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1 Doenças Infecciosas e Parasitárias III – Amaríntia Rezende DIARREIA VIRAL BOVINA (BVDV) Vírus da diarreia viral bovina (BVDV) Síndrome infectocontagiosa dos sistemas digestório e reprodutivo de ruminantes, levando a diarreia, queda de índices reprodutivos, abortos e malformações fetais. Causa também uma condição chamada de doença das mucosas. Infectam ovinos e suínos, não causam a doença, mas causa infecção. O VÍRUS - ETIOLOGIA Gênero: Pestivirus Família: Flaviviridae É um vírus RNA fita simples, envelopado. 2 Biotipos (classificação genética e fenotípica): o BVDV citopatogênico (causa danos visíveis nas células do infectado, mais virulento) o BVDV não-citopatogênico (não expressam proteína NS3, não causam efeitos citopáticos em culturas celulares) No processo evolutivo o BVDV perdeu sua característica de citopatogenicidade e não expressam a NS3, se tornando o biotipo BDVD não-citopatogênico. Mas ambos infectam e causam a doença. Suspeita-se que esse vírus tenha sido introduzido no Brasil através de vacinas de febre aftosa que vieram de outros países, pois alguns biotipos desse vírus não são visíveis no cultivo celular. IMPORTÂNCIA Tem uma importância econômica por gerar falhas reprodutivas e mortalidade perinatal. É uma doença que tem distribuição mundial e acontece de forma endêmica no Brasil. A sorologia é a forma mais comum de diagnosticar um rebanho com diarreia viral bovina. É analisado a quantidade de anticorpos, quando a titulação é alta significa que ocorreu uma infecção recente. Na sorologia de ovinos e suínos, podem dar uma reação cruzada com outros vírus do gênero Pestivirus, como ao peste suína clássica e o vírus da doença da fronteira. É vírus altamente infeccioso, é comum encontrar em um rebanho que circula o vírus uma prevalência de 60 a 90% de animais soropositivos. Pode ocorrer animais persistentemente infectados, animais que se infectaram durante a gestação (via transplacentária), e que não produzem anticorpos. FISIOPATOLOGIA INFECÇÃO PÓS-NATAL AGUDA O vírus entra por via respiratória, digestiva ou reprodutiva. Após a inoculação o vírus tem tropismo por células intestinais e leucócitos (linfopenia). Isso causa uma imunossupressão e uma diminuição da quimiotaxia de monócitos para o local. A imunossupressão predispõe o animal a infecção de outros agentes etiológicos (P. haemolytica, IBR), causando infecções secundárias. Trombocitopenia, causando uma diarréia hemorrágica, epistaxe, petéquias e equimoses em mucosas. INFECÇÃO PRÉ-NATAL AGUDA Quando uma fêmea prenhe se infecta, o feto sofre a infecção também. A ação da doença no embrião depende do tempo de infecção e de seu desenvolvimento. Entre 0 e 45 dias de gestação ocorre morte do embrião. Entre 45 e 125 dias o feto não consegue reconhecer o antígeno como estranho, nascendo com o vírus positivo e não conseguirá produzir anticorpos. Entre 100 e 160 dias possíveis malformações, como hipoplasia de cerebelar, microencefalia, hidroencefali, braquignatismo, hipoplasia de timo e pulmões, porencefalia, ataxia, tremores, microftalmia. Entre 100 e 150 dias de gestação a infecção pode causar resposta imuno-mediada aos tecidos fetais causando aborto ou mortalidade perinatal. 2 Doenças Infecciosas e Parasitárias III – Amaríntia Rezende A partir de 125 dias o animal o sistema imunológico do feto consegue produzir uma resposta e ele pode nascer clinicamente normal e sem infecção persistente. O vírus se replica em tecidos fetais, incluindo a placenta causando autólise fetal. Causam resposta imuno-mediadas aos tecidos fetais infectados e consequentemente o aborto. Em infecções fetais tardias ocorre um aumento de corticosteroides fetais causando aborto. Aborto, má formação (BVDV não citopatogênico) e predispõe o animal que vai nascer a desenvolver a doença das mucosas. DOENÇA DAS MUCOSAS Animais que nascem e são persistentemente infectados com o BDVD não-citopatogênico, se tiverem uma nova infecção com o vírus citopatogênico, sofrem uma doença grave chamada de doença das mucosas. Caracterizada por hemorragia de mucosas. Para que aconteça a doença das mucosas é necessário um animal com infecção persistente pelo BVDV não-citopatogênico, depois do nascimento entra em contato com o BVDV citopatogênico. SINAIS CLÍNICOS – BVDV Febre, inapetência, leucopenia, diarreia, descarga óculo-nasal Diarreia Diminuição da produção de leite, abortos, infertilidade SINAIS CLÍNICOS – DOENÇA DAS MUCOSAS Lesões em cavidade oral, salivação profusa Gebre, depressão, anorexia Taquicardia, polipneia, edema de córnea Leucopenia severa, trombocitopenia Infertilidade Morte em 2 a 10 dias após o início dos sintomas Forma crônica: diarreia contínua ou intermitente, depressão, inapetência, emaciação progressiva, infertilidade. Erosões em mucosa oral e do trato gênito-urinário e pele. Sobrevivência por até 18 meses. CADEIA EPIDEMIOLÓGICA Fontes de infecção: animais com infecção persistente, sintomático ou não. E animais com forma pós-natal Via de eliminação: exsudato óculo-nasais, saliva, urina, fezes, abortos Via de transmissão: aerossóis, água e alimentos contaminados, transplante de embriões, via transplacentária. Porta de entrada: mucosa reprodutiva, respiratória e digestiva. DIAGNÓSTICO Nascimento de animais com anatomias congênitas – investigar Abortos – investigar Animais de uma mesma idade apresentando sintomas compatíveis com doenças das mucosas Baixa dos indicadores produtivos do rebanho Úlceras e erosões em mucosas nasal e oral. Congestão, edema e hemorragias em abomaso Enterite catarral Encefalite e glomerulonefrite. Diagnóstico direto: PCR, pesquisa do vírus em sangue ou material de necropsia por meio de cultivo celular. Diagnóstico indireto: ELISA ou soroneutralização. Possibilidade de reação cruzada com outros Pestivirus. Diagnóstico diferencial: coronavírus, febre aftosa, estomatite vesicular, febre catarral maligna, caccidiose, Salmonelose, helmintíases entéricas, doença de Johne (paratuberculose). PREVENÇÃO E CONTROLE Detecção de animais persistentemente infectados e sua eliminação. 3 Doenças Infecciosas e Parasitárias III – Amaríntia Rezende Usar machos sem infecção persistente para diminuir transmissão placentária. Desinfecção de fômites e esterilização de equipamentos. Vacinação: vacinas inativadas contendo simultaneamente BVDV citopatogênico e não citopatogênico. Adultos, vacas prenhes e bezerros. Bezerros de mães vacinadas: vacinas após 6 meses de idade. Revacinação anual com dose única.
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