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1 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO Para o obstetra a gravidez se inicia no último período menstrual e para o embriologista, 2 semanas após, ao tempo de fertilização. Neste resumo, a idade gestacional vai se dar após 2 semanas da DUM, ao tempo da fertilização. PRIMEIRA SEMANA - À medida que o ovo passa pela tuba uterina, em direção ao útero, sofre rápidas divisões mitóticas – segmentação – responsáveis pela formação de blastômeros ▪ 3º dia: - O ovo com 16 ou mais blastômeros é denominado mórula e penetra na cavidade uterina; ▪ 4º dia: - Uma cavidade se forma na mórula, que se converte blastocisto. - O blastocisto é assim constituído um grupo de células internas, embrioblasto, em um dos polos do ovo (nó embrionário) que dará origem ao embrião; (2) a cavidade blastocística; (3) uma camada de células externas, o trofoblasto, que engloba a cavidade e o embrioblasto. ▪ 4º e 5º dia: - O blastocisto está livre na cavidade do útero. ▪ 5º dia: - A zona pelúcida se degenera e acaba por desaparecer. ▪ 7º dia: - As células do trofoblasto começam a invadir o epitélio do endométrio, quando se inicia a sua diferenciação em duas camadas: - Interna, o citotrofoblasto ou células de Langhans; - Externa, o sinciciotrofoblasto, formado por massas protoplasmáticas multinucleadas, nas quais faltam os limites celulares. ▪ Fim da 1ª semana: - O ovo está superficialmente implantado no endométrio. SEGUNDA SEMANA - Formação do disco embrionário didérmico (bilaminar) - No trofoblasto ocorrem rápidas transformações: 2 ▪ Organizam-se, definitivamente, duas camadas, bem diferenciadas: o citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto. ▪ Lacunas se desenvolvem no sinciciotrofoblasto e, logo, fusionam-se para formar a rede lacunar. ▪ O trofoblasto produz enzimas que digerem a parede do útero, permitindo a penetração do embrião (nidação). ▪ As projeções formadas pela proliferação das células do trofoblasto na mucosa uterina são chamadas vilosidades coriônicas. ▪ Obs.: As vilosidades coriônicas ficam envoltas por lacunas sanguíneas, constituídas por sangue materno. E as substâncias nutritivas contidas nesse sangue são aproveitadas pelo embrião, constituindo o que chamamos de placenta primária ▪ A implantação se completa, e o ovo está totalmente mergulhado no endométrio. - As várias alterações endometriais resultantes da adaptação dos tecidos maternos à implantação são conhecidas como reação decidual. - Concomitantemente, o mesoderma extraembrionário origina-se da superfície interna do trofoblasto, reduzindo o tamanho relativo da cavidade blastocística, que passa a se chamar vesícula vitelina primitiva. Quando se forma o celoma extraembrionário, proveniente de espaços criados no mesoderma extraembrionário, a vesícula vitelina primitiva torna-se menor e origina a vesícula vitelina secundária, constituindo o restante o saco vitelino. O celoma extraembrionário se converte na cavidade coriônica. À medida que essas alterações ocorrem: • O embrioblasto se diferencia no disco bilaminar, constituído pelo epiblasto (ectoderma embrionário), relacionado com a cavidade amniótica, e o hipoblasto (endoderma embrionário), adjacente à cavidade exocelômica. • O hipoblasto forma o teto da cavidade exocelômica e é contínuo com a delgada membrana exocelômica. Essa membrana, junto com o hipoblasto, forma a vesícula vitelina primitiva. • As células do endoderma (hipoblasto) da vesícula vitelina formam camada de tecido conjuntivo, o mesoderma extraembrionário, que circunda a cavidade amniótica e a vesícula vitelina. • Com a formação do celoma extraembrionário, a vesícula vitelina primitiva diminui de tamanho, e se forma uma pequena vesícula vitelina secundária. A vesícula vitelina não contém vitelo; entretanto, ela exerce importantes funções; ela poderá desempenhar papel na transferência seletiva de nutrientes para o embrião • O mesoderma somático extraembrionário e as duas camadas do trofoblasto (cito e sincício) formam o cório. O cório constitui a parede da vesícula amniótica, dentro do qual o embrião e as vesículas vitelina e amniótica estão suspensos pelo pedículo. O celoma extraembrionário é, então, chamado de cavidade coriônica (na gravidez, e a ultrassonografia, denominado saco