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A Farmácia e o tempo História de um ofício Edson Perini Departamento de Farmácia Social Centro de Estudos do Medicamento UFMG A pré-história Populações nômades A fixação dos clãs (agricultura/pecuária) A história antiga (pré-hipocrática) Oriente Ocidente A história antiga (pré-hipocrática) Oriente O ser é ativo A natureza (drogas) reconstitui o equilíbrio Ocidente O ser é passivo A natureza (drogas) é manifestação dos deuses A ALQUIMIA Séc. IV a.C. Chineses, hindus, egípcios, gregos e romanos. Alquimia e a química. A ALQUIMIA A ALQUIMIA Seus objetivos a vida eterna e a fabricação do ouro A transmutação da velhice para a mocidade da doença para a saúde da mortalidade para a imortalidade do metal vil para o metal eterno A ALQUIMIA A chinesa e hindu - mais antigas e voltadas para a medicina: a busca do elixir da longa vida. A grega e a egípcia não eram apenas ligada à medicina: Xerion – posteriormente chamada a „pedra filosofal‟, ou „pedra que não é pedra‟, com poderes de transmutação instantânea A ALQUIMIA A alquimia européia medieval procede de todas essas fontes, principalmente da árabe, através principalmente da Espanha A fabricação do ouro era ainda o objetivo principal Em seus processos descobriram a „acqua vitae‟ (o álcool), a „acqua fortis‟ (o ácido nítrico), vários outros ácidos minerais e outras classes de substâncias A contribuição grega pré-hipocrática A mitologia Asclépio (para os romanos Esculápio) Meditrina, Higéia e Panacéia (suas filhas – a longevidade, a prevenção e a cura) A contribuição grega pré-hipocrática O pensamento religioso ainda predomina As drogas agem pela mão dos deuses, são instrumento divinos Os médicos gregos buscam explicar a natureza e o controle das doenças A contribuição grega 1ª terapêutica „racional‟ Terapia do “ferro e fogo” (transição entre visão religiosa e laica) A doença é divina mas também algo material a ser extirpado do corpo O fogo a destrói O ferro a extirpa A contribuição grega „pharmacon‟ A natureza observada e explicada A atividade dos fármacos começa a substituir o ferro e o fogo E como o ferro e o fogo, é algo compreensível além dos desígnios dos deuses A contribuição grega Inicia-se a prática de uma farmácia racional: a busca da compreensão dos efeitos e o domínio do uso de forma controlada O mágico cede espaço ao racional! A contribuição grega Hipócrates Hipócrates (468-377 a.C.) Racionalização do discurso médico A contribuição grega Hipócrates Relaciona doenças e causas (naturais, usos e costumes) É preciso observar para contra-atacar A contribuição grega Hipócrates “A oração é sem dúvida uma coisa boa; mas quando invoca os deuses, cada um também precisa fazer sua parte” A contribuição grega Hipócrates A terapia deve imitar a natureza – observar o que a natureza faz e intervir utilizando sua própria força A contribuição grega Hipócrates O terapeuta deve agir: Na crise administrando fármacos cuja força seria igual ou contrária à natureza Passada a crise, para ajudar o paciente a tomar uma direção positiva, A contribuição grega Políbio Políbio (205-120 a.C.) Genro de Hipócrates(?) A transição para uma teoria sobre o fármaco A contribuição grega Políbio Teoria dos humores O organismo é formado por 4 humores: O sangue A bili amarela A bili preta (a melancolia) A fleuma A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Aristóteles (384-322 a.C.) e o Liceu A lógica da digestão: definição e funcionamento dos fármacos “ Problemata ” A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:15 “Por que mudanças [na dieta] causam doenças? ... Os alimentos, se diferentes em caráter, têm efeitos adversos uns sobre os outros. Alguns são mal assimilados, outros de modo nenhum; ... variações na dieta são ruins para a saúde (pois a digestão é perturbada e impedida de manter um curso constante) ...” A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:47 “... Pois a natureza dos fármacos está em não serem digeríveis ...” A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:42 A eficácia dos fármacos depende de suas propriedades intrínsecas e não de suas quantidades. A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:43 “ É porque cada uma dessas substâncias tem uma ação mais específica sobre este ou