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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE). 0 refluxo gastroesofágico é fisiológico, principalmente no período pós-prandial. Quando sua frequência e duração aumentam e causam sintomas, chamamos de Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). A DRGE tem grande impacto na qualidade de vida e se não tratada pode levar a algumas complicações, como estenose péptica e esófago de Barrett. É fator de risco para a DRGE o uso de qualquer substância que reduza a pressão do EEI, desde o álcool e o tabaco, a alguns alimentos e medicações. Obesidade e gestação também aumentam o risco da DRGE pelo aumento da pressão intra-abdominal. Já a hérnia hiatal e a esclerodermia podem levar à DRGE por alterações estruturais na região. A relação entre DRGE e Helicobacter pylori é complexa; em alguns casos - especialmente nos pacientes com pangastrite - o H. pylori pode tornar-se um fator protetor ao surgimento de sintomas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas característicos da DRGE são a pirose e a regurgitação, também classificados de "típicos" ou "esofágicos". A pirose é a sensação de queimação retroesternal, sendo a regurgitação a percepção do resíduo gástrico na boca, referido como gosto amargo, salgado ou ácido. Alguns pacientes possuem sintomas extraesofágicos, também chamados de "atípicoq". Esses sintomas geralmente estão associados à presença dos sintomas típicos e podem refletir uma incapacidade adicional do esfíncter esofágico superior (EES) em conter o refluxo gastroesofágico. A DRGE é uma importante causa de dor torácica não cardíaca, sendo o grande diagnóstico diferencial em pacientes sem fatores de risco coronarianos e com distúrbios neuropsiquiátricos - por exemplo, transtorno de ansiedade - ou queixas "funcionais" associadas. DIAGNÓSTICO Na maioria das vezes, o diagnóstico de DRGE pode ser feito de forma presuntiva em pacientes com sintomas típicos, corroborado pela melhora clínica após o início do tratamento empírico com inibidores de bomba de prótons (IBP) por 8 semanas. Chamamos essa técnica de teste terapêutico. Logo, o diagnóstico de DRGE pode ser clínico, principalmente se corroborado pelo teste terapêutico. Entretanto, em alguns casos pode ser necessária a complementação diagnóstica com exames complementares principalmente em pacientes com sintomas atípicos, refratariedade ao tratamento inicial e sinais de alarme: • Disfagia ou odinofagia. • Pneumonia recorrente. • Hemorragia digestiva • Náuseas e/ou vómitos frequentes, • Emagrecimento. • Anemia. Os principais exames que podem ser solicitados são a pHmetria (convencional ou por impedanciometria), a endoscopia digestiva alta (EDA) e a manometria esofágica. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Embora não seja necessária para o diagnóstico, a EDA deve ser realizada em alguns pacientes e pode tanto detectar sinais de DRGE, quanto diagnosticar complicações (esófago de Barrett, estenose péptica, malignidades), além de afastar alguns outros diagnósticos diferenciais importantes - por exemplo, esofagite eosinofílica, esofagites infecciosas etc. Em grande parte dos pacientes a EDA é normal, porém uma alteração endoscópica bastante relevante na DRGE é a esofagite erosiva. A presença ou gravidade da esofagite erosiva não tem correlação com os sintomas do paciente. Sendo assim, uma endoscopia normal não descarta DRGE. A Classificação de Los Angeles é a mais utilizada no estadiamento da esofagite erosiva, sendo apenas os graus C e D definitivamente diagnósticos de DRGE. Outro achado endoscópico possível é a presença de úlceras esofágicas, comumente associadas à esofagite erosiva. Nesse contexto, deve-se pensar também em diagnósticos diferenciais. PHMETRIA Para uma correta leitura da pHmetria, após a passagem da sonda com o correto posicionamento do aparelho no EEI, o paciente deve ficar 24h dom o equipamento, tentando manter a rotina o mais próximo possível do habitual, e anotar os horários que deitou, que acordou, das refeições e dos sintomas. A pHmetria convencional sempre foi considerada o exame mais importante para confirmar a presença de refluxo ácido, mas ultimamente a pHmetria por impedanciometria (ou pH-impedanciometria) tem ultrapassado em importância, pela sua capacidade em diagnosticar outros tipos de refluxo (refluxos não ácidos), sendo atualmente considerado o método padrão-ouro. Da mesma forma que para EDA, nem todo paciente precisa realizar a pHmetria. O índice de diagnóstico da pHmetria convencional mais conhecido é o de DeMeester. A pH-impedanciometria tem a capacidade adicional em avaliar todos os tipos de refluxo (ácidos e não ácidos), mas devido à sua pouca disponibilidade e alto custo ainda não é muito utilizada na prática clínica. Devemos lembrar que para o diagnóstico de DRGE; o paciente deverá realizar esses exames idealmente sem supressão ácida; três dias sem bloqueador H2 e duas semanas sem IBPs. Após realizar pHmetria num paciente com EDA normal, temos as seguintes possibilidades: exame positivo confirma DRGE não erosiva; com exame negativo, posso classificar o paciente como pirose funcional (sintomas na ausência de exposição ácida) ou esófago hipersensível (sintomas concomitantes com o pH ácido esofágico, quando essa exposição ácida não fecha critério para DRGE). FENÓTIPOS DA DRGE Fenótipos da DRGE de acordo com seus principais mecanismos fisiopatológicos: exposição ácida e hipersensibilidade esofágica. MANOMETRIA ESOFÁGICA Esse exame não é realizado para diagnosticar DRGE; serve como método complementar na pesquisa de distúrbios motores esofágicos concomitantes (se houver suspeita), alocação dos sensores da pHmetria (topografa o EEI) e é um pré-requisito na programação da cirurgia antirrefluxo. COMPLICAÇÕES ESTENOSE PÉPTICA A exposição ácida excessiva no epitélio esofágico leva a uma resposta inflamatória com edema e posterior formação de tecido cicatricial fibrótico, que diminui a luz do órgão, culminando com a formação da estenose. Como a estenose péptica é fator de risco para adenocarcinoma esofágico, deve-se sempre pensar em degeneração neoplásica quando o paciente apresentar progressão rápida de sintomas O tratamento pode ser realizado de forma endoscópica (dilatação com balão) ou por cirurgia (esofagectomia). A cirurgia antirrefluxo pode ser realizada se a dilatação com balão for satisfatória ESOFAGO DE BARRETT É uma