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Viver para Morrer e Morrer para Viver Silvio Dutra Jul/2017 2 A474a Alves, Silvio Dutra Viver para morrer e morrer para viver / Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2017. 51p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Graça. 4. Regeneração 5. Santificação I. Título. CDD 230.227 3 Fiquei profundamente impressionado, pela forma sábia e inspirada com que o autor abordou o assunto, com dois sermões de A. W. Pink, que traduzi do original em inglês, intitulados, respectivamente, “Carregando a Cruz” e a “Cruz e o Ego”, ambos fundamentados na passagem de Mateus 16.24, 25. "Jesus disse aos Seus discípulos: se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." (Mateus 16:24) "Pois, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16:25). De tão grande importância vital são tais palavras do Senhor, que as achamos repetidas nos quatro evangelhos (Mateus 10:39, Marcos 8:35, Lucas 9:24; 17:33, João 12:25). Ele fez questão de enfatizá-las porque nelas se encontra o maior mistério da revelação do evangelho quanto à evidência de se ter alcançado a vida eterna. Por elas nos alerta para não nos iludirmos quanto ao significado de pertencer de fato a Ele e ao Seu Reino. Há uma cruz que para 4 ser carregada e suportada é necessário antes que se negue o ego. Há sofrimentos, aflições, tribulações, provações, e o modo de suportá-los é indicado, para que se possa entrar no Reino e nele permanecer. Há uma porta estreita e um caminho estreito. Atalhar por um caminho largo e amplo significa a perdição eterna da alma. É colocado assim, diante de nós, a maior e melhor evidência de nossa conversão: negarmo-nos a nós mesmos; estarmos carregando de fato a cruz e seguindo ao Senhor Jesus, imitando-o e vendo a aplicação da Sua justiça ao nosso caráter, uma vez tendo sido justificados pela fé nele – mediante a imputação da Sua própria justiça a nós, de modo que nos tornássemos aceitáveis a Deus e seus amigos e filhos amados. Remova-se o ensino da necessidade da autonegação e do carregar da cruz, e abre-se com isto a possibilidade de conduzir muitas almas à ilusão de pertencerem a Cristo, por simplesmente terem aderido a uma denominação religiosa, ou ao fato de terem confessado com seus lábios que Jesus é o Senhor e o Salvador, enquanto nada sabem e praticam sobre negar o ego e carregar a cruz. 5 Se a conversão é somente pela graça, mediante a fé, todavia há a necessidade de uma renúncia total ao ego para que esta seja efetivada de fato, e daí, a instrução do Senhor sob a forma de ordenança de que se desejarmos segui-Lo, devemos, necessariamente, negar-nos a nós mesmos e tomarmos a nossa cruz. Que vida é esta que se a desejarmos salvar será perdida, e qual é a que se for perdida por amor a Cristo, será achada? Como isto é feito? O que significa negar a si mesmo? O que significa tomar a cruz? Qual é o significado da cruz para nós? Nas palavras de Jesus, se não nos negarmos e não tomarmos a cruz e se não o seguirmos, morreremos, mas se o fizermos, viveremos. Então, é de importância fundamental que nos inteiremos adequadamente destes significados para que não venhamos a errar o alvo quanto a alcançarmos e mantermos a vida eterna. 6 Jesus nos diz que há um modo de viver que é morrer, e há um modo de morrer que é vida. Veremos que negar o ego não consiste simplesmente em nos reconhecermos pecadores, pois há muitos que o reconhecem e no entanto, não estão seguindo a Cristo. Não crucificaram o ego com as suas paixões e concupiscências, e permanecem na carne, sob a maldição da Lei, e portanto, condenados à morte espiritual eterna, a par de seus melhores esforços para fazerem o que é bom e negarem o que é mau. Doravante, lançaremos mão dos sermões de A. W. Pink, e onde acharmos oportuno e apropriado, teceremos algumas considerações próprias, sempre com a introdução: “Nota do Tradutor”. Carregando a Cruz "Jesus disse aos Seus discípulos: se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". (Mateus 16:24) "Então disse Jesus aos Seus discípulos, se alguém quiser"; o verbo querer, aqui, significa "desejo", 7 assim como nesse versículo, "Se alguém deseja ser piedoso". Significa "determinar-se". "Se alguém quiser ou desejar vir após de Mim, negue- se si mesmo e pegue a cruz (não uma cruz, mas a cruz) e me siga." Então, em Lucas 14:27, Cristo declarou: "E quem não toma a sua cruz, e vem após mim, não pode ser meu discípulo". Portanto, o carregar a cruz não é opcional. A vida cristã é muito mais do que subscrever um sistema de verdades, ou adotar um código de conduta - ou submeter-se a ordenanças religiosas. A vida cristã é principalmente uma pessoa; ter experiência de comunhão com o Senhor Jesus, e na proporção em que sua vida é vivida em comunhão com Cristo, na mesma medida você está vivendo a vida cristã, e somente nesse sentido. A vida cristã é uma vida que consiste em seguir Jesus. "Se alguém quiser vir após mim, negue-se, tome a sua cruz e me siga". Quanto você e eu podemos ganhar pela proximidade de nossa caminhada com Cristo! Há uma classe descrita na Escritura de quem se diz: "Estes são os que seguem o Cordeiro onde quer que Ele vá". Mas, é triste dizer, há outra classe, e uma grande classe, que parece acompanhar o Senhor de forma sentimental, ocasional e distantemente. Há grande 8 parte do mundo e muito de si mesmos em suas vidas - e tão pouco de Cristo. Três vezes feliz será, quem parecer com Calebe, que seguiu completamente o Senhor. Agora, amado, nosso principal negócio e desejo é seguir a Cristo - mas há dificuldades e obstáculos no caminho, e é a eles que a primeira parte do nosso texto se refere. Você percebe que as palavras "segue-me" são colocadas no final. O ego está no caminho, e o mundo com suas dez mil atrações e distrações é um obstáculo; e, portanto, Cristo diz: "Se alguém quiser vir após Mim - (primeiro), ele se negue a si mesmo, (segundo) pegue sua