gestacional). • Ovo de 12 dias completamente implantado. Note que o epitélio endometrial está refeito e algumas glândulas e sinusoides comunicam-se com a rede lacunar. -> 3 • O embrião de 14 dias ainda apresenta a forma de um disco bilaminar; nas células hipoblásticas, em uma área localizada, forma a placa precordal, futuro local da boca e importante organizador da região da cabeça. -> TERCEIRA SEMANA - Gastrulação. - Formação do disco embrionário tridérmico (trilaminar) - É um período de rápido desenvolvimento, coincidindo com a época da primeira menstruação frustrada. - A parada do sangramento menstrual é o primeiro sinal de gravidez, embora possam ocorrer, eventualmente, perdas hemorrágicas provenientes do local de implantação. - Alterações da 3ª semana: ▪ Formação do mesoderma intraembrionário, a 3ª camada germinativa, a partir de células mesoblásticas originárias do epiblasto (ectoderma). ▪ Formação dos tecidos de sustentação, tais como a maior parte dos tecidos conjuntivos do corpo e a trama do tecido conjuntivo das glândulas. Em resumo, por meio do processo de gastrulação, as células do epiblasto dão origem a todas as três camadas germinativas. ▪ Formação do notocórdio, eixo principal do embrião em torno do qual se forma o esqueleto axial. ▪ Formação do tubo neural, primórdio do SNC a partir de um espessamento do ectoderma. Concomitantemente, células neuroectodérmicas migram para formar a crista neural, origem dos gânglios sensoriais dos nervos cranianos e espinais. ▪ Constituição dos somitos, agregados de células mesenquimais, a partir dos quais as células migram e dão origem às vértebras, às costelas e à musculatura axial. ▪ Surgimento do celoma intraembrionário, que dará origem às futuras cavidades do organismo: pericárdica (que contém o coração), pleural (os pulmões) e peritoneal (as vísceras abaixo do diafragma) ▪ Origem dos vasos sanguíneos e do sangue. A formação do sangue, no embrião, somente se inicia no 2º mês, e ocorre no fígado, mais tarde no baço, na medula óssea e nos gânglios linfáticos. A circulação sanguínea tem início no fim da 3ª semana, sendo, por conseguinte, o sistema cardiovascular o primeiro do organismo a alcançar estado funcional ▪ Desenvolvimento posterior das vilosidades. O rápido desenvolvimento das vilosidades durante a 3ª semana aumenta acentuadamente a superfície do cório e favorece as trocas maternoembrionárias. QUARTA A OITAVA SEMANA – PERÍODO EMBRIONÁRIO 4 - Durante essas 5 semanas, todos os principais órgãos e sistemas do corpo são formados a partir das três camadas germinativas. - Logo ao se iniciar a 4ª semana, curvaturas longitudinais (cefálica e caudal) e laterais (direita e esquerda) convertem o disco embrionário, achatado, em um embrião cilíndrico, em forma de “C”. - A formação das curvaturas cefálica, caudal e laterais é sequência contínua de eventos que termina por circunscrever o embrião na vesícula vitelina. Parte dela é incorporada ao embrião durante a curvatura, dando origem ao intestino primitivo, e o restante constitui o remanescente da vesícula vitelina secundária. - O conjunto constituído pelo pedículo embrionário primitivo, com os vasos sanguíneos e a alantoide, é o pedículo vitelino, que, revestido pelo âmnio, forma o cordão umbilical. - A curvatura cefálica determina que o coração situe-se ventralmente e o cérebro torne-se a parte mais cranial do embrião. - A curvatura caudal obriga o pedículo do embrião, então chamado umbilical, a mover-se para a região ventral. Os três folhetos germinativos primários se diferenciam nos váriostecidos e órgãos. No fim da 7ª semana quase todos os principais sistemas do organismo estão formados. - A ultrassonografia pode exibir saco gestacional desde 5 semanas, e a técnica tridimensional impressiona pela imagem do concepto (idade menstrual). - A morfologia externa do embrião está bastante influenciada pela formação do cérebro, dos membros, das orelhas, do nariz e dos olhos. À medida que essas estruturas se desenvolvem, elas afetam a imagem do concepto, que vai adquirindo figura humana. - Como o início de todas as estruturas essenciais ocorre durante o período embrionário, as 4 semanas aludidas constituem a fase crítica do desenvolvimento, na qual podem surgir as diversas malformações congênitas, quando exposto o embrião a agentes