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Fundamentos da Química Analítica Farmacêutica Aula 04: Equilíbrio Químico: Cálculos, Aplicações e o Princípio de Le Chatelier Apresentação Na aula anterior, aprendemos os conceitos relacionados aos processos reversíveis e como o equilíbrio químico de uma reação é caracterizado. Vimos que, no equilíbrio químico, a razão entre as quantidades de produtos e reagentes, elevadas aos seus respectivos coe�cientes da reação química, são informações importantes tanto do ponto de vista cinético quanto do aspecto termodinâmico. Nesta aula, falaremos sobre como a constante de equilíbrio das reações são calculadas a partir das quantidades dos seus produtos e reagentes. Vamos abordar também diferentes aplicações da constante de equilíbrio, e como o Princípio de Le Chatelier prevê o comportamento de um sistema de equilíbrio quando este é perturbado. Objetivos Aplicar cálculos relacionados à determinação da constante de equilíbrio químico; Determinar o sentido da reação a partir do cálculo do quociente de reação (Q); Analisar as alterações do sistema em equilíbrio, segundo o Princípio de Le Chatelier. Calculando constantes de equilíbrio químico (K) Quando, no equilíbrio, as quantidades de produtos e reagentes de uma reação química são conhecidas, podemos facilmente calcular a constante de equilíbrio substituindo os valores das concentrações (ou pressões parciais) na expressão da constante de equilíbrio da reação. Exemplo Uma mistura dos gases SO (dióxido de enxofre) e O (oxigênio) foi adicionada em um frasco e aquecida a 1000K. Nessas condições, os dois gases reagem para formar SO (trióxido de enxofre), conforme a seguinte reação 2𝑆𝑂 + 𝑂 ⇆ 2𝑆𝑂 Ao atingir o equilíbrio químico, o frasco continha 0,669 atm de SO , 0,395 atm de O e 0,0851 atm de SO . Calcule o valor de K para esta reação. Resolução: O exemplo nos fornece a equação da reação química balanceada e as pressões parciais dos produtos e reagentes, no equilíbrio. Usando a equação da reação química balanceada, podemos escrever a expressão da constante de equilíbrio: 𝐾 𝑝 = 𝑃 𝑆 𝑂3 2 𝑃 𝑆 𝑂2 2 𝑥 𝑃 𝑂2 A partir daí, vamos substituir os valores das pressões parciais nesta expressão e calcular o valor de K : PSO = 0,0851 atm PSO = 0,669 atm P O = 0,395 atm 𝐾p = 𝑃so3 2 𝑃 𝑆 𝑂 2 2 𝑥 𝑃 𝑂2 = ( 0 , 0851 ) 2 ( 0 , 669 ) 2 𝑥 0 , 395 = 7 , 24 𝑥 10 - 3 ( 0 , 448 ) 𝑥 ( 0 , 395 ) = 7 , 24 𝑥 10 - 3 0 , 177 = 0, 0409 2 2 3 2(𝑔) 2(𝑔) 3(𝑔) 2 2 3 p ( ) ( ) ( ) p 3 2 2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Em muitas situações, entretanto, não conhecemos as quantidades de todas as espécies químicas em uma mistura reacional no equilíbrio. Porém, se as concentrações iniciais dos produtos e reagentes e a concentração no equilíbrio de uma dessas espécies forem conhecidas, podemos usar a estequiometria da reação para deduzir as concentrações das demais. Nesses casos, para calcular a constante de equilíbrio químico devemos seguir os seguintes procedimentos: Clique nos botões para ver as informações. Montar uma tabela que indique as seguintes informações sobre as concentrações das espécies químicas que compõem a expressão da constante de equilíbrio: Concentração inicial; Variação da concentração; e Concentração no equilíbrio. Montar uma tabela Calcular a variação entre a concentração (ou pressão parcial) inicial e no equilíbrio (subtrair a concentração no equilíbrio pela concentração inicial). Calcular a variação Usando a proporção estequiométrica dos coe�cientes de reação, calcular as variações entre as concentrações no equilíbrio e iniciais nas concentrações (ou pressões parciais) das outras espécies. Usar a proporção Usar as concentrações iniciais e as variações de concentrações determinadas nos passos 2 e 3 para calcular as concentrações (ou pressões parciais) no