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O cuidar e o educar no cotidiano do trabalho com as crianças de 0 a 5 anos Tradicionalmente os trabalhos nas creches e pré-escolas se constituíram através de uma equivocada divisão que refletiu e ainda hoje, infelizmente em alguns estabelecimentos de educação infantil refletem praticas fragmentadas e excludentes, marca da divisão social de classes: cuidar – atividade ligada meramente ao corpo e destinada às crianças pobres, e o educar - como experiência de promoção intelectual reservada aos filhos dos grupos socialmente privilegiados. Atualmente, pesquisadores e especialistas da área buscam em seus discursos e textos deixar explicitas as duas ações como fundamentais e indissociáveis, na construção cotidiana de uma proposta pedagógica de qualidade. Segundo PARECER HOMOLOGADO em 9/12/2009: Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições para as crianças explorarem o ambiente de diferentes maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo perguntas etc) e construírem sentidos pessoais e significados coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se apropriando de um modo singular de formas culturais de agir, sentir e pensar. Isso requer do professor ter sensibilidade e delicadeza no trato de cada criança, e assegurar atenção especial conforme as necessidades que identifica nas crianças. P.10 (MEC, 2009) O Ministério da Educação preocupado com essas ações na organização do trabalho pedagógico de instituições de educação infantil, ao publicar os Referenciais para o exame nacional de ingresso na carreira docente (documento para consulta publica) deixa registrado que na garantia de bons professores entre outras ações faz-se necessário: Reconhecer as funções do “cuidar” e do “brincar” para o desenvolvimento das crianças da educação infantil. Após esses pontos iniciais, vale ressaltar, que será no cotidiano das instituições de educação infantil que serão promovidas ações que irão consolidar a união do cuidar e educar como práticas inseparáveis. É no espaço do dia a dia, no ritmo e ao longo de cada jornada que acontecem saltos qualitativos no desenvolvimento da criança, respeitando sua singularidade, movimento e necessidade, a criança fará descobertas vivendo experiências a a partir de tudo que será oferecido a sua volta. O professor ao fazer o planejamento do que irá acontecer durante essa rotina diária, precisará valorizar alguns aspectos fundamentais. Ressaltando a importância de um planejamento flexível que permita a participação ativa da criança, deve ser evitado uma rotina que favoreça a convivência mecânica, pois esta forma irá desmotivar a criança, atrapalhando seu processo de desenvolvimento. Alguns aspectos são importantes na condução desse trabalho, tais como: Reconhecer os cuidados com o corpo, envolvendo a higiene, o sono e a alimentação como parte fundamental do processo educativo das crianças; Valorizar a educação das emoções e do afeto como parte tão importante quanto a construção de conhecimentos; Identificar a organização da rotina e do ambiente como aspectos fundamentais para estimular e favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem, a autonomia e a criatividade das crianças; Perceber a construção de um planejamento para que as brincadeiras ocorram de formas diversificadas como parte essencial de um trabalho de qualidade. Os cuidados com o corpo, envolvendo a higiene, o sono e a alimentação como parte fundamental do processo educativo das crianças são ações fundamentais que devem ser planejadas em detalhes na busca de conforto e orientação a criança. Alguns instituições infelizmente ainda insistem em uma pratica que oferece essas ações de forma mecânica e sem importância. O uso do banheiro, por exemplo deve ser planejado pensando na altura da pia, a disponibilidade de sabonetes e toalhas de rosto, a quantidade de vasos sanitários e chuveiros, entre outros aspectos, pois a não adequação de um desses itens impedirá a construção de hábitos de saúde e higiene que contribuam na formação integral da criança como ser humano saudável e responsável pelo seu bem estar. Outro aspecto importante relacionado ao cuidar e ao educar é a valorização da educação das emoções e do afeto como parte que deve ser considerada tão importante quanto a construção de conhecimentos. Com relação a esse assunto, ARRIBAS (2004) destaca que: No processo educativo, uma das metas a alcançar é a do equilíbrio e do controle emocional. As experiências relativas à vida emocional da criança nas primeiras etapas de sua existência têm uma importância fundamental para ela. Um clima familiar sereno, tranquilo, de aceitação incondicional, com afeto sentido e manifestado de maneira adequada, constitui o marco apropriado para o desenvolvimento de uma personalidade saudável e equilibrada. P.47. É fundamental que exista um clima afetivo em uma escola de educação infantil, onde todos estejam satisfeitos em estar ali. O respeito a dignidade de adultos e crianças que constroem o cotidiano das instituições é imprescindível. O educador deve estar atento às várias manifestações das crianças percebendo sua frequência e em que condições ela ocorre. É importante considerar as variações individuais, as crianças são diferentes entre si e apresentam formas de manifestar suas emoções que acentuam essas diferenças. O educador deve estar atento aos comportamentos infantis, deve respeitar a