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A Ordem de Cristo e o Brasil Tito Livio

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de Magalhães Gandavo. “História da Província de Santa Cruz, 
a que vulgarraente chamamos Brasil.” 2. ed. p. 3. Lisboa, 1858).
No capítulo segundo, Gandavo escreve:- “Em que se descreve 
o sítio e qualidade desta Província”, expondo: “Esta província 
Santa Cruz está situada naquela grande América, uma das quar­
tas partes do mundo. Dista o seu princípio dois graus da equi- 
nocial para a banda do Sul, e daí se vai estendendo para o mes­
mo Sul até quarenta e cinco graus. De maneira que parte dela 
fica situada debaixo da zona tórrida e parte da temperada. 
Está formada esta Província à maneira de uma harpa, cuja costa 
pela banda do Norte corre do oriente ao ocidente e está olhan­
do diretamente à Equinocial; e pela do Sul confina com outras 
Províncias da mesma América povoadas e possuídas de povo 
gentílico (ameríndios, na linguagem atual) com que ainda não 
temos comunicação. E pela do Oriente confina com o mar 
Oceano Áfrico (hoje Atlântico), e olha diretamente os Reinos 
de Congo e Angola até ao Cabo de Boa Esperança, que é o seu 
oposto. E pela do Ocidente confina com as altíssimas serras dos 
Andes e fraldas do Peru as quais são tão soberbas em cima da 
terra que se diz terem as aves trabalho em as passar. E até hoje 
só um caminho lhe acharam os homens vindo do Peru a esta 
Província, e este tão agro, (difícil) que em passar perecem 
algumas pessoas caindo do estreito caminho que trazem, e vão 
parar os corpos tão longe dos vivos que nunca mais os vêm, 
nem podem ainda que queiram dar-lhes sepultura. Destes e de 
outros extremos carece esta Província Santa Cruz; porque com 
ser tão grande não tem serras, ainda que muitas, nem desertos 
nem alagadiços que com facilidade senão possam atravessar. 
Além disto, esta Província sem contradição a melhor para a vida 
de homem que cada uma de outras da América. . . ” (Cf. Pero 
de Magalhães Gandavo. Ob. cit. p. 4);
Ao escrever a sua “História da Província de Santa Cruz”, 
publicada em Lisboa em 1576, Gandavo tinha diante dos olhos 
j3s mapas do Brasil, feitos por Lopo Homem, publicado em Lis­
boa. em 1519. cinqüenta e sete anos antes, e o de Bartolomeu 
TVelho^ também publicado em Lisboa em 1561, havia quinze 
"anos. È esses dois mapas documentam como os portugueses já 
tinham feito o reconhecimento geográfico do patrimônio da Or­
dem de Cristo, politicamente, Estado do Brasil, de norte a sul, 
de leste a oeste, em meio século, para reproduzi-lo cartogra- 
ficamente.
110
59. Raposo Tavares traça as fronteiras do patrimônio da 
Ordem de Cristo a Oeste, em 1650
Na carta ao Marquês de Nisa, já referida, o jesuíta padre An­
tônio Vieira, então conselheiro do rei de Portugual, sugere a 
D. João IV o reconhecimento dos Andes, a Oeste, do patrimônio 
da Ordem de Cristo, pois o religioso tinha grande ascendência no 
ânimo de sua majestade, para serem conhecidas as fronteiras do 
Estado do Brasil com a América Espanhola. (Cf. Jaime Cortesão. 
“Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil” II. p. 141. 
