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Infância: conceito social Normalmente, associa-se a infância a imagens de crianças saudáveis e felizes, brincando descontraídas, sem preocupações, envolvidas em tarefas que pertençam somente a atividade lúdica que estão concentradas no momento, geralmente, acompanhadas de um olhar atento de um adulto que as observa e procura suprir as suas necessidades. Porém, o fato de ser criança nem sempre garantirá uma infância feliz. O que está sendo considerado como infância feliz é o oferecimento de aspectos sociais que atendam as necessidades especificas de uma criança. Infelizmente, é possível afirmar que em diferentes momentos históricos e em diferentes realidades sempre existiram e existem ainda muitas crianças que possuem suas infâncias roubadas. É importante compreender que atualmente, ciências como a pedagogia, sociologia, psicologia e a antropologia entre outras, nos permitem obter conhecimentos específicos a respeito do ser criança e de ter infância. Um aspecto fundamental é fazer uma distinção dos dois termos. Termos que se entrelaçam, contudo, não são similares e segundo fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Criança são: Uma criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento. São chamadas recém-nascidas do nascimento até um mês de idade; bebê, entre o segundo e o décimo-oitavo mês, e criança quando têm entre dezoito meses até oito anos de idade. A infância é o período que vai desde o nascimento até aproximadamente o décimo-primeiro ano de vida de uma pessoa. É um período de grande desenvolvimento físico, marcado pelo gradual crescimento da altura e do peso da criança - especialmente nos primeiros três anos de vida e durante a puberdade. Mais do que isto, é um período onde o ser humano desenvolve-se psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no comportamento da pessoa e na adquisição das bases de sua personalidade. A partir da identificação desses dois conceitos podemos perceber que uma criança considerando a idade que possua apresenta necessidades especificas relativas a esse período da vida, e que a condição histórico-social da criança irá possibilitar o modelo de infância que ela terá. Fatores: econômicos, políticos, culturais e afetivos orientarão a forma como a criança será olhada, cuidada e educada. Aries (1975) em seu livro História social da infância e da família, desenvolveu um rico estudo a respeito da lenta transformação da criança e da família na Europa Ocidental. O autor descreve em detalhes informações que reúnem a forma como a criança era tratada durante a passagem da idade média a idade moderna. Na idade média, no inicio dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, poucos anos depois de um desmame tardio – ou seja, aproximadamente, aos sete anos de idade. A partir desse momento ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens, participando com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos e dos jogos de todos os dias. ARIES (1975, P 275). É possível perceber através de inúmeros estudos que durante muito tempo a criança era tratada como mini-adulto e que seu lugar na sociedade não tinha nenhum valor, e antes de tornarem-se mini-adultos eram tratadas como animais, com poucas condições de sobrevivência. Existem registros históricos que demonstram essa afirmativa, como por exemplo ao nascer uma menina ou um menino, a utilização da seguinte frase “nasceu mais um macho ou mais uma fêmea”. Termos semelhantes ao que se usa por ocasião do nascimento de outros animais. Outro aspecto importante é o fato que durante muito tempo o lugar da criança esteve atrelado ao papel da mulher na sociedade. E com a entrada da mulher no mercado de trabalho a configuração da família mudou recebendo novas formas de organização, assim, como ressalta ARROYO (1994): Dependendo do papel da mulher na sociedade, vamos encontrar um papel diferente para a infância. E este é um fenômeno muito sério na sociedade brasileira. Na medida em que os setores populares não dão conta de produzir sua assistência, que tinha como centro o trabalho masculino, a mulher, que está em casa trabalhando e reproduzindo, sai de casa para buscar trabalho. Também porque ela deseja entrar na sociedade e não só ficar em casa. P. 89 Este aspecto modificou de várias formas a maneira de educar a criança que atualmente entra em um mundo social mais amplo bem mais cedo, em comparação com as crianças de outros períodos históricos. Também comentado por Arroyo (1994, P 89). “O trabalho feminino seja por necessidade, seja por opção, traz como consequência a necessidade de tornar coletivo o cuidado e a educação da criança pequena”. Nesse momento é importante enfatizar que as mudanças políticas, históricas e sociais interferem ativamente na organização do desenvolvimento infantil, pois ao colocar a criança em um ambiente social mais amplo tais como: creches e pré-escolas o cuidado com a criança deixa de ser exclusivamente do âmbito familiar privado e passa a ser também responsabilidade do Estado. Hoje além da família toda a sociedade tem que cuidar da infância. Até aqui destacamos principalmente um modelo Europeu de construção de infância, porém estudando especificamente, a organização da sociedade brasileira é importante destacar o momento da consolidação do Brasil colonial. Esse momento se constituiu da mistura de três etnias e consequentemente, três diferentes culturas que se estruturaram a partir de um processo de miscigenação. A partir de agora é importante destacar as influências indígenas e negras na constituição da infância brasileira. A cultura indígena – E o tratamento a criança Estudos descrevem que os pais das crianças indígenas na época do Brasil colonial eram atenciosos e amorosos com seus filhos, poderiam oferecer qualquer coisa aqueles que dessem atenção as suas crianças. Costumavam participar da vida de seus filhos