equilíbrio ainda não conhecidas. Usar as concentrações Usar as concentrações das espécies no equilíbrio para determinar a constante de equilíbrio químico (K). Determinar a constante Atenção No caso de sistemas em que todas as espécies estão no estado gasoso, podemos utilizar as pressões parciais ao invés das concentrações! Veja a aplicação deste procedimento Clique no botão acima. Em um sistema hermeticamente fechado, o composto gasoso BrCl se decompõe à alta temperatura: 2𝐵𝑟𝐶𝑙 ⇆ 𝐵𝑟 + 𝐶𝑙 Inicialmente, um frasco é preenchido com BrCl , a 500K, até uma pressão parcial de 0,500 atm. No equilíbrio, o BrCl apresentou pressão parcial de 0,040 atm. Calcule o valor de K , a 500K. Resolução: 1. Montar tabela com as informações sobre as concentrações iniciais, a variação e as concentrações no equilíbrio das espécies químicas envolvidas na expressão da constante de equilíbrio. Observe que a única substância adicionada no frasco para a reação foi o BrCl . Ou seja, a quantidade das demais espécies químicas é nula. 2. Agora, vamos calcular quanto a pressão parcial do BrCl variou do início até atingir o equilíbrio químico. Para isso, vamos fazer uma subtração entre o valor da pressão parcial no equilíbrio e a pressão parcial no início da reação. Variação = pressão parcial no equilíbrio – pressão parcial no início Variação = 0,040 – 0,500 = - 0,460 atm O valor negativo encontrado no cálculo da variação indica que a quantidade do BrCl diminuiu ao longo da reação. Isso quer dizer que parte dele foi consumida para formar produto. Com isso, podemos perceber que durante o progresso das reações químicas, do seu início até o equilíbrio químico, as variações das quantidades de produtos e reagentes serão inversas. Ou seja, de um lado da reação, as quantidades das espécies aumentam; do outro, diminuem. (𝑔) 2(𝑔) 2(𝑔) (g) (g) p (g) Reagente Produto 2BrCl Br Cl Pressão parcial Inicial 0,500 atm 0 0 Variação Pressão parcial no Equilíbrio 0,040 atm (g) 2(g) 2(g) (g) (g) Reagente Produto 2BrCl Br Cl Pressão parcial Inicial 0,500 atm 0 0 Variação consumiu 0,460 atm Pressão parcial no Equilíbrio 0,040 atm (g) 2(g) 2(g) 3. Uma vez que descobrimos a variação de uma das espécies da reação, podemos calcular as variações das demais, utilizando como referência a estequiometria da reação. Neste caso, podemos observar que a proporção estequiométrica da reação é de 2 mols de BrCl : 1 mol de Br : 1 mol de Cl . Isso porque, a cada 2 mols de BrCl que são consumidos, 1 mol de Br e 1 mol de Cl são formados. Sendo assim, as quantidades de Br e Cl formadas serão a metade da quantidade de BrCl que foi consumido. 4. Agora que já sabemos as variações para todas as espécies, podemos completar a linha da tabela referente ao equilíbrio. Nessa etapa, utilizamos os valores das pressões parciais iniciais e das variações para calcular as quantidades das espécies quando a reação atinge o equilíbrio químico. Portanto, no equilíbrio: - As concentrações das espécies que foram formadas é o somatório das suas concentrações inicial e da variação. - A concentração das espécies que foram consumidas é a subtração entre suas concentrações iniciais e a variação. 5. Uma vez conhecida a quantidade de todas as espécies, no equilíbrio químico, vamos substituir esses valores na expressão à constante de equilíbrio (K ): 2BrCl ⇆ Br + Cl Kp = PBr2 . PBr2 PBrCl ) 2 = 0 , 230 . 0 , 230 ( 0 , 040 ) 2 = 0 , 0529 1 , 6 . 