cruz, (terceiro) e me siga". E aí aprendemos o motivo pelo qual tão poucos cristãos professos estão seguindo-o de perto, de forma manifesta, consistente. O primeiro passo para um seguimento diário de Cristo, é a negação do EGO. Há uma grande diferença, irmãos e irmãs, entre negar a si mesmo e a chamada abnegação. A ideia popular que prevalece tanto no mundo como entre os cristãos é a desistência de coisas que gostamos. Há uma grande diversidade de opiniões quanto ao que deve ser desistido. Há alguns que o restringiriam 9 ao que é caracteristicamente mundano - como o teatro, a dança ou outros tipos de divertimentos. Mas métodos como aqueles apenas promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito - se eu desistir mais do que meus amigos. O que Cristo fala em nosso texto (e que o espírito de Deus possa aplicá-lo às nossas almas) como o primeiro passo para segui-lo, é - a negação do próprio eu - não apenas algumas das coisas que são agradáveis para nós. Não apenas algumas das coisas pelas quais o ego anseia, mas a negação do próprio eu. O que isso significa, "Se alguém quiser vir após Mim, deixe ele se negar?" Significa, em primeiro lugar, abandonar sua própria justiça; mas isso significa muito mais do que isso. Esse é apenas o primeiro significado. Significa recusar-se a descansar sobre a minha própria sabedoria. Mas significa muito mais do que isso.Significa deixar de insistir em meus próprios direitos. Isso significa repudiar o próprio ego. Significa deixar de considerar nossos próprios confortos, nossa própria facilidade, nosso próprio prazer, nosso próprio engrandecimento, nossos próprios benefícios. 10 Significa ser feito como Ele. Significa, amado, dizer com o apóstolo, já não vivo eu, mas Cristo vive em mim. Para mim, viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me por ele. É isso que significa. E "se alguém deseja vir após mim", diz o nosso Mestre, "deixe-o negar a si mesmo", "que se autorrejeite”. Em outras palavras, é o que você tem em Romanos 12: 1: "Apresente seus corpos como um sacrifício vivo para Deus". O segundo passo para seguir a Cristo, é a tomada da CRUZ. "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e pegue sua cruz". Ah, meus amigos, viver a vida cristã é algo mais do que um luxo passivo; é uma tarefa séria. É uma vida que deve ser disciplinada em sacrifício. A vida de discipulado começa com a autorrenúncia e continua por automortificação. Em outras palavras, nosso texto se refere à CRUZ, não apenas como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como o emblema do discipulado, como uma experiência na alma. E ouça! Assim como era verdade que o único caminho para o trono do Pai para Jesus de Nazaré era pela cruz, então o único caminho para uma vida de comunhão com Deus e a coroa no final 11 para o cristão é através da cruz. Os benefícios legais do sacrifício de Cristo são assegurados pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado residente, quando opera em nossas vidas diariamente. Quero chamar sua atenção para o contexto. Volte- se comigo por um momento para Mateus 16, versículos 21,22: "Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse. E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá." Pedro titubeou quando disse: "Tenha compaixão de ti”. Isso expressou a política do mundo. Essa é a soma da filosofia do mundo - autoblindagem e autobusca; mas o que Cristo pregou foi o sacrifício. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás - e Ele a afastou de Si. Então ele se voltou para Seus discípulos e disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me." Em outras 12 palavras, o que Cristo disse foi o seguinte: eu vou até Jerusalém para a cruz - se alguém deseja ser Meu seguidor - há uma cruz para ele. E, como Lucas 14 diz: "Quem não carregar a sua cruz, não pode ser meu discípulo". Não somente Jesus deve subir a Jerusalém e ser morto - mas todo aquele que vem atrás dele deve pegar sua cruz. O "deve" é tão imperativo num caso como no outro. De maneira Mediadora, a cruz de Cristo está sozinha - mas experimentalmente é compartilhada por todos os que entram na vida eterna. (Nota do tradutor: Quando Pedro pensou na morte de Jesus como sendo algo trágico, uma fatalidade, da qual Ele deveria ser livrado pela compaixão de Deus, ele não sabia que a vitória sobre a morte dependia daquela morte, e que todos os que alcançam a vida eterna são dependentes da morte e ressureição de Jesus, porque importava que morresse na cruz carregando sobre Si os pecados de todo o Seu povo. Outra coisa que Pedro não sabia é que ninguém, entre os pecadores, pode entrar na vida eterna caso não passe também pela morte da cruz. Em outros termos, Jesus poderia dizer a Pedro: “Não te espantes com o fato de que eu deva morrer pelos 13 pecadores, porque você Pedro, e todos os que creem em mim, devem também passar pela morte da cruz.” Evidentemente, se a morte de cruz significou para Jesus a morte literal do corpo, no rude madeiro, e não para que mortificasse qualquer pecado em Si mesmo, pois não tinha pecado, todavia, aquela morte significou a morte do pecado de todos os que nele creem, e a morte dos crentes significa a mortificação, por eles, pelo Espírito Santo, através da instrumentalidade das tribulações, de seus próprios pecados. Quando disse “seja feita não a minha mas a Tua vontade”, no Getsêmani, Jesus renunciou de modo final à Sua própria vontade para fazer a do Pai, e de igual modo, todos os que entram na vida eterna, devem renunciar à própria vontade deles, para fazerem a de Deus. Fugir da cruz para viver segundo a própria vontade neste mundo significa morte espiritual, e abraçar a cruz, para a morte do ego, significa vida espiritual abundante. 