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SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 2 Taciana Silveira Passos Doutoranda e Mestra em Saúde e Ambiente Pós-graduanda em Gestão da Saúde Vinculada ao Laboratório de Planejamento e Promoção de Saúde Membro do Grupo de Pesquisa CNPQ Epidemiologia Clínica e Social E-mail: tacianasilveirapassos@gmail.com Falar de Saúde Mental é falar de que? ▸ Participação ▸ Vínculo ▸ Confiança ▸ Atenção Básica (organização → Política) ▸ Matriciamento ▸ Diferenças de sexo, identidade de gênero, raça, cor da pele/ etnia, região, sexualidade.... ▸ Saúde ▸ Educação ▸ Justiça ▸ Trabalho ▸ Cultura ▸ Alimentação ▸ Habitação Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 4 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 INDICADORES POPULACIONAIS DE SAÚDE MENTAL 1 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Transtornos Mentais 6 Segundo dados da Word Mental Health Survey Iniciative (estudo com 28 países – incluindo EUA, Europa e Brasil), na maioria dos países, a prevalência de transtornos mentais varia de 18,1% a 36,1%. As classes mais frequentes foram: • Transtorno de ansiedade (16%) • Transtorno de humor • Fobia (6 a 12%) • Transtorno depressivo (4 a 10%) Quanto à severidade, a maioria apresenta quadro leve, sendo a proporção de casos graves de 12,8% a 36,8% do total dos casos. A idade de início variou de 7 a 14 anos, confirmando os transtornos mentais como doenças crônicas de início precoce. Apenas uma minoria das pessoas com transtorno mentais graves recebe tratamento, e ainda menos recebem tratamento de qualidade. No Brasil, estimativas recentes mostraram que os transtornos de depressão e ansiedade respondem, respectivamente, pela quinta e sexta causa de anos vividos com incapacidade. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 7 • Fobia específica É um tipo de transtorno de ansiedade definido como um medo/aversão extrema e irracional de algo. Quem desenvolve essa doença provavelmente tem uma sensação de pavor ou pânico ao se deparar com uma situação ou objeto específico. A condição prejudica física e psicologicamente a pessoa, pois se torna incapaz de enfrentar algumas situações diárias. As fobias específicas são categorizadas em cinco tipos: • de animais (cães, cobras, aranhas, insetos); • de eventos naturais (relâmpagos, tempestades, água); • de injeção ou situações que envolvam sangue; • situacionais (aviões, elevadores, direção, locais fechados); • e outras —como evitar situações que podem levar a um engasgo, vômito Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 8 • Fobia social Para pessoas com fobia social (também chamada transtorno de ansiedade social), atuar em público causa uma ansiedade intensa. Isso acontece em situações cotidianas que envolvem interação social, pois quem tem esse tipo de fobia tende a temer julgamento, critica ou alguma possibilidade de ser ridicularizado. Um exemplo é a perspectiva de se alimentar na frente de outras pessoas em um restaurante, uma experiência comum para grande parte das pessoas, mas que pode ser assustadora para quem tem fobia social. No Brasil, um dado divulgado no Congresso Brasileiro de Psiquiatria de 2017 estima que 13% da população possua o transtorno. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 9 • TAG (Transtorno de ansiedade generalizada) A TAG é diferente dos sentimentos normais de ansiedade. Sua principal característica é uma preocupação intensa e persistente sobre situações normais e cotidianas. Quem tem este tipo de transtorno pode se preocupar incontrolavelmente com algo, várias vezes ao dia, mesmo que não haja motivo real para isso. Essa preocupação excessiva e irreal pode ser assustadora e interferir nos relacionamentos e nas atividades diárias. A condição pode ocorrer de forma generalizada (o mais comum) ou em picos (ataques de pânico). É considerado o transtorno mental mais comum em todos os países e em todas as faixas etárias. Sabe-se que a incidência geral de transtornos de ansiedade no Brasil é de 9,3%. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 10 • TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo) O TOC é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos recorrentes e desagradáveis (obsessões) e comportamentos repetitivos ritualizados (compulsões), voltados para a redução do desconforto associado a tais pensamentos. Estudos estimam que no Brasil existam entre 3 a 4 milhões de pessoas com esse quadro. Quem tem TOC pode até reconhecer que seus pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos são irracionais, mas não consegue resistir e se libertar. Esse tipo de transtorno, que acomete cerca de 1,5% da população, faz com que o cérebro fique preso em um pensamento ou desejo específico. Os casos clássicos têm início na infância, mas este tipo de transtorno pode se desenvolver com idade mais avançada associado ao quadro depressivo. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 11 • Depressão maior É o tipo mais popular, também conhecida como depressão clássica ou unipolar. A OMS aponta que em 2017 a incidência do quadro de depressão maior era de 5,8% dos brasileiros. Também é uma das maiores causas de afastamento definitivo do trabalho em todo o mundo e em suas formas mais graves associa-se ao risco de suicídio. • Distimia ou Transtorno Depressivo Persistente Quem sofre de distimia pode ser visto como sombrio, pessimista ou queixoso, quando na realidade está lidando com uma doença mental crônica. O transtorno depressivo persistente ou distimia pode não parecer tão intenso, mas prejudica os relacionamentos e dificulta as tarefas diárias. De acordo com a Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) entre 5 e 11 milhões de brasileiros vivem com esse transtorno. Uma de suas características mais conhecidas é o mau humor, por isso o diagnóstico pode ser demorado porque confunde-se como uma característica de personalidade. Este mau humor, no entanto, deve ser persistente e estender-se por mais de um ano, ocorrendo sem um motivo específico. Alguns pacientes dizem que sentem que sua vida ocorre como se tivessem puxado o freio de mão, nunca se sentem leves. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 12 • Transtorno Afetivo Bipolar O Transtorno Afetivo Bipolar é uma condição de saúde emocional que provoca grandes mudanças de humor, dificultando a comunicação e a socialização. Para receber o diagnóstico de transtorno bipolar, o paciente precisa cumprir uma série de critérios diagnósticos que incluem uma fase de estado de ânimo muito elevado com comportamentos impulsivos que envolvam grandes planos ou mudanças radicais, alterando com estados depressivos profundos, ou até estados mistos em que misturam sintomas de euforia e depressão. Atinge em torno de 3% da população do país. Transtornos Mentais Atenção!! Pessoas com transtorno bipolar ficam em casa fase de humor por bastante tempo, e não são inconstantes como diz o imaginário popular. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 13 • Transtorno Explosivo Intermitente Popularmente conhecido como Síndrome do Pavio Curto, é caracterizado por episódios de impulsos agressivos, podendo provocar sérias agressões verbais/físicas e até mesmo destruição de propriedade. Este tipo de comportamento agressivo não é premeditado, mas consequência de um impulso em que o indivíduo age por pura falta de controle sobre a raiva. Essa agressividade é completamente desproporcional a quaisquer estressores que possam ter iniciado os episódios, podendo ser descritas como surtos ou ataques que aparecem em minutos ou horas e, independentemente da duração, entram em remissão de forma espontânea e rápida. Após o episódio, em geral, o paciente demonstra arrependimento genuíno, vergonhae culpa. Ataques duas vezes durante a semana, por três meses ininterruptamente, denunciam a doença. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 14 • TBP (Transtorno de personalidade borderline) É uma condição psíquica caracterizada por um padrão de emoções instáveis nos relacionamentos e comportamentos em geral. Não se sabe quantas pessoas no Brasil possuem esse transtorno, mas no mundo a incidência estimada é de 6% da população. O TPB pode interferir na capacidade de aproveitar a vida ou alcançar a realização nos relacionamentos, no trabalho ou estudo. Também está associado a problemas específicos e significativos nas relações interpessoais, autoimagem, emoções, comportamentos e pensamento. No entanto, nem todo paciente experimenta todos os sintomas. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 15 Transtornos Mentais • Esquizofrenia A esquizofrenia é uma doença mental crônica e incapacitante, que geralmente se manifesta na adolescência ou início da idade adulta, entre 20 e 30 anos de idade. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1 para cada 100 pessoas. No Brasil, estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos. A doença se manifesta de forma variada, por isso, muitas vezes é difícil identificar sinais e sintomas da esquizofrenia na fase inicial. Os principais são divididos em dois grupos, chamados de sintomas positivos (ex. delírios, alucinações, alterações de pensamento) e sintomas negativos (ex. alterações da afetividade ). Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 16 • Transtorno de Estresse Pós-Traumático Vários tipos de experiências aterrorizantes ou ameaçadoras podem levar ao surgimento do estresse pós-traumático, tais como: • Violência física ou sexual; • Assalto ou sequestro; • Acidente de carro; • Desastres naturais; • Diagnóstico de doença que ameace a vida. Vale destacar que mesmo quem não foi vítima direta de tais situações pode receber o diagnóstico. Testemunhar uma agressão ou ser informado que um familiar sofreu um acidente grave, por exemplo, também são possíveis fatores desencadeantes. Transtornos Mentais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Suicídio 17 •Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos. •Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a cada ano. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral. •O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. •79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda. •Ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global. •A maioria dos casos decorre de morte por enforcamento, estrangulamento ou sufocação (59,7% entre homens e 40,4% entre mulheres), disparo de arma de fogo (16,6% entre homens e 9,5% entre mulheres) e pesticidas (12,1% entre mulheres e 5,6% entre homens). Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Automutilação 18 •20% dos jovens brasileiros se mutilam, um problema que já os afeta mais do que as drogas, e que o bullying nas escolas é um dos principais causadores desse problema. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Carta de um paciente que se automutila “Eu me vejo como alguém que precisa de ajuda, mas que não sabe se pode ser ajudado. Alguém que aposta, mas que apenas recebe o suficiente para sobreviver. Me vejo como uma pessoa forte, mas que está cansada de lutar; alguém que tentou muito. Me vejo como artista, poeta e escritor, alguém que se recolheu, mas que aprendeu à se abrigar em portos-seguros. Me vejo como alguém cheio de amor para dar, mas que não recebe muito. Me vejo em dias razoáveis e em dias péssimos, e vejo que estou preso em dor estagnada. Vejo que preciso me machucar para alcançar campos de tranquilidade que duram não o que mereço mas o suficiente para continuar um dia mais.” Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Alcoolismo e outras Dependências Químicas 20 O Transtorno de Dependência ao Álcool atinge cerca de 10% da população brasileira, que apresenta problemas graves relacionados ao consumo de álcool. Essa é a droga mais consumida e mais associada ao adoecimento e mortalidade precoce. Já o Transtorno de Dependência do Tabaco acomete cerca de 9% da população, e a maioria das pessoas não compreende a dependência do tabaco como um transtorno mental. É importante ressaltar que mais de um em cada quatro adultos que vivem com sérios problemas de saúde mental também tem dependência química. E esse tipo de doença traz ainda prejuízos sociais, pois o dependente se põe em risco e coloca em risco outras pessoas. tais dependências podem favorecer o desenvolvimento de outras doenças como cânceres e problemas cardiovasculares. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Pesquisa FIOCRUZ – 2013 – uso de crack ➢ O tempo de uso de crack está em torno de 08 anos:contradiz as notícias comumente veiculadas de que os usuários de crack/similares teriam sobrevida necessariamente inferior a 3 anos de consumo. ➢ Aproximadamente 40% dos usuários no Brasil encontravam-se em situação de rua. isto não quer dizer que esse contingente, necessariamente, mora nas ruas, mas que nelas passava parte expressiva do seu tempo. ➢ Atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e furtos/roubos e afins, foram relatadas, 6,4% e 9,0% dos usuários, respectivamente: não se observou serem essas as principais fontes de renda a dos usuários de crack e/ou similares. A forma mais comum de obtenção de dinheiro são provenientes de trabalho esporádicos e autônomos - 65% dos entrevistados. ➢ Entre os usuários, quase a metade relataram ter sido detidos no último ano (anterior a entrevista). Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Pesquisa FIOCRUZ - 2013 – uso de crack ➢ A prevalência de HIV/Aids e de tuberculose nessa população é bem maior que na população geral. ➢ O maior problema das substâncias psicoativas diz respeito ao álcool e tabaco (poliusuários): O Crack é uma questão emergente e importante que se manifesta mais fortemente por seu impacto social. Ganha espaço, não por ser um problema de saúde pública, mas pela ótica moralista. ➢ 80% dos ouvidos apresentou interesse por tratamento. É recorrente àqueles que disseram ter interesse em voltar a estudar, conseguir emprego e ter um lugar onde morar. Tanto pelo perfil de vulnerabilidade quanto pelas manifestações dos entrevistados, fica evidenciado o aspecto social relacionado às drogas e a necessidade de articulação intersetorial para formulação de estratégias de atenção e cuidado. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 CONSTRUINDO O CUIDADO E COMPREENDENDO O SOFRIMENTO 2 A PESSOA, O SOFRIMENTO E O CUIDADO Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 A pessoa ▸ Correlações entre esferas (mundos): - Vida passada - Vida futura - Vida familiar - Mundo cultural - Ser político - Papéis sociais - Trabalho - Vida secreta - Autoimagem - Necessidade de automanutenção, autocuidado e de lazer... 