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Teoria Geral dos Contratos - Caderno 2021.1

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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS (Arts. 421 a 480 do Código Civil) --------
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
1. Breve evolução histórica
Estabelecer contratos é um ato cotidiano. Estabelecemos vínculos jurídicos através de diversos fatores.
O termo "contrato" vem do termo "contraire", que signi�ca "entrelaçar", estabelecer vínculos através dos quais
teremos uma conjuntura de direitos e obrigações.
No Direito Francês, nota-se que o Código Napoleônico (1804), no art. 1.100 e seguintes já apresentava a
con�guração dos contratos.
2. Conceito
O contrato refere-se a um negócio jurídico. Em nosso país, o jurista Orlando Gomes já apresentava o conceito
segundo o qual o contrato corresponde ao vínculo jurídico mediante o qual conseguimos estabelecer direitos,
resguardá-los, modi�cá-los, transferi-los e extingui-los.
3. Requisitos
Os contratos perpassam por requisitos, que são de natureza: objetiva, subjetiva e formal.
3.1. Subjetivos
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
Por Beatriz Gonzalez Folly de Mendonça – beatrizgfolly@gmail.com
Os sujeitos precisam de capacidade, de legitimação (autorização no âmbito jurídico para a prática de
determinado ato). Ex.: Outorga uxória (imprescindibilidade de um cônjuge ter, diante do outro, o seu aval para a
venda de imóveis).
3.2. Objetivos
O objeto precisa ser lícito e possível, sob os aspectos físico e jurídico. Ainda, o objetivo precisa estar determinado
ou ser determinável.
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor,
se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será
obrigado a prestar a melhor.
Ex.: Quanto às criptomoedas, trata-se de uma questão não regulamentada no Brasil. Questiona-se, portanto, se
esse objeto é possível, lícito.
Atualmente, observamos a prevalência de formulários padronizados em que os sujeitos não conseguem discutir
premissas contratuais. Com isso, os sujeitos têm suportado contratos de adesão, estandardizados, porque a
velocidade da estrutura mercadológica inviabiliza a discussão das premissas contratuais.
PRINCÍPIOS VETORES DOS CONTRATOS CÍVEIS
1. Autonomia da vontade
A autonomia da vontade, de acordo com Caio Mário da Silva Pereira, corresponde ao fato de que, no decorrer
dos negócios jurídicos, as partes devem externalizar seus intentos sem amarras, sem limitações arbitrárias. Ex.: No
caso da Coelba, inexiste outra empresa que possa fornecer esse serviço na Bahia. Portanto, questiona-se a
autonomia para o sujeito nessas condições.
Portanto, as empresas não podem agir de modo irracional, ilimitado, mas devem respeitar a situação da parte
contrária, que não tem como escolher outra opção, bem como enfrentar a estrutura contratual que foi elaborada
pelo detentor do poder, estando em uma situação de não poder opinar nas cláusulas contratuais.
2. Supremacia da ordem pública
A autonomia da vontade passa pelo crivo da supremacia da ordem pública, prevista no art. 17 da Lei
12.376/2010 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro):
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não
terão e�cácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
Por Beatriz Gonzalez Folly de Mendonça – beatrizgfolly@gmail.com
Não se trata de uma interferência indevida ou ilícita na liberdade econômica.
Ressalte-se a existência da Lei 13.874 (Lei da Declaração dos Direitos de Liberdade Econômica). Aqui, não se
critica esta Lei, nem defender que o Poder Público faça uma intervenção indevida nos diversos negócios
jurídicos.
No entanto, essa Lei interfere no art. 50 (que versa sobre a desconsideração da personalidade jurídica), art. 113
(que estatui as regras sobre a interpretação dos negócios jurídicos) e art. 421 (objeto de nossa análise).
A objeto do legislador em questão era não sobrecarregar algumas agentes econômicas (sobretudo, MEs e EPPs)
com exigências arbitrárias para o desenvolvimento de suas atividades.
i) Para a desconsideração da personalidade jurídica, houve um regramento mais detalhado, para que não
houvesse uma decretação de desconsideração de forma infundada, desnecessária. É cediço que a utilização do
patrimônio dos sócios para responder por indenizações das pessoas jurídicas é excepcional. Assim, o legislador
buscou obter exigências maiores para o desvio de �nalidade e para a confusão patrimonial.
No entanto, essas regras não podem inviabilizar o instituto, sobretudo, ao se deparar com as categorias mais
fragilizadas, que são os consumidores e trabalhadores.
ii) O art. 113, por sua vez, passou a ter um detalhamento da interpretação dos contratos, baseando-se
não apenas na boa-fé, mas também na alocação dos riscos e na racionalidade econômica. Com isso, o equilíbrio
das empresas deve ser mantido, mas não podemos sobrepujar a proteção dos consumidores (prevista no art. 5º,
XXXII, CF como direito fundamental, e no art. 170, V), bem como a salvaguarda para os trabalhadores
(também protegidos pela Constituição).
iii) Quanto à função social dos contratos (art. 421), também houve alteração. No art. 421, observamos a
necessidade de haver a simetria e a paridade contratual. Todavia, esses aspectos não são aplicáveis à relação entre
empregados-empregadores e consumidores-fornecedores. Logo, a inserção do parágrafo único no art. 421
estabelece que deve haver uma excepcionalidade na revisão contratual e que a intervenção do Poder Público não
deve ser extraordinária para essas categorias vulnerabilizadas.
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção
mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
A função social do contrato estabelece que qualquer vínculo jurídico reverbera para a sociedade, apresentando
seus efeitos para o público externo. Ninguém vive isolado na sociedade.
Portanto, o universo contratual exige responsabilidade das partes, mas também presença do Poder Público,
quando necessária.
