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Direito adquirido – Wikipédia a enciclopédia livre

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Direito adquirido
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Direito adquirido é espécie de direito subjetivo definitivamente incorporado (pois, adquirido) ao patrimônio
jurídico do titular (sujeito de direito), já consumado ou não , porém exigível na via jurisdicional, se não
cumprido voluntariamente pelo obrigado (sujeito de dever).
Diz-se que o titular do direito adquirido está, em princípio, protegido de futuras mudanças legislativas que
regulem o ato pelo qual fez surgir seu direito, precisamente porque tal direito já se encontra incorporado ao seu
patrimônio jurídico — plano/mundo do dever-ser ou das normas jurídicas — ainda que não fora exercitado,
gozado — plano/mundo do ser, ontológico.
O titular do direito adquirido extrairá os efeitos jurídicos elencados pela norma que lhe conferiu o direito mesmo
que surja nova lei contrária à primeira. Continuará a gozar dos efeitos jurídicos da primeira norma mesmo
depois da revogação da norma. Eis o singelo entendimento do direito adquirido, conformado pela ortodoxia
das ciências jurídicas.
Índice
1 Introdução
2 Generalidades
3 Natureza do direito adquirido
3.1 Base conceitual
4 Ontologia e semiologia do direito adquirido
5 Fundamento histórico do instituto
6 Direito Adquirido no Direito Público
7 Referências
8 Bibliografia
9 Bibliografia
Introdução
Direito adquirido, numa compreensão ampla (lato sensu), é "tão-somente aquele poder realizar determinada
vontade conquistado por alguém", chamado de sujeito de direito daquele direito.O direito adquirido funcina
como a lei de tabaco em vigor. É SÓ.é, contudo, apenas a sua conceituação — diga-se — ingênua, melhor,
não-técnica no atinente às ciências jurídicas. Sob a óptica da filosofia, geral ou jurídica, contudo, essa
"abordagem conceitual ampla, embora ingênua", é valiosa, é mesmo indispensável.
A sua conceituação jurídica, com efeito, passa por escoimações de ordem técnica específica, que, longe de
ferirem a idéia ampla, complementam-na, especificam-na, caracterizam-na precisamente.
Direito adquirido, numa larga medida, é sinônimo do próprio Direito. Com os reflexos favoráveis e também os
desfavoráveis, com o mérito e também o demérito. Eis o porquê, em sumaríssima declinação, da dificuldade de
seu destemido e veraz tratamento.
Generalidades
Preliminarmente, é de se observar que não se fez alusão alguma a uma ordem jurídica organizada e
estabelecida, sob qualquer forma — muito embora seja sempre esse o caso, pois o que se examina refere-se à
vida do ser humano em sociedade. Também é relevante observar que sujeito, como aqui compreendido, pode
significar tanto uma "pessoa física ou natural", como uma "pessoa jurídica" — e tal consideração já importa em
admitir, a priori, a existência daquela ordem jurídica acima referida, o que se fará no momento adequado à
concatenação das idéias. Outras conceituações podem-se apresentar. Segundo uma delas, direito adquirido é
"aquele que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, de modo que nem norma, nem fato
posterior possam alterar situação jurídica já consolidada sob sua égide.". Outra diz que é "todo direito que é
conseqüência de um fato idôneo para gerá-lo em razão de norma vigorante antes da entrada em vigor de nova
norma relativa ao mesmo assunto e que, nos termos do novo preceito sob o império do qual o fato aconteceu,
tenha ele (o direito originado do acontecido) entrado, imediatamente, a integrar o patrimônio de quem o
adquiriu.". Observa-se das duas últimas conceituações que (1º) vinculam necessariamente a idéia do direito
adquirido já a uma ordem jurídica preestabelecida; (2º) são patrimonialistas. No entanto, nem sempre um
direito adquirido tem natureza patrimonial. (Ademais, é imprescindível esclarecer que patrimônio pode ter (e
tem, com efeito) acepções diversas da usual, de foro apenas contábil, econômico-financeiro). Essa freqüente
conexão, todavia, deve-se ao fato histórico de originariamente haver-se constituído o direito civil como direito
do patrimônio — o que, em primazia, ainda é válido nos dias atuais — e, destarte, haver ele precedido os
demais ramos do direito. Assim, pois, um direito adquirido — como quer que se o compreenda — não precisa
ser constitucionalmente respaldado. Não necessariamente, nem em tal nível.