complicação tipicamente vista em homens brancos, obesos e de meia-idade (45-60 anos), e pode degenerar em áreas displásicas, que, por sua vez, podem evoluir para o adenocarcinoma, principal receio nesses pacientes. O diagnóstico é suspeitado pela EDA (projeções digitiformes cor vermelho-salmão próximas à transição esofagogástrica) e definido por histologia, que confirma a metaplasia intestinal (substituição do epitélio escamoso esofágico por epitélio colunar/ células caliciformes) O tratamento inicial é clínico com o uso de IBPs, porém na presença de displasia está indicada e terapia endoscópica- por exemplo, ablação por radiofrequência - ou cirúrgica - esofagectomiâ -, a depender da extensão da lesão e disponibilidade dos métodos. TRATAMENTO O manejo da DRGE é guiado pela gravidade dos sintomas e presença ou não de complicações/Err) geral, deve-se sempre associar as medidas comportamentais à terapia antissecretória/antiácida. Os procinéticos, antes muito utilizados como terapia adjuvante devido à possível melhora do tônus do EEI e menor tempo de esvaziamento gástrico, não são mais utilizados com frequência, pela ausência de benefício comprovado nos últimos estudos. Atualmente, são reservados aos pacientes com suspeita adicional de gastroparesia ou sintomas dispépticos (sobreposição com DRGE em até 40% dos casos). MEDIDAS COMPORTAMENTAIS As principais medidas são a perda de peso (no caso de obesidade e sobrepeso); elevação da cabeceira (15-20cm) se sintomas noturnos; reduzir alimentos desencadeadores dos sintomas e evitar algumas medicações que diminuem o tônus do EEI. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INIBIDORES DE BOMBA DE PRÓTONS A classe dos IBPs é composta de fármacos que se ligam irreversivelmente às bombas de prótons (H+/K+ATPase) das células parietais (Figura 7), inibindo seu funcionamento e diminuindo assim a secreção de ácido clorídrico na sua via final. Devido à renovação diária das bombas e o maior acúmulo ao jejum, orienta-se a tomada preferencial dos IBPs cerca de trinta minutos antes do desjejum. Na melhora dos sintomas e ausência de complicações, o uso de IBPs por 8-12 semanas geralmente é suficiente para iniciar o desmame. Os efeitos colaterais mais comuns são a cefaleia, diarreia e dor abdominal, muitas vezes melhorando com a troca de IBP. BLOQUEADORES H2 Essa classe bloqueia os receptores H2 histaminérgicos das células parietais, inibindo apenas uma das três vias da secreção ácida (as outras duas são mediadas pela gastrina e pela acetilcolina). Podem ser utilizados em pacientes com sintomas leves e esporádicos, no escape noturno (sintomas noturnos recorrentes mesmo em uso de IBPs), bem como nas situações onde o paciente prevê uma "recaída" nos sintomas (por exemplo, comer pizza e tomar vinho à noite numa confraternização). Nesse último caso, o paciente pode tomar uma dose profilática trinta minutos antes da refeição. ANTIÁCIDOS Agem de forma local e com curta duração, neutralizando o ácido e/ou sob a forma de barreira de contato com a mucosa. Sendo assim, suas principais indicações são no uso sob demanda ("SOS"), não devendo ser utilizados como monoterapia a longo prazo. Os principais exemplos são os sais de alumínio e magnésio e os compostos com alginato. Os sais de alumínio tendem a ser constipantes, enquanto os de magnésio têm efeito oposto. Pacientes com nefropatia avançada devem evitar o uso de sais de magnésio pelo risco de hipermagnesemia. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA). Denomina-se Hemorragia Digestiva Alta (HDA) a todo e qualquer sangramento intraluminal digestivo que ocorre acima do ângulo de Treitz. Portanto, uma lesão que cause sangramento no duodeno, estômago ou esófago promoverá um quadro clínico de HDA. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico de uma HDA é a exteriorização de material hemático de forma anterógrada ou retrógrada, e a repercussão da perda sanguínea (taquicardia, hipotensão, alargamento do tempo de enchimento capilar, mucosas descoradas e pulsos finos. Ao laboratório, haverá queda de hemoglobina). Tipicamente, o paciente manifesta hematêmese e melena ETIOLOGIAS Classicamente, as causas de HDA podem ser divididas em dois grandes grupos: • Varicosas - relacionadas à hipertensão porta. • Não varicosas -todas as outras causas. Entretanto, devido à enorme relevância da etiologia péptica nas provas, iremos substituir as "Não varicosas" apenas pelas úlceras pépticas HDA PÉPTICA A doença ulcerosa péptica complicada com sangramento é a causa mais frequente e mais importante de sangramento digestivo alto. Diante de uma HDA, reforça-se a hipótese péptica de sua etiologia: uso/abuso de anti-inflamatórios não esteroidais, tabagismo, passado de "gastrites" e doença péptica e história de H. pylori. HDA VARICOSA A HDA varicosa está relacionada à hipertensão do sistema porta, representando cerca de 20% dos casos de HDA. Então, temos que ficar atentos a: 1. outras manifestações clínicas da hipertensão porta; e 2. manifestações clínicas das causas de hipertensão porta. A ascite e a presença de circulação colateral em cabeça de medusa podem estar presentes, assim como as varizes esofágicas e de fundo gástrico, em qualquer paciente com hipertensão porta. VARIZES ESOFÁGICAS VS. VARIZES DE FUNDO GÁSTRICO Diante de uma HDA varicosa, nós vamos suspeitar de que o sangramento seja de varizes esofágicas, pois esse é o mais frequente (90%). Havendo varizes esofágicas e de fundo gástrico concomitantemente, ainda assim atribuímos o sangramento ao esófago ABORDAGEM INICIAL DE UM PACIENTE COM HDA • Sala vermelha e monitorização • 02 suplementar até ter o caso estabilizado, "na mão": máscara não reinalante e com reservatório, 02 100% (12 L/min) • Dois acessos venosos calibrosos (Jelco 14, fossas antecubitais) • 1 L de SF 0,9% aberto de cada lado • 80 mg de omeprazol, venoso • Se houver estigma de hepatopatia: considerar terlipressina venosa + norfloxacino • Preparar noradrenalina e deixar a postos • Colher laboratório: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio iônico, coagulograma. Se disponível, rodar um Hb/Ht na sala vermelha para resultado expresso da hemoglobina • Colher amostra de sangue para tipagem e contraprova: deixando pelo menos 2 concentrados disponíveis • Pedir ao banco de sangue 2 bolsas não tipadas (O-) e também deixar "a postos" ' • Pembrar de transfundir, além de reanimação volêmica, se, choque