teratogênicos (fármacos, infecções, radiações etc.). EMBRIÃO DE 7 SEMANAS 5 NONA SEMANA AO NASCIMENTO – PERÍODO FETAL - Em torno da 9ª semana da gestação, já tendo o embrião aparência humana, inicia-se o período fetal. A organogênese está quase completa, e o desenvolvimento fundamentalmente voltado para o crescimento e a maturação de tecidos e órgãos formados na fase embrionária, uma vez que poucas estruturas novas surgem durante o período fetal. - Os vários órgãos e tecidos não se desenvolvem com ritmo idêntico, nem alcançam, contemporaneamente, determinado grau de maturação. O feto a termo tem os aparelhos digestivo, respiratório, circulatório e urinário praticamente prontos para a vida extrauterina, enquanto os tecidos nervosos e ósseos permanecem imaturos, e sua diferenciação prossegue por muito tempo após o nascimento. - Pode-se destacar os seguintes fatos acerca do período fetal: ▪ 9ª a 12ª semana: há relativa diminuição do crescimento da cabeça em relação ao corpo. A genitália externa de fetos dos sexos masculino e feminino ainda aparece indiferenciada até o fim da 9ª semana, e sua forma madura se estabelece apenas na 12ª. ▪ 13ª a 16ª semana: crescimento muito rápido, especialmente do corpo. Aparecimento dos centros de ossificação aos raios X, iniciada à 16ª semana. ▪ 16ª a 20ª semana: a mãe começa a perceber os movimentos fetais, na realidade originados entre 8 e 12 semanas. Ao início da 20ª semana surgem lanugem e cabelos, e a pele está coberta de verniz caseoso, material constituído pela secreção gordurosa das glândulas sebáceas, e que tem por fim proteger a delicada epiderme fetal. ▪ Até 22 a 24 semanas, embora todos os órgãos estejam desenvolvidos, o feto é incapaz de existência extrauterina, principalmente pela imaturidade do sistema respiratório. Entretanto, a moderna assistência aos conceptos pré-termo tem aumentado a sobrevivência de produtos de idade gestacional muito pequena, cada dia reduzida com o aprimoramento dos cuidados pediátricos. - O tecido adiposo se desenvolve rapidamente durante as 6 a 8 últimas semanas, fase dedicada, principalmente, ao crescimento de tecidos e à preparação dos sistemas envolvidos na transição da vida intrauterina para a extrauterina. - No período fetal, o concepto é menos vulnerável aos efeitos teratogênicos, embora possa haver interferência com o desenvolvimento funcional, especialmente do cérebro. 6 FISIOLOGIA FETAL SISTEMA RESPIRATÓRIO - Com 28 semanas, quando o feto tem aprox. 1 kg, os pulmões estão suficientemente desenvolvidos de modo a tornar possível a sobrevida do recém-nascido pré-termo. Antes disso, são incapazes de proporcionar trocas gasosas adequadas: a superfície alveolar e a vascularização são insuficientes. - Síntese da lecitina (surfactante-ativo): ▪ O surfactante é capaz de reduzir a tensão superficial da interface ar-líquido e assim manter o lúmen dos alvéolos, evitando o seu colapso após o nascimento. ▪ Cerca de 90% do complexo surfactante estão compostos por fosfolipídios, dos quais a lecitina representa 80% e o fosfatidilglicerol (FG), 10%. ▪ De 22 a 24 semanas até 35 semanas de gestação, a reação de metilação é a principal via de síntese da lecitina. ▪ A lecitina formada pela via CDF-colina, embora operante desde 18 semanas, somente torna-se expressiva após 36 semanas. ▪ O FG funciona como potencializador da ação surfactante da lecitina e aparece em quantidades apreciáveis na gestação de 37,5 semanas. - Início da respiração: ▪ Antes do nascimento, os pulmões estão cheios de líquido (estágio secretório do pulmão fetal). ▪ Há a eliminação prévia de fluido por três vias: (1) um terço é expelido pela pressão exercida no tórax durante o parto; (2) outro terço é absorvido pelos capilares pulmonares; e (3) o restante passa para os linfáticos que drenam os brônquios e os vasos sanguíneos. ▪ Quando os pulmões se inflam após o parto, forma-se interface ar-líquido na superfície da membrana alveolar. A camada líquida produz força que tende a colapsar os alvéolos. O surfactante reduz a tensão superficial nos alvéolos, mantendo quantidade apreciável de ar residual nos pulmões após a expiração, prevenindo a atelectasia. ▪ O início dos movimentos respiratórios está filiado a estímulos térmicos e táteis, além da asfixia (diminuição do PO2 e do pH e aumento do PCO2) que ocorre no processo natural do nascimento. ▪ O surfactante mantém a expansão do pulmão na expiração, baixando a tensão superficial na interface ar-líquido do alvéolo. Diversos hormônios e fatores do crescimento contribuem para regular o metabolismo dos fosfolipídios pulmonares e o amadurecimento do pulmão. Os glicocorticoides são os mais importantes elementos de estimulação. 