Lisboa, 1966). Dessa incumbência é encarregado o Rei do Ban- 
deirismo, o sertanista Antônio Raposo Tavares, em 1647, infor­
ma o historiador Jaime Cortesão, na obra citada (146). Nesse 
fim de 1647, a bandeira, repartida em- duas tropas, parte desta 
cidade de São Paulo. A primeira, mais numerosa, sob o co­
mando de Antônio Raposo Tavares, compunha-se de cento e 
vinte portugueses paulistas e mil e duzentos tupis. Organizada 
a segunda com oitenta homens de São Paulo e cerca de sete­
centos tupis, comandada pelo lusobaiano, natural de Salvador, 
Antônio Pereira de Azevedo, filho de Manoel de Azevedo Ne­
gro e de Maria Pereira, mas casado em São Paulo com Virgínia 
Missel, filha de João Missel Gigante. E a segunda tropa segue no 
rasto da primeira em março de 1648.
Tietê abaixo, descido o Paraná, cada uma das tropas subiría, 
segundo caminho já conhecido, o rio Ivinhema, rumo ao Itatim, 
donde passaram aos rios Aquidauana e Miranda, e, por fim, 
entraram no Paraguai, a segunda no rasto da primeira. Assim, 
a tropa de Raposo Tavares marcha diretamente à região onde 
hoje se ergue Corumbá; no século XVIII Albuquerque e Puerto 
de San Fernando no século XVI. E^ galgados os contrafortes dos 
Andes ate os altiplanos andinos, para descer à planicie amazô­
nica. “Não se perca de vista que a bandeira se desenrolou numa 
região tropical, que medeia exatamente entre o trópico* de Ca­
pricórnio e o Equador e entre as duas maiores bacias hidro­
gráficas do mundo, numa longitude de terras entrepostas equi­
valente à latitude do espaço abarcado. E ora cortando planaltos, 
de cuja aresta se precipitam rios encachoeirados, que obrigam 
dezenas e dezenas de vezes a puxar à sirga (corda) ou a varar 
por terra os batelões e as cargas; ora atravessando pantanais 
mortíferos; ora rasgando picadas na selva, onde o índio, a onça 
e a cobra espreitam; já cortando as savanas ressequidas e esté­
reis; logo trepando os contrafortes duma das mais altas cordi­
120
lheiras da terra, de cujo cimo, quando a neve.se funde, a água 
se despenha em catadupas e torrentes; para depois correr pla­
nícies monótonas e cálidas, onde a veia dos rios cava poços e 
túneis subterrâneos; e baixar, enfim, em plena selva equatorial, 
uma escadaria de gigantes, de cachoeira em cachoeira, por um 
rio que atravessa a floresta com a majestade de um deus, até 
desaguar no Amazonas, chamado o rio-mar, tamanho o volume, 
a vastidão e grandeza da massa de água, que arrasta e precipita 
no Atlântico.
“Não se esqueça também, que dois terços dos sertões percor­
ridos pela expedição eram inteiramente desconhecidos dos ban­
deirantes; e, mais do que isso, estavam fora de qualquer conhe­
cimento científico. Um mistério de serras, rios, cataratas, tórri­
dos calores e frios de gelar, homens e feras brutas rodeavam 
esse punhado de homens. A natureza e a vida, antes de ser vio­
ladas, punham a máscara de ameaça e espanto.” (Cf. Jaime 
Cortesão. Ob. cit. ps. 212/213). E daí o assombro do padre An­
tônio Vieira ao ver a empresa sugerida por ele a D. João IV, 
realizada, para escrever: “verdadeiramente foi uma das mais 
notáveis que até hoje se tem feito no mundo!”
60. Raça de gigantes
Assim, “los portugueses de San Pablo y los portugueses dei 
Brasil”, segundo escreveram os jesuítas espanhóis do Paraguai, 
pertencem àquela raça de gigantes que fizeram o reconheci­
mento dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico e foram os des­
cobridores das três quartas partes do planeta; esses mesmos 
Portugueses prolongaram no patrimônio da Ordem de Cristo, 
politicamente, Vice-Reino Estado do Brasil, as “memórias glo­
riosas, daqueles Reis”, ‘que por África, Ásia e Brasil, “ foram 
dilatando a Fé e o Império.” (Camões. “Lusíadas”. I-II),
Não se pode estabelecer o paralelo entre a empresa de Raposo 
Tavares e outra qualquer do mesmo vulto, porque outra igual 
a essa não existe na História das Civilizações. A qualquer outra 
“faltou a grandeza bárbara do cenário, a variedade inóspita dos 
climas e o esforço múltiplo dos trabalhos, que exigia dos homens 
uma energia física e uma constância moral, que excediam a 
mais alta medida humana, pois devia fundir a força dos gigan­
tes e a consciência dos heróis”. (Jaime Cortesão. Ob. cit., p. 