14 É por medo de ser criticado e perseguido pelo mundo que muitos se desviam da cruz, pois não desejam ver sua reputação sendo atacada por motivo de guardarem os mandamentos de Deus. Alguns tentam se autojustificar com o argumento ilusório de que seguem os costumes do mundo para tentarem ganhar alguns para o evangelho. Na verdade, o amor ao mundo ainda permanece neles. Não foram desmamados das coisas daqui debaixo e não conseguem pensar naquelas que são do Alto. O tesouro deles está aqui na Terra e por isso seus corações não podem estar no Céu, porque o que amam de fato não se encontra lá.) Agora, o que significa "a cruz"? O que Cristo quis dizer quando disse que "a menos que um homem tome sua cruz"? Meus amigos, é deplorável que, nessa data tardia, essa pergunta precise ser feita; e é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha tais concepções não bíblicas do que a "cruz" representa. O cristão comum parece considerar a cruz neste texto, como qualquer provação ou problema que lhe possa ser imposto. Tudo o que surge que perturba a nossa paz, isso é desagradável para a carne, ou que irrita a nossa força - é encarado como uma cruz. 15 Alguém diz: "Bem, essa é a minha cruz", e outro diz: "Bem, esta é a minha cruz", e outra pessoa diz que outra coisa é a sua cruz. Meus amigos, a palavra nunca é usada dessa forma no Novo Testamento! A palavra "cruz" nunca é encontrada no número plural, nem é encontrada com o artigo indefinido antes dela, "uma cruz". Note também que, no nosso texto, a cruz está ligada a um verbo na voz ativa e não na passiva. Não é uma cruz que nos é imposta, mas uma cruz que deve ser "tomada" voluntariamente! A cruz representa realidades definidas que incorporam e expressam as principais características da agonia de Cristo. Outros entendem a "cruz" como se referindo a deveres desagradáveis que devem cumprir. Tais pessoas invariavelmente transformam a cruz em uma arma com a qual atacam outras pessoas. Eles desfazem sua abnegação e seguem insistindo que outros deveriam segui-los. Tais concepções da cruz são tão farisaicas como falsas, e tão maliciosas como errôneas. Agora, quanto o Senhor me permita, deixe-me indicar três coisas que a cruz representa: 16 Primeiro, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiava Cristo e, em última instância, seu ódio se manifestou crucificando-o. No capítulo 15 de João, sete vezes, Cristo se refere ao ódio do mundo contra Si mesmo e contra o Seu povo. E na proporção em que você e eu estamos seguindo a Cristo, apenas na proporção em que nossas vidas estão sendo vividas como Sua vida foi vivida, apenas na proporção em que saímos do mundo e estamos em comunhão com Ele - assim o mundo nos odiará! Lemos nos Evangelhos que um homem veio e se apresentou a Cristo para o discipulado, e ele pediu que ele pudesse primeiro ir e enterrar seu pai - um pedido muito natural e talvez muito louvável. Mas a resposta do Senhor é quase impressionante. Ele disse a esse homem:"Siga-me - e deixe os mortos enterrar seus mortos". O que teria acontecido com aquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Não sei se ele fez ou não - mas se ele fizesse, o que aconteceria? O que seus parentes e seus vizinhos pensariam dele? Seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que o levou a seguir Cristo e negligenciar o que o mundo chamaria de dever filial? Ah, meus amigos, se você estiver seguindo Cristo - o mundo pensará que você está 17 louco - e alguns de vocês terão dificuldade em suportar sua sanidade. Sim, há alguns que acham as censuras dos vivos - um julgamento mais difícil do que a perda dos mortos. (Nota do tradutor: Curiosamente, temos testemunhado um caso que bem ilustra este ponto. Alguém que recebeu de Deus a mesma ordem de Deus dada a Abraão de deixar a sua parentela. Posteriormente, seu pai, que é ímpio, veio a ser acometido de Alzheimer, e passou a demandar maiores cuidados por parte deste seu filho cristão a quem foi dirigida a ordem divina de se apartar da sua parentela. Como agir num caso como este? A ordem de Deus admite uma exceção? Tomemos o caso do próprio Abraão, que mandou buscar uma esposa para seu filho Isaque dentre a sua parentela, mas tendo o cuidado de instruir seu servo a não permitir que ele retornasse para lá. Ele compreendeu que a ordem divina tinha em vista mantê-lo afastado da influência de seus familiares ímpios, e não propriamente de deflagrar uma guerra entre eles. Não faria qualquer sentido se Jesus nos ordenasse deixar nossa parentela simplesmente para 18 ficarmos desocupados ou para qualquer outro motivo diferente de termos simplesmente o cuidado de não nos deixarmos contaminar pelas más obras das trevas, e também para poder melhor servi-Lo. O jovem que queria permanecer ao lado de seu pai até que chegasse o dia da sua morte, estava retardando, no seu caso específico, a chamada ministerial do Senhor para ele, que lhe exigiria tempo integral no Seu serviço, como estavam fazendo os apóstolos. Não haveria como conciliar a necessidade de deslocamentos constantes com a permanência em um lugar fixo, ainda que fosse para cuidar do seu pai. Jesus bem sabia que ele tinha outros familiares que poderiam desincumbir-se da tarefa de cuidar daquele pai, que como tudo indica, era um ímpio que não se converteria, bem como aqueles que cuidariam dele na ausência do candidato a seguir a Jesus. Isto se infere das palavras do Senhor relativas a eles: “deixai os mortos sepultarem seus mortos.” Eles eram mortos espirituais e assim permaneceriam inapelavelmente, enquanto o jovem, em vez de cuidar de mortos, poderia 19 entregar-se ao lado de Jesus à tarefa de pregar o evangelho àqueles que alcançariam a vida eterna.) Outro jovem se apresentou a Cristo para o discipulado e pediu ao Senhor que primeiro ele pudesse ir para casa e despedir-se de seus amigos - um pedido muito natural, certamente - e o Senhor lhe apresentou a cruz: "Ninguém, Ao colocar a mão no arado, e olhando para trás, é adequado para o reino de Deus!" As naturezas afetuosas acham a chave dos laços domésticos, muito difícil de ser suportada; ainda mais são as suspeitas de amados e amigos por terem sido desprezados! Sim, a opressão do mundo torna-se muito real - se seguimos de perto a Cristo. Ninguém pode manter-se com o mundo - e segui-Lo. (Nota do tradutor: A cruz sempre se apresentará para a nossa decisão de acolhê-la ou não, quando temos que decidir sobre agradar a vontade do Senhor ou a das pessoas, especialmente daqueles que são nossos amigos. 