Grátis
12 pág.

Nise da Silveira e as cirurgias na psiquiatria (apresentação de artigo)
Denunciar
5 de 5 estrelas









16 avaliações
Enviado por
Ariele Macedo 
5 de 5 estrelas









16 avaliações
Enviado por
Ariele Macedo 
Pré-visualização | Página 1 de 4
Departamento de Psicologia Prof. Dr. Neyfsom Carlos Fernandes Trabalho História da Psicologia Alice Cristina Amaro Ferreira Ariele de Freitas Macedo Isabela Brugnerotto de Almeida Lívia Wenischenck Bráz Milena de Paula Q. R. Fonseca Vitória Cecília da Silva Lopes São João Del rei 2020 APRESENTAÇÃO GERAL DO ARTIGO – OBJETIVOS: O texto traz um pouco da história de Nise Magalhães da Silveira, médica psiquiatra, alagoana, única mulher de sua turma de medicina, uma das primeiras formadas no Brasil. Nascida em 15 de fevereiro de 1905, Nise revolucionou o tratamento mental, com sua relevância e resistência aos procedimentos e experimentos da época. Envolvida com questões políticas, foi presa em 1936 durante 18 meses, só integrada novamente ao serviço público em 1944 no Centro Psiquiátrico Nacional Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, onde iniciou sua luta contra as práticas que considerava agressivas aos pacientes. Devido a sua recusa em realizar tais procedimentos aplicados no centro, como a lobotomia, foi transferida de setor. Nise se depara com a área ocupacional na qual ela inicia a criação do ateliê de pintura e modelagem com a intenção de ressignificar o sofrimento daqueles adoecidos trazendo conforto, liberdade, criação de vínculo e utilizando da criatividade e do simbólico. Em 1952 ela fundou o Museu do Inconsciente, que apresentava as obras criadas pelos seus pacientes. A arte trouxe para essas pessoas um renascimento social. Em 1956, Nise criou a Casa das Palmeiras, uma clínica que tinha como objetivo a reabilitação de antigos pacientes de clínicas psiquiatras. Além disso, ela também foi a pioneira nos estudos com uso nos animais e na psicologia Junguiana no Brasil. A principal discussão abordada no início do artigo foi a promoção sobre as cirurgias cerebrais desenvolvidas na época e testadas em macacos, um tema o qual gerava grandes discussões, já que após o procedimento o animal apresentava uma certa inércia, reduzindo o quadro de agitação. O objetivo central era eliminar as doenças mentais ou extinguir comportamentos indesejados ainda não compreendidos. Os procedimentos conhecidos como lobotomia e leucotomia possuíam uma divisão terminológica apresentando variações em suas técnicas e tendo como pressuposto que essa dissecação produziria modificação nessas disfunções. A eletroconvulsoterapia, também conhecida como eletrochoque, foi uma técnica bem utilizada nessa época promovendo também uma melhoria nos sintomas psiquiátricos segundo seus criadores. A insulinoterapia também foi um procedimento usado na época, que consistia na aplicação de uma série de injeções utilizadas de início para delirium tremens e para desnutrição, sendo usadas mais tarde para casos específicos de esquizofrenia. Esses métodos foram marcantes no processo de construção de um pensamento adverso por Nise que iniciou uma nova forma de tratamento, agora não invasivo e nem perturbador aos pacientes. Procedimentos como a lobotomia são resquícios da era do fisicalismo, na qual a Psicologia se restringia a buscar explicações das enfermidades exclusivamente a nível físico. Nise da Silveira propõe transformar a visão da psiquiatria quanto à maneira de tratar os fenômenos psíquicos. Os sujeitos acometidos por sofrimentos mentais, antes submetidos a tratamentos sub-humanos e internados em manicômios passam a receber “afeto catalisador” para se sentirem amparados em seu processo de melhoria gradual visando a cura. Junto com a retomada de Nise em 1944, outros médicos apresentaram procedimentos novos como a lobotomia, aos quais ela demonstrava desde o início resistência, sendo extremamente criticada por não concordar com seus colegas de trabalho no centro de