7 SISTEMA CIRCULATÓRIO - Uma vez que o ovo humano não tem mais que pequenas reservas nutritivas, sua sobrevivência depende da precoce nidificação. - Durante a 3ª semana formam-se os vasos do embrião, entre os quais as duas aortas primitivas. - Na porção cefálica elas constituem os tubos cardíacos que irão se fundir no coração primitivo. Das aortas, originam-se ramos – artérias vitelinas – que alcançam, ventralmente, a vesícula vitelina. Pelas veias ocorre o retorno, fechando-se o circuito da circulação vitelina, que é diminuta e fugaz, traduzindo somente vestígio filogenético. - À medida que a primitiva circulação regride, formam-se, na porção caudal das aortas, as artérias alantoide. - Seguindo a orientação da alantoide, essas artérias alcançam os vasos que no cório foram, simultaneamente, diferenciando-se. Por veias homônimas das artérias, dá-se o retorno. - Há, nessa fase do ovo, três circulações: • Uma própria do embrião • 2 extraembrionárias (circulações vitelina e alantocorial). - Com a regressão de um dos circuitos, permanecem dois e, somente na vida neonatal, um. - No concepto mais desenvolvido, os vasos alantocoriais passam a ser nomeados vasos umbilicais, e a circulação alantocorial irá denominar-se circulação fetoplacentária. - As artérias vitelinas constituirão, fundidas, a artéria mesentérica superior, e as veias, a veia hepática. - As artérias umbilicais, originando-se de porção da aorta que não vem a se fundir – artérias ilíacas primitivas – continuam duplas, muito calibrosas na vida fetal, atrofiadas na extrauterina, em que se reconhecem como cordões fibrosos. As veias umbilicais, ao contrário das artérias, também se fundem. Circulação fetal ▪ A veia umbilical transporta sangue rico em oxigênio e nutrientes provenientes da placenta, alcançando o fígado fetal. 8 ▪ A maior parte do sangue passa através do forame oval diretamente para a aurícula esquerda e a menor permanece na aurícula direita. ▪ As artérias ilíacas comuns, que nutrem os órgãos pélvicos e as extremidades inferiores, direcionam sangue à placenta via artérias umbilicais. Circulação neonatal • Modificações circulatórias importantes ocorrem ao nascimento, quando cessa a circulação fetoplacentária e os pulmões tornam-se funcionantes. • O forame oval, o ductus arteriosus, o ductus venosus e os vasos umbilicais se tornaminoperantes. • Como resultado da maior chegada de sangue aos pulmões, devido a ventilação pulmonar, a pressão no átrio esquerdo ultrapassa a do átrio direito, o que determina o fechamento da válvula do forame oval. • O ductus arteriosus, que tem espessa parede muscular lisa, assim como os vasos umbilicais, contrai-se ao nascimento, embora possa subsistir pequena derivação de sangue da aorta para a artéria pulmonar, por alguns poucos dias. • A obturação do ductus arteriosus parece estar mediada pela bradicinina, substância liberada pelos pulmões durante sua insuflação inicial. • Da mesma maneira, as artérias umbilicais se contraem após o parto, impedindo perdas sanguíneas no recém-nascido. Se o cordão não for laqueado, apenas por um minuto ou mais, o fluxo de sangue persistirá através da veia umbilical. -> Ligamento redondo, resultante da porção intra-abdominal da veia umbilical -> Ligamento venoso proveniente do ductus venosus -> A maior parte do segmento abdominal das artérias umbilicais forma os ligamentos umbilicais laterais; porções desses vasos persistem e constituem as artérias vesicais superiores -> O ductus arteriosus forma o ligamento arterial; o fechamento anatômico ocorre apenas no final do 3o mês pós-natal. -> O forame oval cerra-se ao nascimento, embora a obturação definitiva só se desenvolva ulteriormente, como já citado. Hemoglobina fetal ▪ A formação de sangue no embrião só ocorre no 2o mês, principalmente no fígado. ▪ O baço é órgão eritropoético entre o 3º e o 7º mês e, no 5º, a medula óssea começa a sua atividade, tornando-se no 7º a sede principal da elaboração dos glóbulos vermelhos. ▪ Há muito se sabe que o sangue fetal tem maior afinidade pelo oxigênio do que o do adulto. 