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ANAMNESE NUTRICIONAL

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Anamnese Nutricional 
 Precisamos coletar dados dos pacientes que vão subsidiar toda a nossa conduta, e fazemos isso por meio da 
anamnese. A anamnese permite que a gente tenha aquele momento terapêutico com o nosso paciente. 
Importância 
 • Nada mais é do que uma entrevista. Tem como objetivo coletar dados para auxiliar nossa conduta. 
 • Tem como objetivo de buscar informações que auxiliem no diagnóstico ou esclarecimento da situação clínica 
encontrada. 
 • Na prática clínica, acredita-se que uma anamnese bem aplicada seja responsável por 85% do diagnóstico. 
 • É indispensável para o alcance de uma relação satisfatória entre paciente e profissional, já que dela dependerá 
o grau de confiança que o paciente depositará no profissional. 
ANAMNESE COMO MOMENTO DO ENCONTRO TERAPÊUTICO: é um momento de relacionamento de conquista e 
confiança com o paciente. 
 Iniciar a anamnese com perguntas abertas e colaborativas. 
 A anamnese não seja finalizada no encontro inicial, uma vez que a escuta aberta e empática (portanto, 
terapêutica) possibilita que o nutricionista e o indivíduo realizem trocas constantemente. 
 ATENÇÃO: As pessoas podem ter medo e preconceitos em relação ao nutricionista, pois nos somos vistos 
como pessoas que vão restringir, tirar aquele prazer que aquela pessoa tem em relação a comida. 
• Sugere-se que a anamnese não fique restrita ao primeiro encontro, e sempre que esse paciente retorne, 
abra-se a possibilidade de novas perguntas, para que essa relação entre profissional e paciente vá ficando 
cada vez mais forte para que você realmente consiga que aquele paciente atinja os objetivos traçados. 
ATITUDES QUE PODEM FACILITAR A PRÁTICA DA ANAMNESE COMO UM ENCONTRO TERAPÊUTICO: 
 • Usar o nome do indivíduo entrevistado, em vez de termos genéricos (p. ex., “mãe”) 
 • Mostrar animação, profissionalismo e calor humano 
 • Ter cuidado com gestos, palavras, contato visual e tom de voz 
 • Não expressar julgamentos 
 • Não apresentar atitudes de preconceitos e discriminação 
 • Compreender reações, inclusive de choro e/ou silêncio, com acolhimento. Ter paciência, parar, perguntar se a 
pessoa precisa de alguma coisa, tentar acalmá-la. Pois pode ser que tenha algum problema alimentar maior por trás 
daquilo. 
 • Evitar anamneses fechadas- aquelas perguntas que a pessoa só responde sim ou não. Sempre deixar o 
paciente falar e relatar o que ele está pensando. Quando o paciente sente a segurança, ele começa a se abrir e 
conversar mais e falar coisas que em um primeiro momento talvez ele possa ter negado. 
 • Fazer apenas uma pergunta por vez 
 • Apresentar primeiro as questões menos profundas 
 • Dar tempo para que o indivíduo discorra satisfatoriamente sobre o assunto 
 • Não tornar a entrevista monótona e mecânica 
 • Entender que a avaliação do consumo alimentar não esgota a fala sobre alimentação 
 • Fazer perguntas apenas quando crer que o indivíduo está pronto para dar a informação desejada. Perguntar 
com cuidado ou obter a informação em outro momento. Se você perceber que o individuo não esta muito confortável 
com aquele assunto, precisa direcionar a entrevista para outra direção e depois tentar retornar naquele assunto; 
 • Não induzir respostas; Ex: “Hoje no café da manhã você tomou LEITE?”, perguntas desse tipo podem fazer 
o paciente pensar no que você quer ouvir, então ele vai afirmar que bebeu leite sem ter bebido. 
 • Registrar as informações, mas não ficar absorto no computador. 
 • Respeitar e compreender diferenças individuais e culturais entre o indivíduo e o nutricionista 
 • Ter uma postura de suporte em vez de uma postura de confronto 
 • Interferir delicadamente quando o paciente se distancia da conversa, mudando o assunto, fazendo novas 
perguntas em cima daquele mesmo assunto. 
COMO SINALIZAR AO INDIVÍDUO QUE O NUTRICIONISTA ESTÁ ENGAJADO NA ANAMNESE COMO 
MANEIRA DE CONVERSA? 
 • Expressão de interesse e compreensão; expressões mínimas que mostram ao paciente que você está 
prestando atenção 
 • Repetir a questão 
 • Repetir a resposta dada 
 • Questões neutras: 
 “Você poderia ser um pouco mais específico?” 