A expressão "direito adquirido" faz remissão ideológica — no sentido de etimológico-semântica — com a idéia
(e o correspondente binômio significante versus significado)e, por conseguinte, conexão primária, por razões
históricas, como visto, com "patrimônio adquirido". Por seu turno, patrimônio (<latim patrimoniu = patri +
moniu = bens e/ou herança havida do pai) e adquirido (<latim acquirere, adquirere = alcançar, conseguir,
obter [algo, usualmente um bem material]). Porém, conforme já dito, como quer que se o compreenda, o
significante "direito" pode significar outros que não os bens ou direitos materiais, assim como o significante
"adquirido" pode significar coisa diversa da aquisição, por meio econômico-financeiro, monetário, de algo, quer
seja material ou não o objeto dessa aquisição.
Direito adquirido, numa larga medida, é sinônimo do próprio Direito. Com os reflexos favoráveis e também
os desfavoráveis, com o mérito e também o demérito. Eis o porquê, em sumaríssima declinação, da dificuldade
de seu destemido e veraz tratamento. Conquanto possa haver-lhe — e inegavelmente o há — mérito em
muitíssimos casos e situações, é também igualmente verdadeiro que, em um incontável elenco de outros casos e
situações, dá-se justamente o oposto: há-lhe claro demérito, no sentido de que o direito adquirido em exame
expressa uma injustiça. Uma injustiça com reflexo social, com significado social e esse é precisamente o cerne
da questão. Pois, nem sempre aquilo que é apreciado em foro íntimo pessoal observa os ditames de um
interesse maior, coletivo, social. O contrário é que, com freqüência, se verifica. Assim, por exemplo, pode
raciocinar (e, de fato, o faz) determinado sujeito: "em sendo o benefício, o ganho, a conquista — em suma, o
direito adquirido — para mim, é aceitável, é desejável, é justo. Em sendo para mim, é justo.". É preciso
analisar o uso que muitas vezes se tem feito do instituto "direito adquirido" como forma de convalidação, de
perpetuação, de agravamento da injustiça social, em especial na sociedade contemporânea, de modo a lançar
luzes sobre as medidas a serem tomadas no sentido de se aperfeiçoar a justiça social no Estado Democrático
de Direito. Esse objeto desdobra-se em:
a) Compreender a natureza do instituto direito adquirido na dinâmica social contemporânea;
b) Descrever os usos justificável e injustificável do direito adquirido;
c) Explicitar o uso, em muitos casos, do direito adquirido como acobertamento licitante, convalidação
licitante do ilícito.
d) Propor soluções que viabilizem a extirpação do direito adquirido injusto.
A distinção preliminar básica que se deve fazer entre direito adquirido e ato jurídico perfeito consiste na própria
idéia semântica de um e de outro. O primeiro nada mais é do que uma espécie de direito subjetivo
definitivamente incorporado ao patrimônio jurídico do titular, mas ainda não consumado, sendo, pois, exigível
na via jurisdicional, se não cumprido voluntariamente pelo obrigado. O titular do direito adquirido está
protegido de futuras mudanças legislativas que regulem o ato pelo qual fez surgir seu direito, precisamente
porque tal direito já se encontra incorporado ao patrimônio jurídico do titular — plano/mundo do dever-ser ou
das normas jurídicas — só não fora exercitado, gozado — plano/mundo do ser, ontológico. O titular do direito
adquirido extrairá os efeitos jurídicos elencados pela norma que lhe conferiu o direito mesmo que surja nova lei
contrária à primeira. Continuará a gozar dos efeitos jurídicos da primeira norma mesmo depois da revogação da
norma. Eis o singelo entendimento do direito adquirido, conformado pela ortodoxia das ciências jurídicas.