3. Consensualismo
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Os contratos dependem da comungação de vontades entre as partes, isto é, deve haver um consensualismo entre
as partes. Apesar disso, nota-se que, muitas vezes, uma das partes não tem como discordar das cláusulas
contratuais.
4. Relatividade
A relação entre A e B possui um efeito inter partes, mas esta apresenta respingos para o universo jurídico-social.
Ademais, é possível fazer estipulações em favor de terceiros. Ex.: Alugar um imóvel para o �lho.
5. Obrigatoriedade
A regra do "pacta sunt servanda": se o contrato é �rmado, ele precisa ser seguido.
No entanto, precisamos analisar esta regra da obrigatoriedade sob determinados contextos críticos. Ex.: Um
consumidor analfabeto que contrata um serviço de telefonia vai saber o que signi�ca uma �delidade contratual?
Compete àquele que elabora a estrutura contratual apresentar esclarecimentos sobre o que está posto.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
1. Conceito
A função social do contrato estabelece que qualquer vínculo jurídico reverbera para a sociedade, apresentando
seus efeitos para o público externo. É conceituado pelos autores Cláudio Bueno Godoy e Humberto Theodoro
Jr.
2. Função social do contrato ≠ boa-fé objetiva
Ambas envolvem ética, probidade.
● A função social trata-se de um espargir de efeitos da relação jurídica para a sociedade, e não somente
inter partes.
● Já a boa-fé trata-se dpa estrutura contratual entre os próprios sujeitos envolvidos na contratação.
3. Conceito de boa-fé
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Desde Aristóteles,entende-se a importância da boa-fé nas relações jurídicas. Ele dizia que a boa-fé vinha do bonus
pater familie, isto é, do bom pai de família.
A boa-fé apresenta-se numa conformação subjetiva, desenvolvida inicialmente pela doutrina (quem primeiro
tratou foi o alemão Josef Esser) e, a partir daí, começou a ser trabalhada por doutrinadores e o Código Civil de
2002 nos apresenta, nos arts. 421 e 422, menções a esses institutos. Ela pressupõe uma análise do pensamento, do
cogitus, da intenção do sujeito.
Por sua vez, a boa-fé objetiva não se liga à intenção, mas está atrelada ao comportamento externado pelas pessoas.
O doutrinador alemão Karl Larens fala o seguinte: imaginemos um edifício, que seria a obrigação principal.
Quando incide o sol, faz a sombra e esta sombra seriam os deveres colaterais, anexos, complementares, adjuntos,
que decorrem da boa-fé. Ex.: Quando o trabalhador recebe o seu pagamento, diz respeito ao dever principal do
empregador de realizar a quitação social. Para além disso, o empregador merece respeito (situações de
insalubridade, periculosidade…). Não é somente pagar o salário.
ENUNCIADOS DAS JORNADAS
Existem estudos realizados no âmbito da Justiça Federal acerca do Direito Civil. A partir delas, temos os
Enunciados.
● 21 a 27: Relatividade [dos contratos], justiça, dignidade e boa-fé;
● 167 a 170: Regulação contratual e boa-fé;
● 360: Função social dos contratos e e�cácia interna;
● 361 a 363: Adimplemento substancial, comportamento contraditório e con�ança.
a. Teoria do Adimplemento Substancial (Carlos Roberto Gonçalves)
Signi�ca que, em certas situações, a parte que deve realizar um pagamento ou quitação, principalmente quando
o contrato é realizado em prestações sucessivas, ela realiza a quitação de uma parte signi�cativa do quantum
debeatur (devido), mas, a partir de algum momento, ela não paga.
Carlos Roberto a�rma que o adimplemento contratual demonstra (atrelado à própria boa-fé) que o sujeito
cumpriu, mesmo que de maneira fragmentada, um percentual que demonstra ser possível manter a
continuidade do vínculo, mesmo que haja a inadimplência por um período.
b. Comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
Os sujeitos não podem agir de uma determinada forma e depois mudar de forma abrupta para depois exigir a
tutela de seus direitos e interesses. Ex.: Podemos colocar um item numa lavanderia e sabemos que há um prazo de
retirada do item. Quando se ultrapassa o prazo, pode haver o descarte do item.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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c. Surrectio e supressio
Surrectio → acrescentar algo. Se está havendo um acréscimo em uma conjuntura jurídica de situações geradas
pelo próprio campo concreto e os sujeitos aceitam esse acréscimo, não se pode aceitar que, passado algum tempo,
o sujeito venha a exigir a mudança da disposição jurídica.
Ex.: Quando se tem uma estrutura societária em que o estatuto estabelece regras para distribuição dos lucros e
observa-se que regras distintas, informais, estão sendo adotadas e aceitas pelos socios, depois não se poderá exigir
uma alteração, mesmo com base no estatuto, pois houve um acréscimo nessa conjuntura jurídica de situações
que foram gerada no campo concreto.
Supressio → suprimir algo. Muitas vezes, a postura do sujeito é no sentido de não exigir os seus direitos e isso
pode gerar a eliminação destes em outros contextos.
Ex.: Se um pagamento é aceito através da modalidade Pix e o credor não impõe o seu direito de ser realizado esse
pagamento de forma distinta, não se pode aceitar que, passado algum tempo, ele venha a exigir este direito, ainda
que previsto em contrato.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS QUANTO AOS EFEITOS
1. Unilaterais, bilaterais e plurilaterais
Obs.: Consórcios de empresas são plurilaterais.
2. Gratuitos e onerosos
Em regra, são onerosos, e estes subdividem-se em comutativos e aleatórios.
2.1. Comutativos
Ex.: Compra e venda. Sujeito compra e recebe o bem no momento.