 “Você poderia explicar isso um pouco mais?” 
 “Você poderia dizer algo mais a respeito disso, por favor? 
• Quanto mais informações a gente tiver de como é essa dinâmica de alimentação, melhor na hora de 
orientar esse paciente. 
Dificuldades que podem ser encontradas: 
Na maioria das vezes, as dificuldades existentes estão na deficiência de comunicação entre o paciente e o profissional 
de saúde. 
 Alguns exemplos: 
 •deficiência na fonação ou audição; 
 •diferenças de linguagem; 
 •depressão do estado de consciência; 
 •distúrbios mentais; 
 •em crianças, falta de objetividade, incoerência; 
 •deficiência de memória e observação; 
 •concepções errôneas sobre a moléstia; 
 •falta de confiança na nutrição; 
 •inibição e/ou distração causadas pela presença de outras pessoas 
Conteúdo da entrevista 
COMPONENTES DA ANAMNESE: 
➔ Por ser uma entrevista, utilizamos tanto a comunicação verbal quanto a não verbal (troca de olhares por 
exemplo). Vamos construir a entrevista de acordo com o que eu quero saber, e também dependendo da 
queixa principal do paciente. 
• Dentro do campo da saúde, historicamente, a anamnese foi desenvolvida com a intenção de direcionar o olhar do 
médico para a doença, sem considerar a pessoa doente. 
• Uma vez que a anamnese é uma entrevista, são necessárias a comunicação não verbal, a verbal e a escrita. É papel 
do profissional de saúde avaliar o que o paciente vai formulando no seu discurso para focar nas informações desejadas. 
• A valorização do contato com o paciente qualifica uma boa anamnese, embora a disponibilidade tecnológica tenha 
levado muitos a considera-la secundária. É reforçado que nada substitui o contato direto com o paciente, o que, 
principalmente, proporciona uma boa anamnese. 
 No contexto geral de avaliação do paciente, alguns aspectos devem ser investigados e evoluídos em 
prontuário, sendo eles: 
Histórico socioeconômico-cultural: 
 Ajuda a conhecer o cliente como indivíduo, sugerindo fatores que podem ter contribuído na etiologia do 
problema clínico e/ou nutricional apresentados. É nessa parte que vamos saber com quem estamos lidando, 
principalmente na questão econômica. 
 Considerar: identificação = é o início do relacionamento com o paciente 
 Procedência (pode indicar possíveis hábitos alimentares regionais); 
 Grau de escolaridade (define a linguagem a ser utilizada); 
 Motivo pelo qual procurou assistência; 
 Estado civil e composição familiar (rotina do entrevistado); 
 Renda familiar (definição da prescrição); 
 Condições de moradia; (por ex, se tem esgoto a céu aberto) 
 Uso de drogas lícitas ou ilícitas; 
 Horas de sono; (Ex: a pessoa que fica acordada de madrugada, ela tende a beliscar mais, ficar mais ansiosa) 
 Prática de atividade física; 
 Religião; 
Histórico clínico e familiar: 
 • queixa principal (QP): em poucas palavras, o profissional registra o motivo que levou o paciente a procurar 
ajuda do profissional; 
 • história da doença atual (HDA): é registrado tudo o que se relaciona à doença atual, sintomatologia, época de 
início, história da evolução da doença, entre outros. 
 • história médica pregressa (HMP): adquire-se informações sobre toda a história médica do paciente, presença 
de doenças crônicas, internações e/ou cirurgias prévias, mesmo das condições que não estejam relacionadas à doença 
atual; 
 • histórico familiar (HF): é perguntado ao paciente sobre sua família e suas condições de trabalho e vida. 
Procura-se alguma relação de hereditariedade das doenças. sugere-se indagar apenas as condições de saúde de 
parentes de primeiro grau (pais, irmãos e avós); perguntar sobre parentes mais próximos possíveis. 
 • presença de sintomas gastrointestinais: anorexia (ausênciade apetite), hiporexia (redução do apetite), hiperexia 
(aumento do apetite), disgeusia (alterações do paladar), disfagia (dificuldade de deglutir), odinofagia (dor ao deglutir), 
pirose (azia), dor retroesternal associada à pirose, dispepsia (má digestão), náusea, vômitos, diarreia, constipação, 
flatulência, eructação e meteorismo (acúmulo de gases com dores e inchaço). Além desses aspectos, convém avaliar a 
situação da cavidade oral e suas estruturas. 