aquele órgão?” A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:42 ”... Tal como não são digeridas, mas resistem à digestão, quando evacuadas levam embora aquilo que age como obstáculo a eles.” A ação dos fármacos é movimento! A contribuição grega Aristóteles e o Liceu Problemata I:45 ”Por que renovar cataplasmas? Será porque um efeito mais poderoso é obtido? Os medicamentos a que nos acostumamos – do mesmo modo que nos acostumamos aos alimentos – já não são medicamentos, mas alimentos. O mesmo se aplica bem aos cataplasmas.” A contribuição grega Os conceitos fundamentais Fármacos e alimentos se diferenciam Fármacos têm alvos específicos Efeitos variam com dose e indivíduos Difusão gradual/dissolução/ transformação da matéria mórbida Habituação A contribuição romana Galeno Galeno (129 – 201 d.C.) Mantém a filosofia grega de individualização, mas guarda uma direcionalidade para a ineqüidade A contribuição romana Galeno “Emprega esses medicamentos e os que eu já mencionei depois de examinares o corpo...” “Se o paciente for um camponês cujo corpo é naturalmente rijo, ele exigirá os medicamentos mais poderosos; o corpo de uma mulher, cuja pele é macia, requer medicamento mais fraco. De igual modo, os homens com pele macia e alva, acostumados a tomar banho e a não praticar exercícios, requerem medicação mais suave.” A contribuição romana O mercado dos fármacos Séc. II d.C., auge do Império Romano amplia-se o comércio de fármacos preços caem, porém mantém-se como um mercado bastante caro. Alguns médicos chegam a cobrar verdadeiras fortunas por alguns tratamentos A contribuição romana O mercado dos fármacos Imperador Dioclesiano (245-313d.C.) Edictum de maximis pretii fixava preços máximos para produtos e serviços, inclusive substâncias médicas Talvez a primeira regulamentação sobre o mercado de fármacos. A contribuição romana O mercado dos fármacos Dois séculos após (inicio do Séc. V), o império menos rico Um preparado bem conhecido para enxaqueca continha menos substâncias, em menores quantidades. A contribuição romana De comerciante a físico-farmacêutico No comércio de especiarias e compostos aparecem os vendedores especializados. Comerciavam produtos exóticos, preparavam fármacos, extraiam venenos, adulteravam produtos, vendiam „similares` mais baratos de produtos famosos A contribuição romana De comerciante a físico-farmacêutico Esses “comerciantes” especializados assumiram tal importância que Plínio queixava-se de que os médicos de seu tempo haviam perdido a arte de preparar seus próprios medicamentos. A contribuição romana De comerciante a físico-farmacêutico Galeno chegou a escrever: “Eu era capaz de produzir preparados que rivalizavam com os dos especialistas.” A contribuição romana De comerciante a físico-farmacêutico A adulteração de produtos levou à introdução de métodos para a verificação da qualidade da matéria médica, tal como já existia para a manufatura de pigmentos ou da identificação dos metais. A contribuição romana Resumo O uso de fármacos na terapêutica sedesenvolveu impulsionado pela riqueza e expansão militar e política do império Novas experiências reúnem fármacos diferentes de diversas regiões em proporções até então desconhecidas Essas experiências implicam na expansão da prática de preparações compostas, que chegavam a dezenas de constituintes A contribuição romana Resumo Nasce uma `nova antropologia` terapêutica, baseada na distinção entre cidade e campo, ricos e pobres Nas cidades: estoques de variadas, exóticas e caras substâncias No campo: recursos mais autóctones e limitados Ricos: medicação tendendo ao mais suave Pobres: medicação mais forte A contribuição romana Resumo A „eficácia` de muitos produtos populares permite uma migração de conhecimentos com o ambiente „acadêmico`, bem como entre campo e cidade, pobres e ricos. Produz-se uma forte distinção entre medicamentos simples e complexos A contribuição romana Expansão comercial Diversificação de produtos Diferenciação social O renascimento Descarte O nascimento da clinica a patologia a fisiologia Bacteriologia Epidemiologia O Seculo XIX Adaptacao de diversas maquinas utilizadas em setores industriais que se formavam para a producao farmaceutica (em fins do seculo movidos a eletricidade): moinhos, misturadores de massas