Engenho de Dentro. A visão dela era do quanto aqueles tratamentos eram ineficazes e agressivos aos pacientes e sem sombra de dúvidas um risco à saúde dessas pessoas. Por outro lado, em relação a teoria de Descartes, ela discordava de sua proposta dualista, por ter uma visão unificada do indivíduo, denominada monismo vitalista. Para Nise, essa separação entre o corpo e a alma não é possível, sendo que ela se embasa no modelo analítico de Jung, onde existe essa união da psique da matéria. Para embasar sua teoria de que esses procedimentos invasivos não eram ideais, Nise traz relatos de pacientes e experiências nos quais se é possível ver essa não melhora e sim um atentado à integridade do órgão mais nobre. Ela critica o modelo que se estende até hoje, expresso pela psicofarmacologia, de controle dos corpos. A intenção de controlar as doenças a nível biológico, com supressão de sintomas, desconsidera o mundo interno, tão real quanto o externo, continuando a considerar os sujeitos como máquinas – resquício do mecanicismo da época de Descartes. A descoberta da capacidade de administrar a vida a nível molecular reduz as possibilidades de acessar a psique, restringindo-se à matéria. A partir dessas descobertas ela cria um ateliê de atividades expressivas no Setor de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação do complexo psiquiátrico, devido à sua transferência. Iniciando então atividades com pintura, modelagem e escultura como opção de tratamento, tendo como objetivo ter um ambiente livre para produção espontânea. Nise, então, aproxima a loucura da arte, possibilitando a expressão dos fenômenos mentais por meio de pinturas dos próprios sujeitos, a fim de se curarem a partir da própria criação. As imagens advindas da psique são vias de acesso ao inconsciente e, a partir de uma nova perspectiva, retiram o estigma de “doença”, ampliando as possibilidades de compreensão do que se passa dentro de cada sujeito. O ato artístico expressa o mecanismo da própria psique de autorregulação e de reintegração de conteúdos, com elevado potencial terapêutico. As produções criadas nesse setor começam a trazer forma de um “inconsciente”, totalmente inexplorado até então, tomando formas e desenhos expressões trazidas desse desconhecido. Assim, ultrapassa os limites do racionalismo previamente concebido e possibilita acesso ao território do inconsciente, espaço do simbólico, de linguagem peculiar. A ferramenta do processo de construção lógica através do raciocínio se torna para eles algo extremamente difícil de articular, sendo que expressar essas vivências com lápis e pincel é o concebível por muitos. Diante dessas articulações, Nise se aproxima da psicologia analítica fundada por Carl Gustav Jung, conseguindo então fundamentar e sustentar a criação de imagens, produzindo não só o acesso ao inconsciente mas também uma aplicação terapêutica. A psiquiatra tratava a loucura de forma singular, já que considerava aqueles desenhos como algo vindo das profundezas da psique -como um caos-, demonstrando a fragmentação do outro trazida em traços únicos de lugares nunca visitados antes. O diagnóstico é tratado por ela de modo que “tais sintomas não compõem uma doença, uma entidade patológica definida, mas se manifestam como estados múltiplos de desmembramento e de transformação do ser” (SILVEIRA, 1989, p.9), contrapondo-se à ótica da psiquiatria moderna que se restringe a modificações químico- biológicas. O artigo trata de muitas teorias contrapondo os conceitos de Nise e sendo fundamentais também para essa pesquisa e procura por algo que explicasse de forma embasada o que estava surgindo durante suas atividades ocupacionais. Através dessa desconstrução de conceitos, e pela descoberta da teoria analítica de Jung se faz possível a construção do inconsciente através da arte e então se iniciam as discussões sobre o contexto até aquela época e as novas teorias. A hegemonia do fisicalismo e mecanicismo se torna um dos primeiros