 • uso de medicamentos que podem afetar o estado nutricional: medicamentos que interfiram na absorção e 
utilização dos nutrientes, como furosemida, hidroclorotiazida, digitálicos (reduzem o apetite), ácido acetilsalicílico, 
anfetaminas (alteram ou diminuem o paladar), anti- histamínicos, corticosteroides, psicotrópicos (aumentam o apetite), 
anticoncepcionais orais, suplementos de ferro e vitamina C (alteram a absorção de outros nutrientes); 
Histórico nutricional: 
Momento em que o cliente relata sua história de peso. 
 • história de perda ou ganho de peso recente: é uma das variáveis mais avaliadas. Qualquer perda de peso, não 
intencional, maior que 10% é considerada significativa. Investiga-se, também, como ocorreu a perda ou ganho, se de 
forma contínua ou com recuperações, associada a sintomas gastrointestinais ou ao uso de medicamentos, bem como a 
situação mais recente do processo. 
 • Gestantes – PPG : período pré gestacional 
 • Percepção corporal do indivíduo; 
 • As medidas antropométricas, em geral são coletadas após a anamnese; 
Histórico alimentar ou dietético: 
“Contempla informações obtidas pelos inquéritos dietéticos, métodos qualitativos e/ou quantitativos que possibilitam a 
obtenção de informações sobre o consumo de alimentos e/ou nutrientes do indivíduo.” 
 • alterações do padrão alimentar: investiga-se a duração da mudança e o tipo de mudança alimentar 
(quantidade, qualidade dos alimentos ou em ambas). 
 Número de refeições 
 Intervalo entre as refeições 
 Distribuição dos alimentos entre as refeições 
 Grupos de alimentos (consumo por refeição e no dia como um todo) 
 Diversidade da alimentação 
 Presença de alimentos específicos, importantes para a pessoa. 
 Consumo de alimentos processados e ultra processados. 
 É importante ressaltar que durante a anamnese, o roteiro de perguntas não deve seguir uma rotina sequencial 
rígida, podendo o nutricionista concluir a entrevista em outros momentos ao longo do acompanhamento, pois, algumas 
vezes, não é possível colher todas as informações necessárias no primeiro atendimento, por vários motivos. 
 * Não precisa ter uma ordem para as perguntas, quem vai definir vai ser o profissional. 
Anamnese como instrumento de investigação: 
 Um primeiro dilema das anamneses é decidir se o foco deve ser no indivíduo, na doença ou nos incômodos, 
caso eles existam. 
 A obtenção de informações importantes deve ser realizada pelo uso de uma linguagem clara, cuidadosa e sem 
uso de termos técnicos. É preciso considerar a idade do indivíduo, a fim de utilizar a linguagem mais acessível. Em 
relação à forma de condução de uma anamnese clínico nutricional, existem alguns aspectos relevantes que são 
observados: 
FORMA DE REGISTRO: 
• Cabe ao nutricionista avaliar a forma mais adequada para registrar a anamnese aplicada ao paciente. Porque lá na 
frente isso vai ser necessário. 
• Com o avanço tecnológico, a informação pode ser registrada de forma sistemática durante o seguimento da avaliação 
nutricional. 
• Pacientes idosos poderão exigir uma forma de registro mais detalhada. 
• O nutricionista poderá utilizar formulários com questões predefinidas ou seguir uma linha livre, mas sempre utilizando 
um roteiro. 
• As anotações dos dados obtidos durante a anamnese devem ser feitas de maneira a não desviar a atenção do 
paciente. 
• De forma geral, o procedimento deve estabelecer o contato visual entre o entrevistador e o entrevistado, garantindo 
que o paciente se sinta prestigiado com a atenção do profissional. 
AMBIENTE: 
• Em relação ao ambiente, sabe-se que ele deve ser o mais particular e confortável possível. 
• A privacidade do paciente propicia uma maior aquisição de informações, além disso, é preciso garantir que as 
perguntas não sejam feitas diante de pessoas que possam intimidar o entrevistador. 
• Outra questão relevante é o distanciamento entre entrevistado e entrevistador, devendo manter uma distância de 1 a 
1,5 m, proporcionando, assim, uma conversa tranquila. 
 
INFORMAÇÕES PRELIMINARES: 
 Revisão prévia do prontuário médico pode fornecer informações valiosas para o diagnóstico e/ou a intervenção 
nutricional e também propiciar a exclusão de questões que poderiam estender a entrevista ou ainda constranger o 
paciente. 