24 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 25 Análise de Fatores de Risco e Proteção (Ex. Crianças e adolescentes) Fatores de risco Fatores protetores S o ci a l a) Família – Cuidado parental inconsistente – Discórdia familiar excessiva – Morte ou ausência abrupta de membro da família – Pais ou cuidadores com transtorno mental – Violência doméstica – Vínculos familiares fortes – Oportunidades para envolvimento positivo na família b) Escola – Atraso escolar – Falência das escolas em prover um ambiente interessante e apropriado para manter a assiduidade e o aprendizado – Provisão inadequada-inapropriada do que cabe ao mandato escolar – Violência no ambiente escolar – Oportunidades de envolvimento na vida da escola – Reforço positivo para conquistasacadêmicas – Identificação com a cultura da escola c) Comunidade – Redes de sociabilidade frágeis – Discriminação e marginalização – Exposição à violência – Falta de senso de pertencimento – Condições socioeconômicas desfavoráveis – Ligação forte com a comunidade – Oportunidade para uso construtivo do lazer – Experiências culturais positivas – Gratificação por envolvimento na comunidade 26 Análise de Fatores de Risco e Proteção (Ex. Crianças e adolescentes) Fatores de risco Fatores protetores Domínio Psicológico – Temperamento difícil – Dificuldades significativas de aprendizagem – Abuso sexual, físico e emocional – Habilidade de aprender com a experiência – Boa autoestima – Habilidades sociais – Capacidade para resolver problemas Domínio Biológico – Anormalidades cromossômicas – Exposição a substâncias tóxicas na gestação – Trauma craniano – Hipóxia ou outras complicações ao nascimento – Doenças crônicas, em especial neurológicas e metabólicas – Efeitos colaterais de medicação – Desenvolvimento físico apropriado à idade – Boa saúde física – Bom funcionamento intelectual Fonte: Adaptado de Child and adolescent mental policies and plans. WHO, 2005. O Sofrimento ▸ É sobre essa pessoa complexa que emergem os fenômenos que denominamos de doença. ▸ Podemos entender a doença como sendo o surgimento de uma nova dimensão. Irá influenciar todas outras esferas, de acordo com as relações que se estabelecerem entre elas. ▸ O que é o Sofrimento: Vivência da ameaça de ruptura de unidade/identidade da pessoa. ▸ Interdependência das pessoas, família, território, sociedade Sofrimento – Vivência Doença – Descrição 27 Obra “O grito” – Edvard Munch Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 ▸ Eric Cassell, um importante médico de família norte- americana, diz que “a avaliação de um sistema de medicina deveria ser sua adequação em enfrentar o sofrimento”, e afirma que a Medicina moderna falha neste teste. Se por um lado, lidamos extraordinariamente bem com dor, dificuldade para respirar ou outras afecções do corpo, falhamos enormemente em lidar com o sofrimento de pessoas. “Corpos não sofrem, pessoas sofrem”.28 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 29 “Não existe Você separado do seu corpo. Em particular, não existe Você separado do seu cérebro. “ (Francis Crick, PhD) Saúde Mental, portanto, não será abordada em contraposição à saúde física ou biológica – conforme o velho e o equivocado dualismo corpo/mente – mas como sofrimento de pessoas, e em alguns casos adquire estabilidade e regularidade tal que merecerão enfoque específico. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 30 Todos nós temos nossos monstros internos sob a forma de mágoas e sentimentos improdutivos... Compreendemos sobremaneira que o sofrimento psíquico não é reservado àqueles que receberam algum diagnóstico específico, mas sim algo presente na vida de todos, que adquirirá manifestações particulares a cada um, e nenhum cuidado será possível se não procurarmos entender como se dão as causas do sofrimento em cada situação e para cada pessoa, singularmente. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 As expectativas e o sofrimento do profissional de Saúde no Cuidado em Saúde Mental ▸ Alguns dos medos revelados pelos profissionais de Saúde sobre o manejo das demandas de saúde mental são justificados por essa expectativa de cura. ▸ Os profissionais alegam não saber o que falar ou perguntar, tem receios de piorar o quadro dos pacientes de saúde mental, ou entendem que este campo do saber não lhes é acessível. 31 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 As expectativas e o sofrimento do profissional de Saúde no Cuidado em Saúde Mental Para refletir! Pense nas situações marcantes que você já vivenciou com um usuário, relativas ao cuidado em saúde mental. ▸ O que lhe chamou a atenção em cada uma destas situações? ▸ Que perguntas você faz a si mesmo sobre estas situações? ▸ Você se recorda sobre o que fez/disse, ou teve vontade de fazer diante do que ouviu/vivenciou? 32 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 33 Atenção ao conjunto de esferas que compõem a pessoa (abordagem integral) e suas correlações com a doença existente e /ou promotora de doenças; Acolhimento – disponibilidade em receber e ofertar na relação de cuidado - favorecimento do vínculo; Da mesma forma, devemos identificar quais esferas ou relações propiciam mais movimento, estabilidade e coesão ao conjunto. O que é o cuidado: Elaboração das estratégias de intervenção em algumas ou várias dessas esferas. O cuidado Plano Terapêutico Singular- PTS Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_34_saude_mental.pdf Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 A LIGAÇÃO DA CARTOGRAFIA À INTERVENÇÃO MULTIPROFISSIONAL 3 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 35 Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica Território: fundamento da organização da Atenção Básica • Lugar onde as pessoas vivem e constituem suas subjetividades - relações A Atenção Básica, por meio do desenvolvimento de tecnologias leves e intervenções, pode possibilitar a configuração/ desconfiguração/ reconfiguração dos territórios individuais e coletivos. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 36 Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica Observar e escutar o grupo familiar e inserção da pessoa em sofrimento neste contexto – conhecer a historia familiar. As famílias em maior dificuldade e com maior vulnerabilidade devem ser atendidas prioritariamente. Sem discriminação de patologias ou faixa etária. A responsabilidade pelo cuidado é das ESF e dos profissionais de SM – os ACS são peças-chave na identificação dos casos e no mapeamento das redes afetivas, sociais e familiares dos usuários. Adotar a Redução de Danos como estratégia que permeia o cuidado em saúde. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 37 Trilhas do Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica Em situações de intenso sofrimento psíquico, fragilidade dos laços familiares e sociais, agudização da sintomatologia psiquiátrica, dificuldade de manejo por parte da equipe multiprofissional, a internação de curta permanência é um recurso previsto, privilegiando os pontos da rede (leitos em HG, emergências gerais, CAPS III, CAPS AD III). Há diversas formas de cuidado que os ACS e equipes da AB já sabem e que podem ser usadas no cuidado em saúde mental mas é preciso estar aberto a este cuidado. A internação, sempre que necessária, será conduzida pelas equipes de saúde mental em conjunto com as equipes da AB. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 38 O vínculo e o diálogo necessários AB como campo potencial para a saúde mental: a) Acolhimento no território b) O usuário é atendido onde está: atendimento da necessidade e não só da demanda c) Intervenção a partir do contexto familiar – família como parceira no tratamento d) Cuidado longitudinal e) Potencialidades da rede sanitária e comunitária Há de se deslocar o olhar da doença para o cuidado, para o alívio e a ressignificação do sofrimento e para a potencialização de novos modos individuais e grupais de estar no mundo. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 39 ▸ Contextos de violência (violência urbana, de gênero, violência domiciliar) e abuso/dependência de álcool e outras drogas surgem naturalmente como demanda nos atendimentos clínicos, atribuindo a equipe a necessidade de buscar ações que respondam a esta realidade. ▸ Formação de uma rede de identificação e proteção com escolas, assistência social local (CRAS), conselho tutelar e da mulher e outros atores. ▸ Destaca-se a importância do apoio matricial para as Equipes de Saúde da Família, prioritariamente através dos NASF e CAPS, dentre outros, potencializando o cuidado que facilita uma abordagem integral.CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 40 Para orientar a intervenção em uma situação de conflito é importante que identifiquemos, antes de tudo, a intensidade desse conflito: ▸ Situações de normalidade: podem ser entendidas como conflitos em que os próprios envolvidos conseguem resolvê-lo com seus próprios recursos de diálogo e persuasão. Não requer, portanto, a intervenção de um agente externo. ▸ Situações de crise: as situações de crise relacional caracterizam-se pela intimidação, atuações enérgicas marcadas por forte emoção e desgaste dos vínculos. Esta circunstância sugere a intervenção de um agente neutro ou mediador. ▸ Situação de conflito extremo: caracteriza-se por situações de sujeição e destruição sugerindo aguardar o apaziguamento para a retomada de negociações. GERENCIAMENTO DE CONFLITOS Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 O famoso desabafo: o profissional de Saúde como um interlocutor para a pessoa em sofrimento ▸ O acolhimento realizado nas unidades de Saúde é um dispositivo para a formação de vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o usuário. Em uma primeira conversa, por meio do acolhimento, a equipe da unidade de Saúde já pode oferecer um espaço de escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se sintam seguros e tranquilos para expressar suas aflições, dúvidas e angústias, sabendo então que a UBS está disponível para acolher, acompanhar e se o caso exigir, cuidar de forma compartilhada com outros serviços. 41 A potência do acolhimento Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Ações terapêuticas comuns aos profissionais da Atenção Básica Proporcionar ao usuário um momento para pensar/refletir... ▸ Exercer boa comunicação. ▸ Exercitar a habilidade da empatia. ▸ Lembrar-se de escutar o que o usuário precisa dizer. ▸ Acolher o usuário e suas queixas emocionais como legítimas. ▸ Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne o usuário dependente e nem gere no profissional uma sobrecarga. ▸ Reconhecer os modelos de entendimento do usuário. 