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Problema 2 - Módulo Saúde da Mulher AMENORREIA SECUNDÁRIA: - Amenorreia patológica: 3 a 4% da população em idade reprodutiva. - Mulheres que já tenham menstruado, mas não menstruam há três ciclos ou seis meses. - Iniciar investigação precoce em: Síndrome de Turner, virilização evidente ou histórico de curetagem uterina. Distúrbios anatômicos: 1) Estenose de colo uterino: pode ocorrer após procedimento de dilatação e curetagem, excisão eletrocirúrgica por alça diatérmica, infecção, neoplasia. Geralmente envolve o orifício interno e pode causar: amenorreia, sangramento anormal, dismenorreia e infertilidade. Mulheres pós-menopáusicas normalmente não têm sintomas, até que ocorra o acúmulo de líquido, exsudado ou sangue. A impossibilidade de introduzir o dilatador é diagnóstica. Se a obstrução for total, o útero é palpado de forma aumentada e de consistência macia. Manejo: dilatação cervical e exclusão de neoplasia se indicação. 2) Sinéquias intrauterinas (síndrome de Asherman): aderências intrauterinas sintomáticas. Ocorre destruição da camada basal do endométrio, que não regenera a camada funcional após a menstruação, impedindo o espessamento endometrial em resposta aos esteroides ovarianos. Amenorreia em caso de fibrose excessiva, casos menos graves podem causar hipomenorreia ou perdas recorrentes de gravidez por placentação anormal. Curetagens, metroplastia, miomectomia, parto cesariano e infecções relacionadas ao uso de dispositivos intrauterinos também podem causar dano. Histerossalpingografia é o exame indicado, ultrassonografia transvaginal pode ajudar a esclarecer casos difíceis. Tratamento cirúrgico: lise histeroscópica de aderências. Laparoscopia pode ser necessária em conjunto para direcionar a excisão nos casos mais graves, visando reduzir o risco de perfuração uterina e lesão intraperitoneal. Taxa de gravidez de 74% após procedimento, com 80% nascidos vivos, no caso de doenças graves a taxa de gravidez diminui para 20-45% e 30% nascidos vivos. OBS: na histerossalpingografia normal, o corante radiopaco preenche toda a cavidade uterina e transborda de ambas as tubas uterinas para a cavidade peritoneal. Na síndrome de Asherman, preenche uma cavidade pequena e de formato irregular (“comida por traças”). Na ultrassonografia transvaginal com infusão salina é possível observar sinéquia intrauterina ecogênica. Distúrbios endócrinos: 1) Hipogonadismo hipergonadotrófico (insuficiência ovariana prematura): função ovariana reduzida ou ausente e gonadotrofinas (LH e FSH) aumentadas devido ausência do feedback negativo. Disfunção a nível de ovário. Diagnóstico: dosagens séricas de FSH acima de 40 mUI/mL, obtidas com intervalo de pelo menos 1 mês. Pode ser adquirido por meio de infecções (ooforite por caxumba), doenças autoimunes (40% dos casos, pode ser por insuficiência poliglandular autoimune da hipófise ou associado ao lúpus eritematoso, artrite reumatoide, vitiligo), iatrogenia (após remoção cirúrgica de ovários em razão de cistos, endometriose ou doença in�lamatória pélvica grave); tratamentos (radioterapia - em caráter preventivo, os ovários podem ser reposicionados cirurgicamente fora do campo de radiação antes da terapia; quimioterapia - uso de análogos do GnRH para reduzir o �luxo sanguíneo ovariano e a exposição aos quimioterápicos, técnica controversa, pode-se retirar oócitos antes da quimio). Pacientes mais jovens têm maior probabilidade de recuperar a função ovariana. 