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Manuelli Antunes TUTORIA 3-MÓDULO 3-INTERMEDIÁRIA SEPSE E CHOQUE SÉPTICO Objetivo 01: Conceituar a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, sepse e choque séptico. (Manual Med intensiva/ Medicina intensiva USP/ Med emergência USP/ AMIB/ Protocolos) DEFINIÇÃO SIRS: Resposta inflamatória sistêmica descontrolada, não regulada e autossustentável responsável pela lesão celular e disfunções orgânicas atribuídas à sepse. Sepse: Disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária à resposta do hospedeiro a uma infecção. Ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção excede os limites do local da infecção, levando a uma resposta inflamatória sistêmica e generalizada, que acarreta lesão celular e disfunção orgânica. Diagnóstico é feito quando há uma infecção presumida ou confirmada e uma disfunção orgânica: aumento em pelo menos 2 pontos no escore SOFA (Sequential Organ Failure Assessment). Esse parâmetro está associado com uma mortalidade superior a 10%. -qSOFA: pressão arterial sistólica ≤ 100 mmHg, alteração no nível de consciência (qualquer pontuação na escala de coma de Glasgow menor que 15) e frequência respiratória ≥ 22 ipm. Definiria esse paciente de alto risco, que deverá receber monitorização estrita e eventualmente transferência para UTI. Alto risco de óbito e presença superior a 3 dias na UTI. Não é necessário esperar pela presença de dois critérios qSOFA para dar início ao tratamento, pois trata-se apenas de um alerta a respeito da gravidade da doença que o paciente já apresenta. Sepse grave: classificação extinta (as disfunções orgânicas foram incorporadas no próprio conceito de sepse). A hiperlactatemia também deixou de ser critério de disfunção orgânica. Choque séptico: anormalidade circulatória e celular/metabólica secundária a sepse, grave o suficiente para aumentar significativamente a mortalidade (> 40%). Disfunção hemodinâmica e metabólica associada a sepse. Define-se como hipotensão persistente que requer o uso de vasopressores para manter PAM ≥ 65 mmHg e lactato ≥ 2 mmol/L (18 mg/dL) após adequada ressuscitação volêmica. Limitações às novas definições: Ausência de dados de países em desenvolvimento/ O uso de escore SOFA maior ou Manuelli Antunes igual a 2 para identificar sepse pode gerar vieses em termos de seleção de população [lactato não considerado]/ A caracterização de sepse como sendo diagnosticada apenas quando associada à disfunção orgânica (a antiga sepse grave) selecionará claramente um perfil mais grave de pacientes. Objetivo 02: Descrever a sepse quanto à epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico e evolução clínica. (Manual Med intensiva/ Medicina intensiva USP/ Med emergência USP/ AMIB/ Protocolos) EPIDEMIOLOGIA A incidência de sepse nas unidades de terapia intensiva (UTIs) do Brasil é de 36 por 1.000 pacientes/dia com mortalidade de cerca de 55% dos acometidos. A sepse é uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia no país, superando infarto agudo do miocárdio e câncer. A mortalidade brasileira por causa do choque séptico é uma das maiores do mundo (acima de 50%), ficando à frente das taxas de mortalidade de países semelhantes como a Índia e a Argentina. Pneumonia, na maior parte dos levantamentos epidemiológicos, é o foco responsável por cerca de metade dos casos. São ainda focos frequentes a infecção relacionada a cateteres, os abcessos de partes moles, as meningites, as endocardites, entre outros. O foco infeccioso tem íntima relação com a gravidade do processo. Não há dados recentes disponíveis sobre a nosologia mais prevalente no Brasil. Em um estudo brasileiro, contando com 75 unidades de terapia intensiva (UTI), os bacilos Gram-negativos foram responsáveis pela maior parte dos casos em que o agente foi identificado, seguidos dos cocos Gram-positivos, especificamente Staphylococcus aureus. Os fungos contribuíram com 5% dos casos. As razões para a alta letalidade são várias e incluem o baixo reconhecimento entre leigos e profissionais de saúde, o atraso no diagnóstico e a inadequação de tratamento, tanto em termos de recursos como de processos. Fatores de risco para pior evolução incluem extremos de idade, doenças imunossupressoras, câncer, medicamentos imunossupressores, diabetes, abuso de álcool, cateteres venosos ou outras condições que envolvam integridade cutânea. Possíveis razões para aumento da incidência de sepse: Maior número de pacientes convivendo com imunossupressão/ Desenvolvimento de microrganismos multirresistentes/ Aumento da expectativa de vida da população. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A causa mais comum de sepse é pneumonia. Além do pulmão (que representa 64% dos casos de sepse), outros focos são abdome (20%), corrente sanguínea (15%) e trato geniturinário (14%). A sepse pode ter origem na comunidade, ser nosocomial ou associada a cuidados de saúde. Cerca de 80% dos casos de sepse são da comunidade. O estudo SOAP relatou uma prevalência quase igual de infecções bacterianas Gram-positivas e Gram-negativas entre pacientes com sepse, com Staphylococcus aureus (Gram-positivo) e espécies de Pseudomonas e Escherichia coli (Gram-negativas) sendo os organismos mais frequentemente identificados. A infecção acontece quando um microrganismo patogênico invade um local estéril do corpo do hospedeiro. A resposta do hospedeiro à infecção é iniciada quando as células imunes inatas, particularmente os macrófagos, reconhecem e se ligam aos componentes microbianos, iniciando uma série de etapas que resultam na fagocitose e morte do invasor e fagocitose de detritos do tecido lesionado. Esse processo produz e libera uma gama de citocinas pró- inflamatórias pelos macrófagos, levando ao recrutamento de células inflamatórias adicionais. Essa resposta é altamente Manuelli Antunes regulada por um equilíbrio de mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. A resposta local do hospedeiro é geralmente suficiente para resolver o processo infeccioso. O resultado final é a reparação e a cicatrização dos tecidos. A sepse ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção excede os limites do ambiente local, levando a uma resposta generalizada. A causa da generalização é provavelmente multifatorial, envolve o agente infeccioso e o hospedeiroO efeito direto dos microrganismos invasores ou de seus produtos tóxicos / Liberação de grande quantidade de mediadores pró-inflamatórios [TNF-alfa e IL-1] / Ativação do sistema complemento / Suscetibilidade genética individual. Esse mecanismo induz a liberação de uma série de citocinas (IL1B, IL6, IL8, TNF, IFN), assim como a ativação do sistema do complemento e da coagulação. A partir desse momento, inicia-se um processo de migração de leucócitos ativados para o foco infeccioso e o aumento na produção de células imaturas por parte da medula óssea. O contato das células endoteliais com as citocinas inflamatórias e com a endotoxina leva a um aumento na produção local de óxido nítrico (NO). O NO é o principal responsável pelas alterações vasculares com hiporreatividade e aumento da permeabilidade vascular presentes nesses pacientesDesequilíbrio na oferta de oxigênio. Resposta inflamatória desreguladaLesão celular é o mecanismo precursor da disfunção orgânica na sepse Isquemia tecidual ou por lesão citopática. Outros mecanismos geradores de disfunção orgânica são as alterações na microcirculação, apoptose celular e lesão mitocondrial. Mediadores inflamatórios CIVD caracterizada por microtromboses e hemorragias, complicadores do processo inflamatório. ACHADOS CLÍNICOS O paciente séptico pode se apresentar no departamento de emergência (DE) com sinais e sintomas relacionados à infecção, à resposta inflamatória sistêmica ou à disfunção ou falênciaorgânica (qSOFA). Hipotensão, taquicardia, diminuição do tempo de enchimento capilar, livedo ou cianose podem indicar choque. Sinais adicionais incluem estado mental alterado (rebaixamento ou agitação), oligúria e íleo. Esses achados podem ser modificados por doenças ou medicamentos preexistentes; por exemplo, pacientes idosos e usuários de betabloqueadores podem não exibir taquicardia. Por outro lado, pacientes mais jovens frequentemente desenvolvem taquicardia grave e prolongada e não se tornam hipotensos até que ocorra descompensação grave, muitas vezes repentina. Pacientes com hipertensão crônica podem desenvolver hipoperfusão crítica com uma pressão arterial mais elevada do que pacientes previamente saudáveis. A disfunção cardiovascular inicial caracteriza-se por hipovolemia, secundária à redução da ingestão hídrica