desde o nascimento, assim como descreve Del Priore (1999): o pai ajudava no parto, comprimindo a barriga de sua mulher para apressar o nascimento da criança. Se o bebê fosse do sexo masculino, ele cortava o cordão umbilical com os próprios dentes ou uma faca afiada; caso fosse do sexo feminino, era a mãe quem proporcionava os primeiros cuidados. Os recém-nascidos eram banhados no rio e depois pintados com óleo de urucum e jenipapo. Estavam, então, preparados para o itamongavu, uma cerimônia de bom presságio, cuja intenção era abrir os caminhos para futuros guerreiros e índias fortes e saudáveis.. P13 Mesmo no período do Brasil colonial, época em que muitas tribos foram dizimadas os adultos tratavam as crianças com respeito. Não existia castigos ou agressões físicas. Todos os membros da tribo sentiam-se responsáveis pela criança. Atualmente, alguns estudos indicam que ainda hoje a criança indígena continua sendo bem tratada pelos membros de sua tribo. Como é o caso da tribo dos Yanomami que segundo Emeri (2002): Até dois ou três anos, a criança Yanomami toma leite materno vive grudada na mãe; isso determina seu equilíbrio afetivo. O respeito pela personalidade da criança é tão forte que seu desenvolvimentismo se dá livremente e sem que sejam criadas dependências. A repressão, o castigo, o bater nas crianças não exstem entre os yanomami. Se acontece que a mãe perca a paciência com sua criança, ela será duramente repreendida pelo marido e pela comunidade. P.19 É possível perceber que a cultura indígena em geral respeita a criança e procura acompanhá-la oferecendo as condições necessárias para que se constitua um ser humano capaz de assumir o seu lugar na sociedade a partir de uma infância livre e amorosa. As amas de leite – a influência dos negros Ao chegarem no Brasil, os negros não trouxeram crianças, pois o trabalho escravo era destinado aos adultos do sexo masculino. As crianças negras na época do Brasil colonial nasceram em nosso paíse ao chegarem ao mundo já eram consideradas escravas, sem direito a liberdade e a poucos cuidados maternos, uma vez que suas mães amamentavam os filhos das mulheres brancas que não cuidavam de suas próprias crias. A partir de pesquisas históricas podemos dizer que as crianças negras até o período de sete anos conviviam com as crianças brancas na casa grande, eram mimadas e bem tratadas, brincavam com as outras crianças, porém muitas vezes serviam como animais de estimação para as sinhazinhas que costumavam jogar pedaços de comida as crianças na hora do jantar, ou os sinhozinhos que montavam nas costas das crianças negras como se fossem cavalos ou animais parecidos. Em seguida, ao chegar aos sete anos iam para as senzalas e sofriam todas as formas de infortúnios e agressividades que eram destinadas aos escravos naquele período. Entravam no mundo do trabalho recebendo muitas chibatadas e humilhações. Vale ressaltar, que segundo Gilberto Freire as “mães negras” inundaram a imaginação infantil com um folclore riquíssimo de assombrações e criaturas estranhas como o boitatá e o “mão de cabelo”, que, tirava o sono dos meninos malcriados, perambulando pelas casas grandes e senzalas. É possível afirmar que as crianças negras e escravas tiveram pouco tempo e espaço para ser criança durante a infância. Viveram em um período em que era permitido a exploração de seu corpo que nem mesmo lhe pertencia. A infância em diferentes locais Atualmente, ao ilustrar as diferentes infâncias considerando as variadas culturas podemos afirmar que viver na zona rural ou na zona urbana também é um fator que interfere ativamente na maneira como uma criança irá viver a infância. O campo apesar de oferecer mais espaço e liberdade para as crianças, muitas vezes as obriga a entrar no mundo do trabalho precocemente, uma vez que o filho pode acompanhar o pai na plantação ou na criação de animais. Este aspecto acaba diminuindo a infância, reduzindo-a a um período mais curto e de menor valor. A vida na cidade grande apesar de muitas vezes deixar claro “o que é de criança e o que é de adulto”. Quer dizer, considerando a classe econômica ao qual a criança pertença quem trabalha é o adulto, enquanto o trabalho da criança é estudar. Contudo, também é nas cidades grandes que muitas vezes é oferecido a adultos e crianças as mesmas informações. A mídia tem proporcionado a criança a oportunidade de se vestir como adulto, consumir como adulto e de ter acesso as mesmas informações que um adulto tem. É preciso estar atento a esses aspectos, pois em uma sociedade em que adultos e crianças tem papeis que se confundem o lugar da infância corre o risco de deixar de existir cedendo a pressa do mundo do consumo e do trabalho. Finalmente, é importante registrar que uma vez que infância é um conceito construído socialmente, atualmente, existem vários riscos que ameaçam a existência da qualidade desse período da vida, principalmente, em uma sociedade marcada por adultos onde consumir muitas vezes se sobrepõem a existência humana. Uma vez que o espaço e o tempo da infância dependem do olhar da sociedade, é necessário estar atento a todos os aspectos que possam valorizar esse tempo da vida como uma vivência que tem um fim em si mesma e que consequentemente, irá construir a base estrutural que estará por vir. É preciso ter claro que as crianças precisam de cuidados e de uma educação de qualidade que valorize o respeito as necessidades de sua infância. REFERÊNCIAS ARIÉS, P. História social da criança e da família. Rio de janeiro, ed. Zahar, 1975. 2- VENÂNCIO, R., P. ARROYO, M. G. O significado da Infância. Anais do simpósio de educação infantil. Brasilia, MEC/SEF/DPE/CEDI, 1994: (88-92) EMERI, Loretta. O menor na sociedade Yanomami. Revista criança, MEC, 2002 DEL PRIORE, Mary. A família no Brasil colonial. São Paulo: Editora Moderna, 1999 http://pt.wikipedia.org/wiki/Criança
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