42 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 “É um plano de ação compartilhado composto por um conjunto de intervenções que seguem uma intencionalidade de cuidado integral à pessoa. Nesse projeto, tratar doenças não é menos importante, mas apenas uma das ações que visam ao cuidado integral. 43 Plano Terapêutico Singular Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 O que pode ser entendido como uma intervenção em saúde mental? ▸ Mesmo os profissionais especialistas em saúde mental elaboram suas intervenções a partir das vivências nos territórios. Ou seja, o cuidado em saúde mental não é algo de outro mundo ou para além do trabalho cotidiano na Atenção Básica. Pelo contrário, as intervenções são concebidas na realidade do dia a dia do território, com as singularidades dos pacientes e de suas comunidades. Portanto, para uma maior aproximação do tema e do entendimento sobre quais intervenções podem se configurar como de saúde mental, é necessário refletir sobre o que já se realiza cotidianamente e o que o território tem a oferecer como recurso aos profissionais de Saúde para contribuir no manejo dessas questões. Algumas ações de saúde mental são realizadas sem mesmo que os profissionais as percebam em sua prática. 44 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 PASSO A PASSO – ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL (ATENDIMENTO INICIAL) 45 Fonte: http://cidadao.saude.al.gov.br/unidades/caps/ Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 PASSO A PASSO – ATENDIMENTO EM SITUAÇÃO DE CRISE 46 Fonte: http://cidadao.saude.al.gov.br/unidades/caps/ Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 “ Um aspecto relevante é sua centralidade no que a pessoa deseja e consegue fazer para lidar com seu problema. Desse modo, por meio da redução de danos é possível cuidar dos problemas de saúde de maneira menos normalizadora e prescritiva, evitando ditar quais seriam os comportamentos adequados ou não. Atuar em uma perspectiva da redução de danos na Atenção Básica pressupõe a utilização de tecnologias relacionais centradas no acolhimento empático, no vínculo e na confiança como dispositivos favorecedores da adesão da pessoa. 47 Redução de Danos Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 48 Abordagem da Redução de Danos na Atenção Básica Operar em uma lógica de redução de danos também exige trabalhar com a família da pessoa que usa drogas, que muitas vezes é quem procura os serviços de Atenção Básica. Acolher o familiar e ofertar possibilidade de apoio inserindo-o em atividades coletivas como grupos de terapia comunitária podem ajudá-lo a lidar com o sofrimento. A construção de uma proposta de redução de danos deve partir dos problemas percebidos pela própria pessoa ajudando- a a ampliar a avaliação de sua situação. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 49 Abordagem da Redução de Danos na Atenção Básica No caso de pessoas com problema em relação ao álcool, podem se sugerir cuidados de praxe como: • Não beber e dirigir • Alternar o consumo de bebida alcoólica com alimentos e bebidas não alcoólicas • Evitar beber de barriga vazia • Beber bastante água • Optar por bebidas fermentadas às destiladas, entre outras sugestões Usuários de crack podem ser orientados a: • Não compartilhar cachimbos, pois possuem maior risco de contrair doenças infectocontagiosas caso tenham feridas nos lábios, geralmente ressecados pelo uso do crack e queimados pelo cachimbo Casos complexos exigem criatividade e disponibilidade da equipe de Saúde para a oferta de cuidado. Por exemplo, um usuário de crack em situação de rua, com tuberculose ou Aids e baixa adesão ao tratamento medicamentoso pode ser estimulado a: • Um tratamento supervisionado, negociando-se o fornecimento da alimentação diária no momento da administração da medicação, na própria unidade de Saúde. • E nos finais de semana é possível articular uma rede de apoio que possa assumir este cuidado. Muitos outros desdobramentos são possíveis adotando a perspectiva da redução de danos, dependendo das situações e dos envolvidos. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 POLITICA NACIONAL DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 4 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 51 A atual política de saúde mental brasileira é resultado da mobilização de usuários, familiares e trabalhadores da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo de mudar a realidade dos manicômios onde viviam mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais. O movimento foi impulsionado pela importância que o tema dos direitos humanos adquiriu no combate à ditadura militar e alimentou-se das experiências exitosas de países europeus na substituição de um modelo de saúde mental baseado no hospital psiquiátrico por um modelo de serviços comunitários com forte inserção territorial. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 ▸ Nas últimas décadas, esse processo de mudança se expressa especialmente por meio do Movimento Social da Luta Antimanicomial e de um projeto coletivamente produzido de mudança do modelo de atenção e de gestão do cuidado: a Reforma Psiquiátrica. 