2.2. Aleatórios
Trazem uma margem variada, chamada alea. Ex.: Contrato de seguro.
3. Quanto à formação
3.1. Paritários
Engenheiros, arquitetos para realizar uma reforma e estabelecer as premissas especí�cas da vinculação.
3.2. De adesão
Predominam os contratos por adesão.
3.3. Contratos-tipo
São os meros formulários, que hoje já estão em desuso.
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4. Quanto ao momento da execução
4.1. Execução instantânea
Quando ocorre de maneira instantânea. Ex.: Compra e venda realizada presencialmente.
4.2. Execução diferida.
Ex.: Compra e venda em que o pagamento é realizado agora, mas a entrega do produto ocorrerá em um
momento posterior.
4.3. De trato sucessivo ou em prestações
O pagamento é realizado mediante períodos especí�cos. Ex.: Plano de saúde, em que o pagamento é
realizado por meses.
5. Quanto ao agente
5.1. Personalíssimos ou intuitu personae e impessoais
Os contratos podem ser impessoais, mas muitas vezes queremos a contratação em favor de um sujeito
especí�co.
5.2. Individuais ou coletivos
Sob o aspecto coletivo, destaca-se a importância nas esferas consumerista e trabalhista.
6. Quanto ao modo por que existem
6.1. Principais
6.2. Acessórios ou adjetos
Estão vinculados aos principais.
Ex.: Compra pela internet, quando usamos nosso cartão. Há uma relação triangular sendo estabelecida
entre fornecedor do produto/serviço e também através da instituição �nanceira que promove o
pagamento através do cartão.
6.3. Derivados ou subcontratos
Ex.: Sublocação. É possível esta subcontratação, desde que o contrato original de locação permita.
7. Quanto à forma
7.1. Solenes ou formais e não solenes ou de forma livre
O Código Civil estabelece que sejam realizados os contratos típicos ou os atípicos.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais �xadas neste
Código.
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Podemos contratar com base nos contratos em espécies, regulamentados na parte especí�ca do Código
Civil, mas também podemos criar novas contratações.
Ex.: A relação estabelecida entre o passageiro e a Uber não está regulada. Tampouco a relação com o
Rappi. Assim, é possível a criação de novas formas de contratação.
De igual modo, é possível haver contratos formais, como a venda de um imóvel, que exige a escritura
pública, ou contratos de natureza real que envolvem a entrega de alguma coisa.
7.2. Consensuais ou reais
8. Quanto ao objeto
8.1. Preliminares ou de pactum contrahendo
Ex.: A pessoa humilde compra um imóvel e não tem recursos su�cientes. Normalmente, �rma-se um
contrato prévio (contrato preliminar) até que o sujeito consiga numerário su�ciente para a realização do
aporte �nanceiro necessário.
8.2. De�nitivos
Contratos �rmados de forma completa em um único momento.
9. Quanto à designação
9.1. Típicos e atípicos
Os típicos são aqueles descritos na parte especí�ca do Código Civil.
Os atípicos são aqueles que não têm con�guração no Código Civil.
9.2. Mistos
Quando se mistura os contratos que estão previstos no Código Civil com outros oriundo da
criatividade humana, desde que o objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável.
9.3. Coligados e união de contratos
Ex.: Consórcio para a construção de uma rodovia e se tem empresas distintas que vão desenvolver as
atividades através da coligação (pressupõe um vínculo jurídico pré-estabelecido) ou através da mera
união de contratos (menos formal).
CONTRATOS DE ADESÃO
1. Evolução após a Revolução Industrial
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Os contratos de adesão ganharam força, sobretudo, a partir da Revolução Industrial, com o surgimentode novos
produtos, serviços e necessidade que implicaram o surgimento de novas formas de contratação. Por isso,
surgiram os "formulários padronizados".
Georges Ripert a�rma que, se quiséssemos vivenciar as atividades sem os contratos de adesão, teríamos de
fulminar a história. Não há como retroceder e precisamos tratar dos aspectos positivos (rapidez) e também dos
negativos.
2. Conceito e características
Os contratos de adesão estão previstos no art. 54 da Lei 8.078/90:
[CDC] Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modi�car substancialmente seu conteúdo.
São aqueles que são redigidos unilateralmente de forma padronizada por uma parte, sendo possível que decorra
de um ato de autoridade.
Ex.: As concessionárias, as permissionárias e as autorizatárias são pessoas jurídicas de direito privado que prestam
serviços e ofertam produtos mediante o aval do Poder Público. Assim, quando estas elaboram as suas condições
contratuais, elas estão, em verdade, utilizando-se de um ato de autoridade (porque passou pelo crivo do Poder
Público) para o estabelecimento das premissas que serão �rmadas com os usuários na contratação.
Ex. 2: As operadoras de plano de saúde precisam passar pela autorização da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) para que possam estabelecer as premissas referentes aos vínculos estabelecidos.
3. Interpretação das cláusulas ambíguas ou contraditórias (art. 423/CC)
O art. 423 do CC estabelece que as cláusulas ambíguas ou obscuras precisam ser interpretadas de modo favorável
àquele que simplesmente concorda com a estrutura (pró-aderente). Contudo, se for um contrato paritário,
elaborado pelas duas partes, não há a incidência deste artigo.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
4. Nulidade das cláusulas que estipulem renúncia (art. 424/CC)
Qualquer disposição contratual que estabeleça a renúncia de direitos ao sujeito que aquiesce com a estrutura
contratual, será considerada nula:
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
5. Enunciados das jornadas 171 e 172
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Enunciado 171: O contrato de adesão, mencionado nos arts. 423 e 424 do novo Código Civil, não se confunde
com o contrato de consumo.
