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A entrevista psiquiátrica

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De início, é necessário identificar o tipo de 
paciente/entrevistado, se é, portanto, um paciente ativo, 
que fornece as informações sem que sejam necessárias 
muitas perguntas, ou um paciente passivo, que pouco 
contribui com a entrevista, mais tímido. O contexto 
institucional também interfere na entrevista – a consulta 
está sendo realizada em consultório? Na UPA? – assim 
como o objetivo desta. Além disso, é interessante notar o 
perfil do entrevistador, se este faz pontuações, se deixa o 
paciente confortável. 
A função dessa entrevista é proporcionar alívio, 
uma sensação de apoio, insight e auto revelação, de 
maneira que construir uma relação positiva com o 
psiquiatra já é terapêutico – a confiança e o ato de falar 
(catarse). 
COMO CONDUZIR E O QUE EVITAR 
Deve-se evitar posturas rígidas e inflexíveis, 
atitudes frias ou indiferentes, mas também reações 
muito emotivas ou artificiais. Não devem ser feios 
julgamentos durante a entrevista nem demonstrar 
reações de pena, muito menos ser hostil ou agressivo. É 
necessário evitar entrevistas prolixas e fazer muitas 
anotações. 
Assim, com pacientes organizados, deve-se falar 
pouco e estimular o sujeito a falar. Se desorganizados, é 
necessário estruturar a consulta e, quando inseguros, 
deve-se conduzi-la lentamente, mas sempre incentivando 
o paciente a falar. 
O INÍCIO 
De início, fazer a instituição (o que está fazendo e 
por que), a apresentação, garantir o sigilo e a 
corresponsabilização. Seguindo por esse caminho, 
realizar perguntas abertas e evitar o silêncio longo, além 
de pegar os dados de identificação. 
ANAMNESE 
Queixa principal; história da doença atual; história 
mórbida pregressa; história do desenvolvimento; história 
mórbida familiar; personalidade pré-mórbida; condições 
e hábitos de vida; revisão de sistemas. 
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA 
Durante a entrevista, gera-se uma transferência e 
uma contratransferência – o que geramos no paciente e 
o que o paciente gera na gente. Dessa forma, a 
transferência consiste em atitudes e sentimentos 
inconscientes e quem tem é o paciente, sendo uma 
repetição inconsciente do passado – “a transferência é a 
prova de que os adultos não superaram sua dependência 
infantil”. Enquanto isso, a contratransferência é própria 
do profissional, sendo a projeção inconsciente que 
fazemos no paciente; é importante procurar identificar 
tais reações e o por que elas ocorrem. 
ALIANÇA TERAPÊUTICA 
Após muitas avaliações, a aliança terapêutica 
deve ser encorajada, com ego maduro e racional. É 
essência na relação de confiança mãe-bebê. 
RESISTÊNCIA 
A resistência consiste em atitudes ou 
comportamentos que sejam opostos aos objetivos 
terapêuticos do tratamento que se mostra pelo silêncio, 
por críticas ao psiquiatra, por generalização e 
intelectualização, além de concentração em detalhes 
triviais. 
Além destas, exibições afetivas e comportamento 
sedutor, pedido frequente de mudar o dia e horário do 
atendimento, chegar atrasado ou esquecer consultas, 
não pagar consultas e comportamento competitivo com 
o psiquiatra são, também, formas de resistência. 
ÁREAS DE FOCO NA ENTREVISTA 
Como se relaciona com seu ambiente; influências 
sociais, religiosas e culturais; motivações conscientes e 
inconscientes para o comportamento; estratégias de 
adaptação usadas; sistema e redes de apoio disponíveis; 
pontos de vulnerabilidade; aptidões e conquistas. 
 
TÉCNICAS DE ENTREVISTA 
POSITIVAS 
Perguntas abertas; reflexões: reafirmar a 
verbalização do paciente; facilitação, utilizando 
“entendo”, “continue”, “o que mais?”; reforço positivo, 
como “bom, isso me ajuda a entendê-lo”; silêncio, às 
vezes é necessário; interpretação: deduções em relação a 
padrões de comportamento; perguntas de verificação: 
lista de possibilidades quando não consegue respostas 
com perguntas abertas; mensagens com “eu quero”: ser 
enfático em mudar o tema; transições: sinaliza ter 
informações suficientes sobre um tema e sugere abordar 
outra área; auto revelação: compartilhar próprias 
experiências. 
NEGATIVAS 
Questionamentos diretos excessivos; 
questionamento contínuo; mudanças precipitadas de 
tema; conselho prematuro; falsa reafirmação; agir sem 
explicações; perguntas degradantes, temas que trazem 
vergonha ao paciente; mensagens não verbais. 
SEMPRE QUESTIONAR IDEAÇÃO SUICIDA OU 
HOMICIDA! 
 
EXAMES 
ESTADO MENTAL 
Aspecto geral; nível de consciência; orientação 
auto e alopsíquica; atenção; memória; sensopercepção; 
pensamento; linguagem; inteligência; juízo de realidade; 
afeto; volição; psicomotricidade; personalidade; crítica; 
desejo de ajuda. 
FÍSICO 
Peso; dados vitais; estado geral; exame físico. 
Obs.: pacientes com suspeita de transtornos alimentares. 
NEUROLÓGICO 
Marcha e equilíbrio; nervos cranianos; tônus e 
força muscular; reflexos; sensibilidade; funções 
cerebelares; movimentos involuntários. 
TIPOS DE PACIENTE 
DELIRANTE 
Geralmente é trazido por terceiros e é muito 
importante encorajá-lo a se comunicar. Deve-se 
reconhecer os desejos do paciente e manter uma postura 
neutra em relação às crenças delirantes – nunca tentar 
racionalizar, pois o delírio é uma crença imutável, 
apoiando a dúvida quando esta parte do paciente. 
DEPRIMIDO COM IDEAÇÃO SUICIDA 
Nesse tipo de paciente é muito importante 
observar a aparência e o comportamento, se está ansioso 
ou lentificado e se demonstra senso de desistência ou de 
não querer continuar a entrevista. Nele, deve-se 
investigar perdas e separações, além de encorajá-lo a 
verbalizar. O profissional deve sentir empatia com a dor e 
a angústia mental, evitar silêncios prolongados e 
principalmente indagar sobre o suicídio de forma direta. 
Esse tipo de entrevista costuma ser mais devagar. 
PSICOSSOMÁTICO 
É geralmente encaminhado por outras 
especialidades e tem muito medo de ser tido como 
“louco”. Sente medo, também, pois supostamente o 
médico anterior “desistiu” do tratamento. O profissional 
deve mostrar interesse pelas queixas físicas, observar 
sinais autonômicos durante a entrevista, indagando 
fatores motivadores, além de investigar ganhos 
secundários e nível de funcionamento. A relação 
“momento de vida x sintoma somático” também é 
importante. 
IDOSO 
No paciente idoso deve-se diminuir o ritmo da 
entrevista – costuma ser uma entrevista mais demorada 
e segmentada, pois são feitas várias entrevistas mais 
curtas. O médico deve lembrar que, pela idade, existem 
prejuízos auditivos e visuais, além de dar apoio ao 
deambular, sentar e levantar. Aqui, avaliar medicamentos 
já em uso e impacto destes sobre o estado mental, o 
apoio familiar e o asilamento são pontos importantes na 
entrevista. 
VIOLENTO 
Deve existir uma segurança profissional, podendo 
ser necessário chamar a polícia/segurança para 
acompanhar a entrevista – explicar sempre o motivo de 
existir esse acompanhante. Nesses casos, nunca se deve 
confrontar ou desafiar o paciente.

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