213). E, para fazer da epopéia raposiana um poema épico, era 
preciso tê-la vivido, assim como Camões velejou “por mares
121
nunca dantes navegados”, a fim de imortalizar a gente maravi­
lhosa e ímpar dos “Lusíadas” .
Esses portugueses de São Paulo e portugueses do Brasil são 
bandeirantes. Vede-os. “Ei-los que abordam o Paraguai e os 
seus pantanais. Quase um ano passaram trilhando veredas ás­
peras e abruptas, entre selvas, ou descendo rios vertiginosos, 
saltando por cachoeiras, itaipavas e rápidos, carregando o bar­
co e a tralha pelos varadouros improvisados nas arribas das 
margens. Vão descansar? Não. Pelejam com índios armados^ de 
flechas e arcabuzes e comandados por padres_Jesuítas (espa- 
nhóis), aguerridos. A defesa obriga-os à ofensiva. Dão e rece­
bem golpes. Matam e sãomortos. E sangrando ainda dos comba­
tes, reencetam a marcha. Em frente, os pantanais encharcam e 
alagam a planície; recobrem os arbustos, que mal repontam 
da superfície turva. A lama transforma-se em abismo, que re- 
puxa e afoga os homens. Por toda parte o inimigo espreita, 
ora em canoa, ora a cavalo, patinhando no lodo. Tresmalhados 
os bandeirantes, caem varados pelas flechas. Saltam no treme- 
dal; e enfiam a custo por alguma senda da floresta. Mas os 
mosquitos pululam por miríades; abatem-se sobre a presa inde­
fesa; colam-se à pele e sugam com voracidade o sangue. Ali se 
contam dezenoze mosquitos por centímetro quadrado. Mais um 
pantanal, o do Taquaral, e depois a savana, sem fruto agreste ou 
água para a goela ressequida. Os homens morrem à fome e à 
sede. E quando, enfim, esquálidos, emaciados, quase nus e co­
bertos de sangue e lama atingem o acampamento do capitão- 
-mor, tremem de febre, devorados pela malária, o béri-béri e 
quantas maleitas tropicais a selva e o marnel dos trópicos 
exalam.”
Mas esses bandeirantes são portugueses de Portugal, portu­
gueses do Brasil, tupis e lusotupis de Piratininga, são os lusíadas 
do patrimônio da Ordem de Cristo, são os cavaleiros de Cristo 
oceânicos do século XVI, na arrancada terrestre, gigantesca e 
maravilhosa. E a fé inquebrantável, indômita e impetuosa ani­
ma-os, encoraja-os, estimula-os.
“Descansam alguns meses. Breve repouso para tamanhos ma­
les e quebranto. E a marcha recomeça. Agora a tropa incorpo­
rada entra na savana abrasada, onde não correm fontes, nem 
verdeja arbusto, mas nos últimos charcos da lama esverdeada 
carcaças e bichos tumefactos trescalam pestilência. Começa 
depois a escalada dos Andes, empresa de ciclopes. Por má for­
122
tuna dos historiadores, o testemunho de Vieira foi truncado 
nessa parte. Ainda assim o que se pode apurar do estropiado 
relato deixa entrever os bandeirantes lutando com os chirigua- 
nos, inimigo tenacíssimo, que conhece como as próprias mãos 
o terreno que os outros pisam pela primeira vez. Bravura inútil: 
as ciladas colhem-nos sem defesa. A neve e o vento gélido to­
lhem por todo sempre os membros dos que ficaram apenas fe­
ridos. Deixam em farrapos nas brenhas a pouca vestimenta. 