Já o ato jurídico perfeito é o título ou fundamento que faz surgir o direito subjetivo,é todo ato lícito que tenha
por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos (art.81/CC). Segundo Limongi
França, ato jurídico perfeito é aquele que sob o regime de determinada lei tornou-se apto para produzir os seus
efeitos pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável. Assim, o ato jurídico perfeito deve ser
analisado sob a óptica de forma. Pode-se dizer que o ato jurídico perfeito é instituto irmão do direito
adquirido. Algumas vezes, aquele surge antes deste, como no caso do testamento válido, lavrado e assinado,
mas ainda vivo o testador, ou, um negócio jurídico sujeito a condição suspensiva. Nesses exemplos, há ato
jurídico perfeito, pois tais atos foram constituídos validamente sob a égide de uma lei válida, porém em ambos
inexiste direito adquirido, vez que, respectivamente, o testador ainda vive, e, a condição suspensiva ainda não
ocorreu, art.118 CC. Logo, não houve a completude do fato concreto gerador do direito subjetivo. Deve-se
enfocar o direito adquirido sob a óptica de fundo, já o ato jurídico perfeito sob a óptica de forma. O
constitucionalista José Afonso da Silva ainda distingue os institutos ao dizer que o direito adquirido emana
diretamente da lei em favor de um titular, enquanto que o ato jurídico perfeito é negócio fundado na lei. Ou seja,
o direito adquirido é uma espécie de direito subjetivo, ao passo que o ato jurídico perfeito é um negócio
jurídico ou o ato jurídico stricto sensu, segundo a visão civilista. De fato, quer direta e imediatamente da lei ou
dos atos jurídicos — contratos, declarações unilaterais de vontade etc. — e, portanto, indireta e mediatamente
da lei, podem ensejar direito adquirido.
Atente-se para o fato de que só surgirá direito adquirido quando houver a completude dos seus requisitos e
fatores de eficácia, elencados pelo regime jurídico peculiar do direito positivo que rege o ato, incidindo por
completo o direito objetivo fazendo assim nascer o direito subjetivo, a partir daí adquirido.
Natureza do direito adquirido
Base conceitual
Pareça suficientemente óbvio, o conceito de direito adquirido, entretanto, devido às implicações sociais
profundas que suscita, prudentemente requer esclarecimento conceitual adequado, de modo a se saber
precisamente com o que se está lidando.
Com efeito, a compreensão atual desse conceito — desse instituto —, particularmente na atual ordem jurídica
brasileira (também na da maioria das nações contemporâneas) vincula-se à idéia de intangibilidade.
Mais: essa intangibilidade tem respaldo constitucional, vale dizer, o direito adquirido, seja lá o que for em
sua essencialidade, logo de início, já goza da proteção, da tutela maior, da Carta Magna que regula a vida do
povo em exame.
Que vem a ser direito adquirido? Ora, a bem do rigor e lato sensu, "direito adquirido é tão-somente aquele
poder realizar determinada vontade conquistado por alguém", esse, chamado de sujeito daquele direito.
É de se observar que, preliminarmente não se fez alusão alguma a uma ordem jurídica organizada e
estabelecida, sob qualquer forma — muito embora seja sempre esse o caso, pois o que se examina refere-se à
vida do ser humano em sociedade. Também é relevante observar que sujeito, como aqui compreendido, pode
significar tanto uma "pessoa física ou natural", como uma "pessoa jurídica" — e tal consideração já importa em
admitir, a priori, a existência daquela ordem jurídica acima referida, o que se fará no momento adequado à
concatenação das idéias.
Outras conceituações podem-se apresentar.
Segundo uma delas, "direito adquirido é aquele que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu
titular, de modo que nem norma, nem fato posterior possam alterar situação jurídica já consolidada sob
sua égide.".
Outra diz que "direito adquirido é todo direito que é conseqüência de um fato idôneo para gerá-lo em
razão de norma vigorante antes da entrada em vigor de uma nova norma relativa ao mesmo assunto e
que, nos termos do novo preceito sob o império do qual o fato aconteceu, tenha ele (o direito originado
do fato acontecido) entrado, imediatamente, a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu.".
Pode-se observar das duas últimas conceituações que:
(1º) vinculam a idéia do direito adquirido já necessariamente a uma ordem jurídica preestabelecida;
(2º) são patrimonialistas.
No entanto, nem sempre um direito adquirido tem natureza patrimonial. Essa freqüente conexão, todavia, deve-
se ao fato histórico de haver o direito civil (primordialmente, e ainda hoje, direito do patrimônio) precedido os
demais ramos do direito.
Assim, um direito adquirido — como quer que se o compreenda — não precisa estar constitucionalmente
respaldado. Não necessariamente, nem em tal nível. Por que, então, se dá tal ligação, como é o caso na ordem
jurídica brasileira atual? Para assegurar-lhe a máxima proteção. Para que, uma vez adquirido, não padeça ele
da fragilidade de eventualmente fenecer.
A questão do mérito ontológico de cada direito adquirido perpassa, entre outras, a fronteira entre o Direito e a
Moral. Ganha os domínios da Filosofia, da Sociologia, da Psicossociologia. E a insuscetibilidade ao
fenecimento varia na razão direta do quantum de poder que é detido pelo sujeito do direito sub examine na
roda do jogo de poder –– o grande jogo de poder numa determinada sociedade, num dado país, no mundo.