 Ex: Estou numa clinica e o meu paciente já foi atendido por algum outro médico. Eu posso tentar coletar 
informações sobre esse paciente, para evitar que eu fique perguntando a mesma coisa, e otimiza o tempo. 
OBJETIVOS DA ENTREVISTA: 
 Ter em mente o objetivo da entrevista garante ao entrevistador selecionar os tipos de perguntas que o 
auxiliarão no diagnóstico e na conduta nutricional, evitando perguntas desnecessárias. 
 Em relação ao entrevistado, convém explicar-lhe qual será o procedimento, ou seja, qual é o objetivo da 
anamnese, assim como sinalizar-lhe, durante o processo, qual será a próxima etapa com frases como: “Agora, gostaria 
de saber a respeito.” 
POSTURA DO ENTREVISTADOR: 
• O nutricionista deve chamar o paciente pelo nome, se apresentando e esclarecendo sobre sua função. 
• A postura do entrevistador, também, é considerada uma forma de comunicação, pois são mandadas mensagens para 
o paciente durante a entrevista. 
• O profissional deve transparecer calma e tranquilidade, já que sinais de pressa ou reprovação podem comprometer a 
comunicação e a obtenção dos dados. 
•Não julgar o paciente também faz parte de uma boa postura. 
• Atitudes de cordialidade, como sorrisos e gestos gentis ajudam a estabelecer o vínculo entre o paciente e o 
profissional. 
• nenhuma informação relatada pelo entrevistado deve sofrer críticas, nem opiniões pessoais devem ser emitidas. 
CONDUÇÃO DO RELATO: 
• O nutricionista precisa convidar o paciente para contar a sua história. Questionamentos que iniciem com “O que o 
trouxe aqui?” ou “Como posso ajudá-lo?” são maneiras positivas de iniciar o diálogo. 
• O profissional deve ouvir atentamente o relato, confirmando o entendimento das informações referidas. Expressões 
como “Entendo”, “Continue” ou “Estou ouvindo” são adequadas e confirmam o envolvimento do profissional com o 
paciente. 
BOM SENSO: 
• Muitas perguntas não devem ou não precisam ser feitas. A simples observação do entrevistador é suficiente para o 
registro da informação. 
• Usar o bom senso, por vezes, evita o constrangimento para ambas as partes envolvidas. Um bom exemplo nesse 
sentido são as questões sobre a renda familiar, pois, muitas vezes, a própria característica do serviço de nutrição, o grau 
de escolaridade e a atividade profissional já podem definir a condição econômica do entrevistado. 
LINGUAGEM: 
 A linguagem deve ser compreensível, adequada ao paciente, considerando idade e grau de escolaridade. 
IDADE DO ENTREVISTADO: 
 Em crianças com idade pré-escolar e escolar, já existe a possibilidade de comunicação entre o entrevistador e 
o entrevistado. O uso de brincadeiras é uma forma positiva de aproximação com as crianças. 
 Para a aplicação de anamnese em adolescentes, a condução da entrevista deve ocorrer de forma informal e 
descontraída. Geralmente, adolescentes respondem de forma positiva, quando o entrevistador demonstra interesse por 
eles. 
TEMPO DA ANAMNESE: 
 É conhecido que a primeira anamnese será sempre mais demorada, o nutricionista deve avisar o paciente do 
tempo necessário para coletar as informações. 
 Ainda, cabe ao nutricionista ficar atento aos sinais de cansaço do paciente. Caso isso aconteça,é possível 
priorizar algumas informações, adiando o restante para futuras consultas. 
SITUAÇÕES ESPECIAIS: 
 proporcionar tranquilidade e deixar claro que as informações coletadas serão utilizadas na 
prescrição dietética. Como identificar pacientes ansiosos: 
 • respostas rápidas; 
 • remexer-se na cadeira; 
 • balançar as pernas; 
 • apertar as mãos, além de outros sinais. 
 procurar a 
colaboração de parentes, amigos, cuidadores e outros. 
 deve-se evitar o confronto, deixar o paciente desabafar e, se o motivo da hostilidade for o serviço 
prestado, desculpar-se do suposto erro. A anamnese só deverá ser reiniciada quando o paciente estiver tranquilo. 
 é necessário dar abertura para o paciente expressar suas emoções. Mantenha-se em silêncio, 
ofereça uma caixa de lenço e conserve o semblante de aceitação e tranquilidade. Aguarde o paciente se recompor e, 
só então, tente reiniciar a anamnese perguntando: “Podemos continuar?”

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