e ao aumento da permeabilidade capilar, com perda de fluidos para o terceiro espaço. Sendo assim, a noção prévia de que a sepse (e, principalmente, o choque séptico) se caracteriza por pressões de enchimento normais e débito cardíaco elevado em todos os seus momentos é parcialmente verdadeira. Inicialmente, como consequência da hipovolemia, as pressões de enchimento e o débito cardíaco estão diminuídos. Se a hipovolemia é corrigida por uma reposição agressiva de líquidos intravenosos, haverá uma baixa resistência vascular sistêmica, com débito cardíaco normal ou elevado e uma alteração da extração de oxigênio pelos tecidos. A repercussão clínica dessas alterações inclui: taquicardia, alargamento da pressão de pulso e extremidades quentes, caracterizando um estado hiperdinâmico e generalizado, o qual ocorre em mais de 90% dos pacientes. Hipotensão arterial e choque podem se desenvolver na evolução, por conta da hipovolemia (perda de líquidos pela febre, sudorese e saída de líquidos para o terceiro espaço) e da vasodilatação sistêmica progressiva. Nos exames laboratoriais, observa-se piora dos parâmetros perfusionais com hiperlactatemia, aumento da diferença arteriovenosa de CO2, acidose metabólica (redução do excesso de base – BE) e redução da saturação venosa central ou mista. Ademais, alguns dos pacientes sépticos apresentam uma disfunção cardiovascular transitória, a miocardiopatia da sepse, caracterizada por alargamento das câmaras cardíacas e redução da fração de ejeção; essas alterações tendem a ser revertidas em até duas semanas. Manuelli Antunes A disfunção renal caracteriza-se por dano isquêmico ao túbulo, seja por lesão direta ou por baixa pressão de perfusão local. Clinicamente, é identificada por oligúria e aumento de ureia e creatinina. No que concerne às modernas terapias de substituição renal, o surgimento de lesão renal aguda no contexto da sepse associa-se com elevada morbimortalidade. A lesão pulmonar aguda ocorre secundariamente à lesão do endotélio vascular pulmonar, produzindo um progressivo edema intersticial, o qual acarreta um desequilíbrio entre a ventilação e a perfusão pulmonar, com hipoxemia refratária, diminuição da complacência pulmonar e necessidade de ventilação mecânica para a adequada oxigenação tecidual. A lesão pulmonar aguda é definida pela presença de infiltrados pulmonares nos quatro campos da radiografia de tórax, redução da complacência pulmonar e relação PaO2/FiO2 entre 200 e 300, quando há ausência de sinais de disfunção cardíaca associada. Em uma fase mais avançada, há maior infiltrado pulmonar, principalmente nas áreas dependentes dos pulmões, com hipoxemia grave e relação PaO2 abaixo de 200, caracterizando a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). A disfunção neurológica é também denominada encefalopatia associada à sepse. As principais manifestações clínicas dessa condição são déficit de atenção e distúrbio cognitivo; contudo, vale salientar que tal diagnóstico é considerado como de exclusão. Destarte, devem-se afastar diversas outras causas de coma ou delirium, como doenças do sistema nervoso central, drogas (lícitas ou não) e distúrbios eletrolíticos. Estudos recentes têm demonstrado que a presença de delirium em pacientes críticos em geral (não apenas nos sépticos) relaciona-se a uma pior evolução. Coagulopatia de consumo ou coagulação intravascular disseminada (CIVD), bem como redução da atividade dos sistemas anticoagulantes e do sistema fibrinolítico. Como resultado, a CIVD pode evidenciar-se clinicamente por meio de um espectro de alterações que vão desde fenômenos microtrombóticos até quadros de sangramento, principalmente em locais de punção e trato gastrointestinal. Laboratorialmente, é expressa por plaquetopenia, aumento do tempo de protrombina e de tromboplastina parcial ativada, redução do fibrinogênio e aumento dos produtos de degradação da fibrina. Objetivo 03: Caracterizar a clínica e variáveis clínicas da sepse e choque séptico. (Manual Med intensiva/ Medicina intensiva USP/ Med emergência USP/ AMIB/ Protocolos) EXAMES COMPLEMENTARES Os exames laboratoriais, usualmente inespecíficos, e radiológicos são importantes para determinar o foco infeccioso e para diagnóstico da síndrome de sepse a partir da comprovação de disfunção orgânica. Dois pares de hemoculturas (meios de cultura para anaeróbio e aeróbio) devem ser solicitados para todos os pacientes com suspeita de sepse, preferencialmente antes da administração de antibióticos (desde que não haja atraso nessa administração). A ultrassonografia point-of-care (USPOC) tem ganhado importância na sepse, pois pode indicar o diagnóstico etiológico (pneumonia, pielonefrite, apendicite etc.), presença de complicações (disfunção miocárdica) e orientar o tratamento (reposição volêmica). DIAGNÓSTICO Manuelli Antunes O diagnóstico de sepse é feito quando há aumento de 2 ou mais pontos no escore SOFA. TRIAGEM DE SEPSE: -SIRS -qSOFA -NEWS Objetivo 04: Discutir as medidas terapêuticas gerais e metas para estratégia de otimização da volemia no paciente com sepse de acordo com o último protocolo “Surving Sepsis”. (Manual Med intensiva/ Medicina intensiva USP/ Med emergência USP/ AMIB/ Protocolos) OBJETIVOS DO CUIDADO Recomendamos que a antibioticoterapia seja iniciada precocemente no paciente com sepse, preferencialmente em até 1 h da apresentação do paciente no DE. TRATAMENTO DA INFECÇÃO Deve-se sempre colher 2 ou mais hemoculturas e outras culturas guiadas pelo foco (p. ex., secreção traqueal, lavado broncoalveolar e urocultura). Deve-se iniciar antibioticoterapia empírica, guiada pelo foco e pela flora local, por via endovenosa, ainda na 1ª hora de apresentação do paciente. Manuelli Antunes Sugere-se que a antibioticoterapia seja direcionada para o foco suspeito de infecção. Há recomendação de que a escolha inicial seja por droga ou associação de amplo espectro. Considerando os agentes mais comumente causadores de sepse, são: Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Streptococcus pneumoniae. Ressaltamos a diferença entre antibióticos de amplo espectro (como a ceftriaxona) e antibióticos indicados para bactérias com perfis específicos de resistência (p. ex., meropenem ou polimixina). O espectro de antibióticos deve sempre ser reduzido quando os patógenos tiverem sido isolados e as sensibilidades estabelecidas. A administração rotineira de terapia antifúngica empírica não é justificada em pacientes não neutropênicos. Os principais fatores de risco para infecção fúngica são cirurgia recente, nutrição parenteral, tratamento antimicrobiano ou hospitalização prolongados, quimioterapia, transplante, insuficiência renal ou hepática crônica, diabetes, dispositivos vasculares, choque séptico ou colonização prévia por Candida spp. Mesmo nesse perfil de pacientes, o uso de antifúngicos empíricos não direcionados por culturas não parece reduzir mortalidade.Em pacientes neutropênicos ou com forte suspeita de Candida ou de Aspergillus, equinocandinas (para Candida) ou voriconazol (para Aspergillus) são medicações de escolha. Deve-se realizar precocemente a drenagem de abscessos, o debridamento de tecidos desvitalizados e a retirada de dispositivos infectados (sondas e cateteres) que possam ser a causa do quadro clínico. SUPORTE HEMODINÂMICO Durante as primeiras 6 h, os pacientes com sepse grave e choque séptico devem ser ressuscitados tendo como alvo PAM > 65 mmHg. É recomendada a reposição volêmica inicial com 30 mL/kg de peso de solução cristaloide nas primeiras horas, com preferência para o ringer lactato. A ressuscitação volêmica deve ser administrada em bolus, em infusão rápida. Idealmente, a responsividade do paciente à terapia fluida deveria ser avaliada antes de cada infusão. Assumimos como fluidorrespondedor o paciente que apresenta aumento de 15% do débito cardíaco (medido ao ecocardiograma, p. ex.) com a manobra de elevação passiva das pernas. Na impossibilidade de avaliação de fluidorresponsividade, sugerimos que a resposta clínico-hemodinâmica e a presença ou ausência de congestão pulmonar sejam avaliadas antes e após cada bolus. Quando lactato maior do que 2 mmol/L (> 18 mg/dL) na admissão do paciente, sugerimos uma segunda dosagem 2-4 h após o início da ressuscitação volêmica, como avaliador de medidas já implantadas e indicador prognóstico. DROGAS VASOATIVAS Manuelli Antunes O alvo de pressão arterial média (PAM) em pacientes em choque séptico é de 65 mmHg; se necessário, drogas vasoativas estão indicadas. Pacientes hipertensos crônicos possivelmente se beneficiam de manter PAM entre 80-85 mmHg. A instituição de noradrenalina precoce, assim