Enunciado 172: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa
forma, é possível a identi�cação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela
estampada no art. 424 do Código Civil de 2002.
ESPÉCIES DE CONTRATOS PREVISTOS NO CÓDIGO CIVIL
1. Conteúdo da disciplina "Contratos em espécie"
Os contratos em espécie, previstos na parte especial do Código Civil, compõem a disciplina.
2. Possibilidade de estipulação de contratos atípicos (art. 425/CC)
É possível estabelecer contratos diferentes e inovadores, desde que haja licitude:
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais �xadas neste
Código.
3. Objeto do contrato
3.1. Objeto lícito
3.2. A herança da pessoa viva (art. 426/CC)
Não é permitido fazer contratos com herança de pessoa viva:
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
4. Lugar
O lugar da realização do contrato é o lugar em que foi proposto:
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
Se estamos fazendo um contrato pela internet, considera-se o local de domicílio do aderente.
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
Os arts. 427 ao 437 se aplicam ao Direito Civil geral, mas quando há consumidores no caso concreto, é preciso
ter a diligência necessária para entender que não cabe a aplicação de uma parte destes dispositivos.
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Consumidores são sujeitos que compõem uma relação de consumo. É aquele que adquire produtos ou contrata
serviços como destinatário �nal. Ele não emprega o bem para reinseri-lo no mercado, ou seja, não é agente
econômico.
O consumidor será, normalmente, uma pessoa física (mas há casos em que pode ser uma pessoa jurídica). Jamais
será consumidor o empresário, sendo que este terá o direito empresarial.
1. Proposta de contrato
A formação dos contratos se dá a partir de uma proposta, também denominada de oblação e policitação.
Obs.: A partir de agora, serão trazidos artigos do Código Civil que são aplicáveis ao Direito Civil geral, mas não
ao Direito do Consumidor.
O art. 427 apresenta algo que precisamos ter cuidado. A proposta para contratação será obrigatória se, dos
termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias não decorrerem aspectos outros que afetem esta
obrigatoriedade.
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos
dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
Nas relações de consumo, isto é diferente, por exemplo, quando uma venda é realizada de um produto que não
está em estoque. Logo, não será aplicado o art. 427, pois o consumidor precisa que a oferta seja cumprida.
Diferente disso, se há uma relação de natureza meramente cível, há aplicação deste artigo. Ex.: Um contrato
�rmando uma parceria agrícola, em que A dá sementes e B dá a terra, mas surge um impedimento imprevisto.
Neste caso, é cabível o art. 427.
Da mesma forma, chama-se atenção para a aplicação do art. 429:
Art. 429. A oferta ao público equivale à proposta quando encerra os requisitos essenciais ao
contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Essa oferta ao público é aplicável ao Direito Civil e ao Direito Empresarial, mas não ao Direito do Consumidor.
Ex.: Maria, na condição de proprietária de um gado, divulga no jornal o interesse em vender o gado, ela não
sendo comerciante. Essa oferta pode não ser obrigatória se circunstâncias venham a ocorrer que gerem a
impossibilidade de fazer aquela venda, porque o sujeito é um mero sujeito civil. É diferente quando se trata de
uma situação de natureza consumerista, porque o fornecedor está no mercado de forma habitual e age com o
intento de obter proveitos econômicos.
O caráter obrigatório da oferta no âmbito consumerista está nos arts. 30, 31 e 35 da Lei 8.078/90.
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Direito das Obrigações II – Profa. Joseane Suzart – Semestre 2021.1
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Assim, os arts. 45 e seguintes da Lei 8.078/90 são expressos no sentido de que tudo que é passado para a
população (um pan�eto, a informação disponibilizada pela imprensa, propaganda etc.) vai compor a estrutura
contratual, ainda que o consumidor tenha assinado o contrato e nem observe esta informação.
Do mesmo modo, o parágrafo único do art. 429 apresenta a regra de que a oferta ao público pode ser revogada.
Não quer dizer que seja impossível a revogação no campo consumerista, mas é questionável. Ex.: Se o fornecedor
faz uma promoção e vários os consumidores se deslocam até o local para comprar. Se houver um erro, o
fornecedor precisa agir de maneira rápida para fazer a revogação, pois, caso contrário, as pessoas vão poder exigir
o cumprimento da oferta.
Ademais, o art. 432 também possui aplicação diferenciada para os consumidores:
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o
proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Ex.: Quando o consumidor faz uma assinatura de revista e há renovação sem seu consentimento. Este artigo não
é aplicável à seara consumerista, pois não se pode permitir a renovação da estrutura contratual,mesmo que as
circunstâncias "permitam". Do mesmo modo, não se pode impor a renovação contratual na área trabalhista, sem
passar pelo crivo do trabalhador.
Por �m, temos as hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória à formação dos contratos no art. 428:
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
Aqui, deve-se atentar porque se considera também presente a pessoa que contrata por telefone ou
por meio de comunicação semelhante. Para o direito civil geral, sim. Para as relações de consumo, o
contato feito por telefone ou pela internet não é considerado uma relação entre presentes.
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo su�ciente para chegar a resposta ao
conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do
proponente.
Quanto aos contratos entre ausentes, existem duas teorias:
● Teoria da Cognição/Informação: Para que o contrato entre ausentes seja considerado formalizado, é
preciso que a outra parte que receba o aceite conheça o conteúdo desse aceite ou dessa concordância.
Não é a teoria adotada pelo brasil.
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● Teoria da Agnição/Declaração: Basta que aquele que concordou expeça a sua declaração. No Brasil,
adotamos esta teoria na modalidade da expedição.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida,
exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
2. Aceitação da proposta
Quando a aceitação ocorre com atraso, deve-se veri�car o porquê e comunicar.