individualidade de cada uma e buscar formas afetuosas de intervir durante momentos emotivos. A criança poderá viver situações difíceis que irão refletir seus comportamentos e o educador deverá amenizar essas situações respeitando os sentimentos das crianças. Outro ponto importante é quanto a organização da rotina e do ambiente como aspectos fundamentais para estimular e favorecer o desenvolvimento da aprendizagem, a autonomia e a criatividade das crianças. Esse é um assunto que merece ser planejado em detalhes: a altura dos murais e das estantes, o tamanho dos móveis e a disposição deles nas salas, o oferecimento de ambientes externos e internos. Todos esses são alguns dos aspectos fundamentais que ajudam a organizar uma proposta pedagógica de qualidade. A organização da rotina e do ambiente são aspectos que irão expressar a ideia de criança e da educação que será oferecida à ela dentro da instituição. FORTUNATI (2009) destaca em relação a esse aspecto que: Pensar o espaço como gerador da experiência representa o sinal de uma atenção de escuta das necessidades das crianças que antecipa – e, no entanto, apoia – o cuidado da relação e da interação do adulto com as crianças dentro do contexto educacional. P.61 Portanto, esse aspecto deve ser pensado a partir da valorização da autonomia e da liberdade de escolha das crianças, devendo possibilitar variadas opções. Perceber a construção de um planejamento para que as brincadeiras ocorram de formas diversificadas também faz parte essencial de um trabalho de qualidade. A brincadeira é uma das atividades essenciais para o desenvolvimento de uma infância saudável, e uma instituição de educação infantil que é responsável pela formação integral da criança deve planejar formas diferenciadas que permitam a expressão do lúdico de diferentes maneiras. Um dos aspectos fundamentais que deve nortear essa organização é a consideração das diferentes faixas etárias: 0 a 3 anos e 4 a 5 anos. BONDIOLI (1998) ao destacar a compreensão dos bebês a respeito do papel dos adultos que interagem com ele afirma que o bebê é: incapaz de governar e controlar os eventos do mundo externo, pela sua limitada possibilidade de movimento e de apreensão, o adulto assume o papel de primeiro brinquedo, de primeiro “objeto” que ela pode tentar dominar e colocar sob seu próprio controle. P. 215. A partir dessa citação podemos concluir que se o adulto é o primeiro brinquedo, o primeiro objeto significativo com o qual a criança pode interagir, criar uma atmosfera repletade afetividade e possibilidades de compartilhar situações felizes devem ser o alicerce do trabalho pedagógico das creches. A medida que a criança adquire mais autonomia motora e linguística, com a aquisição do andar e do falar, as atividades lúdicas devem ser planejadas envolvendo outros aspectos, tais como: peso, tamanho, material que constituirão os brinquedos, bem como a disponibilidade que serão oferecidos as crianças. A partir daí será necessário o planejamento de atividades livres e dirigidas. As livres favorecerão as descobertas, formas de expressão e interesses de cada criança, enquanto que as dirigidas devem ser planejadas com objetivos pré-estabelecidos respeitando o desenvolvimento cognitivo e psicossocial de cada criança. A partir dos 4 a 5 anos, é esperado que as crianças já tenham adquirido alguns hábitos de independência e autonomia. Portanto, expressam curiosidades e interesses por vários aspectos: sexualidade, língua escrita, testam os limites estabelecidos, possuem laços de amizades, entre outras conquistas alcançadas. Nesse ponto o educador deve oferecer atividades que: Incentivem a alfabetização e o letramento de formas lúdicas e significativas. Atividades que ajudem as crianças a refletir sobre as consequências de suas ações. Planejar atividades que esclareçam as curiosidades ligadas a descoberta do corpo e a diferença entre os gêneros. Oferecer conhecimentos relacionados a matemática, ciências, artes e a leitura e escrita. Finalmente, vale destacar que cuidar e educar as crianças de forma integrada exige a cumplicidade a todo momento de adultos e crianças. Os adultos devem proporcionar espaços de ação e compartilhamento em que todos possam interagir trocando experiências significativas em que “corpo” e “cabeça” não sejam percebidos separadamente, mas com o mesmo valor. As crianças devem ter acesso a saúde e higiene, tanto quanto aos conhecimentos do mundo e de sua cultura. Os profissionais de creches e instituições de educação infantil devem buscar planejar o cotidiano procurando respeitar as individualidades, bem como as necessidades especificas de cada faixa-etária. Afetividade e compreensão devem ser requisitos básicos na constituição de qualquer profissional que tenha o desejo de trabalhar com crianças. REFERENCIAS ARRIBAS, Teresa Lleixá. Educação Infantil: Desenvolvimento, Currículo e Organização escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004 BONDIOLI, Anna. Manual de Educação Infantil: de 0 a 3 anos – uma abordagem reflexiva. Porto Alegre: Artmed, 1998. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer 020/2009 – Revisão das Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil. Câmara de Educação Básica. Brasília, 2009. FORTUNATI, Aldo. Espaço e decoração: os fundamentos contextuais do planejamento educacional. In educação infantil como projeto da comunidade.
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