10 - 3 = 33, 06 (g) 2(g) 2(g) (g) 2(g) 2(g) 2(g) 2(g) (g) Reagente Produto 2BrCl Br Cl Pressão parcial Inicial 0,500 atm 0 0 Variação consumiu 0,460 atm Formou 0 , 460 2 = 0, 230 Formou 0 , 460 2 = 0, 230 Pressão parcial no Equilíbrio 0,040 atm (g) 2(g) 2(g) Reagente Produto 2BrCl Br Cl Pressão parcial Inicial 0,500 atm 0 0 Variação - 0,460 + 0,230 + 0,230 Pressão parcial no Equilíbrio 0,040 0,230 0,230 (g) 2(g) 2(g) p (g) 2(g) 2(g) ( ( ) Aplicações práticas da constante de equilíbrio Nós já estudamos que o valor da constante de equilíbrio indica as espécies predominantes no equilíbrio (se K < 1, predominam produtos e se K>1 predominam reagentes).Além disso, é a partir da constante de equilíbrio que conseguimos prever em qual direção (dos produtos ou dos reagentes) uma reação em andamento deverá “caminhar” para atingir o estado de equilíbrio. Podemos também determinar a quantidade de um reagente ou produto de uma reação, no equilíbrio, se sua constante for conhecida. Veremos a seguir como essas informações podem ser obtidas. Calculando o Quociente de reação (Q) O quociente de reação (Q) é um valor calculado quando substituímos as concentrações (ou pressões parciais) de produtos e reagentes na expressão da constante de equilíbrio em qualquer momento da reação. Para uma reação genérica: 𝑎𝐴 + 𝑏𝐵 ⇌ 𝑐𝐶 + 𝑑𝐷 Calculamos Q a partir da seguinte expressão: 𝑄 𝑐 = [ 𝐶 ] 𝑐 . [ 𝐷 ] 𝑑 [ 𝐴 ] 𝑎 . [ 𝐵 ] 𝑏 Atenção Quando a reação envolver apenas espécies gasosas, o quociente de reação pode ser calculado a partir das pressões parciais, em vez das concentrações. Neste caso, calcularemos Q .p Observe que a expressão do coe�ciente de reação (Q) é exatamente igual à expressão da constante de equilíbrio (K). Entretanto, quando calculamos Q as concentrações (ou pressões parciais) que usamos podem estar ou não no equilíbrio químico. Neste ponto, é importante destacar que: A constante de equilíbrio (K) só pode ser calculada com as quantidades de reagente e produtos no equilíbrio químico. Para cada reação, em determinada temperatura, o valor de K é constante. O valor de Q varia ao longo da reação até que ela atinja o equilíbrio. Isso porque as quantidades de produtos e reagentes variam do início até o momento em que a reação atinge o equilíbrio químico. Para que calculamos o coe�ciente de reação? De maneira bem prática, comparamos o valor de Q com a constante de equilíbrio da reação (K) para identi�carmos se a reação já atingiu o equilíbrio químico, controle muito útil quando uma reação demora muito tempo. Nesses casos, podemos coletar amostras da mistura reacional ao longo do tempo em que a reação está acontecendo, separar as espécies químicas e determinar suas concentrações. Depois disso, substituímos esses valores na expressão de Q e calculamos o seu valor. Este resultado é então comparado com o valor de K para veri�carmos se a reação já atingiu o equilíbrio ou em qual direção (direção dos produtos ou dos reagentes) ela deve caminhar para atingi-lo. Três situações são possíveis: Clique nos botões para ver as informações. Neste caso, a quantidade de reagentes é muito grande e, a de produtos, pequena em relação ao equilíbrio químico. Por isso, a reação deve seguir para a direita, ou no sentido dos produtos, consumindo reagentes e formando produtos até atingir o equilíbrio químico. Q<K Quando o quociente de reação é igual à constante de equilíbrio químico, o sistema está em equilíbrio químico. Q = K Neste caso, a quantidade de produto é muito grande e a de reagentes é pequena em relação ao equilíbrio químico. Por isso, a reação deve seguir para a esquerda, ou no sentido dos reagentes, consumindo produtos e formando reagentes até atingir o equilíbrio químico. Q>K A Figura 1 ilustra a relação entre Q e K nas três situações: Figura 1: Relação entre Q e K, a uma determinada temperatura. A partir da comparação entre essas duas grandezas é possível prever a direção que a reação irá seguir para alcançar o equilíbrio | Fonte: BROWN, 2015 – adaptado. Para enxergamos estes conceitos na prática, vamos imaginar que um recipiente de 1 L contém 1,00 mol de N , 2,00 mols de H e 2,00 mols de NH , a 472 °C. Será que a reação já atingiu o equilíbrio químico? Senão, em qual direção ela