Sangram; estão famintos e exaustos; o mais indomável e feroz 
dos índios — o ciringuano — não lhes dá quartel; e chegaram 
os dias impreteríveis de partir. Entram então a baixar a Guapeí 
talvez, desde o porto de Tarata, nos altos da montanha, ou um 
pouco mais ao Sul.”
Raposo Tavares habituara-se a ver longe, desde criança, na 
distância da planície, a linha remota do horizonte baixo a per* 
der-se no infinito entre o céu e a terra. Nascera na freguesia de 
São Miguel, em Beja, no Alentejo, em Portugal. Agora ali no 
topo da cordilheira dos Andes, ele contemplava a planície na 
dimensão do espaço. E preparava a tropa bandeirante para a 
descida.
61. Os bandeirantes lusopaulistas no Amazonas
Antônio Raposo Tavares era natural da freguesia de São Mi­
guel, em Beja, no Alentejo, em Portugal, donde viera com cerca 
de vinte anos, para São Paulo de Piratininga, em 1618, em 
companhia de sua mãe Francisca Pinheiro da Còsta Bravo e de 
seu pai Fernão Vieira Tavares, nomeado Governador da Capi­
tania de São Vicente, pelo seu donatário Conde de Monsanto. 
Habituara-se desde criança a ver ao longe distância longínqua 
da planície a linha remota do horizonte baixo a perder-se no 
infinito entre o céu e a terra. Casa-se no 'planalto piratininguara 
com Beatriz Furtado de Mendonça, filha do bandeirante Ma­
noel Pires, um dos chefes do clã dos Pires, no ano de 1622. E 
em 1624 é nomeado Capitão da Ordenança, milícia civil-militar 
formada para a defesa da vila de São Paulo, embrião do Exér­
cito Luso-brasileiro e do Exército Brasileiro. (Cf. Tito Lívio Fer­
reira. “História de São Paulo”, vol. l.° p. 168. Gráfica Biblos 
Ltda., São Paulo.)
Pelo seu estilo de vida, o alentejano possuía todas as con­
dições naturais para ser, como foi, o Rei do Bandeirismo. Pela 
cultura herdada, lusitano com raízes romano-árabes, tinha as
123
grandes capacidades andejantes, a resistência de tenaz anda­
rilho, os sentidos agudíssimos a serviço do poder excepcional 
de orientação no infinito deserto das solidões sertanejas. Além 
disso tudo, cioso em extremo de suas dignidades de homem. E 
tanto João Ramalho quanto Antônio Raposo Tavares, o primeiro 
patriarca dos Bandeirantes e o segundo Imperador do Bandei- 
rismo, foram portugueses, arquiportugueses do seu tempo e de 
todas as épocas, povoadores por excelência do patrimônio da 
Ordem de Cristo, juridicamente Estado do Brasil, Província da 
Monarquia Portuguesa.
Assim, no topo da cordilheira dos Andes, Antônio Raposo 
Tavares contempla a paisagem desdobrada entre o céu e a terra, 
após a escalada vitoriosa da sua bandeira. E prepara-se para 
serpentear à beira dos abismos terríveis, na descida para a pla­
nície amazônica.
“ Mas o Rio Grande, ao descer escarpa abaixo os Andes, tem, 
de vez em vez, seu quê de torrente e de catarata subterrânea; 
engolfa-se entre as rochas, sob um toldo cerrado de arvoredo; 
corre na treva líquida, onde a luz submersa vem das águas 
lampejantes; e torna-se forçoso a cada passo, mal se ouve o 
rugir próximo da cascata, encostar à margem, trepar nos blocos 
caóticos e resvaladiços da penedia, içar a canoa, levá-la mais 
abaixo e recomeçar numa agonia, sem descanso, a navegação de 
Tântalos, sequiosos da planura. Esta foi, talvez, a parte mais 
dolorosa do trajeto infindável.