2) Hipogonadismo hipogonadotrófico: anormalidade central (eixo hipotálamo-hipófise). Níveis baixos de FSH e LH que não estimulam os ovários. Hipotálamo: - Transtornos alimentares: anorexia nervosa associada a restrições calóricas graves, perda de peso, indução ao vômito, excesso de laxantes e exercícios compulsivos. Disfunção hipotalâmica grave que pode afetar outros eixos além do sistema reprodutivo. Redução de leptina (produzida no tecido adiposo e possui ligação entre balanço energético e reprodução) estimula o neuropeptídeo Y (estimula apetite e altera pulsatilidade do GnRH). - Exercícios: comum em mulheres que possuem pouca gordura (balé, ginástica e corridas de longa distância). Nas mulheres que continuam a menstruar, pode variar o intervalo e duração da menstruação em redução da função hormonal. A puberdade pode ser retardada em meninas que iniciam treinamento antes da menarca (adolescentes precisam atingir um peso para começar a menstruar - 48 kg ou IMC > 19). Exercícios aumentam níveis de opiáceos endógenos (β-endorfinas), alterando a pulsatilidade do GnRH. - Estresse: luto, divórcio, provas. As causas podem se sobrepor. O estresse aumenta a liberação do hormônio liberador da corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo, promovendo a secreção de cortisol pela suprarrenal e alterando o padrão de secreção do GnRH. - Pseudociese: considerar em mulheres com amenorreia e sintomas de gravidez. Alteração na frequência de pulso de LH e elevação dos níveis de androgênios podem explicar amenorreia. Histórico de sofrimento profundo, abortamento recente ou morte de lactente. Atendimento psiquiátrico. - Destruição anatômica: tumores como craniofaringiomas (comum, pacientes apresentam cefaleia e alterações visuais), tumores de seio endodérmico, gliomas, lesões metastáticas. Infecções (tuberculose) e doenças infiltrativas (sarcoidose). Adeno-hipófise: - Disfunção hipofisária adquirida: adenomas hipofisários, os mais comuns secretam prolactina (secreção excessiva de qualquer hormônio hipofisário pode causar amenorreia) → nível elevado de prolactina causa aumento na produção central de dopamina a fim de reduzir a concentração de prolactina e, por sua vez, altera função do GnRH. Tumores hipofisários podem comprimir os gonadotrofos ou o pedículo hipofisário, prejudicando a inibição dopaminérgica. Função pode ser prejudicada por in�lamação, doença infiltrativa (sarcoidose e hemocromatose), lesões metastáticas e após tratamento cirúrgico ou radiológico para adenomas hipofisários. Outras causas: doenças crônicas (doença renal em estágio final - aumento de prolactina e leptina, alterando pulsatilidade de GnRH; doença hepática; câncer; síndrome da imunodeficiência adquirida; síndromes de má-absorção - zinco e selênio, necessários para a biossíntese e secreção de gonadotrofina). Além de estresse e deficiência nutricional. 3) Eugonadotrófica: ausência de ciclicidade interfere na maturação normal de oócitos e ovulação, impedindo a menstruação; anovulação crônica com estrogênio presente (diferente dos casos anteriores). - Síndrome do ovário policístico: primeiro ocorre amenorreia total seguindo-se à anovulação. Sem ovulação, não há progesterona e a sua queda súbita, com isso não há �luxo menstrual. Amenorreia também pode ser causada pela capacidade dos androgênios elevados atrofiarem o endométrio. - Hiperplasia suprarrenal congênita com início na vida adulta: mutação no gene CYP21, que codifica a enzima 21-hidroxilase. Não convertem adequadamente progesterona em cortisol e aldosterona, desviando os precursores de progesterona para a via androgênica. Níveis androgênicos elevados dificultam a maturação de oócitos, provocando anovulação e amenorreia. - Tumor ovariano: produtor de estrogênios ou androgênios. Ex.: tumores de células da granulosa, da teca e teratomas císticos maduros. - Hiperprolactinemia e hipotireoidismo: lembrar de medicamentos associados a galactorreia na anamnese (alprazolam, antidepressivos tricíclicos, atenolol, antipsicóticos, cimetidina etc.). Redução no hormônio da tireóide provoca aumento no hormônio hipotalâmico liberador de tireotrofina (TRH), que aumenta o TSH e a prolactina (aumenta dopamina, altera pulsatilidade do GnRH, alteração de LH e FSH e causa anovulação/amenorreia). Anamnese: - Desenvolvimento puberal; intervalo e duração do ciclo; �luxo menstrual; alteração abrupta ou gradual; amenorreia associada à infecção, cirurgia, radio/quimio ou outra doença. - Cefaleias ou alterações visuais podem indicar tumor no SNC ou hipófise. Intolerância ao calor ou frio, alteração de