hemorrágico classe lll/IV (lembra- se do trauma? São aqueles com hipotensão já à apresentação inicial) • Sondagem vesical de demora e monitorização do débito urinário • Ligar para a endoscopia e deixá-los preparados: levar o paciente tão logo ele esteja estável Ao lidar com um paciente com HDA, além de história detalhada e exame físico completo, em busca de pistas da origem do sangramento, o primeiro passo não é a endoscopia, mas, sim, a estabilização e compensação do paciente. No geral, é objetivado alcançar normocardia (FC < 100 bpm), normotensão (PAS > 90 mmHg e PAD > 60 mmHg) e diurese > 0,5 mL/kg/h. ENDOSCOPIA A endoscopia deve ser realizada em até 12-24h da instalação da HDA, com o paciente já estabilizado do ponto de vista hemodinâmico e tendo corrigido a anemia e a coagulopatia graves. Frequentemente, essa endoscopia é apenas diagnóstica, haja vista a tendência de autorresolução dos sangramentos menores. Ela tem em seu arsenal, porém, estratégias terapêuticas, tais como: injeção de vasoconstritor (adrenalina), clipes metálicos, ligaduras elásticas, injeção de substância esclerosante (cianoacrilato), eletrocauterização, ablação com feixe de argônio, entre outros. MANEJO DA HDA PÉPTICA ENDOSCOPIA Nos casos de doença ulcerosa péptica, a endoscopia identificará uma lesão ulcerosa com sangramento ativo ou sinais de sangramento recente e a classificará segundo a classificação de Forrest. Qual o objetivo da classificação endoscópica de Forrest? Estratificar o risco de ressangramento. A endoscopia digestiva alta, na HDA péptica, além de permitir o diagnóstico e o tratamento (veremos a seguir), é a oportunidade para a pesquisa do H. pylori, que deverá ser erradicado A classificação de Forrest orienta a conduta. As lesões de alto risco (Forrest IA, IB e IIA) devem receber dupla terapia: adrenalina associada a um segundo método (eletrocauterização, colocação de hemoclipes etc.). As lesões de baixo risco (Forrest IIC ou III) não necessitam de medidas terapêuticas endoscópicas. No forrest IIB, de risco intermediário de ressangramento, deve-se tentar remover o coágulo e reclassificar de acordo com o achado subjacente. Nos casos de ressangramento, pode-se optar pela realização de uma nova endoscopia, antes da avaliação, frente à indicação de tratamento cirúrgico. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Feito o ataque de inibidor de bomba de prótons em dose dobrada à abordagem inicial, a terapia é mantida em dose plena por 4 semanas. Deve-se também suspender o uso de AINES naqueles que faziam uso prévio TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento cirúrgico é feito de exceção na HDA péptica, quando há: 1. insucesso em estabilizar o paciente para que ele possa receber a endoscopia, ou 2. falha terapêutica em duas endoscopias seguidas, com persistência/recidiva do sangramento. A úlcera duodenal habitualmente sangra pela parede posterior, aoatingir a artéria gastroduodenal. Sua hemostasia pode ser obtida, de forma cirúrgica, por pilorotomia ou duodenotomia anterior, seguida de sutura hemostática da úlcera. Após o controle da hemorragia, medidas para diminuir a secreção ácida pelo estômago podem ser realizadas, como a vagotomia troncular (associada à piloroplastia, para evitar disfunção pilórica) ou antrectomia com vagotomia (procedimento maior, que deve ser evitado nos doentes instáveis). Numa úlcera gástrica, porém, a sutura da lesão seguida de sua ressecção é a melhor alternativa. Lembre- se: há risco de ser uma úlcera maligna "disfarçada" de péptica. Nos pacientes de alto risco, pode-se optar pela vagotomia + piloroplastia + biópsia da lesão MANEJO DA HDA VARICOSA TRATAMENTO ENDOSCÓPICO O tratamento endoscópico da HDA varicosa depende da topografia. As varizes esofágicas recebem ligadura elástica como tratamento de eleição. As varizes de fundo gástrico, por sua vez, recebem a escleroterapia por cianoacrilato. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Os vasoconstritores esplâncnicos como terlipressina (melhor) e octreotide estão indicados. A profilaxia de Peritonite Bacteriana Espontânea também está indicada, com norfloxacino ou outra quinolona. Após controlado o sangramento e o paciente estabilizado, inicia-se a profilaxia medicamentosa de ressangramento com propranolol SENGSTAKEN BLAKEMORE O balão de Sengstaken é um dispositivo utilizado para hemostasia da HDA varicosa que,no primeiro atendimento (após estabilização e EDA não efetiva ou indisponibilidade de EDA), não consegue atingir estabilidade clínica e persiste em sangramento e deterioração clínica. Não deve permanecer por mais de 24h, por risco de ruptura esofágica INTERVENÇÕES A última linha de tratamento é a descompressão do sistema porta por confecção de shunts portossistêmicos, utilizados na falha do controle medicamentoso e endoscópico da HDA. Modalidades: • TIPS (shunt portossistêmico Intra-hepático Transjugular): procedimento endovascular, em que se coloca um stent entre uma veia hepática e um dos ramos da veia porta. • Anastomose vascular cirúrgica portocava (não seletivo) ou esplenorrenal (seletivo). Esses shunts, porém, promovem encefalopatia hepática e estão sujeitos a complicar com estenoses, tromboses ou sangramentos. PREVENÇÃO DE (RES) SANGRAMENTO A profilaxia primária (ou seja, naquele paciente com varizes, mas sem sangramento prévio) se dá por ligadura elástica seriada de varizes, ou, na impossibilidade, com o uso de betabloqueador (propranolol). Os pacientes que se enquadram neste grupo são: pacientes com varizes de grosso ou médio calibre; pacientes com varizes de baixo calibre que possuem fatores de risco para sangramento (Child B,Child C ou presença de red spots na EDA). A profilaxia secundária, se dá por ligadura elástica seriada e uso de betabloqueador. OUTRAS CAUSAS DE HDA: 1. SÍNDROME DE MALLORY-WEISS 2. ANGIODISPLASIA E LESÃO DIEULAFOY 3. FÍSTULA AORTOENTÉRICA 4. ÚLCERAS DE CAMERON 5. HEMOBILIA HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA (HDB) Denomina-se hemorragia digestiva baixa (HDB) aquele sangramento digestivo que ocorre ABAIXO do ângulo de Treitz. Perceba então que a HDB engloba sangramentos oriundos do jejuno, íleo, cólons e reto MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico é de exteriorização baixa, na forma de hematoquezia ou enterorragia, e repercussão hemorrágica clínica ou laboratorial. É importante lembrar: esses sintomas não são específicos