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do
proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e
danos.
Mesmo que haja o aceite do contrato, mas que este é feito mediante alterações da estrutura, deverá haver nova
proposta, pois esta aceitação deverá ser avaliada pela outra parte para veri�car se concorda ou não:
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modi�cações, importará nova
proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o
proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a
retratação do aceitante.
3. Oferta ao público
CONTRATO PRELIMINAR (arts. 462 a 466)
1. Conceito
É cediço que os sujeitos nem sempre estarão imbuídos de todos os requisitos necessários para a formalização de
um instrumento em caráter de�nitivo em determinado momento. Por isso, podemos iniciar uma pactuação de
forma preliminar ou provisória.
Segundo Orlando Gomes, o contrato preliminar corresponde o vínculo através do qual se tem uma estrutura
similar à de�nitiva, mas as partes se reservam quanto a direitos e obrigações para a sua �nalização a posteriori.
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2. Requisitos
Nele, há todos os mesmos pressupostos do contrato de�nitivo. Todavia, ele é muitas vezes formalizado, pois nem
sempre estamos com todos os requisitos.
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais
ao contrato a ser celebrado.
Ex.: A falta de recursos �nanceiros para adquirir imóvel. Assim, as pessoas têm o propósito de fazer a pactuação,
mas consta no documento que, a depender do �nanciamento ou do empréstimo obtido, o contrato será
estabelecido, mas a forma de pagamento �ca submetida a uma condição. É comum que as partes precisem
discutir se haverá a participação de um terceiro sujeito.
O contrato de gaveta poderia ser um contrato preliminar? Sim, mas, às vezes, este já é um contrato de�nitivo e que
as partes não registram em razão de di�culdades �nanceiras. No entanto, o contrato preliminar deve passar pelo
crivo do órgão público competente (art. 463, parágrafo único).
3. Efeitos
E se o contrato preliminar não for registrado? Temos duas situações:
3.1. Se o contrato está vinculado ao registro
As partes obedecem o preconizado pelo Código Civil. Nesse contexto, as partes estão obrigadas ao cumprimento
do contrato preliminar. Se houver uma ressalva ao arrependimento e a possibilidade de retroagir quanto a esta
deliberação, o contrato será seguido.
Porém, não havendo esta cláusula, o contrato obriga os participantes a seguirem. Se não houver o devido
cumprimento, as pessoas envolvidas pactuantes podem ir à justiça e buscar a devida concretização do contrato.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e
desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a
celebração do de�nitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
3.2. Se não há o registro
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Haveria aqui uma ilicitude, um desrespeito ao Código Civil. Todavia, considera-se que hoje temos diversos
sujeitos que passam por di�culdades econômicas e, muitas vezes, as pessoas não fazem registro por não ter
condições �nanceiras.
Diante desse contexto, o STJ entendeu, através do Enunciado Sumular 239, que há a possibilidade de efeitos
decorrentes desse contrato preliminar não registrado, desde que as partes tenham agido de boa fé.
Enunciado Sumular 239, STJ: "O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao
registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis."
Assim, é possível a chamada adjudicação compulsória: cumprir o contrato, mesmo que não tenha sido feito o
registro na etapa anterior.
Essa mesma disposição está no Enunciado 30 das Jornadas de Direito Civil:
Enunciado 30, JDC: "A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser
interpretada como fator de e�cácia perante terceiros."
Portanto, é possível que os sujeitos solicitem ao Judiciário o reconhecimento da e�cácia perante terceiros,
havendo boa-fé das partes, ou até mesmo, em caráter administrativo, requerer aos órgãos especí�cos uma
proteção administrativa daquele contrato, de modo que estes deem seguimento e concretização do contrato
preliminar.
CONTRATOS ALEATÓRIOS (arts. 458 a 461)
1. Conceito (art. 458)
Este termo decorre do Direito Romano, em que o imperador Júlio César, olhando para as águas do rio, disse
"alea jacta est", o que quer dizer que aquelas águas que estão ali não são as mesmas de momentos anteriores e
nem serão as mesmas de momentos futuros. Isto é, tudo passa.
Assim, os contratos aleatórios tratam de situações que denotam a existência de um risco.
Caio Mário da Silva Pereira de�ne os contratos aleatórios como "os vínculos jurídicos através dos quais nós
temos, no seu bojo, situações ou bem jurídicos que não venham a existir ou que venham a emergir em uma
quantidade/qualidade distinta da esperada, bem como situações jurídicas que envolvam risco".
O exemplo típico dos contratos aleatórios são os planos de saúde e os seguros de vida/carro/residência.
Os arts. do Código nos apresentam três situações:
i) Referente a bens jurídicos ou coisas que não venham a existir;
ii) Referente a bens jurídicos que possam emergir em uma quantidade ou qualidade distinta;
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iii) Referente a coisas submetidas a risco.
2. Efeito (arts. 459 a 461)
Os efeitos destas três situações estão previstos:
2.1. Bens jurídicos que não venham a existir
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe
foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
Ex.: A, na condição de empreendedor, contrata B, na condição de prestador de serviços, para que ele execute a
atividade de pesca, é possível que a pesca seja realizada e não venha a ser identi�cado nenhum peixe. Se no
contrato houver a previsão de que, ainda que independentemente da localização de um peixe haja o pagamento
referente à atividade, o contratante terá que pagar. Ressalte-se que, se houver uma conduta dolosa, é possível não
haver o pagamento.
Este caso é o que o Direito Romano denomina de emptio spei (coisa esperada, que pode vir ou não).