52 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 53 Fonte: https://www.vidaeacao.com.br/o-manicomio-era-um-lugar-terrivel-era-proibido-falar-eles-vigiavam/ Fonte: https://noticias.r7.com/hora-7/fotos/terror-fotos-de- manicomios-de-verdade-parecem-ter-saido-de-filmes- 16062018#!/foto/1 “O manicômio era um lugar terrível. Era proibido falar, eles vigiavam. Felizmente, esse lugar de atendimento em saúde mental tem mudado. Agora, a gente entra em sintonia novamente com o sentido daquilo que nós poderíamos ter perdido, que é a nossa unidade, nosso sentimento, nosso afeto.” A fala de Milton Freire, ex-interno em um hospital psiquiátrico e atualmenteusuário de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), reflete a importância da luta antimanicomial... https://www.youtube.com/watch?v=9N3xqojgMaA Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 A POLITICA NACIONAL DE SAUDE MENTAL ▸ Cuidado Centrado na internação em Hospital Psiquiátrico: ▹ Isolamento; ▹ Normatização dos sujeitos; ▹ Lógica da Instituição total; ▹ Violação dos direitos humanos. ▸ Criação de ampla rede de cuidado em saúde: ▹ Territorial; ▹ Complexificação do objeto de cuidado; ▹ Ampliação das práticas e saberes; ▹ Co-responsabilização pelo cuidado. 54 Antes da Reforma Psiquiátrica Depois da Reforma Psiquiátrica Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 55 Alguns Marcos da Reforma Psiquiátrica • 1970: ✓ Inicia-se amplo processo de mobilização pela redemocratização do país; ✓ 1978: criação do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. • 1980: ✓ CAPS Professor Luiz da Rocha Cerqueira- SP e Intervenção da Casa de Saúde Anchieta- Santos/SP; ✓ 1987-I Conferência Nacional de Saúde Mental e o posterior II Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental- “Por uma Sociedade sem Manicômios”; ✓ 1989- o deputado Paulo Delgado (PT-MG) apresentou o projeto de lei no 3.657/89. • 2000: ✓ 2001 – Lei 10.216 (06 de abril) – redireciona o modelo assistencial em saúde mental. • 2010: ✓ Portaria 4279, de 30 de dezembro de 2010- Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS); ✓ Decreto presidencial 7508, que regulamenta a LOS nº 8.080/ 1990, institui as regiões de saúde e garante o cuidado em saúde mental nas RAS; ✓ Portaria 3.088, (23 DE DEZEMBRO DE 2011) Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de saúde (SUS). Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 56 Lei nº 10.216 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. São direitos da pessoa portadora de Transtorno Mental: • Acesso ao melhor tratamento de acordo com suas necessidades; • Ser tratado com humanidade e respeito visando recuperação com inserção na família, trabalho e comunidade; • Ser tratado pelos meios menos invasivos possíveis; • Ser tratado em Serviços Comunitários de Saúde. (Brasil, 2001) Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 57 Lei nº 10.216 – Tipos de Intervenção • acontece com o consentimento do usuário Internação voluntária: • acontece sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro Internação involuntária: • acontece por determinação da justiça Internação compulsória: (Brasil, 2001) Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 58 PORTARIA Nº 336 19 FEVEREIRO 2002 Estabelece as modalidades CAPS I, II e III por ordem crescente de complexidade; CAPS deverão funcionar em áreas específicas e independentes de qualquer estrutura hospitalar. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 59 Decreto Presidencial nº 7508/2011 • A partir do Decreto Presidencial nº 7508/2011, instituiu-se o conjunto das redes indispensáveis na constituição das regiões de saúde. • Entre os equipamentos substitutivos ao modelo manicomial podemos citar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência (Cecos), as Enfermarias de Saúde Mental em hospitais gerais, as oficinas de geração de renda, entre outros. • As Unidades Básicas de Saúde cumprem também uma importante função na composição dessa rede comunitária de assistência em saúde mental. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 60 Resolução 32 DE 14 DE DEZEMBRO DE 2017 ➢ Vedado qualquer ampliação da capacidade já instalada de leitos psiquiátricos em hospitais especializados. ➢ Aprova a criação de "Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada em Saúde Mental", com objetivo de prestar atenção multiprofissional no nível secundário, apoiando de forma articulada a atenção básica e demais serviços das redes de atenção à saúde. ➢ Aprova a criação de nova modalidade de Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas do Tipo IV (CAPS AD IV), com funcionamento 24 horas, prestando assistência de urgência e emergência, para ofertar linhas de cuidado em situações de cenas de uso de drogas, especialmente o crack ("cracolândias"), de forma multiprofissional e intersetorial. ➢ Fortalece e apoia técnica e financeiramente o processo de desinstitucionalização de pacientes moradores em Hospitais Psiquiátricos. Estabelece as Diretrizes para o Fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 61 PORTARIA Nº 3.588, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2017 Altera as Portarias de Consolidação n° 3 e nº 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre a Rede de Atenção Psicossocial, e dá outras providências. Algumas considerações emitidas por órgãos da Luta Antimanicomial: 1- A “nova política” apresentada pela Portaria 3.588 foi construída exclusivamente com um determinado segmento da corporação médica, ignorando as demais categorias profissionais e suas entidades representativas. 