do sangramento BAIXO e podem estar presentes numa Hemorragia Digestiva ALTA maciça, a qual pode se manifestar através de enterorragia quando há sangramento intenso. ABORDAGEM INICIAL Conduta prática num paciente que foi admitido com HDB • sala vermelha e monitorização • 02 suplementar até ter o caso estabilizado, "na mão": máscara não reinalante e com reservatório, 02 100% (12 L/min) • dois acessos venosos calibrosos (Jelco 14, fossas antecubitais) • 1 L de SF 0,9% aberto de cada lado • 80 mg de omeprazol, venoso • se houver estigma de hepatopatia: considerar terlipressina venosa + norfloxacino • preparar noradrenalina e deixar a postos • colher laboratório: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio iônico, coagulograma. Se disponível, rodar um Hb/Ht na sala vermelha para resultado expresso da hemoglobina • colher amostra de sangue para tipagem e contraprova: deixando pelo menos 2 concentrados disponíveis • pedir ao banco de sangue 2 bolsas não tipadas (O-) e também deixar "a postos" ' • lembrar de transfundir, além de reanimação volêmica, se, choque hemorrágico classe lll/IV (lembra- se do trauma? São aqueles com hipotensão já à apresentação inicial) • sondagem vesical de demora e monitorização do débito urinário • ligar para a endoscopia e deixá-los preparados: levar o paciente tão logo ele esteja estável • depois da endoscopia, preparar o cólon e realizar a colonoscopia As medidas iniciais são voltadas à estabilização clínica do paciente: acessos venosos calibrosos, reanimação volêmica, suplementação de 02, monitorização, medidas de suporte avançado de vida conforme necessidade (intubação e ventilação mecânica/acesso venoso central e droga vasoativa/ transfusão de hemocomponentes para corrigir anemia e coagulopatia) e, após estabilizado, preparação para uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA). EDA? Mas por quê? Veja só: se um paciente tiver uma Hemorragia Digestiva Alta maciça, ele não pode ter um quadro bastante semelhante? Pode. Pois então, que fique a primeira lição: diante de qualquer manifestação clínica de sangramento digestivo agudo, seja alto ou baixo, a primeira abordagem é a estabilização clínica do paciente, seguida de uma EDA para afastar uma HDA maciça como causa do quadro. Somente após esses eventos iniciais o paciente é submetido a uma investigação específica, por colonoscopia. COLONOSCOPIA Deve ser realizada nas primeiras 24h do sangramento, idealmente com preparo de cólon. O que ela vai detectar? Os sinais de que houve sangramento, com presença de coágulos nos colons, e as principais causas de HDB, que são colorretais: doença diverticular dos cólons, angiodisplasia do cólon e tumores colorretais. A colonoscopia pode não ser suficiente. Nesses casos, podemos lançar mão de outros métodos investigativos da origem do sangramento. MÉTODOS ADICIONAIS ANGIOTOMOGRAFIA É um método amplamente disponível e de sensibilidade razoável de sangramentos de até 0,3 a 0,5 mL/ min. É O primeiro método adicional a ser solicitado. Quando positivo, é capaz de precisar a localização do sangramento com acurácia interessante ao médico assistente. Entretanto, não possui capacidade terapêutica, além de ser um método de radiação ionizante. CINTILOGRAFIA COM HEMÁCIAS MARCADAS É o método mais sensível e detecta sangramentos de até 0,1-0,5 mL/min. Porém, o exame tem suas desvantagens: não exibe estratégia terapêutica, depende de um sangramento ativo no momento do exame e é capaz apenas de denotar a "área geral" de ocorrência do sangramento no abdome. Sua maior utilidade é sugerir o sangramento por divertículo de Meckel, ao brilhar a fossa ilíaca direita no exame, num paciente com idade compatível. É um exame que, via de regra, não dá diagnóstico etiológico -exceto pelo sangramento por divertículo de Meckel. ARTERIOGRAFIA MESENTÉRICA SELETIVA É um método de baixa disponibilidade e alta complexidade, envolvendo um procedimento endovascular radiointervencionista. Tem sensibilidade para sangramentos de 0,5 a 1,0 mL/min, com potencial diagnóstico localizatório. Esse método possui potencial terapêutico por embolização ou injeção de vasopressor, o que o torna atrativo; entretanto, é o "último" a ser realizado, pois ele vem com desvantagens: uso radiação ionizante, grande volume de contraste iodado (com o risco de nefropatia por contraste),riscode infarto intestinal, além dos riscos de sangramento e trombose do sítio de punção arterial do cateterismo. ENTEROSCOPIA Diz-se enteroscopia uma endoscopia especial, capaz de, de forma anterógrada ou retrógrada, percorrer o intestino delgado. É um método pouco disponível e complexo. Sua utilidade se dá nos sangramentos não topografados do intestino delgado. Tem potencial de localização e tratamento do sítio de sangramento. ETIOLOGIAS POSSÍVEIS A grande maioria dos sangramentos digestivos baixos é de origem colorretal, decorrente de: 1. Doença diverticular; 2. Angiodisplasia; e 3. Tumores colorretais. COMO MANEJAR O SANGRAMENTO DIGESTIVO BAIXO? PACIENTE PERSISTENTEMENTE INSTÁVEL O paciente que nunca atinja estabilidade clínica à abordagem inicial não será candidato a colonoscopia. Ele será submetido a um tratamento cirúrgico de urgência. Nessa cirurgia, considerando-se que as causas colorretais são as mais frequentes, o paciente será submetido a uma colectomia total. São ligados, para realizarmos uma colectomia total, os seguintes vasos: ileocólica, cólica direita, cólica média, cólica esquerda, sigmoideanas, retal superior De exceção, caso se encontre à cirurgia uma localização clara da origem de sangramento, pode-se ressecar apenas aquele território. Exemplo: um tumor colorretal ou uma doença diverticular exclusivos do cólon direito ETIOLOGIA IDENTIFICADA A COLONOSCOPIA DOENÇA DIVERTICULAR DOS CÓLONS É a causa mais frequente de HDB, e, caracteristicamente, os sangramentos ocorrem de divertículos localizados no cólon direito. Ao se observar a doença diverticular, com a presença de um divertículo com sangramento ativo, não há dúvidas diagnósticas. Contudo, não é necessário que se observe o sangramento ativo de um divertículo para que se associe à doença diverticular a fonte de HDB. Na presença de doença diverticular, presume-se ser ela a causa da HDB. A grande maioria das HDBs por doença diverticular tem curso autolimitado, e, à colonoscopia, já não há sangramento ativo. Esses pacientes são conduzidos de forma conservadora. Caso haja sangramento