peso ou do sono podem indicar doença natireoide. Fogachos e ressecamento vaginal sugerem insuficiência ovariana prematura. Hirsutismo e acne em pacientes com SOP ou HSRC. - Medicamentos utilizados; exposição a toxinas; histórico de doença autoimune. Exame físico: - IMC baixo + desgaste do esmalte do dente por vômitos recorrentes pode ser um transtorno alimentar. Sinais de Síndrome de Turner (baixa estatura, pescoço alado, tórax em forma de escudo). Defeitos na linha facial média, como fenda palatina, pode indicar defeito no desenvolvimento hipotalâmico ou hipofisário. Inspeção de pele: acantose nigricante e acne indicam SOP, hiperinsulinemia ou hiperandrogenismo. Cushing: gordura supraclavicular, estrias abdominais e hipertensão arterial. Hipotireoidismo: bradicardia, re�lexos retardados e aumento da glândula. Galactorreia implica em hiperprolactinemia. - Exame da genitália: distribuição de pelos pubianos. Níveis altos de androgênios resultam em virilização, pelos até a cicatriz umbilical, clitoromegalia, engrossamento da voz, calvície. Testes laboratoriais e radiológicos: - Exclusão de gravidez. - Retirada de progesterona: progesterona exógena e monitoradas para verificar a presença de sangramento com a retirada do medicamento; se sangrar, pressupõe-se que ela produz estrogênio; se não ocorrer sangramento, deve ser tratada com estrogênio seguido por progesterona; se mesmo assim não ocorrer sangramento, pensar em anormalidade anatômica. Pode ter interpretação incorreta, até 20% das mulheres com estrogênio presente não sangram após interrupção da progesterona. - Hormônio folículo-estimulante (FSH): níveis normais sugerem defeitos anatômicos ou hipogonadismo eugonadotrófico (como na SOP). Níveis baixos sugerem disfunção hipotalâmica-hipofisária (repetir acrescentando o LH para diagnóstico). Níveis altos na insuficiência ovariana. - Prolactina e hormônio estimulante da tireoide: adenomas secretores de prolactina e doença da tireoide são causas comuns. Tratamento de hipotireoidismo normaliza a prolactina. Se TSH estiver elevado, dosar T4 livre para confirmar hipotireoidismo. - Testosterona: suspeita de SOP ou sinais de excesso de androgênio. Valores acima de 200 ng/fL sugerem tumor ovariano, investigar por meio de USG pélvica. - Sulfato de dehidroepiandrosterona (SDHEA): níveis altos na SOP. Níveis acima de 700 mg/dL, pensar em adenomas suprarrenais, justifica solicitar RM ou TC. - Avaliação radiológica: hipogonadismo hipogonadotrófico é considerado anormalidade anatômica até provar o contrário por meio de RM ou TC (tumores e doenças infiltrativas). - Suspeita de transtorno alimentar: avaliação dos eletrólitos séricos. Tratamento: - Depende da etiologia. Hipotireoidismo deve ser tratado com reposição (levotiroxina). Hiperprolactinemia deve ser tratada com agonista de dopamina (bromocriptina ou cabergolina). Macroadenomas podem necessitar de cirurgia. Intervenção psiquiátrica nos transtornos alimentares. - Reposição estrogênica: em todas com hipogonadismo, para evitar osteoporose. Mulheres com útero necessitam de progesterona para proteger contra a hiperplasia endometrial ou câncer. Atletas que não pretendem mudar o treinamento. - SOP: progesterona ou COCs ou outras formas de tratamento com estrogênio e progesterona. No hiperandrogenismo causado por SOP, uso de contraceptivos orais e espironolactona. - HSPC de início tardio: doses baixas de corticosteroides para bloqueio parcial da estimulação da suprarrenal por ACTH e, assim, reduzir a produção de androgênios. - Infertilidade: tratamento da hiperprolactinemia e doença da tireoide resulta em ovulação e fertilidade normal. Na insuficiência ovariana (que não pode ser invertida) oferecer fertilização in vitro, usando oócito de doadora. No hipogonadismo hipogonadotrófico encaminhar para especialista para tratar com GnRH pulsátil ou gonadotrofinas. Pacientes com SOP frequentemente ovulam após tratamento com modulador seletivo do receptor de estrogênio (citrato de clomifeno). SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO - Oligo ou anovulação, sinais de excesso androgênico e múltiplos pequenos cistos ovarianos. - Incidência: distúrbio endocrinológico mais comum e afeta de 4 a 12% de mulheres na idade reprodutiva. - Como outras etiologias resultam em oligo-ovulação e excesso de androgênios (hiperplasia suprarrenal congênita, tumores), atualmente SOP é diagnóstico de exclusão. - Hipertecose ovariana e síndrome de HAIRAN: formas mais graves de SOP. Hiperandrogenismo grave, grau maior de resistência insulínica e acantose nigricante. - Etiologia: suspeita-se de origem genética multifatorial e poligênica, tendo em vista o acúmulo de casos dentro de famílias. Provável transmissão autossômica dominante. Os genes supostamente envolvidos são os relacionados com a síntese de androgênios e à resistência à insulina (gene CYP11a). Fisiopatologia: GONADOTROFINAS: a anovulação é caracterizada pela secreção inadequada de gonadotrofinas. A alteração na pulsatilidade do GnRH resulta na produção preferencial de LH. Não se sabe se a disfunção hipotalâmica é a causa primária da SOP ou se é secundária ao feedback anormal dos esteroides. RESISTÊNCIA À INSULINA: absorção reduzida de glicose em resposta a uma determinada quantidade de insulina. Ocorre anormalidade pós-ligação na transdução do sinal mediado pelo receptor insulínico. Associada à DM2, HAS, dislipidemia e doença cardiovascular, que são consequências a longo prazo além das de curto prazo (hirsutismo, menstruação irregular). ANDROGÊNIOS: insulina e LH estimulam a produção androgênica das células da teca ovariana, secretando níveis elevados de testosterona e androstenediona (a última elevada contribui para o aumento de estrona devido a conversão periférica de androgênio em estrogênio por meio da aromatase). GLOBULINA DE LIGAÇÃO AO HORMÔNIO SEXUAL (SHBG): glicoproteína produzida no fígado que se liga aos esteroides sexuais. Como a síntese de SHBG é suprimida por insulina e androgênios, há menos androgênio circulante ligados a proteínas e mais circulando livremente para ligar-se aos receptores nos órgãos-alvo. Níveis baixos de SHBG também foram associados a problemas no controle de glicose e risco de desenvolvimento do DM2. ANOVULAÇÃO: níveis androgênicos altos e de progesterona baixos em razão dos ciclos anovulatórios. A anovulação pode ocorrer devido a resistência insulínica, visto que várias pacientes retornam os ciclos ovulatórios no tratamento com metformina. Mulheres oligo-ovulatórias apresentam melhor resposta aos indutores de ovulação. Sinais e sintomas: Disfunção menstrual: a amenorreia ou oligomenorreia pode ser decorrente de anovulação, impedindo a produção de progesterona e a sua queda que desencadeia a menstruação; ou pode ser causada por níveis elevados de androgênio (neutralizam o estrogênio e produzem endométrio atrófico). A menometrorragia episódica com anemia pode ocorrer devido a exposição crônica aos estrogênios, estimulando constantemente a mitose do endométrio. Hiperandrogenismo: - HIRSUTISMO: presença de pelos terminais escuros e ásperos distribuídos com padrão masculino. SOP é responsável por até 80% dos casos de hirsutismo. Medicamentos que podem causar: esteroides anabolizantes, metildopa, danazol, metoclopramida. Dentro do folículo piloso, a testosterona é convertida em di-hidrotestosterona (DHT) pela enzima 5α-redutase, a qual converte os pelos em ásperos de forma irreversível. Apenas pelos de áreas sensíveis a androgênios são alterados (lábio superior, queixo, costeletas, tórax, linha alba da parte inferior do abdome). A quantificação é realizada através do sistema de pontuação de Ferriman-Gallwey, sendo o hirsutismo considerado quando há pontuação ≥ 8 (não é usado com frequência no cenário clínico). Indivíduos de origem mediterrânea > norte-europeus > asiáticos. - ACNE: persistente e de origem tardia sugere SOP. Para a formação da acne há bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e in�lamação. Em mulheres com excesso de androgênio, ocorre estimulaçãoexcessiva dos receptores androgênicos