2.2. Bens jurídicos que possam existir em quantidade/qualidade distinta
Ex.: Parceria agrícola para cultivo de sementes. A e B estabelecem que atuarão em conjunto para plantação. Não
se sabe a quantidade nem a qualidade do que será plantado. Há inúmeras variáveis que in�uenciam nesses
fatores. Se na pactuação houver a previsão de que independentemente da quantidade/qualidade, haverá o
pagamento estabelecido, deverá prevalecer o art. 459:
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco
de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde
que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade
inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o
preço recebido.
Esta situação é chamada de emptio spei sperata, pois se diz que há a coisa, mas não se sabe nem a quantidade, nem
a qualidade. Havendo a conduta dolosa ou culposa, pode haver o questionamento em sede judicial.
2.3. Coisas submetidas a risco
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Na celebração de determinados contratos, é possível ocorrer alguma vicissitude e o bem jurídico passar por
consequências consideradas negativas.
Carlos Roberto Gonçalves traz o exemplo de que a pessoa paga para transportar um objeto através de um navio e
é comunicada de que é possível que, no decorrer do trajeto, haja alguma avaria. Se ela assume o ônus de realizar o
pagamento, mesmo conhecendo as características do transporte, o contrato é válido. Também é possível a
ocorrência de dolo ou culpa por parte de quem realiza o translado.
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco,
assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já
não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como
dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a
que no contrato se considerava exposta a coisa.
Diante disso, denota-se a importância dos contratos aleatórios. Pagamos os planos de saúde, mesmo que não
estejamos doentes. Pagamos os seguros, independentemente de sofrermos um acidente de carro. O pagamento é
previsto diante da alea, isto é, a eventualidade.
CONTRATOS COM PESSOA A DECLARAR (arts. 467 a 471)
1. Conceito (art. 467)
A priori, parece estranho, pois um dos requisitos do negócio jurídico é justamente o agente que realiza a
pactuação. É possível celebrar um contrato entre A e B e só depois ocorrer a inserção de C? Sim.
Orlando Gomes diz que os contratos com pessoas a declarar são vínculos jurídicos através dos quais os agentes
participantes poderão prever o direito de indicação de um terceiro que passará a ocupar a posição jurídica,
assumindo direitos e obrigações atinentes àquele que o indicará.
Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de
indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.
Havendo um contrato entre A e B, é possível que B se reserve ao direito de indicar alguém que passará a ocupar o
seu espaço nesta relação contratual.
Ex.: A oferta um imóvel, C tem o interesse, mas preferir que B formalize a contratação com A, a �m de que evitar
a elevação do valor daquele bem. A, sabendo dessa situação (da possibilidade de B indicar qualquer pessoa), pode
aceitar, se for cumprido o prazo disposto no art. 468:
Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do
contrato, se outro não tiver sido estipulado.
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Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será e�caz se não se revestir da mesma forma
que as partes usaram para o contrato.
Logo, trata-se de um prazo de 5 dias, mas outro poderá ser estipulado entre as partes.
2. Pressupostos ou requisitos (art. 468)
Com isso, extrai-se do art. 468 dos seguintes requisitos:
i) A concordância da parte, indicando na estrutura contratual que pode ser qualquer pessoa;
ii) Quanto ao tempo, é necessário que haja a indicação de qual lapso temporal será seguido;
iii) Mesma conformação da indicação no que tange à contratação. Ex.: Se o contrato foi feito pela
internet, a indicação terá de ocorrer também pela internet. Deve ser seguida a forma da contratação.
3. Efeitos (art. 469 a 471)
Os efeitos decorrentes da contratação começam a vigorar a partir do momento da indicação de B e da aceitação
de A. Podem ocorrer situações que inviabilizem a inserção de C no contrato original entre A e B. São elas:
● C não aceitando a sua indicação (a estrutura contratual permanece entre A e B);
● C sendo incapaz (a estrutura contratual permanece entre A e B);
● Insolvência de C.
É o que dispõem os arts. 469 a 471:
Art. 469. A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e
assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.
Art. 470. O contrato será e�caz somente entre os contratantes originários:
I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;
II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação.
Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato
produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.
ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIROS
1. Conceito
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Caio Mário da Silva Pereira de�ne a estipulação em favor de terceiros como o vínculo jurídico através do qual se
tem a estipulação de uma estrutura contratual entre duas partes, porém em benefício de um outro sujeito
(terceiro), já indicado, ou um conjunto de sujeitos (terceiros).
Um exemplo típico é o contrato de seguros ou de plano de saúde coletivos.
Ex. 1: Uma empresa pode contratar uma operadora de plano de saúde para seus empregados, denominado plano
de saúde empresarial.
Ex. 2: Quando há uma associação ou fundação que contrata uma operadora de plano de saúde, denomina-se
plano de saúde coletivo.
Ex. 3: Quando há uma pessoa jurídica (caso da Qualicorp) que realiza a contratação e atua como administradora
do plano de saúde, fazendo a intermediação entre um grupo de consumidores, em face de uma operadora de
plano de saúde.
Ex. 4: Seguros de vida, que são muitas vezes contratados por pessoas jurídicas em prol de uma coletividade.
Ex. 5 (de natureza cível): Divórcioem que há partilha do patrimônio da sociedade conjugal e os cônjuges vão
dividir essa estrutura patrimonial e um deles, apesar de �car com um imóvel, realiza a estipulação de que os
eventuais aluguéis, em caso de locação daquele bem, será destinado ao �lho do casal.
2. Efeitos (arts. 436 a 437)
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido
exigi-la, �cando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante
não o inovar nos termos do art. 438.
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a
execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
Os efeitos presentes no Código Civil NÃO serão aplicados a situações de natureza consumerista (exs. 1 a 4),
somente a situações de natureza cível (ex. 5). Isso ocorre por algumas razões.