ativo à colonoscopia, pode-se tentar estratégias terapêuticas (como eletrocauterização, clipagem metálica ou injeção de adrenalina) para conter o sangramento. O tratamento cirúrgico está indicado nos pacientes que não chegam a atingir estabilidade clínica inicial ou naqueles que persistem com sangramento apesar das medidas clínicas e colonoscópicas executadas. A escolha do tratamento cirúrgico dependerá da localização da doença diverticular e envolverá a ressecção de um ou mais segmentos cólicos. Veja as possibilidades: • Se o paciente tiver doença diverticular localizada apenas no cólon direito (à colonoscopia ou exploração cirúrgica), a cirurgia é uma colectomia direita. • Se o paciente tiver doença diverticular difusa nos cólons e não for possível detectar qual segmento sangra (seja porque ele não atingiu estabilidade clínica ou porque a colonoscopia não conseguiu determinar a fonte de sangramento), a cirurgia é uma colectomia subtotal. • Se o paciente tiver doença diverticular difusa dos cólons e for possível detectar um segmento específico sangrante, a cirurgia é a ressecção desse segmento (colectomia direita ou esquerda, por exemplo). ANGIODISPLASIA Ocorrem com bastante frequência nos colons, sobretudo à direita (ceco), e em pacientes idosos. E a segunda causa mais frequente de HDB Quando são incidentalmente encontradas, fora de um contexto de HDB, não devem ser tratadas. Entretanto, caso sejam visualizadas numa colonoscopia realizada por HDB, devem ser prontamente tratadas. A colonoscopia é o método terapêutico inicial. Na falha colonoscópica, lança-se mão do tratamento cirúrgico, com ressecção do segmento do cólon acometido. TUMORES COLORRETAIS Tumores colorretais são peculiares, por não haver estratégia colonoscópica clara para controle do seu sangramento. Dessa forma, contamos com a autorresolução, enquanto se fazem as medidas de suporte. Caso o paciente apresente resolução do sangramento espontaneamente nas primeiras 24h de abordagem inicial, ele é operado de forma eletiva na mesma internação. Caso não apresente resolução do sangramento, ele é operado na urgência. Perceba então que o tumor colorretal sangrante é primordialmente tratado por cirurgia, com ressecção do território acometido - ainda que haja metástases. DIVERTÍCULO DE MECKEL Suspeitamos de Meckel num paciente com idade compatível (pediátrico, adulto jovem), cuja colonoscopia vem negativa ou se observa sangue vindo do íleo. 0 exame de cintilografia, ao demonstrar sangramento na fossa ilíaca direita, reforça a possibilidade. 0 tratamento definitivo é feito por via cirúrgica, com ressecção do Meckel (diverticulectomia) ou da alça intestinal (enterectomia segmentar). ETIOLOGIA NÃO IDENTIFICADA NA COLONOSCOPIA Esse é o sangramento baixo de origem obscura ou indeterminada. Temos que pensar em duas possibilidades: sangramento colorretal que a colonoscopia não conseguiu identificar ou sangramento oriundo do intestino delgado. 0 primeiro passo é a busca da localização com uma angiotomografia, o método mais disponível, seguida de uma cintilografia com hemácias marcadas, o método mais sensível. Os métodos podem identificar uma topografia do cólon ou do intestino delgado como fonte do sangramento. Identificando-se uma lesão nos cólons, prossegue-se a um tratamento cirúrgico, ou, de maneira alternativa, a uma arteriografia com vasopressor/embolização. Não se identificando qualquer fonte de sangramento ou identificando-se um sangramento em topografia de intestino delgado, um procedimento em especial passa a ser útil: a enteroscopia. Combinando-se uma endoscopia dedicada do delgado, anterógrada e retrógrada, pode-se tentar localizar o sangramento. Identificando-se o foco do sangramento, a própria enteroscopia pode tratá-lo ou, caso intratável por enteroscopia, ela o marca para o cirurgião identificar numa abordagem cirúrgica. APRESENTAÇÃO CRÓNICA Vamos fugir do contexto de uma HDB aguda e pensar num paciente que, no consultório, chega com um quadro de sangramento digestivo baixo de apresentação crônica, arrastada. Esse paciente possui algumas peculiaridades no raciocínio clínico e manejo. Felizmente, esse paciente é passível de abordagem ambulatorial, pela menor gravidade hemorrágica. A HDB crônica mais tipicamente se manifesta por hematoquezia, ou ganha uma área de interseção com a HDA crônica, ao manifestar melena. O primeiro exame aqui é a colonoscopia, pois a utilidade da EDA é, nos casos agudos, buscar uma origem de sangramento maciço - o que não faz parte do nosso contexto clínico nessa situação. Na colonoscopia, o que podemos encontrar? Todas as causas podem se apresentar de forma crônica, mas duas merecem destaque: câncer colorretal e doença inflamatória intestinal. O paciente com câncer colorretal se apresenta com sangramento crônico, num paciente de idade avançada, associado a uma síndrome consumptiva no enunciado da questão: perda pontual, emagrecimento, astenia, anemia etc. Já o paciente com doença inflamatória intestinal trará associadamente uma história de diarreia crónica, com produtos patológicos, de comportamento surto vs. remissão, num paciente jovem A investigação por colonoscopia será capaz de sugerir esses dois principais diagnósticos, de acordo com achados macro e microscópicos. Mas e nos cenários em que a colonoscopia está normal? Com uma colonoscopia normal, solicitamos uma endoscopia digestiva alta, para afastar uma HDA como origem dos sintomas no diagnóstico diferencial. Caso essa também esteja normal, temos que investigar o intestino delgado, o que pode ser feito de duas formas: 1. Enteroscopia 2. Cápsula endoscópica DOENÇA ORIFICIAL VS. HDB Um dos dilemas da prova e davida é: meu paciente tem um quadro de HDB e tem, ao exame proctológico inicial, uma doença orificial (fissura anal, doença hemorroidária). O que fazer? As doenças orificiais, sobretudo a fissura anal, são fontes frequentes de sangramento às fezes. Porém, os diagnósticos-base possíveis de uma HDB são de gravidade importante, de forma que não podem ser desconsiderados. Assim, nesses casos, presume-se que o sangramento é uma HDB. Atribuir o sangramento à doença orificial deve ser feito por exclusão. Portanto, será mandatória a realização de uma colonoscopia. DOENÇA DIVERTICULAR DOS CÓLONS. A doença diverticular dos cólons refere-se à presença de divertículos, projeções saculares, nas paredes do intestino grosso. Não confunda doença diverticular