20 A quem agradaremos, se isto importar que uma das partes ficará desagradada com a nossa decisão? Agradaremos aos homens ou a Deus? Os apóstolos tomaram a decisão correta quando foram confrontados pelo Sinédrio para que não mais pregassem a Jesus ao povo de Israel. A resposta deles é bem conhecida: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens.” De igual modo, teremos que contrariar tanto a amigos quanto a inimigos em muitas coisas, se estivermos de fato decididos a seguir a Jesus. Esta cruz de suportar a crítica, o desagrado de outros, deverá ser tomada voluntariamente, se desejarmos continuar seguindo o Senhor. Para nos ensinar até que ponto o tomar voluntariamente a cruz impõe o desagradar a outros para que se possa agradar a Deus, nosso Senhor, afirmou que até mesmo nossos laços mais próximos e afetuosos devem ser contrariados quando isto se revelar necessário para que possamos escolher e fazer a vontade de Deus. Nós vemos isto no texto de Lucas 14.26,27: 21 “26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.” Observe que Ele associa o tomar a cruz ao ato de aborrecer a pai e mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs, e conclui com o aborrecimento da nossa própria vida neste mundo. A cruz impõe esta necessidade de contrariar, muitas vezes nossos próprios sentimentos e vontade, para podermos escolher e fazer a vontade de Deus. Como isto exige uma renúncia absoluta a todos os nossos próprios afetos, desejos, sentimentos, escolhas pessoais etc, devemos estar bastante conscientizados dessa demanda da vida cristã, para que possamos seguir a Cristo agradando a Deus. Foi com este propósito em vista que nosso Senhor ilustrou imediatamente a seguir, o seu ensino sobre o carregar cruz, com estas palavras: 22 “28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar? 29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, 30 dizendo: Este homem começou a edificar e não pode acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? 32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz. 33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.” Lucas 14.28-33). Percebe-se claramente que era Seu desejo que estivéssemos devidamente esclarecidos quanto ao significado de ser um verdadeiro crente, um genuíno discípulo, enfim, de tudo o que seria 23 exigido de nós para concluirmos a carreira que nos está proposta de nos tornarmos à imagem e semelhança do Filho de Deus. Se ficarmos divididos entre agradarmos a outros ou até a nós mesmos em vez de agradarmos a Deus, é certo que não concluiremos a carreira cristã conforme convém. Até aqui as palavras do tradutor.) Outro jovem veio e se apresentou a Cristo e caiu a seus pés e adorou-o, e disse: "Mestre, que coisa boa devo fazer?" E o Senhor lhe apresentou a cruz. "Vende tudo o que tens e dá aos pobres, e vem e segue-me. E o jovem se afastou triste". Cristo ainda está dizendo a você: "Quem não carregar a sua cruz e vir após Mim - não pode ser meu discípulo". A cruz representa a censura e o ódio do mundo. Mas como a cruz era voluntária para Cristo, assim é para o seu discípulo. Pode ser evitada ou aceita. Ela pode ser ignorada ou abraçada! Mas em segundo lugar, a cruz representa uma vida que é voluntariamente entregue à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte era 24 um sacrifício voluntário. Volte por um momento para o capítulo 10 de João, começando nos versos 17,18: "Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai." Por que ele estabeleceua sua vida? Olhe para a frase final do versículo 18: "Este mandamento eu recebi de Meu Pai". A cruz foi a última exigência de Deus na obediência de Seu Filho. É por isso que lemos em Filipenses 2 que, "o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz." (esse era o clímax, que era o fim do caminho da obediência: a morte da cruz!). Cristo nos deixou um exemplo para que sigamos os Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência voluntária do cristão, não obrigatória; contínua, fiel, sem reserva, até a morte. A cruz então representa obediência, consagração, rendição, uma vida colocada à disposição de 25 Deus. "Se alguém quer vir após Mim, que ele tome a sua cruz e me siga" e "Quem não carregar a sua cruz e vir após Mim - não pode ser meu discípulo". Em outras palavras, queridos amigos, a cruz representa o princípio do discipulado, sendo nossa vida operada pelo mesmo princípio que o de Cristo. Ele veio aqui - e Ele não agradou a si mesmo; e eu também não devo. Ele não atribuiu a Si qualquer reputação: também eu. Ele fez o bem: eu também não deveria ser servido, mas servir. Ele se tornou obediente até a morte, e morte da cruz. É o que a cruz representa: Primeiro, a reprovação do mundo - porque o antagonizamos, aumentamos a sua ira ao nos separarmos dele e caminhamos em um plano diferente - porque somos movidos por princípios diferentes, daqueles pelos quais ele caminha. Em segundo lugar, uma vida sacrificada a Deus - estabelecida em devoção a Ele. Em terceiro lugar, a cruz representa sacrifícios e sofrimentos vicários. Volte-se para a primeira Epístola de João, terceiro capítulo, versículo 16: "Percebemos o amor de Deus, porque Ele deu a vida por nós, e devemos dar as nossas vidas". Essa 26 é a lógica do Calvário. Somos chamados à comunhão com Cristo, nossas vidas devem ser vividas pelos mesmos princípios que Ele viveu - obediência a Deus, sacrifício para os outros. Ele morreu para vivermos e, meus amigos, temos que morrer para vivermos. Veja o versículo 25 de Mateus 16: "Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá". Isso