O Código Civil permite que aquele que estipula simplesmente modi�que o conjunto de bene�ciários,
independemente de ouvi-los. No âmbito eminentemente cível, pode haver a alteração independentemente da
oitiva do bene�ciário (vide ex. 5).
Contudo, isso seria absurdo se aplicado na esfera consumerista, à luz do art. 51, IV da Lei 8.078/90:
[CDC] Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
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IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Isto porque não se pode alterar o contrato de forma unilateral, potestativa e arbitrária em face do consumidor.
Por outro lado, o art. 437 do Código Civil permite que aquele que estipula exonere ou modi�que a estrutura
contratual. Ex.: O pai estabelece que os aluguéis serão recebidos pelo �lho, mas, em dado momento, volta atrás.
De acordo com o art. 437, o pai, independentemente de ouvir o �lho, pode suspender/reduzir o pagamento, por
esta ser uma relação eminentemente cível.
Observação! O terceiro pode ser uma pessoa menor (incapaz), uma pessoa jurídica etc.
3. Possibilidade de substituição do terceiro pelo estipulante (art. 438 e parágrafo único)
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,
independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última
vontade.
PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO
1. Conceito
Francisco Amaral de�ne fato de terceiro como toda e qualquer vinculação jurídica através da qual uma parte se
compromete perante a outra pela realização de uma prestação de natureza jurídica a ser realizada por um sujeito
que, a priori, não compõe a estrutura contratual ali estabelecida. Isto é, B se compromete perante A por uma
atividade a ser executada por C.
2. Responsabilidade civil do promitente (art. 439)
2.1. Em caso de terceiros em geral
Primeiro, deve-se entender se esta atividade é de natureza consumerista ou não.
Ex. 1: Consumidores que compram ingressos de um show da cantora X, organizado pela empresa Y, através do
site Z (como Ingresso Rápido). Aqui, tem-se a contratação de quem está vendendo o ingresso, da empresa e do
artista. Ressalte-se que um show diz respeito a um conjunto de pessoas (art. 2º, parágrafo único do CDC).
Ex. 2: Uma igreja que a�rma para seus integrantes (conjunto de pessoas) que um cantor vai se apresentar, sem
cobrar nada. Por ser gratuito, não se tem uma relação de natureza consumerista, mas apenas de natureza cível.
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Para o Código Civil, nos arts. 439 e 440, se o "cantor" con�rmou a sua apresentação na "igreja", a
responsabilidade civil em caso de não comparecimento ou de atraso ou de apresentação insatisfatória será
somente do "cantor".
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este
o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente,
dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a
indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se
ter obrigado, faltar à prestação.
Na situação do cantor do show, se o artista não se apresenta, a responsabilidade civil é solidária: (i) do artista, (ii)
da empresa que organizou o evento e (iii) da empresa que vendeu o ingresso, nos termos do art. 7º, parágrafo
único e art. 25 e §§ do CDC.
Atenção! Ex.: Para organizar a festa de formatura, Maria pede para que Ivete Sangalo, sua tia, se apresente e a
comissão deixa de contratar outro artista por isso. Todavia, no dia da festa, Ivete não pode mais se apresentar.
Maria pode ser responsabilizada neste caso, mesmo que tenha agido de boa-fé.
2.2. Terceiro cônjuge do promitente
Ressalte-se a seguinte situação: A e B celebram um contrato em que B se compromete pela prestação de serviços
por C. Se C for casado com B, e havendo concordância por parte desta pessoa, a responsabilidade será de B e C.
Se não houver concordância ou se C não tomou conhecimento, A �cará no prejuízo se for de separação de bens
ou que não for comunhão universal de bens.
EVICÇÃO
1. Conceito (art. 447)
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda
que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Augusto Teixeira de Freitas de�ne a evicção como uma situação jurídica através do qual se observa que os
contratantes estão tratando de um objeto considerado litigioso ou pertencente a terceiros, vinculado a um
contrato oneroso e, muitas vezes, disponibilizado em hasta pública.
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Ex.: A Justiça do Trabalho realiza leilões com bens penhorados. Ao se adquirir um bem desta natureza, depois se
descobre que ele não pertence a quem se dizia proprietário, pois pertence a um terceiro ou há uma ação em curso
acerca da propriedade deste bem.
Isto é, há uma contratação entre A (alienante) e B (evicto) e só depois surge C (evictor), trazendo uma nova
situação jurídica, antes desconhecida, acerca da propriedade do bem.
Para que seja demandada a evicção, a situação de coisa alheia ou litigiosa deve ser desconhecida pelo sujeito:
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou
litigiosa.
2. Efeitos (arts. 448 a 457)
A evicção pode ser total ou parcial. Os efeitos distinguir-se-ão a depender da natureza jurídica da evicção.
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evicção.
2.1. Parcial
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do
contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for
considerável, caberá somente direito a indenização.
Ex.: Uma pessoa adquire uma fazenda e depois descobre que uma parte do terreno pertence a um terceiro. O
Código Civil reserva para o adquirente, que está sendo prejudicado, o direito de apenas pedir uma indenização,
mas não tem o direito de rescisão do contrato.
Todavia, se a evicção parcial for considerável, é possível pedir a rescisão do contrato. Com isso, surge o
questionamento: o que é considerável? Às vezes, o que é parcial, pode apresentar uma natureza considerável e
permitir a rescisão, não somente a indenização.
2.2. Total
Nesse caso, o Código assegura: rescisão do contrato, indenização, direito de recepção dos valores atinentes aos
frutos não recebidos,custas judiciais, honorários de advogado.