com diverticulite. A doença diverticular dos cólons refere-se a “ter divertículos” enquanto a diverticulite aguda refere-se a uma complicação inflamatória numa área de divertículos Epidemiologia: Mais frequente em idosos. Habitualmente ocorre no cólon sigmóide. A maioria é assintomática. FATORES DE RISCO O avançar da idade é o principal fator de risco. Além disso, temos: hábitos alimentares ocidentais (dieta pobre em fibras, rica em gorduras e ingesta frequente de carne vermelha), constipação intestinal, obesidade e sedentarismo MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A grande maioria dos pacientes é assintomática. Entretanto, uma fração irá manifestar alguma clínica. Essa clínica pode ser variada, mas merecem destaque duas formas de manifestação clínica: a inflamatória -diverticulite aguda; e a hemorrágica - hemorragia digestiva baixa. PACIENTE ASSINTOMÁTICO O paciente assintomático é tratado com orientações e medidas comportamentais. É importante aumentar a ingesta hídrica e ter uma dieta rica em fibras, como práticas anticonstipantes, assim como adquirir hábitos alimentares saudáveis (sem abuso de carne vermelha, embutidos, defumados, enlatados e ultraprocessados) e vencer o sedentarismo. O combate à obesidade reduz a constipação de. forma associada e também reduz a frequência e a gravidade dos episódios de diverticulite aguda Não é necessário no paciente portador de doença diverticular alterar a estratégia colonoscópica do rastreio de câncer colorretal. Entretanto, entenda: o paciente que não é sabidamente portador de doença diverticular e abre um quadro de doença sintomática (diverticulite ou HDB), de forma mandatória irá receber um estudo colonoscópico em tempo oportuno para afastar o diagnóstico diferencial maligno DIVERTICULITE AGUDA A diverticulite aguda é a complicação inflamatória de uma doença diverticular DIVERTICULITE AGUDA NÃO COMPLICADA QUADRO CLÍNICO Na diverticulite aguda não complicada, o quadro clínico é de uma "apendicite à esquerda". O paciente apresenta-se inicialmente com uma dor hipogástrica inespecífica, que depois migra e se intensifica na fossa ilíaca esquerda, acompanhada de náusea, vômitos, hiporexia, febre, leucocitose e -uma dica alteração do hábito intestinal (mais frequentemente diarreia). Não há sinais francos de peritonite, e, na prova, em geral, esse paciente não está grave. Quando há gravidade (mau estado geral, hipotensão, sepse, disfunções orgânicas etc.) ou o paciente apresenta peritonite ao exame físico, deve-se suspeitar de uma diverticulite complicada. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Em um paciente sabidamente portador de doença diverticular, que se apresenta com história típica o diagnóstico é firmado pela clínica apenas. Caso ele não seja sabidamente portador de doença diverticular, ou o caso não seja típico, é necessário lançar mão de um exame complementar. Nesse caso o exame complementar de eleição é a tomografia computadorizada de abdome. MANEJO A diverticulite aguda não complicada é tratada de forma conservadora, com antimicrobianos. 0 esquema deve cobrir Gram-negativos e anaeróbios. Um bom esquema é a associação de ciprofloxacino com metronidazol, para a qual existe a possibilidade de terapia venosa, enquanto o paciente está internado, seguida de terapia oral, após a alta. Outros esquemas incluem ceftriaxona + metronidazol, piperacilina + tazobactam, dentre outros. Os gram-negativos e anaeróbios eólicos exibem populações altíssimas nos cólons, e são bem cobertos por ciprofloxacino (G-), ceftriaxona (G-), metronidazol (anaeróbios) e piperacilina e tazopabcam (G- / anaeróbios), dentre outros. Pode ser necessário o tratamento cirúrgico da diverticulite aguda não complicada? Sim, em dois cenários 1. Na urgência, caso o paciente seja refratário e não responda ao tratamento antimicrobiano clínico; 2. De forma eletiva, caso o paciente tenha episódios recorrentes de diverticulite aguda A cirurgia é a retossigmoidectomia. Na urgência, ou em pacientes mais graves, ainda que eletivo, evita- se a anastomose e faz-se uma retossigmoidectomia à Hartmann, com sepultamento do reto e colostomia terminal do cólon descendente. Na, cirurgia eletiva de um paciente não grave, promove-se a anastomose colorretal primária. Na vigência do episódio agudo, não se estabelecem outras medidas além do antimicrobiano. Após 3-4 semanas do quadro agudo, com o paciente já fora do estado infeccioso, ele recebe o manejo do paciente assintomático e, a partir daí, programa-se uma colonoscopia para se afastar câncer colorretal DIVERTICULITE AGUDA COMPLICADA A diverticulite aguda pode complicar com perfurações de maior importância e repercussão. Com uma perfuração maior, passa a ter contaminação fecal do território adjacente, causando um abscesso pericólico. Essa contaminação pode gerar um abscesso mais adiante, na pelve. Por fim, na evolução desfavorável pode haver peritonite purulenta difusa, ou, no caso mais grave, extravasamento e peritonite fecal difusa. Essa é a classificação de Hinchey: QUADRO CLÍNICO O paciente aqui começa com um quadro clínico bastante semelhante à diverticulite aguda não complicada: sintomas inicialmente inespecíficos, que irão se focar numa dor em fossa ilíaca esquerda. A diferença está em dois pontos: 1. Estado geral, e 2. Peritonite. Esse paciente, sobretudo nos estados mais avançados de Hinchey, terá queda do estado geral, sintomas sistémicos e até mesmo sepse/choque séptico de foco abdominal. Outro dado marcante é a reação peritoneal. MANEJO O primeiro passo, num caso com essa apresentação com peritonite localizada e/ou comprometimento do estado geral, é firmar o diagnóstico e seu estado, com o exame de eleição de tomografia abdominal. Só não é realizada a tomografia no paciente que, de tão avançada a doença, manifesta-se com um abdome agudo perfurativo com peritonite difusa ao exame físico. Além de fornecer o diagnóstico formal da diverticulite, a tomografia classificará segundo a classificação de Hinchey, e a conduta será tomada justamente a partir daí. A tomografia só não é realizada no paciente que se apresenta com doença tão avançada que cursa comum abdome agudo perfurativo e peritonite difusa ao exame físico. COMPLICAÇÕES TARDIAS DA DIVERTICULITE AGUDA FÍSTULAS As fístulas podem ocorrer, estabelecendo trajetos fistulosos para órgãos vizinhos, o que vai determinar a clínica. O diagnóstico é mais bem estabelecido