que diagnosticada a síndrome de choque, ainda durante a ressuscitação volêmica, demonstrou controle mais rápido do choque. SUPORTE ADICIONAL O uso de hidrocortisona 200 a 300 mg/dia em 3 a 4 doses diárias, por 7 dias, é indicado apenas em pacientes com choque séptico, com pouca resposta à expansão volêmica e ao uso de vasopressores. USO CONTROVERSO. Transfusões de hemácias devem ser reservadas para pacientes com nível de hemoglobina ≤ 7 g/dL. As exceções incluem choque hemorrágico concomitante ou isquemia miocárdica ativa, que têm indicações específicas de hemotransfusão. Caso seja necessário realizar intubação traqueal em paciente em choque séptico, evitar drogas cardiodepressoras ou hipotensoras como o midazolam, o fentanil e o propofol para indução em sequência rápida. Quetamina e etomidato são boas opções. Em pacientes em ventilação mecânica, considera-se ventilação protetora. Os pacientes com LPA devem ser ventilados com VC ≤ 6 mL/kg, limitando a Pplatô em 30 cmH2O. Em pacientes com injúria renal induzida pela sepse, o início da terapia de substituição renal (TRS) deve ser discutido com o nefrologista. Todos os pacientes devem receber aporte nutricional, assim que possível, preferencialmente por via enteral. Antes, devem receber aporte calórico com glicose EV para evitar cetose (400 kcal/dia). Deve-se tentar manter glicemias < 180 mg/dL, levando-se em conta o risco de ocorrência de hipoglicemia de acordo com a estrutura de cada unidade. Se necessário, dar insulina de ação rápida. Profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes com mobilidade reduzida com enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou heparina 5.000 U SC 3x/dia. Não recomendamos a prescrição de profilaxia de úlcera gástrica somente pela sepse. Em pacientes que evoluem com síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e refratariedade ao tratamento, deve ser feita a reavaliação de hipótese diagnóstica e plano terapêutico, além de se discutir terminalidade e cuidados paliativos. SEGUIMENTO Pacientes com choque séptico ou em insuficiência respiratória com necessidade de vasopressores ou de ventilação mecânica necessitam de internação em UTI. Já pacientes sem choque e que respondem rapidamente à antibioticoterapia podem ser transferidos com segurança para leito de internação. Pacientes limítrofes devem ter avaliação cuidadosa e o limiar para escolha de UTI deve ser baixo. PACOTES DE TRATAMENTO PACOTE 1 HORA: -Exames laboratoriais: gasometria e lactato arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma. -Coleta de lactato arterial o mais rapidamente possível mas dentro da primeira hora, que deve ser imediatamente encaminhado ao laboratório, afim de se evitar resultado falsos positivos. O objetivo é ter resultado deste exame em 30 minutos. Manuelli Antunes -Coleta de duas hemoculturas de sítios distintos em até uma hora, conforme rotina específica do hospital, e culturas de todos os outros sítios pertinentes (aspirado traqueal, líquor, urocultura) antes da administração do antimicrobiano. Caso não seja possível a coleta destes exames antes da primeira dose, a administração de antimicrobianos não deverá ser postergada; -Prescrição e administração de antimicrobianos de amplo espectro para a situação clínica, por via endovenosa, visando o foco suspeito, dentro da primeira hora da identificação da sepse. A utilização de antimicrobianos deve seguir a orientação do serviço de controle de infecção hospitalar da instituição. -Princípios de farmacocinética e farmacodinâmica devem ser seguidos por todas as instituições. Todas as recomendações visando otimização da terapia antimicrobiana devem ser feitas com auxílio do farmacêutico e da enfermagem e estarem amplamente disponíveis para todos os profissionais. As principais recomendações estão listadas abaixo. *Utilizar dose máxima para o foco suspeito ou confirmado, com dose de ataque nos casos pertinentes, sem ajustes para a função renal ou hepática. As doses devem ser plenas visando otimização da redução da carga bacteriana ou fúngica. Embora seja discutível, pode-se manter doses sem ajuste para função renal pelas primeiras 24 horas. Isso é de suma importância para os antimicrobianos hidrofílicos dado ao aumento do volume de distribuição dos mesmos em decorrência da resuscitação