“Que a empresa nesta parte do curso andino do Guapeí exi­
gisse energias sobre-humanas, outros testemunhos, ainda que 
tardios e alheios à bandeira, o comprovam., Para avaliarmos a 
magnitude do feito, temos que considerar que os espanhóis, só 
volvido mais de um século, começaram a navegar o Rio Grande 
desde o seu alto curso, como meio mais rápido de comunicação 
com zona extrema dos seus territórios, que lindavam com o 
Brasil.” (Cf. Jaime Cortesão. “Raposo Tavares e a formação 
territorial do Brasil.” II. p. 816). E somente os lusopaulistas, 
afeitos à luta, sem trégua, contra a hostilidade selvagem da sel­
vagem natureza, poderíam realizar “a empresa ciclópica de 
baixar a gigantesca escadaria do Madeira.” (Cf. Jaime Cortesão. 
Ob. cit. p. 219).
A bandeira chegou a Gurupá quase dizimada. “ Contava a 
tradição conservada por Machado de Oliveira no ‘Quadro His­
tórico, que o ‘regresso de Raposo Tavares através dos sertões
124
(de São Paulo a Belém) durou anos e ao cabo deles se achou 
tão desfigurado, que foi desconhecido por sua família e paren­
tes’. Não custa a crer. E o que se diz do chefe pode afoitamente 
afirmar-se dos seus subordinados. Os sofrimentos, trabalhos e 
privações tinham sido os mesmos. Três anos e alguns meses em 
que atravessaram sertões inviolados, sofrendo todas as agruras 
de terras nunca vistas e climas nunca experimentados, enfermi­
dades várias e desconhecidas, para as quais não havia remédio 
nem defesa, ataques insidiosos duma fauna quase invisível e 
minúscula, e esse estar continuamente alerta contra os perigos 
certos e os imaginários, deixaram os poucos bandeirantes que 
restaram — cinqüenta e nove no dizer de Berredo, •— esquá­
lidos, famintos, esfarrapados, o cabelo e a barba intensa, mais 
parecendo fantasmas, ou bichos, que seres humanos”. (Cf. Jai­
me Cortesão. Ob. cit. ps. 222/223).
Na luta desigual, fantástica e vigilante contra tudo e contra 
todos, — ameríndios, feras e serpentes —, esses portugueses 
paulistas, esses tupis e lusotupis nem homens pareciam ao 
terminar a incrível jornada sertaneja.
“Bem poderá dizer-se que o desbaratado pelotão não passava 
de um farrapo de bandeira. Farrapo e bandeira, usando aqui a 
palavra, quer no sentido de expedição paulista, quer de símbolo 
de uma pátria, que apesar de roto em cem refregas, continua 
desfraldado, dando sentido e glória à pequena falange.” (Cf. 
Jaime Cortesão. Ob. cit. p. 223).
Assim, à foz do Amazonas chegam esses cinqüenta e nove 
bandeirantes do périplo lusíadanas Américas, graças à deter­
minante vontade férrea do seu grande Capitão, em tudo igual 
aos grandes capitães da História de todos os povos. Esses cin­
qüenta e nove homens eram os heróis dos mil e duzentos tupis 
e dos cento e vinte portugueses paulistas. Dos documentos não 
consta que os 1.200 tupis da tropa fossem carregados de coleiras 
de ferro ao pescoço, segundo fantasiou o padre Montoya, o je­
suíta espanhol, a quem se deve a criação da lenda negra dós 
paulistas, “caçadores de escravos.” E se os tupis fugissem para 
os matos, ninguém jamais os caçaria.
