Buscar

CCJ0009-WL-AMRP-04-Modalização e questões gerais de norma culta

Prévia do material em texto

Aula 4
A modalização consiste na atitude do falante em relação ao conteúdo objetivo de sua fala. Um dos elementos discursivos mais empregados na modalização consiste na conveniente seleção lexical. De fato, em muitos casos, uma mesma realidade pode ser apresentada por vocábulos positivos, neutros ou negativos, tal como ocorre em: sacrificar / matar / assassinar; compor / escrever / rabiscar; cidadão / réu / assassino.
Dessa forma, uma leitura eficiente deve captar tanto as informações explícitas quanto as implícitas. Portanto, um bom leitor deve ser capaz de “ler as entrelinhas”, pois, se não o fizer, deixará escapar significados importantes, ou pior ainda, concordará com idéias ou pontos de vista que rejeitaria se os percebesse. Assim, para ser um bom produtor de texto jurídico, é necessário que o emissor esteja apto a utilizar os recursos disponíveis na língua a serviço da modalização.
Não se trata de mentir ou manipular, o que constituiria verdadeiro problema de ética profissional e humana. Trata-se, isso sim, de construir versões verossímeis sobre como se desenvolveu a lide.
Orientações gerais de norma culta aplicadas à linguagem jurídica:
Não há dúvida de que, se os reiterados "através de" forem substituídos, com propriedade, pelas preposições "por", "com", "em" ou "de", conforme o caso, a frase ganhará em elegância e vernaculidade.
O uso forense consagrou há muito a locução "a folhas", da mesma forma que também o fez com a expressão "de fls.". É freqüente encontrar essa locução como se antes de folhas houvesse também o artigo "as" ("às folhas"). Contudo, o correto é dizer "a folhas" da mesma forma que nos referimos a "documento de folhas". Vem a propósito a lição de NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, que em verbete do seu Dicionário de Questões Vernáculas, diz que "a folhas vinte e duas" significa "a vinte e duas folhas do início do trabalho", como quem diz "a vinte e duas braças". A respeito do uso da expressão "a fls.", convém assinalar que freqüentemente ela trunca desnecessariamente as frases da sentença. Parece mesmo às vezes que o juiz, ao prolatar a sentença, está mais voltado para "documentos" e "peças do processo" do que para o conteúdo e significado deles. A referência “a fls.” constitui mero expediente para facilitar ao leitor da sentença a localização do documento ou peça. Por isso muitas vezes será melhor retirar a referência do contexto, colocando-a entre parênteses.
Esse (e variantes) – pronome demonstrativo utilizado para retomar referentes cujas idéias já foram apresentadas no discurso. Este (e variantes) – pronome demonstrativo utilizado para indicar idéias que ainda serão apresentadas no discurso.
Entre os vícios de linguagem que devem ser combatidos inclui-se o estrangeirismo desnecessário, por se encontrarem, no vernáculo, vocábulos equivalentes. Quando não houver equivalente, porém, em língua materna, segundo a ABNT, deve ser grafado o vocábulo com destaque em itálico.
O italianismo "em sede de” pode, em geral, ser substituído por outros termos mais apropriados.
Napoleão Mendes de Almeida, em o Dicionário de Questões Vernáculas, registra como ERRO o emprego do demonstrativo “mesmo" com função pronominal. Aurélio Buarque de Holanda, em seu Dicionário anota ser conveniente evitar o uso de “o mesmo” como equivalente dos pronomes "ele“, "o" etc.
Nenhum dicionário autoriza o neologismo “inobstante”, que circula nos meios forenses a par de outras expressões de formação semelhante. Preferível o uso das expressões vernáculas já consagradas: "não obstante" ou "nada obstante". A mesma observação se pode fazer em relação a outros neologismos como “inacolhida”.
A expressão “ocorre que” não tem objetividade redacional na formulação da peça processual. Alguns professores de Língua Portuguesa chamam isso de “muleta redacional”.
Para orientações quanto à indicação de dispositivos legais em textos jurídicos, recomendamos a edição atualizada de “Português no Direito”, de Ronaldo Caldeira Xavier.

Outros materiais