por imagem: tomografia de abdome e pelve com contraste endoluminal e/ou ressonância magnética da pelve. O tratamento de escolha é o reparo cirúrgico. ESTENOSES As estenoses pós-diverticulite são uma sequela possível, numa diverticulite aguda. Geralmente a estenose cólica é oligossintomática, mas pode haver clínica de suboclusão cólica. O tratamento é também, em geral, conservador (tempo e medidas anticonstipantes)> 0diagnóstico da estenose vem por uma tomografia com contraste endoluminal, e/ou de uma colonoscopia. É importante diferenciar, com colonoscopia, essa estenose cicatricial de uma estenose maligna. Quando não há resposta ao tratamentoconservador, pode-se lançar mão da dilatação colonoscópica (eficácia relativa, risco de perfuração) ou da retossigmoidectomia (melhor tratamento, mas cirúrgico HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA Uma hemorragia digestiva baixa, como você já sabe, é fruto de um sangramento intraluminal distal ao ângulo de Treitz. • quadro típico da HDB é hematoquezia e enterorragia, com repercussões hemodinâmicas (palidez, taquicardia e hipotensão). A conduta inicial é sempre a estabilização do paciente seguida de uma EDA para afastar uma HDA maciça. Na sequência, investiga-se por colonoscopia. • A principal etiologia é a doença diverticular, seguida de angiodisplasia e tumores colorretais. • Na doença diverticular, o tratamento cirúrgico é indicado quando há falha no tratamento conservador/ colonoscópico, ou no paciente que não chega a alcançar estabilidade hemodinâmica para colonoscopia. • Na angiodisplasia, a colonoscopia é diagnóstica e, na maioria das vezes, terapêutica. Os procedimentos endovasculares e a cirurgia reservam-se aos casos de falha da terapia colonoscópica. • Nos tumores colorretais, a conduta será a cirurgia: de urgência nos casos que não cessam conservadoramente, ou eletiva na mesma internação nos casos que cessam conservadoramente o sangramento. • Na HDB crónica, começamos a investigação por colonoscopia, e ficamos atentos a duas principais causas: câncer colorretal e doença inflamatória intestinal. MEGAESÔFAGO. A acalasia é a ausência de relaxamento do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) durante a deglutição. Com a progressão da doença sem tratamento, ocorre uma obstrução à passagem do bolo alimentar, aumentando a pressão no interior do corpo do esôfago e levando a retenção do material não digerido, o que pode causar um remodelamento do esôfago. Esse remodelamento é observado clinicamente como uma dilatação esofágica, que pode se apresentar em graus variados e quando severa é denominada megaesôfago O megaesôfago é causado pela obstrução à passagem do bolo alimentar faz com que o esófago retenha material não digerido, podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu corpo. O Brasil, especialmente os estados BA, MG, SP e GO, é endémico em chagas. Estima-se uma população de quase oito milhões de infectados, com uma média de 17.000 mortes anuais pela doença e 40% desses infectados apresentam megaesôfago. O megaesôfago é uma das formas clínicas da doença de Chagas que, embora de natureza benigna, tem caráter crônico e progressivo, o que determina repercussões relevantes sobre o estado nutricional e psíquico dos pacientes. Ele pode ser diagnosticado em qualquer idade, mas é mais frequente entre 20 e 40 anos e predomina no sexo masculino. CLÍNICA A progressão da doença ocorre de maneira gradual. O principal sintoma da acalasia é a disfagia de condução baixa, que ocorre tanto para sólidos quanto para líquidos. A disfagia costuma surgir insidiosamente, desenvolvendo-se ao longo de meses ou anos. Os pacientes com acalasia tipicamente relatam se alimentar lentamente e ingerir grandes quantidades de líquidos para auxiliar a deglutição. Isso é explicado pois o líquido forma uma coluna de água que exerce pressão contra o EEI que não apresenta o relaxamento adequado. Quando a pressão exercida pela coluna de água supera o tônus do EEI, o EEI finalmente se abre permitindo a passagem do conteúdo alimentar para o estômago. A obstrução à passagem do bolo alimentar faz com que o esôfago retenha material não digerido, podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu corpo - o paciente geralmente desenvolve, em associação às queixas de disfagia, sintomas de regurgitação e broncoaspiração desse material. A maioria dos pacientes com acalasia em estágios avançados desenvolve halitose, pelo acúmulo de alimentos no esôfago. Com o tempo, a perda ponderal passa a chamar atenção e muitas vezes é o que leva o paciente a procurar cuidados médicos. A regurgitação pode causar irritação da faringe, o que dispara o reflexo da tosse, dessa maneira os pacientes com acalasia também podem se apresentar com tosse seca, crônica, não associada a febre. Esses pacientes também podem apresentar rouquidão em virtude da irritação que pode causar edema nas cordas vocais, resultando assim na disfonia. A dor não é um sintoma típico, mas pode ocorrer em estágios iniciais da doença quando a contração esofagiana tenta vencer a força do EEI. O paciente pode relatar uma sensação de plenitude ou até mesmo queimor retroesternal e o quadro pode, muitas vezes, ser confundido com a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), o que frequentemente atrasa o diagnóstico. Com a progressão da doença e a degeneração crescente da motilidade esofágica a dor retroesternal tende a desaparecer. DIAGNÓSTICO Radiografia torácica: pode revelar um mediastino mais amplo, nível de ar-liquido e ausência de bolhas de ar no estômago, no entanto não é um exame sensível ou específico para a detecção do megaesôfago. Estudo de deglutição de bário: pode também ser denominado esofagografia, esofagograma contrastado e radiografia contrastada de esôfago-estômago-duodeno (REED). Este exame demonstra um esôfago dilatado, nível de ar- liquido, um retardo do esvaziamento esofágico e uma deformidade regular e afunilada no EEI, tipicamente descrita como esôfago em “bico de pássaro” ou “chama de vela”. A confirmação é obtida por manometria esofágica, que demonstra o característico relaxamento incompleto do EEI com estudo de deglutição mostrando aperistaltismo completo no corpo esofágico. A pressão do EEI pode, ou não, estar elevada. A esofagografia também permite classificar a doença em diversos estágios, sendo a principal delas a classificação de Rezende e Mascarenhas, criada