significa todo cristão, pois Cristo falava ali aos discípulos. Todo cristão que tenha vivido uma vida egocêntrica, considerando seus próprios confortos, sua própria paz de espírito, seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios - que a "vida" se perderá para sempre - tudo será desperdiçado pela eternidade; madeira, feno e palha - que irão subir na fumaça! Mas "quem perder a sua vida por amor de Mim", isto é, quem não tiver vivido sua vida considerando seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio lucro, seu próprio avanço, mas que sacrificou a vida, gastou-a em serviço dos outros por causa de Cristo - ele encontrará a vida! Porque a vida foi construída de materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste do fogo no dia seguinte. Ele deve encontrar a "vida". Cristo morreu para vivermos; e nós temos que morrer - se quisermos 27 viver! "Quem perder a vida por amor de mim, vai encontrá-la". (Nota do tradutor: Tudo o que fizermos baseados em nossa própria vontade, aparte da vontade de Deus, não adentrará pela eternidade, e se perderá para sempre. Mas tudo o que for feito segundo a vontade de Deus e para a sua exclusiva glória, ainda que demande a morte da nossa própria vontade, jamais deixará de ter a sua recompensa eterna, e será carregado conosco pela eternidade afora. O tempo que é gasto em atividades sem Deus, ou a sua aprovação, é tempo desperdiçado, perdido. Mas todo o tempo que é gasto com o Senhor, ainda que pareça um desperdício para o mundo, é um tempo ganho, que jamais será perdido. Quanto mais mortificamos o nosso ego mais encontramos a vida ressurreta de Jesus Cristo. E quanto mais se vive para o ego, por mais intenso que seja este viver, ele é na verdade morte, pois não traz consigo o crivo, o selo da vida eterna de Deus. 28 Quem muito ama a vida natural que tem neste mundo é porque está cego para a vida espiritual que existe somente em Deus. Quem semeia para a carne colherá corrupção e morte, mas o que semeia para o espírito colhera a vida abundante e eterna que Jesus veio nos dar. Se o grão de trigo não morrer, ele ficará só e passará. Mas se morrer dará muito fruto, pois renascerá pelo poder de Deus em uma nova forma de vida.) Mais uma vez, no capítulo 20 de João, Cristo disse aos Seus discípulos: "Como o Pai me enviou, eu também vos envio". Cristo foi enviado aqui para fazer o que? Para glorificar o Pai; para expressar o amor de Deus; para manifestar a graça de Deus; para chorar sobre Jerusalém; ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho; para trabalhar tão assiduamente que não tinha folga nem para comer; para viver uma vida de tal autossacrifício que até mesmo os seus parentes disseram: "Ele está fora de si!" E, "como o Pai me enviou, assim também", diz Cristo, "eu vos envio". Em outras palavras, eu o envio de volta para o mundo - do qual eu o salvei. Eu o envio de 29 volta para o mundo - para viver com a cruz estampada sobre você. Ó irmãos e irmãs, quão pouco "sangue" existe em nossas vidas! Quão pouco há o carregar da morte de Jesus em nossos corpos! (2 Coríntios 4:10). Começamos a "carregar a cruz"? Existe alguma maravilha de que o seguimos a uma distância tão grande? Existe alguma maravilha de que possamos ter pouca vitória sobre o poder do pecado interior? Existe uma razão para isso. De forma Mediadora, a Cruz de Cristo está sozinha - mas, experimentalmente, a cruz deve ser compartilhada por todos os Seus discípulos. Legalmente, a cruz do Calvário anulou e afastou nossa culpa, a culpa de nossos pecados; mas, meus amigos, estou perfeitamente convencido de que a única maneira de obter a libertação do poder do pecado em nossas vidas e obter domínio sobre o velho homem dentro de nós - é quando a cruz se torna parte da experiência de nossas almas! Foi na cruz, que o pecado foi tratado legal e judicialmente. É somente quando a cruz é "tomada pelo discípulo" que se torna uma experiência, matando o poder e a corrupção do pecado dentro de nós. E Cristo diz: "Quem não carregar a sua cruz, não pode ser meu discípulo". 30 O quanto precisa cada cristão ficar sozinho com o Mestre e consagrar-se a Seu serviço! A Cruz e o Ego “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me." (Mateus 16:24) Antes de desenvolver o tema deste versículo, deixe-nos comentar seus termos. "Se alguém quer vir": o dever exigido é para todos os que se juntaram aos seguidores de Cristo e se inscreverem sob Sua bandeira. "Se alguém quiser": o grego é muito enfático, significando não só o consentimento da vontade - mas o propósito completo do coração, uma resolução determinada. "Vir após mim": como um servo sujeito ao seu Mestre, um erudito a seu Professor, um soldado a seu Capitão. 31 "Negar" no grego significa "negar completamente". Negar a si mesmo - a sua natureza pecaminosa e corrupta. "E tomar": não tomar ou carregar passivamente - mas assumir voluntariamente, adotar ativamente. "Sua cruz": o que é desprezado pelo mundo, odiado pela carne, mas é a marca distintiva de um verdadeiro cristão. "E siga-me": viver como Cristo viveu - para a glória de Deus. O contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor Jesus acaba de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a sua morte de humilhação que estava próxima (v. 21). Pedro estava titubeandoe disse: "Nunca, Senhor! Isso nunca acontecerá contigo!" (v. 22). Isso expressou a política da mente carnal. O caminho do mundo é autobuscando e autoblindado. "Poupe-se" é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é "salvar a si mesmo", mas sacrificar-se. Cristo discerniu no conselho de Pedro, uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente o afastou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não 32 somente o Cristo "deve" ir a Jerusalém e morrer - mas todo mundo que seja um seguidor dele - deve tomar sua cruz (v. 24). O "deve" é tão imperativo no primeiro caso como no