deve seguir até alcançá-lo? Sabendo que a reação de formação de NH a partir do N e H , a 472 °C, apresenta K = 0,105 e é representada pela seguinte equação química, 3𝐻 + 𝑁 ⇌ 2𝑁𝐻 , podemos calcular o quociente de reação substituindo os valores das concentrações de N , H e NH , na expressão de Q: 2 2 3 3 2 2 C 2 2 3 2 2 3 𝑄 𝑐 = NH3 2 H2 3 . N2 = [ 2 , 00 ] 2 [ 2 , 00 ] 3 . [ 1 , 00 ] = 0, 500 [ ] [ ] [ ] Ao compararmos o valor de Q encontrado e o valor de K , que é constante para esta reação, a 472°C, veri�camos que Q > K . Ou seja, a quantidade de produto é muito grande e a quantidade de reagente é pequena, em comparação ao estado de equilíbrio químico da reação. Desta forma, a reação vai seguir para a esquerda, ou na direção da formação de reagentes (consumindo produtos). Como consequência disso, o valor de Q (0,500) vai diminuir até que se iguale a K (0,105). Calculando concentrações/pressões parciais de reagentes e produtos no equilíbrio Sabemos que a constante de equilíbrio químico de uma reação a determinada temperatura tem um valor �xo. Quando este valor é conhecido e o sistema está em equilíbrio, podemos usá-lo para determinar a quantidade de um reagente ou produto. Para isso, geralmente, usamos a expressão da constante de equilíbrio para estabelecer uma equação matemática cuja incógnita é a concentração (ou pressão parcial) da espécie que desejamos conhecer. c c c c c c Exemplo A reação de formação do NOCl a partir do NO e do Cl , a 500 K, tem K = 51. Em uma situação em equilíbrio, a 500 K, a pressão parcial do NO é 0,125 atm e do Cl é 0,165 atm. Determine a pressão parcial do NOCl nesta mistura reacional. 2 𝑁𝑂 + 𝐶𝑙 ⇌ 2𝑁𝑂𝐶𝑙 Resolução: Primeiramente, vamos analisar o enunciado da questão e identi�car os dados fornecidos e o dado requerido. Perceba que todos os valores são referentes à reação no equilíbrio químico. Dados fornecidos: K = 51 P = 0,125 atm P = 0,165 atm Dado requerido P = ? Uma vez que a reação está em equilíbrio, podemos estabelecer a expressão da constante de equilíbrio e usá-la para determinar a pressão parcial do NOCl, pois este é o único valor desconhecido da expressão. Kp = PNOCl 2 PNO 2 . PCl2 Substituindo dos valores de K , da P e da P na expressão da constante, teremos: 51 = PNOCl 2 ( 0 , 125 ) 2 . ( 0 , 165 ) Agora, vamos colocar a incógnita (P ) em evidência e usar as operações matemáticas pertinentes para calcular seu valor: (𝑃 ) = 51. (0,125) . 0,165 = 51 . 0,0156 . 0,165=0,131 PNOCl = √0, 131 = 0, 363 atm (g) 2 p 2 (𝑔) 2(𝑔) (𝑔) p NO Cl2 NOCl ( ) ( ) ( ) p NO Cl2 ( ) NOCl 𝑁𝑂𝐶𝑙 2 2 Atenção Em algumas situações, conhecemos apenas a constante de equilíbrio e as quantidades de reagentes e produtos no início da reação. Neste caso, para as concentrações (ou pressões parciais) dessas espécies no equilíbrio químico usamos como incógnita as variações das quantidades. Usamos também os coe�cientes de cada substância na reação para determinar a proporcionalidade das variações. Perturbações sobre o equilíbrio químico: Princípio de Le Chatelier Quando um sistema fechado alcança o equilíbrio químico, tende a permanecer neste estado. Entretanto, três fatores podem perturbar o estado de equilíbrio de um sistema. São eles: 1 Variação de temperatura; 2 Variação da concentração de um reagente ou produto; 3 Variação de volume (ou pressão) em sistemas que envolvem gases. O Princípio de Le Chatelier é uma maneira simples e resumida de explicar a maneira pela qual uma reação buscará ajustar as quantidades de reagentes e produtos para reestabelecer o equilíbrio químico, após sofrer perturbações. Princípio de Le Catelier Se um sistema em equilíbrio for perturbado pela variação de qualquer um dos fatores que condicionam o estado de equilíbrio químico (temperatura, concentração ou volume/pressão), haverá um deslocamento em uma das