volêmica. -Atentar para a dilução adequada de forma a evitar incompatibilidade e concentração excessiva. Utilizar a infusão estendida de antibióticos betalactâmicos como piperacilina-tazobactam e meropenem, com exceção da primeira dose, que deve ser administrada, em bolus, o mais rápido possível. -Utilizar terapia combinada, com duas ou três drogas, quando existir suspeita de infecção por agentes multidrogas resistentes. Considerar o uso de diferentes classes de antibióticos, para um mesmo agente, em pacientes com choque séptico. -Restringir o espectro antimicrobiano quando o patógeno for identificado e a sensibilidade conhecida; terapia combinada pode ser de-escalonada conforme evidência de resposta clínica ou resolução da infecção. -Para pacientes hipotensos (PAS< 90mmHg, PAM < 65mmHg ou, eventualmente, redução da PAS em 40mmHg da pressão habitual) ou com sinais de hipoperfusão, entre eles niveis de lactato acima de duas vezes o valor de referência institucional (hiperlactatemia inicial), deve ser iniciada ressuscitação volêmica com infusão imediata de 30 mL/kg de cristalóides dentro da 1ª hora do diagnóstico da detecçaõ dos sinais de hipoperfusão. Embora classicamente não sejam considerados com parte do pacote de resuscitação, sinais de hipoperfusão podem incluir oligúria, presença de livedo, tempo de enchimento capilar lentificado e alteração do nível de consciência. Coloides proteicos, albumina ou soro albuminado, podem fazer parte dessa reposição inicial. O uso de amidos está contraindicado, pois está associado a aumento da incidência de disfunção renal. -Uso de vasopressores para pacientes que permaneçam com pressão arterial média (PAM) abaixo de 65 (após a infusão de volume inicial), sendo a noradrenalina a droga de primeira escolha. Não se deve tolerar pressõesabaixo de 65 mmHg por períodos superiores a 30-40 minutos. Por isso, o vasopressor deve ser iniciado dentro da primeira hora nos pacientes em que ele está indicado. -Nos pacientes com lactato alterado acima de duas vezes o valor de referência, a meta terapêutica é o clareamento do mesmo. Assim, como um complemento ao pacote de 1 hora, dentro de 2 a 4 horas após o início da ressuscitação volêmica, novas dosagens devem ser solicitadas. Nem sempre se obtem a normalização do lactato, haja vista existirem outras causas para a hiperlactatemia que não a hipoperfusão tecidual. REAVALIAÇÃO EM 6 HORAS: -A reavaliação das 6 horas deve ser feita em pacientes que se apresentem com choque séptico, hiperlactatemia ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual. -Reavaliação da continuidade da ressuscitação volêmica, por meio de marcadores do estado volêmico ou de parâmetros perfusionais. As seguintes formas de reavaliação poderão ser consideradas: • Mensuração de pressão venosa central • Variação de pressão de pulso • Variação de distensibilidade de veia cava • Elevação passiva de membros inferiores • Qualquer outra forma de avaliação de responsividade a fluídos (melhora da pressão arterial após infusão de fluidos, por exemplo) • Mensuração de saturação venosa central • Tempo de enchimento capilar • Presença de livedo • Sinais indiretos (por exemplo, melhora do nível de consciência ou presença de diurese) -Pacientes com sinais de hipoperfusão e com níveis de hemoglobina abaixo de 7 mg/dL devem receber transfusão o mais rapidamente possível. -Idealmente, os pacientes com choque séptico devem ser monitorados com pressão arterial invasiva, enquanto estiverem em uso de vasopressor. A aferição por manguito não é fidedigna nessa situação, mas pode ser utilizada nos locais onde a monitorização invasiva não está disponível. Manuelli Antunes -Pacientes sépticos podem se apresentar hipertensos, principalmente se já portadores de hipertensão arterial sistêmica. Nesses casos, a redução da pós-carga pode ser necessária para o restabelecimento da adequada oferta de oxigênio. Não se deve usar medicações de efeito prolongado, pois esses pacientes podem rapidamente evoluir com hipotensão. Assim, vasodilatadores endovenosos, como nitroglicerina ou nitroprussiatos são as drogas de escolha. OUTRAS RECOMENDAÇÕES: -Corticoide/ VM/ Bicarbonato/ Controle glicêmico/ TRS -Seguimento do paciente -Prevenção de infecções relacionadas ao sistema de saúde
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