para estadiamento da esofagopatia chagásica. Essas classificações podem auxiliar a guiar a terapêutica: Esofagomanometria ou manometria esofágica: é o principal exame diagnóstico, uma vez que permite a avaliação do tônus do EEI e avaliação do seu relaxamento durante a deglutição. As características na manometria que indicam o diagnóstico de acalasia são, principalmente a ausência de relaxamento do EEI durante a deglutição, aperistalse ou hipocontratilidade dos dois terços distais do esôfago, hipertonia do EEI, pressão intra-esofagiana maior que a pressão intra-gástrica e formas de ondas de baixa amplitude indicando ausência de tônus muscular. A presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalasia, uma vez que o EEI apresenta elevação do seu tônus, ele não permitiria refluxo do conteúdo gástrico. Pressões no EEI > 35mmHg podem ser encontradas em pacientes com acalasia. Endoscopia digestiva alta (EDA): O Guidelines do American College of Gastroenterology (ACG) sugerem o uso da EDA para coleta de material para biópsia e afastar a possibilidade de uma neoplasia na região inferior do esôfago ou na cárdia, que poderiam simular um quadro de acalasia. Em caso de quadro clínico que sugira possibilidade de câncer (perda de peso acentuada ou em período menor que 6 meses), ou na presença alterações endoscópicas, o ACG indica a realização de coleta de material para realização de biópsia TRATAMENTO Não há tratamento que normalize a peristalse esofágica, portanto, o tratamento visa tratar o sintoma mais prevalente e que mais afeta a qualidade de vida do paciente: a disfagia. O tratamento conservador pode ser feito através de nitratos, bloqueadores de canal de cálcio, teofilina, agonistas beta-adrenérgicos e anticolinérgicos. O dinitrato de isossorbida (via sublingual, antes das refeições) e a nifedipina (via sublingual) provocam alívio em cerca de 50 a 80% dos pacientes, porém causam importantes efeitos colaterais, como cefaleia e hipotensão. O tratamento farmacológico não traz muitos benefícios à longo prazo, sendo assim, mais utilizado em pacientes inoperáveis ou quando não háresposta à toxina botulínica. Outra possibilidade terapêutica é a injeção de toxina botulínica na musculatura do EEI, no entanto o efeito de relaxamento é apenas transitório, durando de 3 a 6 meses e demandando a repetição periódica do procedimento. É indicada para pacientes não candidatos ao tratamento cirúrgico ou à dilatação pneumática. As formas intervencionistas de tratamento para pacientes sintomáticos incluem a dilatação pneumática e a cirurgia de miotomia do EEI. Dilatação endoscópica por Balão ou dilatação pneumática: o procedimento consiste em dilatação forçada da cárdia por sondas dilatadoras endoscópicas usando um balão montado em haste flexível que é insuflado até pelo menos 30mm, provocando a rotura das fibras musculares do EEI. Esse método obtém resultados satisfatórios entre 65% e 80% dos casos de doença em estágios iniciais ou moderados. As dilatações são realizadas de forma seriada, sendo repetidas periodicamente e apresentam baixa morbimortalidade, apresentando também boa tolerância por parte do paciente. Apesar disso, o procedimento de dilatação apresenta como desvantagens em relação ao tratamento cirúrgico: eficácia semelhante ou inferior ao tratamento cirúrgico (ensaios clínicos randomizados apresentaram resultados divergentes), maior risco de DRGE a longo prazo, maior risco de perfuração esofágica e de reabordagem. TRATAMENTO CIRÚRGICO Casos não avançados – Cirurgia de Heller-Pinotti: Esofagocardiomiotomia à Heller, que consiste na secção das fibras longitudinais e circulares da camada muscular própria da transição esôfago-gástrica, principalmente na parede anterior. A Esofagocardiomiotomia pode ou não ser associada à fundoplicatura de Pinotti, uma técnica na qual se usa o fundo gástrico para fazer um válvula anti-refluxo, através de uma sutura em três planos. A cirurgia obtém até 90% de sucesso nos sintomas, e apresenta como um dos seus principais efeitos colaterais o desenvolvimento da DRGE, que chega a acometer 47% dos casos da esofagocardiomiotomia à Heller sem a fundoplicatura. Com a associação da Fundoplicatura de Pinotti, no entanto o risco de desenvolvimento de refluxo cai para cerca de 10%. No grupo I de Rezende, o tratamento cirúrgico parece ter eficácia semelhante ao tratamento endoscópico, no entanto, o tratamento cirúrgico é indicado principalmente para pacientes com megaesôfago grupo II ou grupo III de Rezende. A técnica original consistia em toracotomia à esquerda, porém hoje a cirurgia é normalmente realizada por via laparoscópica, reduzindo o trauma cirúrgico, tempo de internamento e dor no pós-operatório. Casos avançados da doença (grupo IV de Rezende) ou associados a lesões pré-malignas: podem ser tratados com esofagectomia subtotal, trans-hiatal, com transposição de tubo gástrico pelo mediastino posterior e anastomose esôfago- -gástrica cervical. Trata-se de uma cirurgia com alta morbimortalidade, mesmo após do desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas, apresentando mortalidade de cerca de 10%. Os resultados da esofagectomia não são tão bons quanto os da esofagocardiomiotomia à Heller-Pinotti. Dessa forma, pelos resultados insatisfatórios associados à esofagectomia, e a alta morbimortalidade dessa cirurgia, ela é raramente indicada para pacientes que não tenham câncer de esôfago associado ao quadro de megaesôfago. Há novas perspectivas de tratamento com o advento da miotomia da cárdia por via endoscópica (POEM – Peroral Endoscopy Myotomy). Apesar de um tratamento menos invasivo, ele também está associado a problemas como maior risco de perfuração do esôfago e DRGE pela impossibilidade de realizar a fundoplicatura da cárdia para prevenir o refluxo. Estudos ainda são necessários para definirem quais os pacientes que se beneficiam mais dessa nova estratégia de tratamento ATENÇÃO! Para a confecção desse material foram usados livros, artigos científicos, conteúdos de aulas e palestras da faculdade UNIME de medicina. Além de conteúdos de aulas e material didático de outras plataformas de ensino. Foi utilizado também materiais confeccionados por outros colegas, portanto, não é um conteúdo autoral. Ou seja, o conteúdo contido no resumo não é de criação minha, eu apenas compilei o material da melhor forma para estudo.
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