9 ▪ A transição da hemoglobina fetal para a adulta in utero inicia-se no 2o trimestre. Antes desse prazo, quase 100% da Hb é do tipo fetal. ▪ Ao nascimento, existem apenas 20% de HbF e a baixa persiste até 12 semanas pós-natais. Em geral, a HbF não é mais encontrada com 2 anos e meio de idade. Função urinária • Como a placenta depura adequadamente o sangue fetal de catabólitos e mantém (via pulmões e rins maternos) o equilíbrio hídrico, eletrolítico e acidobásico, não há necessidade da função renal para o concepto. • O rim definitivo (metanefro) começa a se desenvolver no início da 5a semana e funciona 2 a 3 semanas mais tarde. ANEXOS DO EMBRIÃO E DO FETO Para o embriologista, quatro são os anexos do embrião e do feto: cório, âmnio, vesícula vitelina e alantoide. Essas estruturas se desenvolvem no ovo, mas não estão relacionadas com a formação do concepto, exceto algumas porções da vesícula vitelina e da alantoide. Têm por função assegurar proteção, nutrição, respiração e excreção do concepto. - Para o obstetra, três são os anexos do feto: a placenta, o cordão umbilical e as membranas. - A placenta é considerada um órgão misto, a um tempo materno e ovular (fetal). Denomina-se placenta ovular (placenta fetal) a porção constituída por elementos do ovo: toda a placa corial e as estruturas arboriformes coriais. E placenta materna a fração que tem origem decidual: decídua basal e septos. - Ao completar-se o parto pelo secundamento, elimina-se toda a placenta ovular e a maior parte da materna. O parto é, na verdade, a expulsão de todo o ovo e de fração do organismo da gestante Decídua – Reação decidual ▪ A camada funcional do endométrio, modificado pela gravidez, denomina-se decídua, indicando que será eliminada à parturição. ▪ A decidualização é processo complexo que se inicia na fase secretória do ciclo menstrual, regulada pelos hormônios ovarianos e pelas citocinas deciduais. ▪ A invasão do trofoblasto no leito placentário é precedida pela remodelação decidual dos tecidos maternos, processo que se inicia no endométrio e se estende à zona de junção miometrial (terço interno do miométrio). ▪ As células imunes maternas (linfócitos T, células NK [natural killer], macrófagos etc.) secretam citocinas (TNF-α, IL-1) e fatores do crescimento que promovem a remodelação decidual. 10 ▪ A reação decidual é resposta do organismo à existência do ovo. No final do ciclo menstrual há aspecto deciduoide, vigente também quando se administram altas doses de progestogênios. Embora sua importância não esteja totalmente desvendada, parece ligada à nutrição do embrião e à proteção do tecido materno contra a invasão desordenada do trofoblasto. ▪ As células do estroma do endométrio assumem, durante a gravidez, isto é, na decídua, aspecto peculiar e são chamadas deciduais. Têm tamanho grande, com quantidade aumentada de glicogênio e de lipídios. Essas células deciduais começam a desaparecer em torno do ovo recém-nidificado, embora ainda notadas depois em toda a decídua. - Na fase de implantação (8º ao 13º dia pós-ovulação), o endométrio se diferencia em três zonas distintas: 1. Camada basal: < 1/4 do tecido, alimentada pelas artérias retas; 2. Camada esponjosa: porção média do endométrio (aprox. 50% do total), composta de estroma frouxo edematoso com vasos espiralados tortuosos e glândulas dilatadas e exaustas. 3. Camada compacta: acima da esponjosa está o estrato superficial do endométrio. Aqui a característica histológica proeminente são as células do estroma muito próximas umas das outras, por isso o termo stratum compacto. - Ao nidar, o ovo normalmente se detém na camada esponjosa, rica em glândulas e em vasos sanguíneos, local de sua nutrição. Até o 3º/4º mês, topograficamente, distinguem-se três porções na decídua: I. Decídua basal, correspondente à zona de implantação, ricamente vascularizada e que constitui a parte materna da placenta II. Decídua capsular, levantada pelo desenvolvimento do ovo, fina e mal irrigada, o que condiciona a atrofia do cório correspondente III. Decídua parietal, aquela que atapeta toda a cavidade uterina, à exceção da zona correspondente à implantação. - A expansão do ovo aproxima