direções da reação (dos produtos ou dos reagentes), opondo-se ao efeito da perturbação, a �m de minimizar o efeito da variação. Veremos agora como a reação em equilíbrio se comporta mediante cada uma dessas perturbações. Clique nos botões para ver as informações. Quando a concentração de uma espécie envolvida na reação é alterada, a uma determinada temperatura, a reação se deslocará até o equilíbrio ser estabelecido. Como isso acontece? Dizer que o equilíbrio químico foi deslocadoapós a alteração das concentrações de reagentes ou produtos signi�ca que as quantidades de reagentes e produtos variam até se adequarem a uma nova situação de equilíbrio químico. É importante reforçar que o deslocamento do equilíbrio químico não altera o valor da constante de equilíbrio da reação. Lembre-se que, a uma determinada temperatura, o valor da constante de equilíbrio é �xo. Segundo o princípio de Le Chatelier, a reação vai se deslocar para a direção que minimize o efeito da perturbação. Logo: - Se em um sistema em equilíbrio a concentração de qualquer espécie envolvida na reação for aumentada, o sistema reagirá na direção oposta em que esta substância está localizada, a �m de consumir a quantidade adicionada. Ou seja: Aumentado a quantidade de reagentes, a reação se desloca na direção dos produtos. Aumentando a quantidade de produtos, a reação se desloca na direção dos reagentes. - Se em um sistema em equilíbrio a concentração de qualquer espécie envolvida na reação for diminuída, o sistema reagirá na direção em que esta substância está localizada, a �m de produzir mais quantidade da substância retirada. Ou seja: Diminuindo a quantidade de reagentes, a reação se desloca na direção dos reagentes. Aumentando a quantidade de produtos, a reação se desloca na direção dos produtos. Vamos tomar como exemplo a reação de formação da amônia (NH ) – Processo de Haber. Na Figura 2, podemos veri�car que antes de t o sistema está em equilíbrio, pois as pressões parciais de produtos e reagentes estão constantes. Após a adição de H em t , as quantidades das espécies variam até t , quando um novo equilíbrio é estabelecido. Observe que, para que a reação alcance novamente o equilíbrio, as moléculas de H excedentes precisam ser consumidas. Para isso, elas reagem com N presente no sistema e formam NH . Comparando esta explicação com o grá�co da Figura 2, perceba que, após a perturbação do sistema com a adição de um dos reagentes (t ), as quantidades dos reagentes diminuem e a quantidade do produto aumenta até que um novo equilíbrio é alcançado (t ). Podemos também a�rmar que o equilíbrio se deslocou para a direção dos produtos (ou para a direita) até reestabelecer o equilíbrio. 𝑁 + 3𝐻 ⇌ 2𝑁𝐻 O que aconteceria se, em vez de H , adicionássemosa este mesmo equilíbrio uma determinada quantidade de N ? Como N nesta reação também é um reagente, o equilíbrio também se deslocaria no sentido dos produtos, consumindo H e formando NH . Por outro lado, se adicionássemos NH , o excesso dessa substância seria consumido, e mais N e H seriam formados para que a reação reestabelecesse seu equilíbrio. Ou seja, se deslocaria na direção dos reagentes (para esquerda). Na prática, na fabricação industrial de NH por este processo, o equilíbrio é “perturbado” no intuito de aumentar a formação de amônia. Então, assim que a amônia é formada, é retirada continuamente por liquefação seletiva. Com isso, o equilíbrio é sempre deslocado no sentido dos produtos até que praticamente todo N e H sejam consumidos. Efeito da Variação das concentrações de reagentes ou produtos 3 1 2 1 2 2 2 3 1 2 2(𝑔) 2(𝑔) 3(𝑔) Figura 2: Efeito da adição de H2 sobre a mistura reacional de NH3, N2 e H2. | Fonte: BROWN, 2015 - adaptado 2 2 2 2 3 3 2 2 3 2 2 Segundo Le Chatelier, se o sistema em equilíbrio é constituído por pelo