pilossebáceos, resultando na produção de sebo, in�lamação e formação do comedão. A testosterona é convertida no interior das glândulas sebáceas em DHT pela 5α-redutase do tipo 1, que está predomina na pele facial em detrimento do tipo 2. Tratamento: reduzir in�lamação, diminuir produção de queratina, a colonização por P. acnes e os níveis androgênicos. - ALOPECIA: menos comum. Excesso de atividade da 5α-redutase no folículo piloso (aumento de DHT) e aumento da expressão de receptores androgênicos. Excluir disfunção na tireoide, anemia e outras doenças crônicas. Outras disfunções endócrinas: - Resistência à insulina. - Acantose nigricante: marcador cutâneo de resistência insulínica. Localizam-se em áreas de �lexão (parte posterior do pescoço, axilas, dobra abaixo dos seios, região inguinal. Hiperinsulinemia causada pela resistência à insulina leva ao crescimento de queratinócitos e fibroblastos dérmicos. - Intolerância à glicose e DM2. - Dislipidemia: nível elevado de LDL, de triglicerídeos e aumento na razão entre colesterol total e HDL. Aumento de risco cardiovascular em mulheres com SOP. - Obesidade: aumento no IMC e proporção entre cintura e quadril. Padrão de aumento da circunferência abdominal se mostrou preditivo de resistência à insulina. Obesidade coopera com a SOP, agravando disfunção ovulatória, hiperandrogenismo e acantose nigricante. - Apneia obstrutiva do sono: relacionada com a obesidade e resistência insulínica. Mulheres com SOP e apneia obstrutiva do sono apresentam risco maior de DM e DCV. - Síndrome metabólica e doença cardiovascular: síndrome caracterizada por resistência à insulina, obesidade, dislipidemia aterogênica e hipertensão arterial. Associada ao aumento do risco de DCV e DM2. - Neoplasia endometrial: risco 3x maior de câncer endometrial devido à estimulação estrogênica constante sem oposição que a anovulação crônica provoca. O hiperandrogenismo e a hiperinsulinemia podem contribuir ao reduzir os níveis de SHBG e aumentando o estrogênio circulante. - Infertilidade: secundária à anovulação. - Perda de gravidez: taxa elevada (30-50%) de abortamento precoce. Pode ser devido à resistência insulínica, estudos indicaram menor risco de abortamento com uso de metformina, necessita de mais estudos. - Complicações na gravidez: risco de 2 a 3x maior de diabetes gestacional, hipertensão arterial, nascimento prematuro e mortalidade perinatal. Muitas precisam utilizar indutores de ovulação ou fertilização in vitro, aumentando o risco de gestação multifetal e taxas maiores de complicações. - Saúde psicológica: ansiedade, depressão, baixa autoestima, redução da qualidade de vida e imagem corporal negativa. Diagnóstico: - Diagnóstico de exclusão. Exames: - Hormônio estimulante da tireoide e prolactina: dosagem de TSH, pois doença de tireoide pode levar a disfunção menstrual. Dosagem de prolactina, pois o excesso leva à anovulação por meio da inibição pulsátil do GnRH. - Testosterona: tumores ovarianos e suprarrenais são raros, mas são causas graves do excesso de androgênio. Instalação abrupta ou agravamento repentino de virilização são candidatas a esse tipo de tumor. Sintomas: engrossamento de voz, calvície frontal, acne, hirsutismo, aumento de massa muscular e clitoromegalia. USG pélvica para excluir neoplasia ovariana, TC ou RM. - Sulfato de desidroepiandrosterona: SDHEA acima de 700 mg/dL sugere presença de neoplasia suprarrenal, fazer TC ou RM. - Gonadotrofinas: dosar FSH e LH para excluir insuficiência ovariana prematura e hipogonadismo hipogonadotrófico. Não acrescenta muito no diagnóstico de SOP, apesar de classicamente o LH ser 2x maior do que o FSH, ⅓ das mulheres apresentam LH na faixa normal. Além disso, os níveis de LH podem ser afetados ao longo do ciclo menstrual, uso de contraceptivos e pelo IMC. - 17-hidroxiprogesterona: na HSRC de início tardio, a deficiência de 21-hidroxilase leva à deficiência relativa de cortisol, como resposta, os níveis de ACTH aumentam para normalizar a produção de cortisol, causando hiperplasia suprarrenal e aumento de