a decídua capsular da parietal; a cavidade uterina torna-se cada vez menor, até desaparecer no final do 3º mês. 11 Placentação humana normal - A placenta, suas membranas e a decídua (endométrio materno transformado) contêm diferentes subtipos de células trofoblásticas que desempenham diversas funções. Todos esses subtipos trofoblásticos se diferenciam das células trofoectodérmicas do blastocisto. Origem das células trofoectodérmicas - Quando o embrião alcança o estágio de 32 células, a camada trofoectodérmica provavelmente bombeia fluido para o espaço extracelular, formando a cavidade blastocística uma característica do blastocisto tardio. É neste estágio que o embrião, que começa a sua clivagem na tuba uterina, alcança a cavidade uterina. Invasão do trofoblasto extraviloso na zona de junção miometrial - Considera-se que o endométrio decidualizado possa modular a função trofoblástica, alternando a expressão de fatores regulatórios, tais como citocinas, metaloproteinases, integrinas de superfície e moléculas complexas maiores de histocompatibilidade. - Nos estágios pós-ovulatórios, a invasão intersticial do trofoblasto extraviloso provém da coluna de células situadas nas extremidades das vilosidades ancorantes. - De 8 semanas em diante, o miométrio é invadido pelo citotrofoblasto; esta invasão alcança o seu máximo entre 9 e 12 semanas e é restrita à zona de junção, que então é caracterizada por grande número de células gigantes. - O período seguinte é a invasão pelo citotrofoblasto extravilositário endovascular nas artérias espiraladas e sua conseguinte remodelação – substituição da estrutura – musculoelástica do vaso por material fibrinoide (com trofoblasto embebido) e reendotelização. - A invasão intravascular se faz em dois estágios: -> 1ª Onda de migração, alcançando apenas o segmento decidual nas artérias espiraladas (apartir de 8 semanas); -> 2ª onda de migração, alcançando a zona de junção miometrial (iniciando com 14 semanas); por volta de 18 semanas, as artérias espiraladas apresentam trofoblasto endovascular incorporado na parede do vaso. 12 PLACENTA - A porção do ovo que estabelece intercâmbio com o ambiente é o trofoblasto. Após a nidificação ele prolifera e, dotado de grande poder invasor, penetra pelos capilares e dá início à nutrição hemotrófica, isto é, à custa do sangue materno. O trofoblasto e o tecido de conexão correspondente constituem o cório. - Pela emissão de prolongamentos, aumenta a superfície de trocas. São as vilosidades coriais, inicialmente compostas exclusivamente pelo trofoblasto, e depois contendo eixo de tecido conectivo com rede capilar. No princípio da 4ª semana, todos os arranjos para as trocas definitivas entre a mãe e o embrião estão finalizados. - Até a 8ª semana as vilosidades cobrem inteiramente o cório. Com o crescimento, as porções do cório em correspondência com a decídua basal, mais vascularizadas e diretamente conectadas com o embrião pela circulação alantocorial, desenvolvem-se de modo considerável, constituindo o cório frondoso, que é o principal componente da fração ovular da placenta; é, por essa razão, denominado também cório placentário. - Os demais segmentos do cório correspondem à decídua capsular, e as vilosidades logo regridem, permanecendo algumas vestigiais. É o cório liso, que acolado ao âmnio membranoso, formará as membranas do ovo; é, por isso, nomeado cório membranoso. Circulação placentária A placenta provê área extensa na qual substâncias podem ser intercambiadas entre a mãe e o feto. As circulações materna e fetal são independentes, não havendo, em condições normais, comunicação alguma entre elas. - Circulação placentária fetal: ▪ O sangue, pobre em oxigênio, deixa o feto e, pelas artérias umbilicais, segue em direção à placenta. ▪ O cordão umbilical, ao se inserir na placenta, tem suas artérias divididas em alguns vasos, dispostos de modo radiado, e que se ramificam livremente na placa coriônica. ▪ O sangue fetal oxigenado passa através de veias que têm o mesmo trajeto das artérias, em sentido contrário, para o cordão umbilical, sendo coletado pela veia umbilical. Esse calibroso vaso carreia o sangue oxigenado para o feto. ▪ O fluxo fetal que se dirige à placenta é determinado pelo DC do concepto e pela resistência vascular umbilical, que é a exercida