O gênio do naduano Tito Lívio. autor da “História.de Ro-
ma”, escrita no tempo do imperador Augusto, narra a passagem 
dos' Alpes feita por Aníbal, à frente do exército cartaginês para 
conquistar a Itália. O historiador latino escreveu uma das pá­
ginas mais belas da História das Civilizações E o estilo brilhan­
125
te dessa imponente narrativa empalidece em face do intenso 
resplendor do gigantesco périplo da bandeira de Antônio Ra­
poso Tavares, na demarcação das fronteiras ao Oeste do patri­
mônio da Ordem de Cristo com a América Espanhola.
62. A organização paramilitar da Bandeira
0 gênero de vida relativo às origens e formação das bandeiras 
e do bandeirantismo dos portugueses paulistas até meados do 
século XVIII encontra-se no “Regimento dos capitães-mores e 
mais capitães e oficiais das companhias de gente de cavalo e 
de pé e da ‘ordem que terão em se exercitarem”, seguido da 
“Provisão sobre as Ordenanças, agora novamente feita com 
algumas declarações que não estavam no primeiro Regimento”^ 
10 de dezembro de 1570 e 15 de maio de 1574, no reinado de 
D. Sebastião, governador e perpétuo administrador da ORDEM 
E CAVALARIA DO MESTRADO DE NOSSO SENHOR JESUS 
CRISTO, ou seja, da ORDEM DE CRISTO. E o Estado do 
Brasil é patrimônio da Ordem de Cristo desde 22 de abril de 
1500, data do descobrimento da Província de Santa Cruz, hoje 
República Brasileira.
Esse opúsculo editado em 1570 foi reeditado em 1574, 1623, 
1624, 1642 e 1694. O texto da publicação de 1570, reprodu­
zido nas seguintes, começa com estas palavras do rei D, Sebastião:
“Hei por bem que cada oito dias haja exercício, em domingo 
ou dia santo. E no lugar onde houver uma só bandeira irão ao 
exercício duas esquadras, que são cinqüenta homens, a um do­
mingo, e outras duas ao outro até irem todas. E a gente desta 
bandeira se exercitará toda junta ao cabo do mês. E onde hou­
ver duas bandeiras irão cada domingo cinco esquadras, de ma­
neira que cada quinze dias se exercite uma bandeira toda junta.
E se forem mais bandeiras que duas, irá uma bandeira cada 
domingo, de maneira que por esta ordem se exercitem, todas as 
companhias, uma vez em cada mês.
“E os ditos capitães-mores de toda a gente e assim os capitães 
das bandeiras do termo, nos lugares e limites que eles tiverem 
a seu cargo a gente de pé, terão isso mesmo capitães da dita 
gente de cavalo e a farão exercitar pelo modo acima dito.”
As reedições sucessivas provam como foram divulgadas no 
Estado do Brasil, ao longo de mais de duzentos anos. (Cf. Jaime 
Cortesão. “Paulicea e Lusitana Histórica”, Vol. 1 (1494-1609)
1 -IV partes. XCV e segs. Publicações do Real Gabinete Por-
126
luguês de Leitura do Rio de Janeiro. Edição comemorativa do 
IV centenário da Fundação da cidade de São Paulo. Lisboa, 
1936).
Assim, em 25 de maio de 1741, em Arraias (hoje Estado de 
Goiás), o governador da Capitania de São Paulo, D. Luís de 
Muscarenhas, assina o Regimento que há de usar a BANDEIRA 
i|uc vai explorar a Campanha do Rio do Sono.