menos uma espécie no estado gasoso, e tem seu volume reduzido (ou a pressão total do sistema aumenta), responderá à perturbação deslocando-se para o sentido da reação que reduza a pressão do sistema. Como isso pode ser feito? O sistema pode reduzir sua pressão diminuindo o número total de moléculas no estado gasoso. Isso porque poucas moléculas exercem menor pressão. Logo, a uma determinada temperatura: - A redução do volume de uma mistura gasosa, em equilíbrio, aumenta a pressão e, consequentemente, a reação se deslocará na direção em que houver o menor número de moles de substâncias no estado gasoso. Se, entretanto, o volume desses sistemas aumenta (ou a pressão total do sistema diminui), a resposta à alteração será o deslocamento da reação no sentido em que a pressão do sistema aumente. - O aumento do volume de uma mistura gasosa, em equilíbrio, reduz a pressão e, consequentemente, a reação se deslocará na direção em que houver o maior número de moles de substâncias no estado gasoso. Este conceito é ilustrado na Figura 3. Agora, observe a aplicação da variação de volume/pressão no sistema representado na equação balanceada a seguir: 2𝑁𝑂 ⇌ 2𝑁𝑂 Podemos perceber que, de acordo com a estequiometria da reação, a cada um mol de N O que se decompõe, 2 (dois) mols de NO são formados. Portanto: - Se o volume desse sistema diminuir, consequentemente, a pressão total do sistema irá aumentar e a reação se deslocará na direção do N O , pois é o lado da reação que apresenta o menor número de mols; - Se o volume do sistema aumentar, consequentemente, a pressão total do sistema irá diminuir e a reação se deslocará na direção do NO , pois é o lado da reação que apresenta o maior número de mols. Quando uma reação balanceada, no estado gasoso, apresenta o mesmo número de mols nos lados dos reagentes e dos produtos, a variação de volume/pressão total do sistema não gera perturbação no equilíbrio como, por exemplo, a reação de formação do iodeto de hidrogênio a partir do H e do I : Efeito da variação do Volume/Pressão Figura 3: Efeito da variação de volume/pressão sobre o um sistema em equilíbrio químico. 2(𝑔) 4(𝑔) 2 4 2 2 4 2 2 2 Para sistemas em equilíbrios, as variações nas concentrações ou nas pressões parciais das espécies químicas envolvidas na reação causam o deslocamento do equilíbrio sem que o valor da constante de equilíbrio se altere. Entretanto, na maioria dos casos, o valor da constante de equilíbrio para uma reação é dependente da temperatura. Podemos prever qualitativamente o efeito da temperatura sobre um sistema químico em equilíbrio se soubermos se a reação é exotérmica ou endotérmica. Reação Exotérmica: Apresenta entalpia de reação menor do que zero (∆H <0). Reação Endotérmica: Apresenta entalpia de reação maior do que zero (∆H >0) Podemos relacionar K e temperatura considerando o calor como sendo uma “espécie química”. Vejamos o que acontece para cada um dos tipos de reação. Reações endotérmicas: O calor é considerado reagente (a reação “consome” calor). Reagentes + calor ⇋ produtos Reações exotérmicas: O calor é considerado produto (a reação libera calor, precisa receber energia calorí�ca para acontecer). Reagentes ⇋ produtos + calor Quando aumentamos a temperatura de um sistema em equilíbrio, o sistema responde como estivéssemos adicionando reagente (se a reação for endotérmica) ou produto (se a reação for exotérmica). Assim, o equilíbrio responderá se deslocando na direção que vai consumir o excesso de calor. Nas reações endotérmicas, o calor será absorvido conforme os reagentes forem sendo convertidos em produtos. Com o aumento da temperatura, a tendência é que o equilíbrio se desloque para a direita (lado dos produtos). Consequentemente, mais produto é formado e, por isso, K aumenta. Nas reações exotérmicas, a reação libera calor