outro. Mediatoriamente, a cruz de Cristo está sozinha - mas, experimentalmente, é compartilhada por todos os que entram na vida. O que é um "cristão"? Quem é membro de alguma igreja terrena? Não! Quem acredita em um credo ortodoxo? Não! Quem adota um certo modo de conduta? Não! O que, então, é um cristão? Ele é aquele que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Col 2: 6). É aquele que leva o jugo de Cristo sobre si e aprende dAquele que é "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29). Ele é alguém que foi "chamado para a comunhão do Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor" (1 Cor 1: 9). Ou seja, irmandade em Sua obediência e sofrimento agora, e Sua recompensa e glória no futuro infinito! Não existe tal coisa como pertencer a Cristo - e viver para agradar a si mesmo. Não se engane com esse ponto: "Quem não toma a sua cruz, e não vem após Mim, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14:27) disse 33 Cristo. E, novamente, ele declarou: "Mas quem quiser [em vez de negar a si mesmo] me negar diante dos homens [não" aos "homens: é a conduta, a caminhada que está aqui em vista], eu também o negarei diante do Pai que está no Céu." (Mateus 10:33). A vida cristã começa com um ato de autorrenúncia, e é continuada por automortificação (Romanos 8:13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o apreendeu, foi: "Senhor, o que queres que eu faça." A vida cristã é comparada a uma "corrida", e o piloto é chamado a "deixar de lado todo peso, e o pecado que tão facilmente o atormenta" (Heb 12: 2), porque "pecado" está no amor de si mesmo, O desejo e a determinação de ter nosso "caminho próprio" (Isaías 53: 6). O único grande objetivo, fim, tarefa, estabelecido diante do cristão é seguir a Cristo - seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21), e Ele "não se agradou" (Romanos 15: 3). E há dificuldades e obstáculos no caminho, cujo chefe é o EGO. Portanto, isso deve ser "negado". Este é o primeiro passo para "seguir" a Cristo. 34 O que significa para um homem "negar a si mesmo"? Primeiro, significa o repúdio completo de seu próprio BEM-ESTAR. Significa deixar de descansar sobre qualquer obra própria para recomendar-se a Deus. Significa uma aceitação irrestrita do veredicto de Deus de que "todas as nossas justiças [nossas melhores performances] são trapos imundos" (Isaías 64: 6). Foi neste ponto que Israel falhou: "Por serem ignorantes da justiça de Deus, e para estabelecer a própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus" (Romanos 10: 3). Mas contraste com a declaração de Paulo: "E ser achado nEle, sem ter a minha própria justiça" (Filipenses 3: 9). Alguém "negar a si mesmo" significa renunciar completamente à sua própria SABEDORIA. Ninguém pode entrar no reino dos céus se não se tornar com "criancinhas" (Mateus 18: 3). "Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos, e prudentes à sua vista" (Isaías 5:21). "Professando- se serem sábios, tornaram-se tolos" (Romanos 1:21). Quando o Espírito Santo aplica o Evangelho com poder a uma alma, é para "Destruir os conselhos, e toda a altivez que se 35 levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo" (2 Cor 10: 5). Um bom lema para cada cristão adotar é: "Não se incline para o seu próprio entendimento" (Provérbios 3: 5). (Nota do tradutor: O temor de Deus consiste em aborrecer o mal. E entenda-se como mal, não apenas o mal moral, mas tudo o que se levanta contra a vontade de Deus. De modo que se alguém procurar nos conduzir para longe de tudo aquilo que nos é ordenado pelo Senhor em Sua Palavra, devemos estar dispostos a carregar esta cruz de perder até mesmo a amizade de alguém, por motivo de escolhermos agradar ao Senhor e não à pessoa em referência ou a nós mesmos. Esta talvez seja a cruz mais comum na vida dos servos de Deus que procuram viver piedosamente em Cristo. Não é de se admirar que o santo ande muitas vezes solitariamente, inclusive entre aqueles que se professam cristãos, pois tem da parte do Senhor o mandamento de se afastar de todo aquele que não ande segundo a sã doutrina. Isto não significa odiar, ou ter um sentimento corrosivo em relação aos contradizentes, mas em não ter comunhão com eles, para que se arrependam.) 36 Alguém "negar a si mesmo" significa renunciar completamente à sua própria FORÇA. É estar "sem confiança na carne" (Filipenses 3: 3). É o coração se curvando à declaração de Cristo: "Sem Mim, nada podeis fazer." (João 15: 5). Foi nesse ponto que Pedro falhou: (Mateus 26:33). "O orgulho precede a destruição, e um espírito altivo a queda" (Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que observemos 1 Coríntios 10:12: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia." O segredo da força espiritual - consiste em perceber a nossa fraqueza pessoal! (Veja Isaías 40:29; 2 Cor 12: 9). Então, "nos fortaleçamos na graça que está em Cristo Jesus" (2 Tim 2: 1). Alguém “negar a si mesmo" significa renunciar completamente à sua própria VONTADE. O idioma do salvo não é: "Nós não teremos esse Homem para reinar sobre nós!" (Lucas 19:14). A atitude do cristão é: "Para mim, viver é Cristo" (Filipenses 1:21) - para honrar e servir. Renunciar às nossas próprias vontades, significa prestar atenção à exortação de Fil 2: 5: "Que haja em vós o mesmo sentimento que havia em Cristo Jesus", que é definido nos versículos que imediatamente se seguem como abnegação. É o reconhecimento prático de que "você não é seu, porque você é 37 comprado com um preço" (1 Cor 6: 19,20). É dizer com Cristo: "No entanto, não o que eu quero, mas o que tu queres." (Marcos 14:36). Alguém "negar a si mesmo" significa renunciar completamente a seus próprios desejos carnais. "O HOMEM é um pacote de ídolos" (Thomas Manton), e esses ídolos devem ser repudiados. Os não cristãos são "amantes de si mesmos" (2 Tim 3, 1); Mas aquele que foi regenerado pelo Espírito, diz com Jó: "Eis que sou vil!" (40: 