De fato, garantir a imutabilidade de um direito, numa dada ordem jurídica, significa, a bem dizer, perpetuar um
poder. O que, nem sempre, nem em todo caso, observa os ditames do bom Direito, da boa Moral, ainda que
tais conceitos e idéias e significados sociais sejam relativos, passíveis de interpretações diferenciadas. Como
quer que seja, um elemento de direito adquirido é um elemento de poder perpetuado. A menos que sobrevenha
uma revolução, pois, em tal caso, uma nova ordem será instituída, e aquele direito, ainda que adquirido e
tutelado na ordem de até então, poderá não permanecer. Terá fenecido.
Ontologia e semiologia do direito adquirido
A idéia de direito adquirido, lato sensu, acha-se imbricada inextrincavelmente à idéia de estabilidade per se
"em uma" e "de uma" determinada ordem jurídica, e, para bem esclarecer isso, convém logo definir o que se
entende por ordem jurídica, talvez melhor denominada ordem jurídico-política (ou jus-política). Para fixar
idéias, entende-se por ordem jurídica "o conjunto sistematizado de normas de conduta estabelecido por e em
vigor num dado estado político, considerado tal conjunto em sua relação dinâmica com o estado e dentro
dele". Em uma significa a inserção de dado direito na ordem jurídica. De uma, a seu turno, refere-se à
estabilidade da própria ordem jurídica em si.
Assim concebido, o estado político passa a ser reconhecido como estado de direito. Se a democracia (governo
do povo, pelo povo e para o povo, ainda que em moldes representativos) fizer-se presente, dir-se-á um estado
democrático de direito. Isso posto, por que falar-se em ontologia e em semiologia, no tocante ao direito
adquirido? Precisamente para — investigando-lhe a natureza do ser (<grego ontos = ser) e o significado
(<grego semeio = signo) — compreender a sua essência enquanto fundamento próprio de uma ordem jurídica
estável. De fato, sem um certo lastro de direitos adquiridos, não haveria que se falar em uma ordem jurídica
estável, ainda que a mesma estabilidade padeça da suscetibilidade de fenecimento, porque as sociedades
humanas são dinâmicas e dialeticamente (sob a ótica hegeliana ou a marxista) instáveis, quando se consideram
contextos espaço-temporais suficientemente amplos, que possam tornar perceptíveis as mudanças.
Essas considerações são importantes a bem da conciliação entre a generalidade (que foi analisada) e a
especificidade (a ser, ainda, examinada) — objeto in situ do amplo e polêmico estudo do instituto direito
adquirido.
Fundamento histórico do instituto
Ainda que não expressamente declarado como tal, o direito adquirido encontrava-se já presente em graus eem
gêneros variados nas sociedades humanas antigas organizadas em civilizações, precisamente pelo fato de serem
elas organizadas, vale dizer comportarem-se, de modo integrado e interdependente, à semelhança de um
organismo — e aqui se toma empréstimo semântico-cultural às ciências biológicas. Naturalmente, desde que
não se tivesse concebido e instaurado uma democracia, as organizações político-sociais antigas, na maior parte
em todos os sentidos, privilegiavam as classes detentoras do poder, costumeiramente a cúpula diretiva
(imperadores e sacerdotes). Na atualidade, a despeito da evolução e do progresso havidos desde então, a
situação ainda guarda ranços daquela estrutura antiga.
Pouco se dispõe em termos de informações suficientemente detalhadas a respeito do chamado período pré-
histórico. Embora se considere que a história da humanidade tenha começado com o advento da escrita, até
mesmo tal consideração padece de questionamento, pois as pinturas rupestres e outros registros e mesmo os
demais vestígios da chamada pré-história, num sentido amplo perfeitamente razoável, podem ser considerados
formas amplas de escrita, a merecerem, certamente, adequadas decifração e leitura, conseqüentemente, de
conhecimento cultural atinente.