alimenticias, centrifugadoras das lavanderias, tachos de fabricacao de caramelos,... O Seculo XIX 1820 - primeira USP –preparadas apenas por medicos e revista a cada dez anos. 1850 - profissionais farmaceuticos na comissão 1852 –American Phamaceutical Association - National Formulary of Unofficial Preparations, com fármacos e formulas eliminadas da USP por sua seletividade em termos de eficácia e seguranca. O Seculo XIX A segunda metade do seculo foi particularmente prodiga na sintese de produtos organicos uteis a farmacia Sintese da Fenolftaleina – laxante Derivados do Ac. Barbiturico O Seculo XIX 1803: Isolamento da morfina (Serturner) 1846: Uso anestesico do eter (Morton) 1867: Introducao cirurgia antiseptica (Lister) 1872: Sintese do acido salicilico (?) 1875: Uso do salicilato de sodio como antipiretico e para febre reumatica (Buss) 1877: Uso da fisostigmina no glaucoma (Laqueur) 1882: Uso do paracetamol (von Mering) 1899: Introducao do ac. acetilsalicilico (Dreser) A primeira metade do Seculo XX 1903: Introducao do barbital (?) 1911: `Salvarsan`, um arsenical, a arsfenamina, no tratamento da sifilis (Ehrlich) 1912: Introducao do fenobarbital (?) 1922: Descoberta e uso da insulina (Banting; Best) 1936: Demonstracao efeito da sulfanilamida em infeccoes experimentais (Fourneau et al) 1938: Demonstracao efeito anticonvulsivante da fenitoina – uso na epilesia (Merritt; Putnam) Primeira metade do Seculo XX A “revolução farmacológica” Patentes químico-farmacêuticas / ano Décadas No. de patentes 1910-1940 < 100-200 1940 ~ 500 1950 ~ 1500 1960 ~ 3800 1970 ~ 7000 A primeira metade do Seculo XX Os grandes acidentes 1938 –sulfanilamida, comercializado na forma de elixir tendo por solvente o dietilenoglicol. 1959 – talidomida, esperanca para substituir os barbituricos (mortes frequentes por ingestao acidental ou intencional) era tida como de alta seguranca, mesmo em altas doses A primeira metade do Seculo XX Os primeiros regulamentos modernos 1906 – 1a. lei federal dos EUA – FDA (Food and Drug Act) – normas para a fabricacao de alimentos e drogas. Os farmacos deveriam seguir padroes relativos a potencia, pureza e qualidade. 1938 – Food, Drug and Cosmetic Act – necessidade de estabelecer formulacoes adequadas e testes farmacologicos e toxicologicos completos dos agentes terapeuticos e produto acabado. Criacao da FDA, para administrar o Decreto A segunda metade do Seculo XX Uma nova geracao de regulamentos 1962 – EUA - Emendas Kefauver-Harris do Decreto de 1938. Para a pesquisa com um novo farmaco e preciso protocolar junto ao FDA um plano de investigacao pre-clinica. As pesquisas clinicas sao regulamentadas Posfácio O desenvolvimento da Matéria pharmaceutica, desde as primeiras tentativas de tamponamento de feridas na pré-história aos modernos medicamentos, passando pelas poções mágicas e pelas fórmulas empíricas da história antiga, refletem uma parte significativa da evolução cultural do homem Posfácio Xamãs Curandeiros Pagés Rituais mágicos Poções Ervas Médicos Farmacêuticos Complexo médico- industrial Drogas inteligentes Posfácio Nesse caminho interferem: A religião (com sua moral) A política (com seus jogos de poder) A economia (com seus „interesses‟) Posfácio Os profissionais que fizeram essa história também sofreram muitas transformações, e o farmacêutico de hoje é produto delas! Mas dentro dessas transformações, tanto a arte como os profissionais da arte sempre foram tomados como algo diferenciado! Posfácio A „magia‟ da cura, do alívio ou da prevenção sempre esteve para a humanidade como algo socialmente diferenciado! Posfácio E diferenciado porque lida com um bem não material e universal, tido como um dos direitos naturais e fundamentais do homem - a saúde - seja ela um problema biomédico seja ela um desígnio divino! Posfácio E tudo isso faz do medicamento - instrumento privilegiado - Um instrumento Econômico! Político! Social Cultural! Posfácio E portanto um instrumento De poder e dominação! E quem lida com isso nunca pode estar alienado dessa consciência ! Posfácio Pois quem procura um medicamento, procura na verdade um remédio! E por isso a farmácia sempre foi, para as pessoas que a usam, algo mais que um comércio! Fim E obrigado pela paciência!
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