2- 2- Da mesma forma, a referida Portaria não envolveu, em sua elaboração, os diretamente interessados, ou seja, os (as) próprios (as) usuários (as) e suas entidades organizadas. 3- As diversas instâncias da saúde mental e do Controle Social foram ignoradas na elaboração da “nova política”. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 62 NOTA TÉCNICA Nº 11/2019 “Embora a referida Nota já tenha sido oficialmente retirada pelo Ministério da Saúde por força das o pressões sociais, compreendemos que as intenções políticas e técnicas anunciadas pela atual Coordenação Nacional de Saúde Mental continuam sendo cotidianamente atualizadas por seus posicionamentos públicos, bem como pela emissão das Portarias e Resoluções, que apontam para importantes retrocessos das Políticas de Saúde Mental.” Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 63 NOTA TÉCNICA Nº 11/2019 No que se refere ao âmbito acadêmico, a Nota explicita que: [...] o Ministério da Saúde passa a aprimorar o monitoramento e acompanhamento da política, [...] para que o atendimento aos pacientes acompanhados na RAPS seja embasado em evidências científicas (BRASIL, 2019, p. 5-6). Estabelece ainda que na: [...] nova Política Nacional de Saúde Mental [...] a assistência em Saúde Mental no SUS deverá seguir as melhores práticas clínicas e as mais robustas e recentes evidências científicas (BRASIL, 2019, p. 6). Como exemplo, a Nota cita a retomada da Eletroconvulsoterapia (ECT), cujo aparelho passou a compor a lista de Equipamentos e Materiais do Fundo Nacional de Saúde, apesar de seu uso não ser um consenso no meio acadêmico e, comprovadamente, ter tido o uso histórico vinculado às práticas indiscriminadas, punitivas e de tortura em instituições psiquiátricas, um dos motivos pelos quais foi intensamente questionada e contraindicada pelo movimento da Reforma Psiquiátrica na direção da defesa dos direitos humanos dos usuários. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 64 Coesão Social Como Norteadora do Cuidado O grau de coesão social de uma comunidade pode servir como um medidor da saúde da comunidade: “Sociedades com baixo senso de coesão estão propensas a múltiplos problemas dos quais o abuso de drogas e criminalidade podem ser apenas os sinais mais visíveis.” Ameaças a coesão social: Desigualdade social persistente Migração Transformações políticas e econômicas A crescente cultura do excesso Crescente individualismo e consumismo Deslocamento dos valores tradicionais Sociedades em conflito ou pós-conflito Urbanização rápida Quebra no respeito à Lei Economia local das drogas Profa. Taciana SilveiraPassos – 06 de Março de 2021 Fonte: Informe 2011, Junta Internacional de Fiscalização Entorpecentes – JIFE (www.incb.org) REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DIRETRIZES PARA PROMOVER A COESÃO ▸ Fortalecimento de Rede de saúde mental diversificada, integrada, articulada, considerando as especificidades loco-regionais de base comunitária, atuando na perspectiva territorial. ▸ Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; ▸ Combate a estigmas e preconceitos favorecendo a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania. ▸ Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar. ▸ Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas. 65 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DIRETRIZES PARA PROMOVER A COESÃO ▸ Participação dos usuários e de seus familiares no controle social. ▸ Organização dos serviços em rede de atenção à saúde, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado. ▸ Promoção de estratégias de educação permanente. ▸ Desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos. ▸ Desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico singular. 66 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 67 GARANTIA DOS DIREITOS DE CIDADANIA PARA A EMANCIPAÇÃO SOLIDÁRIA TRATAMENTO MORADIATRABALHO Perspectiva para Ações Intersetoriais Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Determinantes para a evolução dos transtornos mentais (Saraceno, 1999) 68 Contexto familiar03 Funcionamento social do indivíduo 02 Condições do ambiente (contexto) 01 Densidade e homogeneidade da rede social 03 A atenção primária é lugar privilegiado para trabalhar estas questões Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 Política Nacional de Atenção Básica 69 Desenvolve-se com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral. Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021 70 Profa. Taciana Silveira Passos – 06 de Março de 2021
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