Na antiguidade histórica ocidental e médio-oriental, entre os egípcios (3200AC – 525AC), sumérios e acádios
(2800AC – 2000AC), os babilônios (1800AC – 539AC), assírios (1875AC – 612AC), persas (539AC –
331AC), hebreus (1800AC – 100AC), cretenses, fenícios e hititas (3200AC – 1400AC), ainda que com as
feições híbridas político-religiosas como era usual, resguardavam-se os direitos adquiridos, tanto mais quanto
mais elevada, em relação ao poder, estivesse o beneficiário. Com efeito, para os detentores do poder per se,
nem havia que se falar em resguardar ou tutelar de qualquer forma os direitos: eles defluiam naturalmente da
condição superior ostentada. Quanto ao povo, realmente se pode falar em resguardo, tutela — ou não — de
tais direitos. E isso, naturalmente, era incipiente e frágil. Não se deve deixar de mencionar as civilizações e
culturas do extremo oriente. Assim, os chineses (3000AC – 210AC), os indianos (2500AC – 300AC) e os
japoneses (2700AC – 200AC) apresentaram notáveis contribuições ao patrimônio cultural da humanidade
como um todo. Lá, como cá, o jogo do poder dava o tom. Isso, com efeito, tem sido um traço característico
da jornada humana em toda a sua existência. Há, contudo, certas diferenças e especificidades muito acentuadas
entre os dois pólos, tais que perpassam os domínios amplos do Direito e da Moral. Isso é mais bem entendido
à luz da Antropologia Cultural Comparada, que foge ao escopo deste trabalho.
Foi na Grécia antiga (2000AC – 100AC) que os primeiros passos para a construção democrática ocorreram.
Realmente, com Clístenes, o reformador, tal ideal foi aprimorado: direitos políticos para todos os cidadãos,
participação representativa dos cidadãos no governo, por decisão em assembléias etc.. Já havia uma
configuração tripartite no governo: o legislativo, o executivo e o judicativo. É, então, na Grécia, sobretudo, com
o advento daquela reforma, que se passam a resguardar e tutelar mais os direitos dos cidadãos, assim também
os chamados direitos adquiridos.
O advento da civilização romana (750AC – 470DC) é que, através da absorção cultural aos vencidos,
notadamente aos Gregos, produziu uma como que estrutura cultural-institucional poderosa a tal ponto que
lançou as bases para os tempos seguintes, até os dias atuais. Lá, a despeito das oscilações a que todas as
nações estão sujeitas, consolidaram-se as práxis de cidadania, de direito, de democracia e de república. A
atualidade é-lhe tributária, não apenas pelo legado do Corpus Iuris Civilis, mas de toda a moderna concepção
essencial da práxis jurídica, como é hoje conhecida. Também lá, naturalmente, resguardados os interesses
maiores dos detentores do poder, havia uma base legal e uma prática regrada destinados a assegurar a
prestação jurisdicional. Os princípios clássicos de Ulpiano para o Direito (honeste vivere: viver honestamente;
neminem laedere: a ninguém prejudicar; suum cuique tribuere: dar a cada um o que a este pertence)
afiguram-se, de tão irrefutáveis, óbvios. Contudo, essa obviedade costuma trazer transtornos, como, de resto,
traz a tudo aquilo que é examinado superficialmente, eis que se não lhe conheçam os desígnios profundos.
A idade média ocidental (470AC – 1450DC) denuncia a mescla cultural havida da hegemonia exercida pela
Igreja Católica Apostólica Romana sobre tudo mais. O direito comum, como, de resto, todas as decisões e os
escassos direitos cidadãos tutelados, era influenciado pelo direito eclesiástico.
A idade moderna (1450 – 1750), surgida do renascimento científico-cultural, tributária de vários pensadores de
renome, começa a dar a feição em bases metodológicas científicas, como hoje conhecidas, segundo o
paradigma do racionalismo bacon-cartesiano. A Revolução Francesa (1789 – 1799), apesar de controvertida,
e de ser ela mesma tributária da Revolução Estadunidense (1776 – 1783), classicamente consagrou o respeito
aos e a busca dos ideais de "igualdade, liberdade e fraternidade".
A idade contemporânea (1750 – atualidade) é o cenário do que se examina presentemente. Dotada de enorme
diversidade de correntes e escolas e tendências, padece, todavia, do ferimento essencial, posto que
idiossincrásico, que caracteriza o direito adquirido, objeto presente. Há de ficar suficientemente claro que por
ferimento tem-se em mente o dano causado à primazia do individual justo sobre o individual injusto, a do social
sobre o individual, a da justiça sobre a injustiça.