androgênios (virilização). A deficiência de 21-hidroxilase leva ao acúmulo de seu substrato: 17-hidroxiprogesterona; valores > 200 ng/dL indicam necessidade de realizar o teste de estimulação com ACTH (injeta-se 250 mg de ACTH IV. e dosa-se 17-hidroxiprogesterona uma hora depois, desse modo, o ACTH injetado estimula a captação de colesterol e síntese de pregnenolona; se a enzima 21-hidroxilase for ineficaz, ocorre acúmulo de substrato no córtex suprarrenal e no sangue, níveis > 1000 ng/dL indicam HSRC de início tardio). - Cortisol: a síndrome de Cushing é resultado de exposição prolongada a níveis elevados de glicocorticóides endógenos ou exógenos. Doença de Cushing = síndrome de Cushing em que os sintomas têm origem na secreção elevada de ACTH por tumor hipofisário. Sintomas: disfunção menstrual, acne, hirsutismo, obesidade central, dislipidemia, intolerância à glicose, fácies em “lua cheia” e estrias abdominais púrpuras. Verificar a excreção de cortisol livre na urina de 24 horas; > 300 mg/dia são diagnósticos para Cushing. O tratamento depende da origem do excesso de corticoide. - Medições de resistência à insulina e dislipidemia: teste de resistência à insulina não são necessários para diagnosticar e tratar SOP, mas são usados para avaliar o metabolismo da glicose e a secreção alterada de insulina. Padrão-ouro: fixação euglicêmica hiperinsulinêmica, mas não é comum, pois implica acesso intravenoso, coleta frequente de amostras, tempo e não é prático no cenário clínico. Teste de tolerância à glicose de 2 horas é usado para excluir tolerância à glicose diminuída e DM2, tendo importância em pacientes obesas com SOP. OBS: glicemia em jejum e hemoglobina glicada não são capazes de detectar precocemente o agravamento da resistência insulínica ou intolerância à glicose. Reavaliação a cada dois anos quando o exame é normal, com alteração reavaliar anualmente. Teste de perfil lipídico para avaliar dislipidemia. - Biópsia endometrial: mulheres > 35 anos e sangramento anormal e mulheres mais jovens com sangramento anovulatório refratário aos tratamentos hormonais, - USG: importante em mulheres com SOP que estão fazendo tratamento para fertilidade e naquelas com virilização. Abordagem transvaginal é eficaz e possui maior taxa de detecção de SOP. Critérios: ≥ 12 cistos pequenos (2 a 9 mm de diâmetro) e/ou volume ovariano aumentado (> 10 mL). Apenas um ovário com essa característica é suficiente para SOP (critério não se aplica a mulheres que utilizam COCs). 23% possui ovário com morfologia de SOP sem sintomas. Outras etiologias podem causar aparência policística dos ovários. USG não pode ser utilizada isoladamente para diagnóstico. - Adolescentes: fatores de risco → peso acima ou abaixo da média ao nascer, adrenarca prematura, precocidade sexual atípica e obesidade com acantose nigricante. Diagnóstico difícil (comum irregularidade menstrual e acne). Sem critérios para confirmar diagnóstico, indica-se vigilância. Tratamento: Depende dos objetivos da paciente e gravidade da disfunção endócrina. - Observação: mulheres com SOP em intervalos cíclicos regulares (8 a 12 menstruações por ano) e hiperandrogenismo brando que não querem tratar. Rastreamento periódico para dislipidemia e DM2. - Perda de peso: mudança no estilo de vida. Perda de peso de 5% pode resultar em restauração dos ciclos ovulatórios normais, resultado da redução dos níveis de insulina e androgênios. Dietas hipocalóricas balanceadas. - Exercícios: benéfico no tratamento de DM2 (retarda 2x mais o início do DM em comparação à metformina) e melhora da capacidade cardiovascular. - Tratamento de oligo-anovulação e anovulação: COCs: primeira linha, possui a função de induzir ciclos menstruais regulares, reduzem os níveis androgênicos, suprimem a liberação de gonadotrofina que, por sua vez, diminui liberação de androgênio ovariano, o estrogênio aumenta níveis de SHBG e progesterona antagoniza o efeito proliferativo endometrial do estrogênio(diminui risco de hiperplasia). Progestogênio de terceira geração (norgestimato