pelas arteríolas do sistema viloso terminal. Na ausência de inervação autônoma, a resistência vascular na circulação fetal da placenta é exercida localmente pela ação de autocoides que promovem a vasoconstrição ou a vasodilatação. Entre os principais vasodilatadores estão o óxido nítrico e a prostaciclina. Entre os vasoconstritores, a antitrombina III e as endotelinas 1 e 3. Vilosidade corial - São as vilosidades coriais digitiformes; em cortes, têm o aspecto arredondado, nelas se descrevendo o revestimento trofoblástico e um eixo de tecido conjuntivo rico em capilares. - Imutável a morfologia geral, ocorrem, entretanto, no curso da gravidez, numerosas modificações: altera-se o tamanho, modificam-se o aspecto e a quantidade do trofoblasto, do tecido conjuntivo e da vascularização. 13 - No 1º trimestre (fig. A) a membrana placentária consta de 4 camadas: ▪ Sinciciotrofoblasto ▪ Citotrofoblasto ▪ Tecido de conexão ▪ Endotélio do capilar fetal. - No 2º trimestre (B): ▪ O citotrofoblasto não mais forma camada contínua ▪ A quantidade relativa de tecido conjuntivo se reduz ▪ O número e o tamanho dos capilares aumentam. - No 3º trimestre (C), à medida que a gravidez se desenvolve, a membrana placentária torna-se progressivamente mais fina e uma quantidade maior de capilares intravilosos se aproxima do sinciciotrofoblasto. Em alguns locais, os núcleos do sinciciotrofoblasto formam agrupados nucleares, os nós sinciciais, que costumam se destacar e são carreados para a circulação materna, depositando-se na circulação pulmonar, na qual, logo, degeneram e desaparecem. Funções da placenta: ▪ Metabólica ▪ Endócrina ▪ De trocas ▪ Imunológica. - A placenta serve como transporte de gases respiratórios, nutrientes e produtos de degradação entre a mãe e o concepto. É órgão endócrino de grande atividade, secretando ampla gama de hormônios esteroides e peptídicos, necessários para a manutenção da gravidez e o controle do crescimento e do amadurecimento fetal. Além disso, também atua como interface imunológica entre a mãe e o aloenxerto fetal. Transferência citocínica - A implantação e a placentação que caracterizam o 1º trimestre da gestação representam uma “ferida aberta” e necessitam de forte resposta inflamatória (TH1). Nessa fase inicial, a grávida sente mal-estar resultante da resposta imunológica e do ambiente hormonal (p. ex., níveis elevados de hCG). Assim, o 1º trimestre da gravidez é uma fase inflamatória. - A segunda fase imunológica da gravidez é período de rápido crescimento e desenvolvimento. A mãe, a placenta e o feto se apresentam simbióticos, e cessam os sintomas inflamatórios da 1ª fase (náuseas, fadiga extrema), caracterizando estado anti-inflamatório (TH2). 14 - O parto se caracteriza pelo influxo de células imunológicas no miométrio, que criam ambiente pró- inflamatório, determinando contratilidade uterina, expulsão do feto e rejeição da placenta. Em conclusão, a gravidez é estado pró-inflamatório e anti-inflamatório, dependendo da época avaliada. Forma, aspecto e dimensões da placenta: - A forma placentária é variável: achatada, em geral circular ou discoide ovalada. - A placenta in situ apresenta uma face fetal, em correspondência com a cavidade amniótica e o cordão umbilical, e outra, face materna, que se confunde com a decídua. - A face fetal é recoberta pelo âmnio, que a torna lisa e brilhante. Aí se insere o cordão umbilical, do qual emergem as ramificações das artérias umbilicais, dispostas em raios, ou para o qual convergem os componentes da veia umbilical. Ocasionalmente, encontram-se granulações e pequenas formações císticas, remanescentes da vesícula vitelina e da alantoide. CORDÃO UMBILICAL - Normalmente, está inserido no centro da placenta. Seu diâmetro mede de 1 a 2 cm, e o comprimento de 50 a 60 cm. - O cordão é formado de tecido conjuntivo indiferenciado – geleia de Wharton – no qual correm os vasos umbilicais e onde se encontram, amiúde, remanescentes da alantoide e da vesícula vitelina; o todo é revestido pelo âmnio funicular. - São duas as artérias do cordão umbilical continuando os vasos homônimos do feto, ramos das artérias ilíacas internas; na vida neonatal constituem dois cordões fibrosos. A veia é a raiz da cava inferior e única. SISTEMA AMNIÓTICO O sistema amniótico é a unidade morfológica e, sobretudo, funcional entre o âmnio e o líquido amniótico, o continente e o conteúdo, indissoluvelmente ligados. 