Na ordem jurídica brasileira, desde a Constituição de 1934 os direitos adquiridos vêm assegurados em nível
constitucional. Omitidos na Carta de 1937, restaurados na de 1946, eles perduram até hoje. Daí o constituinte
de 1988 ter enunciado que "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada"
(art.5º, XXXVI/CF). Optou, claramente, pela doutrina subjetivista da escola italiana, preconizada por Carlo
Francesco Gabba [(1835 – 1920) jurista italiano renomado, referência em Direito Adquirido], do mesmo modo
que Lei de Introdução ao Código Civil de 1942 (art.6º, § 2º). Segundo Gabba (Teoria della retroatività delle
leggi, 1891, 1897 e 1898), é adquirido o direito conseqüente a fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do
tempo no qual o fato foi consumado, embora a ocasião de fazê-lo valer não se tenha dado antes da atuação de
uma lei nova sobre o mesmo direito, e que nos termos da lei sob cujo império se entabulou o fato do qual se
origina, entrou imediatamente a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu.
Direito Adquirido no Direito Público
O direito adquirido é tema de teoria geral do direito, especificamente do direito intertemporal, e tem crescido
de importância no direito público, em especial no direito administrativo. Autores brasileiros discutem o tema
abstratamente (Celso Antônio Bandeira de Mello, José Eduardo Martins Cardozo, Hugo de Brito Machado,
Elival da Silva Ramos )ou de forma aplicada (Fábio Mauro de Medeiros, Maria Garcia, Zélio Furtado da
Silva).
[1]
Referências
1. ↑ *RAMOS, Elival da Silva. A proteção aos direitos adquiridos no direito constitucional brasileiro. São Paulo:
Saraiva, 2003.
Bibliografia
PONTES FILHO, Valmir. Direito Adquirido ao Regime de Aposentadoria. O Princípio da
Segurança das Relações Jurídicas, O Direito Adquirido e a Expectativa de Direito
(http://www.direitodoestado.com/revista/RERE-6-SETEMBRO-2006-
VALMIR%20PONTES%20FILHO.pdf)
SILVEIRA, Cláudia Maria Toledo da. Direito adquirido como cláusula intangível no estado
democrático de direito.
Bibliografia
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O direito adquirido e o direito administrativo. Revista
Trimestral de Direito Público, n. 24, p. 54-62, 1998.
CARDOZO, José Eduardo Martins. Da retroatividade da lei. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
ESPÍNOLA, Eduardo; ESPÍNOLA FILHO,Eduardo. A lei de introdução ao código civil brasileiro:
dec.-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942, com as alterações da lei n. 3.238, de 1 de agosto de 1957,
e leis posteriores comentada na ordem dos seus artigos; atual. por Silvia Pacheco. 2. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1995. v. 1.
FRANÇA, Rubens Limongi. A irretroatividade das leis e o direito adquirido. 6. ed., rev. e atual. do
“Direito intertemporal brasileiro”. São Paulo: Saraiva, 2000.
GABBA, Carlo Francesco. Teoria della retroatività delle leggi. 2ª ed., riveduta e accresciuta dall’autore
com riguardo alla più recente giurisprudenza. Torino: Unione Tipográfico-Editrice, 1884. v. 1.
GARCIA, Maria. A emenda previdenciária e os direitos adquiridos. In: DINIZ, Maria Helena (Coord.).
Atualidades jurídicas 3. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 299-309.
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 18. ed., 3. tiragem; atualização e notas de Humberto
Theodoro Júnior. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
MACHADO, Hugo de Brito. Direito adquirido e coisa julgada como garantias constitucionais. Revista
dos Tribunais, v. 84, n. 714, p. 19-26, abr. 1995.
MAXIMILIANO, Carlos. Direito intertemporal ou teoria da retroactividade das leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1955.
MEDEIROS, Fábio Mauro de. Extinção do Ato Administrativo em Razão da Mudança de Lei –
Decaimento, Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2009.
PONTES FILHO, Valmir. Direito adquirido ao regime de aposentadoria. Revista de Direito
Administrativo, v. 227, p. 31-38, jan./mar. 2002.
PORCHAT, Reynaldo. Da retroactividade das leis civis. São Paulo: Duprat, 1909.
RAMOS, Elival da Silva. A proteção aos direitos adquiridos no direito constitucional brasileiro. São
Paulo: Saraiva, 2003.
ROUBIER, Paul. Le droit transitoire: conflits des lois dans le temps. 2. ed. Paris: Dalloz, 1960.
SILVA, Zélio Furtado da. Direito adquirido: à luz da jurisprudência do STF referente ao servidor
público: doutrina, jurisprudência, legislação. Leme: LED, 2000.
Obtida de "http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Direito_adquirido&oldid=26684315"
Categoria: Direito constitucional
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