quando os produtos são formados. Por isso, aumentar a temperatura faz com que o equilíbrio se desloque para a esquerda (lado dos reagentes). Como resultado, a quantidade de reagente aumenta e o valor de K diminui. Agora vamos pensar o que aconteceria se resfriássemos o sistema. Quando a temperatura de um sistema é diminuída, é como se o calor fosse retirado. Sendo assim, o sistema irá reagir como se estivessem sendo retirados produtos (no caso das reações exotérmicas) ou reagentes (no caso das reações endotérmicas). Desta forma, resfriar uma reação endotérmica faz com que o valor de K diminua. Por outro lado, quando tiramos calor de uma reação exotérmica, K aumenta. Observe a reação de formação do NO a partir do N e do O : 𝑁 + O ⇋ 2𝑁𝑂 ∆𝐻 = +180,6 𝑘𝐽 - Se aumentarmos a temperatura, o sistema se deslocará no sentidodos produtos, a �m de consumir o excesso de calor, aumentando a quantidade de produto (K aumenta); Efeito da Variação da Temperatura 0 reação 0 reação 2 2 2(𝑔) 2(𝑔) (𝑔) 𝑜 𝑟𝑒𝑎çã𝑜 Como será o comportamento deste equilíbrio se aumentarmos a temperatura do sistema? E se resfriamos o sistema? Veja que esta é uma reação endotérmica, pois ∆𝐻 > 0, ou seja, podemos considerar o calor como um “reagente”. Logo: 𝑜 𝑟𝑒𝑎çã𝑜 Figura 4: Efeito da variação de temperatura sobre o sistema em equilíbrio - Se resfriarmos o sistema, a reação se deslocará no sentido dos produtos, a �m de “repor” o reagente (calor) que foi retirado, aumentando a quantidade de reagente (K diminui). A Figura 4 ilustra de forma resumida o efeito da temperatura sobre um sistema em equilíbrio. Atividades 1. 0,2 mol de N O são adicionados a um recipiente de 1,0 L e o recipiente é aquecido até 400 K. A esta temperatura, o sistema entra em equilíbrio e determina-se que a concentração de N O é 0,057 mol/L. Dada esta informação, qual é o valor de Kc para a reação 𝑁 𝑂 ⇌ 2𝑁𝑂 ? 2 4 2 4 2 4(𝑔) 2(𝑔) a) 0,23 b) 0,36 c) 0,13 d) 1,4 e) 2,5 2. Sabe-se que Kp =8,125, a 25 °C para reação: 𝐶𝑂 +2𝐻 ⇆ 2𝐻 𝑂 + 𝐶𝑂 Em determinadas condições, P𝐶𝑂 = 0,5 atm; P𝐻 = 1,0; P𝐻 𝑂 = 10 atm e P𝐶𝑂 =1,5 atm. Assinale a alternativa que indique o valor de Q e para que sentido a reação deve se deslocar (sentido dos reagentes ou produtos) para atingir um novo equilíbrio, respectivamente: 2(𝑔) 2(𝑔) 2 (𝑔) 2(𝑔) 2(𝑔) 2(𝑔) 2 p a) Q = 3,33 x 10 , a reação deve se deslocar para o sentido dos produtos.p -3 b) Q = 300, a reação deve se deslocar para o sentido dos reagentes.p c) Q = 30, a reação deve se deslocar para o sentido dos produtos.p d) Q = 3,33 x 10 , a reação deve se deslocar para o sentido dos reagentes.p -3 e) Q = 300, a reação deve se deslocar para o sentido dos produtos.p 3. (VUNESP – Perito Criminal – PCSP – 2013) O aumento de pressão do sistema acarretará maior rendimento em produto do equilíbrio representado por: a) CaCO ⇄ CaO + CO3(s) (s) 2(g) b) CO + ½ O ⇄ CO(g) 2(g) 2(g) c) C + O ⇄ CO(s) 2(g) 2(g) d) N O ⇄ N + 2O2 4(g) 2(g) 2(g) e) H O(l) ⇄ H O2 2 (g) Referências BROWN, T.L. et al. Química: a ciência central. 13.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. HAGE, D.S.; CARR, J.D. Química analítica e análise quantitativa. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. KOTZ, J.C. et al. Química Geral e Reações Químicas. São Paulo: Cengage Learning, 2016. SKOOG, D.A. et al. Fundamentos de Química Analítica, 9.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015. Próxima aula Teorias de ácido e base; Produto iônico da água e escala de pH; Constantes de ionização ácida (Ka) e básica (Kb). Explore mais Aprenda mais sobre Equilíbrio químico e suas aplicações javascript:void(0); Aprenda mais sobre Equilíbrio químico e suas aplicações Leia o texto Ensino do Conceito de Equilíbrio Químico: Uma Breve Re�exão. javascript:void(0); javascript:void(0);
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