4): "Eu me abomino!" (47: 6). Dos não cristãos está escrito, "Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus." (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus é registrado, "eles não amaram suas próprias vidas até a morte" (Apo 12:11). A graça de Deus é "ensinar-nos que, negando a impiedade e as concupiscências mundanas, devemos viver com sobriedade, justiça e piedade neste mundo presente" (Tito 2:12). Essa negação do eu que Cristo exige de todos os Seus seguidores é UNIVERSAL. Não há reserva, nenhuma exceção feita: "Não faça provisão para a carne, para as concupiscências" (Romanos 13:14). É constante, não ocasional: "Se alguém vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz 38 diariamente e siga-me" (Lucas 9:23). É ser espontâneo, não forçado; com prazer, não relutantemente: "E o que quer que fizerem, façam com coração, quanto ao Senhor" (Col 3:23). Quão maligno é rebaixar o padrão que Deus coloca diante de nós! Como condena as vidas mundanas superficiais e carnais de tantos que professam (mas em vão) que são "cristãos"! "E pegue sua cruz". Isso se refere à cruz não como um objeto de fé, mas como uma experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidosatravés da fé, quando a culpa do pecado é cancelada - mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo só são apreciadas quando nós, de maneira prática, somos "conformes à sua morte" (Filipenses 3:10) . É somente quando aplicamos a cruz em nossas vidas diárias, e regulamos nossa conduta por seus princípios, que ela se torna eficaz sobre o poder do pecado residente. Não pode haver ressurreição onde não há morte; e não pode haver uma caminhada prática "em novidade da vida" e "trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos." (2 Cor 4.10). A "cruz" é o distintivo, a evidência, do discipulado cristão. É a sua "cruz" e não o seu credo, que 39 distingue um verdadeiro seguidor de Cristo dos mundanos religiosos. Agora, no Novo Testamento, a "cruz" representa realidades definidas. Primeiro, expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus veio aqui para não julgar, mas para salvar; Não para punir, mas para resgatar. Ele veio aqui "cheio de graça e verdade". Ele estava sempre à disposição dos outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os doentes, libertando o possuído pelos demônios, ressuscitando os mortos. Ele estava cheio de compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele trouxe com ele boas novas de grande alegria. Procurou o pária e pregou aos pobres, mas desprezou os ricos; ele perdoou os pecadores. E como ele foi recebido? Eles o "desprezaram e rejeitaram" (Isaías 53: 3). Ele declarou: "Eles me odiaram sem causa" (João 15:25). Eles tinham sede de Seu sangue. Nenhuma morte comum os apaziguaria. Eles exigiram que Ele fosse crucificado. A Cruz, então, foi a manifestação do ódio do mundo pelo Cristo de Deus. 40 O mundo não se transformou - mais do que o etíope mudou sua pele, ou o leopardo suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em um antagonismo aberto. Por isso, está escrito: "Quem quer que seja amigo do mundo é inimigo de Deus" (Tiago 4: 4). É impossível andar com Cristo e comungar com Ele - até que se separem do mundo. Andar com Cristo necessariamente envolve compartilhar de sua humilhação: "Sairmos, portanto, para ele fora do arraial, levando o seu opróbrio" (Heb 13:13). Isto foi o que Moisés fez: (veja Heb 11: 24-26). Quanto mais eu estiver caminhando com Cristo, mais eu serei mal interpretado (1 João 3: 2), ridicularizado (Jó 12: 4) e detestado pelo mundo (João 15:19). Não se engane aqui - é absolutamente impossível manter-se com o mundo e ter comunhão com o Santo Cristo. Assim, "pegar" minha "cruz" significa que eu deliberadamente julgo a inimizade do mundo, por meio da minha recusa em ser "conformado" a ele (Romanos 12: 2). Mas no que as fronteiras do mundo são importantes - se eu estou gostando dos sorrisos do Salvador! Tomar minha "cruz" significa uma vida voluntariamente entregue a Deus. Como o ato de homens perversos, a morte de Cristo foi um assassinato; mas, como o próprio ato de Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo-se a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Em 41 João 10:18, ele disse: "Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.". E por que ele o afirmou? Suas últimas palavras nos dizem: "Este mandamento recebi de Meu Pai". A cruz foi a demonstração suprema da obediência de Cristo. Aqui, ele foi o nosso Exemplo. Mais uma vez, citamos Filipenses 2: 5: "Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus ". No que se segue, vemos o Amado do Pai, tomando a forma de servo e tornando-se "obediente até a morte, a morte da cruz". Agora, a obediência de Cristo deve ser a obediência voluntária do cristão, alegre, sem reservas, contínua. Se essa obediência envolve vergonha e sofrimento, repreensão e perda - não devemos hesitar - mas colocar nossa face "como um pederneira" (Isaías 50: 7). A cruz é mais que o objeto da fé do cristão, é o emblema do discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A "cruz" representa a entrega e a dedicação a Deus: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Romanos 12 : 1). A "cruz" significa serviço vicário e sofrimento. Cristo estabeleceu a Sua vida pelos outros, e os Seus seguidores são chamados a estarem 42 dispostos a fazer o mesmo: "Devemos dar as nossas vidas pelos irmãos" (1 João 3:16). Essa é a inevitável lógica do Calvário. Somos chamados a seguir o exemplo de Cristo, à comunhão de seus sofrimentos, a ser parceiros no Seu serviço. Como Cristo se fez "sem reputação" (Filipenses 2: 7), também nós. Como Ele "não veio para ser servido", mas para servir "(Mateus 20:28) - também devemos. Como Ele "não se agradou" (Romanos 15: 3), também nós. Como Ele sempre pensou nos outros, devemos também: "Lembrar- nos dos presos, como se estivéssemos presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o nós mesmos também no corpo." (Heb 13: 3). "Pois, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16:25). As palavras quase idênticas a estas são encontradas novamente em Mateus 10:39, Marcos 8:35, Lucas 9:24; 17:33, João 12:25. Certamente, tal repetição argumenta a profunda importância de nossa observação e atenção a esta frase de Cristo. Ele morreu para vivermos (João 12:24), também devemos nós (João 12:25). Como Paulo, devemos poder dizer: "em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus." (Atos 20:24). A "vida" que é vivida para a 43 gratificação do EGO neste mundo, é "perdida" pela eternidade; A vida que é sacrificada aos interesses próprios e cedeu a Cristo, será "encontrada" novamente e preservada pela eternidade. Um jovem formado na universidade, com perspectivas brilhantes, respondeu ao chamado de Cristo a uma vida de serviço para ele na Índia, entre a casta mais baixa dos nativos. Seus amigos exclamaram: "Que tragédia! Uma vida jogada fora!" Sim, "perdeu" tanto quanto este mundo - mas "encontrou" novamente no mundo por vir! (Nota do tradutor: A Palavra de Deus nos ensina claramente que não fomos chamados apenas para afirmar verbalmente nossa fé em Cristo, mas sobretudo para demonstrar a realidade dessa fé nos sofrimentos que padecemos com paciência por causa do Seu nome (Filipenses 1.29). Nós lemos em 2 Timóteo 2.11,12: “11 Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos; (observe que se afirma que a vida com Cristo decorre da nossa morte com ele, ou seja da nossa identificação com a sua morte na cruz, carregando em nosso corpo o morrer de Jesus) 44 12 se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará.” (observe que o reinar com Cristo demanda perseverar em fazer a Sua vontade pelo fiel carregar diário da cruz) Importa que em tudo sejamos identificados ao nosso Salvador e Senhor, tanto no que se refere à Sua glória, quanto aos Seus sofrimentos; de modo que aqui embaixo, um grande indicativo da nossa real eleição por Deus como seus filhos amados, consiste principalmente na paciência com que suportamos perseguições e sofrimentos por causa do nosso bom testemunho em seguir as pegadas de Jesus Cristo.) “5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por meio de Cristo transborda a nossa consolação. 6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera suportando com paciência as mesmasaflições que nós também padecemos; 7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.” ( 2 Coríntios 1.5-7) 45 “19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente. 20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus. 21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.” (I Pedro 2.19-21) “14 Mas também, se padecerdes por amor da justiça, bem-aventurados sereis; e não temais as suas ameaças, nem vos turbeis; 15 antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós; 16 tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, fiquem confundidos os que vituperam o vosso bom procedimento em Cristo. 46 17 Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.” (I Pedro 3.14-17) “12 Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse; 13 mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis. 14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem- aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus. 15 Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios; 16 mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.” (I Pedro 4.12-16) “8 Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar; 9 ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. 47 10 E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.” (I Pedro 5.8- 10) “7 Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; 8 sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo, 9 e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; 10 para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte,” (Filipenses 3.7-10) “8 Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos sofrimentos do evangelho segundo o poder de Deus,” (II Timóteo 1.8) 48 “10 Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. 11 Eis que chamamos bem-aventurados os que suportaram aflições. Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão.” (Tiago 5.10,11) “8 Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu: 9 Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás. 10 Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Apocalipse 2.8-10) “12 Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 49 13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6.12-14) “1 Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. 2 Pois neste tabernáculo nós gememos, desejando muito ser revestidos da nossa habitação que é do céu, 3 se é que, estando vestidos, não formos achados nus. 4 Porque, na verdade, nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. 5 Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu como penhor o Espírito. 50 6 Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos presentes no corpo, estamos ausentes do Senhor 7 (porque andamos por fé, e não por vista); 8 temos bom ânimo, mas desejamos antes estar ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor. 9 Pelo que também nos esforçamos para ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. 10 Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal. 11 Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens; mas, a Deus já somos manifestos, e espero que também nas vossas consciências sejamos manifestos. 12 Não nos recomendamos outra vez a vós, mas damo-vos ocasião de vos gloriardes por nossa causa, a fim de que tenhais resposta para os que se gloriam na aparência, e não no coração. 13 Porque, se enlouquecemos, é para Deus; se conservamos o juízo, é para vós. 51 14 Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram; 15 e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.1-15)