem muito sensíveis1, enquanto os testes confirmatórios são muito específicos2. Testes com alta sensibilidade produzem poucos resultados falso-negativos, enquanto os testes com alta especificidade produzem poucos resultados falso-positivos (1). Os ensaios de triagem utilizados no Brasil são de- nominados Elisa e os ensaios confirmatórios utilizados são: Imunofluorescência indireta, Imunoblot e Western blot, conforme recomendado na Portaria 59/GM/MS, de 28 de janeiro de 2003 (em anexo), onde é preconi- zada a realização desses testes. 1 Sensibilidade – capacidade de um teste em identificar os indivíduos verdadeiramente positivos ou a sua capacidade em detectar antígenos ou anticorpos na amostra, mesmo quando presentes em pequenas quantida- des. � Especificidade - capacidade de um teste em identificar os indivíduos verdadeiramente negativos ou a sua capacidade de caracterizar amostras não-reagentes nas quais antígenos ou anticorpos não estão presentes. A metodologia de testagem utilizando testes rápi- dos está sendo implantada no país desde 2005, con- forme o algoritmo disposto na Portaria 34/SVS/MS, de 28 de junho de 2005. Alternativamente, para a identificação da infecção pelo HIV em crianças nascidas de mães soropositivas, utilizam-se testes para quantificação da carga viral do HIV-1, em função da transferência passiva de anticor- pos pela placenta. Janela imunológica Anticorpos específicos contra o HIV começam a ser produzidos após o contágio. No entanto, o tempo exato para seu aparecimento depende de vários fatores, relacionados ao hospedeiro e ao agente viral, dentre ou- tros. Esses anticorpos podem estar presentes em níveis baixos durante a infecção recente; todavia, ensaios mais atuais - incluindo os ensaios de terceira geração do tipo sandwich - podem detectar anticorpos nas primeiras três a quatro semanas após a infecção (1). De acordo com Fiebig et al(2), o período de janela imunológica para detecção de anticorpos em um en- saio imunoenzimático que detecte anticorpos da classe IgM é de 22 dias, para a detecção de antígeno p24, é de aproximadamente 17 dias; e detecção de RNA HIV, de 12 dias após o período de eclipse. Esse período é caracterizado por marcadores virais indetectáveis em amostras de sangue, podendo durar até sete dias após a exposição viral. O período total para a detecção de anticorpos, isto é, a janela imunológica, é a soma do período de eclipse (sete dias) e do período de detecção de anticorpos anti- HIV da classe IgM (22 dias), ou seja, em média 29 dias, já que em torno de 90% das infecções são detectadas nesse período. Os anticorpos anti-HIV são detectados Métodos diagnósticos da infecção pelo hiv Recomendações para Terapia Anti-retroviral em Adultos Infectados pelo HIV 17 mais precocemente nos testes Elisa (EIA) do que nos testes Western blot (WB), em função de os EIA serem mais sensíveis que os WB. Essa é a razão pela qual a Portaria nº 59/ GM/MS determina que, em uma amostra com resultado reagente no EIA e negativo ou indeterminado no WB, deve-se investigar a sorocon- versão no indivíduo, coletando-se uma nova amostra 30 dias após a coleta da primeira amostra e realizando todos os testes preconizados na referida portaria. Os ensaios de 4ª geração – que detectam o antígeno p24 e anticorpos anti-HIV – podem reduzir o período de janela imunológica. No entanto, é importante in- vestigar, que em caso de reatividade nesses testes, se a mesma é inerente à presença de anticorpos realizando- se os testes confirmatórios, uma vez que o diagnóstico da infecção pelo HIV baseia-se na soroconversão completa. O Ministério da Saúde recomenda que o teste anti-HIV seja realizado 60 dias após uma possível infecção. Fatores biológicos que causam resultados falso-positivos na pesquisa de anticorpos anti-HIV Diversos fatores biológicos, abaixo listados, podem apresentar resultados falso-positivos para os testes que pesquisam anti-HIV, incluindo os testes Elisa e Western blot, dentre outros: Artrite reumatóide; Doenças auto-imunes, como lupus eritematoso sistêmico, doenças do tecido conectivo e esclero- dermia; Colangite esclerosante primária; Terapia com interferon em pacientes hemodialisa- dos; Síndrome de Stevens-Johnson; Anticorpo antimicrossomal; Anticorpos HLA (classe I e II); Infecção viral aguda; Aquisição passiva de anticorpos anti-HIV (de mãe para filho); Neoplasias malignas; Outras retroviroses; Múltiplas transfusões de sangue; Anticorpo antimúsculo liso. Diagnóstico laboratorial