Porquanto o Povo destas minas e ribeiras de Pernatinga, 
Palma e Paraná, com ânimo e lealdade portuguesa tem concor­
rido com gente, ouro, armas e munições e mais coisas neces­
sárias para se formar uma BANDEIRA poderosa, que, iguaí- 
mente política e cristã, possa fazer serviço a Deus Nosso 
Senhor. .. nomeio para Cabo das Companhias das terras novas 
das ribeiras das Palmas e Pernatininga ao Capitão-mor Louren- 
ço da Rocha Pita, e por Cabo das Companhias da ribeira do 
Paraná ao Sargento-mor Salvador de Almeida e por Comandan­
te de toda a Bandeira ao Coronel José Velho Barreto do Rego, 
os quais regerão e comandarão na forma das Instituições e Re­
gimento do mesmo teor, que a cada um mando dar pela maneira 
seguinte: “Em treze artigos desse Regimento a palavra BANDEI­
RA foi escrita vinte e duas vezes. E o governador de São Paulo 
estava na região de Goiás. (Cf. Tito Lívio Ferreira. “História 
d(e São Paulo” l.° vol. ps. 374 e segs. Gráfica Biblos. 1968)
Assim, a Bandeira é um organismo civil paramilitar com sua 
oficialidade portuguesa, naturais de Portugal e do Brasil, com 
objetivos políticos e cristãos, para o devassamento, defesa e 
povoamento do patrimônio da Ordem de Cristo, cuja tropa é 
tupi e lusotupi, ou seja, filho de pai português e mãe tupi e a 
linguagem tupi é utilizada nas ordens de comando e nos exer­
cícios. E assim o português se tupinizoq e o tupi se aportu­
guesou. * '
63. Os “Lusíadas" no inventário do bandeirante
Nesse caso, os Portugueses filiam à Caravana, a Caravela e a 
Bandeira. A primeira vem do Oriente para o Ocidente. Nela 
ressoa o passo compassado na fuga do tempo. A segunda re­
toma-lhe o ímpeto, do Ocidente para o Oriente, na crista alva- 
centa das ondas rumorejantes. Vem a seguir o tropel secular 
da terceira. Os Caravaneiros passam. Refazem o caminho de 
oásis em oásis. Os Caravelistas velejam os oceanos entre con­
127
tinentes, aproximando-os. Os Bandeirantes avizinham sertões 
largados na distância infinita; congregam brasilíndios dispersos 
em tribos guerreiras, ocupam-se em “ fazê-los homens, antes de 
quererem fazê-los anjos”, na expressão de Domingos Jorge Ve­
lho. Para isso saem de São Paulo rumo ao Norte, ao Nordeste e 
ao Noroeste; vão para o extremo sul e sudoeste, e avançam de 
leste para o oeste. Do alto vale do Tietê descem para os verdes 
vales do Rio Grande, do Araguaia, do Tocantins, do Paraná, do 
Paraguai, do São Francisco, do Açu, do Amazonas, do Gua- 
poré, do Jequitinhonha, do Jacuí, do Ibicuí e do Rio da Prata. 
E da gigantesca plataforma dos Andes baixam aos chapadões 
do Mato Grosso e Goiás, à planície amazônica, às chapadas dos 
Cariris e do Apodi, aos sertões baianos, às montanhas auríferas 
das Minas Gerais, aos campos de Guarapuava e do Iguaçu, às 
caatingas de Pernambuco, do Piauí, do Maranhão, às coxilhas e 
aos pampas sul rio-grandenses.
Por isso mesmo, os ptírtugueses de São Paulo, ou seja, os 
lusopaulistas, continuam a unidade lusíada, “serviam o nome 
luso com a mesma constância e o espírito dos Capitães das jor­
nadas da África, e das jornadas da índia, dos vassalos da con­
quista do Oriente.” (Cf. Afonso d’E. Taunay. “História Geral 
das Bandeiras Paulistas.” T.V.C. XII. — “Os bandeirantes e 
os Lusíadas. Um episódio de 1616. O inventário do sertão de 
Pero de Araújo. As estâncias do poema camoniano no auto ban­
deirante.” Ps. 82 e segs.).