1 – Âmnio ▪ Descreve-se no âmnio a porção membranosa, acolada ao cório membranoso, a placentária, recobrindo o cório placentário, e outra, funicular, em torno do cordão. ▪ Em virtude de estar o âmnio inserido na margem do disco embrionário, sua junção com o embrião torna- se ventral quando das curvaturas. À medida que a cavidade amniótica cresce, oblitera gradualmente a cavidade coriônica e reveste o cordão umbilical, formando-lhe a cobertura epitelial. ▪ As membranas em volta da cavidade amniótica são compostas pelo âmnio e pelo cório, cujas camadas estão intimamente aderidas. Elas retêm o líquido amniótico. As membranas normalmente se rompem durante o parto. ▪ Embora o cório seja mais espesso que o âmnio, este tem mais elasticidade. 15 ▪ O âmnio é composto de cinco camadas distintas. Ele não contém vasos sanguíneos nem nervos; seus nutrientes são supridos pelolíquido amniótico: 1. Epitélio amniótico: a camada mais interna, perto do feto; 2. Camada basal: formado de colágeno tipos III e IV e glicoproteínas não colágenas (laminina, nidogina e fibronectina); 3. Camada compacta: de tecido conjuntivo, adjacente à membrana basal, forma o principal esqueleto fibroso do âmnio. 4. Camada fibroblástica: é a mais espessa das camadas amnióticas e consiste em células mesenquimais e macrófagos no interior da matriz extracelular. 5. Camada intermediária (camada ou zona esponjosa): situa-se entre o âmnio e o cório. 2 – Líquido amniótico – funções ▪ Proteger o feto da lesão mecânica ▪ Possibilitar o movimento do feto, prevenindo a contratura dos membros ▪ Prevenir adesões entre o concepto e o âmnio ▪ Possibilitar o desenvolvimento do pulmão fetal, no qual há movimento de vaivém do líquido para os bronquíolos. ▪ A ausência de LA está associada à hipoplasia pulmonar. VESÍCULA VITELINA - Cerca de 9 semanas pós-concepção, a vesícula vitelina constitui órgão rudimentar conectado ao intestino primitivo. - Embora na espécie humana não desempenhe funções de armazenamento de material nutritivo, seu crescimento e diferenciação são essenciais para os seguintes fatores: 16 ▪ Transferir esse material nutritivo para o embrião durante a 2ª e a 3ª semana, quando não há ainda a circulação uteroplacentária, apenas a vitelina. ▪ O sangue se desenvolve em suas paredes desde a 3ª semana até a 6ª, quando a atividade hematopoiética se inicia no fígado. ▪ Durante a 4ª semana, a parte dorsal da vesícula vitelina se incorpora ao embrião, constituindo o tubo endodérmico, o intestino primitivo; além do sistema digestivo, esse endoderma dará origem ao epitélio da traqueia, dos brônquios e dos pulmões ▪ As células germinativas primitivas aparecem na vesícula vitelina ao início da 3ª semana e subsequentemente migram para desenvolver as gônadas, onde constituem as espermatogônias ou as oogônias - Em torno da 12ª semana, a pequena vesícula vitelina jaz na cavidade coriônica entre as vesículas amniótica e a coriônica. Tipicamente, no fim da 5ª semana, ela se separa do intestino primitivo. Com o evoluir da gravidez, reduz-se, tornando-se sólida e bem diminuta. Pode persistir durante toda a gravidez e ser reconhecida na superfície fetal da placenta, embaixo do âmnio, perto da inserção do cordão umbilical. - Em cerca de 2% dos adultos, a porção intra-abdominal proximal da vesícula vitelina persiste como um divertículo do íleo (divertículo de Meckel). ALANTOIDE - A alantoide aparece no 16º dia após a fertilização, também como divertículo na zona caudal da vesícula vitelina. Durante o 2º mês, a porção extraembrionária degenera, embora traços possam ser vistos entre as artérias umbilicais, em local próximo ao cordão, por algum tempo. Funções: • Durante os dois primeiros meses há formação de sangue em suas paredes. • Seus vasos sanguíneos se transformam nas artérias e veias umbilicais. Destino da alantoide: • A porção intraembrionária se estende do umbigo à bexiga, com a qual mantém continuidade. Quando a bexiga se desenvolve, a alantoide regride para formar tubo espesso, o úraco. • Depois do nascimento, o úraco se transforma em cordão fibroso, ligamento umbilical mediano, que vai do fundo vesical ao umbigo.
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