Ex.: Árvores que estavam no terreno com plantações e que não vai ser possível fazer a colheita porque ela está
numa região de terceiro.
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Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito
o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do
preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da
evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que
se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
Atenção! Isso se aplica a relações de natureza cível. Caso se trate de uma relação consumerista, ainda que a
evicção seja parcial, o consumidor terá o direito à rescisão e à indenização (arts. 30 a 54 do CDC).
● Demais efeitos
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada,
exceto havendo dolo do adquirente.
Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a
indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante.
Se existirem deteriorações no imóvel, estas serão apreciadas, ainda que em caráter Judicial.
Ex.: Se o agente agiu de forma a deteriorar o imóvel, de forma dolosa ou culposa, no momento de �xar o
pagamento da sua indenização, o magistrado precisa observar esses aspectos.
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas
pelo alienante.
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o
valor delas será levado em conta na restituição devida.
As benfeitorias podem ser decorrentes da ação de quem comprou (evicto) ou também do próprio alienante.
Essas benfeitorias úteis e necessárias serão avaliadas pelo Poder Judiciário para �ns de contabilização e �xação do
valor indenizatório.
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3. Direitos do Evicto (art. 450)
Em razão de os consumidores terem o direito à informação e ao cumprimento do contrato, dentre os direitos do
evicto na condição do consumidor, tem-se assegurado o cumprimento total do contrato.
No campo cível, é possível haver a cláusula de exoneração, exclusão, mitigação ou amenização da
responsabilidade de quem está pactuando em face da evicção. No campo consumerista, o art. 51, I estabelece que
a exclusão, isenção ou a mitigação de responsabilidade é considerada cláusula nula de pleno direito:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de
consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em
situações justi�cáveis;
Observação! No caso de uma incorporadora que faz a venda de um imóvel, mas este não é dela, há uma situação
de coexistência de evicção e vício, além da infração de natureza penal e consumerista.
EXTINÇÃO DOS CONTRATOS (arts. 472 a 480)
1. Distrato (arts. 472 e 473)
O distrato deve ser realizado pela mesma forma com que foi realizado o contrato:
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
Há alguns contratos que são celebrados com prazo indeterminado, sendo chamados de cativos de longa duração.
Em regra, os contratos podem ser extintos, a depender da vontade das partes ou de problemas que venham a
ocorrer. Assim, podemos ter:
i) O desfazimento do contrato sem problemas maiores, tendo o chamado distrato ou resilição
unilateral. Não pressupõe o descumprimento do contrato ou a ocorrência de uma lesão, mas o mero
desfazimento por uma ou ambas as partes;
ii) O desfazimento por distrato ou resilição e pode ser que um dos contratantes tenha realizado
investimentos e, antes de ser realizado e distrato, tenhamos de aguardar um pouco mais para poder efetivar o
desfazimento do contrato. Mesmo diante de um problema que não envolva uma lesão ou conduta dolosa,
deve-se observar a condição do outro;
iii) O desfazimento em virtude de uma situação de descumprimento ou insatisfação de uma das partes,
chamada de resolução do contrato;
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iv) O desfazimento em virtude de uma onerosidade excessiva.
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia noti�cada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito
investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de
transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
2. Cláusula resolutiva (arts. 474 e 475)
Obs.: A resolução também pode estar baseada em uma cláusula prevista no contrato e que não necessita de uma
interpelação judicial.
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação
judicial.
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
3. Resolução por onerosidade excessiva (arts. 478 a 480)
A resolução por onerosidade excessiva é quando se constata em contratos, sobretudo aqueles com prestações
continuadas, em que haja manifesta vantagem para uma das partes, um desequilíbrio decorrente de fatores
imprevisíveis ou extraordinários. Por isso, o Brasil adota a Teoria da Imprevisão.
A Teoria da Imprevisão foi apresentada pelo Prof. Orlando Gomes diante da obra do francês Georges Ripert,
quando a companhia de gás, que prestava serviços para a prefeitura de Bordeaux, constatou que o carvão estava
muito caro após a Guerra e que não seria possível vender o gás pelo mesmo preço, pedindo a revisão do contrato.
Assim, adotou-se a teoria de que o contrato poderá ser revisto quando, diante de fatores imprevisíveis, observa-se
a necessidade de readequação das parcelas.
Todavia, o Brasil adota também a Teoria da Base Objetiva do Negócio Jurídico. Conforme o art. 6º, IV, V e VI da
Lei 8.078/90:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos
e serviços;
V - a modi�cação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
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VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;
Exs.: Contratos de cartão de crédito, de �nanciamento, de empréstimo… Ao atrasar o pagamento de uma
parcela, os juros são exorbitantes.
Conforme o art. 193, § 3º da CF limitava o juros remuneratórios a 1% ao mês (12% ao ano). Todavia, esse artigo
foi modi�cado e hoje o Brasil não dispõe de qualquer limite nesse sentido. Logo, é possível questionar esses juros
arbitrários.
Art. 478.Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modi�car eqüitativamente as
condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que
a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a �m de evitar a onerosidade
excessiva.
4. Exceção do contrato não cumprido (arts. 476 e 477)
Em contratos em que as partes se comprometem ao cumprimento de obrigações, não podemos exigir da outra
parte que faça a sua, se não estamos cumprindo a nossa.
Todas as vezes que uma estrutura contratual sobrevier ou for identi�cada a diminuição patrimonial ou algo que
venha a afetar o patrimônio daquele que ali assumiu a obrigação de realizar quitações, podemos buscar perante o
Poder Judiciário a proteção dos interesses (ex.: caução).
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação,
pode exigir o implemento da do outro.
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição
em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou,
pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou
dê garantia bastante de satisfazê-la.
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