ou desogestrel) ou drospirenona; alternativas: adesivos contraceptivos cutâneos e anéis vaginais. Se DUM for há mais de 4 semanas, fazer teste de gravidez. Pode-se fazer uso de progesterona para desencadear sangramento menstrual antes de iniciar o tratamento com COCs. PROGESTERONAS CÍCLICAS: uso por 1 a 3 meses. Não reduz sintomas como acne e hirsutismo, nem garante contracepção. AGENTES INSULINO-SENSIBILIZANTES: metformina é prescrita para intolerantes à glicose e resistência à insulina, pois melhora a sensibilidade insulínica periférica, reduzindo a produção de glicose hepática e aumentando a sensibilidade insulínica no tecido-alvo; resulta em diminuição de androgênios e, com isso, aumenta a taxa de ovulação (40% anovulatórias ovularam); pode ser usado em conjunto com citrato de clomifeno para aumentar a sua resposta ovulatória. Efeito colateral: acidose lática em pacientes com insuficiência renal, doença hepática ou insuficiência cardíaca congestiva. As tiazolidinedionas (rosiglitazona e pioglitazona) ligam-se a receptores insulínicos nas células do corpo e aumentam a responsividade à insulina. HIRSUTISMO: reduzir nível androgênico e evitar novas conversões de pelos finos não pigmentados em pelos terminais. Tratamento não elimina crescimento dos pelos anormais já presentes. COCs reduz a produção de androgênios ovarianos e aumenta SHBG, diminuindo a testosterona livre para o folículo piloso. Agonistas de GnRH diminuem níveis de gonadotrofinas que reduz androgênio, mas não é o melhor tratamento a longo prazo (perdas ósseas, custo elevado e efeitos colaterais menopáusicos). Cloridrato de e�lornitina (tópico) deve ser aplicado 2x nas áreas de hirsutismo facial, sendo inibidor irreversível da ornitina-descarboxilase (importante na divisão e função das células do folículo piloso, resultando em crescimento lento), resultado após 4-8 semanas. Antagonistas de receptores androgênicos são efetivos no tratamento, mas implicam em efeitos colaterais, como metrorragia e risco de pseudo-hermafroditismo nos fetos masculinos quando usado no início da gravidez. Não aprovados pelo FDA. Espironolactona é o mais usado, também inibe diretamente a 5α-redutase. Inibidores da 5α-redutase, como a finasterida, pouco efetivo no tratamento e risco de teratogenicidade. Remoção de pelos: depilação (remoção acima da superfície da pele, como raspar ou utilizar depiladores químicos tópicos que contém tioglicolato de cálcio, rompendo as ligações dissulfeto entre as cadeias proteicas e a quebra dos pelos) e epilação (remove os pelos com a raiz) mecânica (pinça, cera, linha) e térmica (eletrólise - aplicação de eletrodo fino e passagem de corrente elétrica para destruir os folículos individuais, pode ser doloroso e deixar cicatrizes; terapia a laser, comprimentos de onda que destroem o pelo de caráter permanente, tecidos adjacentes não absorvem a onda e os danos térmicos são mínimos, menos dor, custo alto). Antes da aplicação dessas técnicas pode-se utilizar anestésicos tópicos. ACNE: redução dos níveis androgênicos (COCs, antiandrogênios, como a espironolactona ou �lutamida, e inibidores da 5α-redutase, como a finasterida. Retinoides tópicos: derivados da vitamina A, regulam o queratinócito folicular e normalizam a descamação do epitélio folicular, possui propriedade anti-in�lamatória, a tretinoína é usada com maior frequência (não recomendada durante gravidez e amamentação). Peróxido de benzoíla tópico: agente antimicrobiano e anti-in�lamatório. Antibióticos: eritromicina e clindamicina (tópicos); doxiciclina, minociclina e eritromicina (orais). Isotretinoína: análogo da vitamina A, altamente efetivo, teratogênico (malformações no crânio, face, coração, SNC e timo). ACANTOSE NIGRICANTE: redução da resistência insulínica e hiperinsulinemia. Melhora com sensibilizadores insulínicos. TRATAMENTO CIRÚRGICO: perfuração ovariana por via laparoscópica recupera a ovulação em um número significativo de pacientes resistentes ao citrato de clomifeno.
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