Assim, “Fernão Mendes Pinto, no Oriente, e Raposo Tavares, 
no Brasil, são portugueses e arquiportugueses. Portugueses de 
nascimento, nas atitudes, no inacreditável poder de vontade que 
os anima e sustenta, na constância e maleabilidade com que se 
moldam a todas as situações e, sobretulo, nesse instinto político 
que os leva a imprimir a seus feitos e gestos um cunho nitida­
mente construtivo', de colaboração na obra empreendida desde 
os dias de Sagres, em Portugal.” E linhas abaixo: “Não há pois 
lugar para dúvida: na sua essência (o bandeirantismo) é um 
fenômeno eminentemente, visceralmente português.” (Cf. Júlio 
de Mesquita Filho. “Ensaios Sul-Americanos”, p. 144).
Nesse caso, o Bandeirantismo nos prova, como filosofia de 
vida, ser a essência do humanismo lusíada onde arde e brilha a 
espiritualidade viva do lusocristianismo, em cuja contextura se 
dinamizam a civilização grega, o espírito jurídico romano e a 
teologia judeu-cristã, para unir, no patrimônio da Ordem de
128
Cristo, portugueses e brasilíndios na mesma consciência social ecaldear a Comunidade Lusobrasileira. Por isso, o Caravelista 
e o Bandeirante se fundem e conduzem no seu interior, na sua 
alma, no seu pensamento, os ancestrais romanos e árabes, iden­
tificados nos lusíadas pelas suas cartas de nobreza, de civismo 
e nacionalidade, em face da Monarquia Lusitana, então reinan­
te. E por isso ressoam na alta planetar de todos os Bandeiran­
tes, de ontem, de hoje e de sempre, como um toque de clarim 
no clarear da manhã brasileira, as palavras épicas de D. Pedro 
II, o Rei Bandeirante:
“Cabo da Tropa da Gente de São Paulo que vos achais na 
cabeceira do Tocantins e Grã-Panrá, eu, o Príncipe, vos envio 
muito saudar. . . ” (Cf. Tito Lívio Ferreira. “Discurso de posse 
na Academia Paulista dè Letras”, em 16 de abril de 1975).
64. A gente paulista na defesa da integridade do * 
patrimônio da Ordem de Cristo
Sentinelas colocados nas fronteiras do território do patrimônio 
da Ordem de Cristo, ao Sul, ao Sudoeste e ao Oeste, os portu­
gueses de São Paulo, ou sejam os portugueses paulistas, na 
linguagem da época, e os tupis, deram magníficas provas de 
bravura e lealdade lusopaulistas. Assim, na guerra dos bandei­
rantes lusopaulistas contra os jesuítas espanhóis invasores do 
atual Estado do Rio Grande Sul, os portugueses de São Paulo 
contavam com a tropa formada por tupis do planalto e minua- 
nos dos pampas gaúchos, contra as tropas aguerridas e bem ar­
madas de arcabuzes dos religiosos de Santo Inácio de Loiola, as 
quais arregimentavam o total de três mil soldados índios. “As­
sessoravam os catecúmenos, divididos em três corpos do exército 
(jesuítico), sob o comando geral de Vera .Mujica (mestre-de- 
-campo), os padres Pedro Ximenes, Jacinto Marques, José An­
tônio de Solinas, tendo por; superior o 'padre João de Rojas.” 
(Cf. Aurélio Porto. “História das Missões Orientais do Uru­
guai”. p. 294).
Assim, “a efetiva expansão portuguesa para o Sul, que se 
dirige para o Prata sempre ambicionado, cuja posse deveria 
ser um secular motivo de dissídios e de lutas sangrentas, só se 
realiza em fins do século XVII. D. Manoel Lobo quem se in­
cumbe de fundar a Nova Lusitânia, que logo denomina de Ci­
dadela do SacramentõT ou mais propriamente de Nova Colônia 
(Militar) do Santíssimo Sacramento, liga, com seu martírio e
129
com o seu estoicismo de soldado, os alicerces desse marco muito 
além da linha de Tordesilhas.” (Cf. Aurélio Porto. Ob. cit. 
p. 269).
D. Manoel Lobo era vassalo, portanto, soldado do Rei de 
Portugal, a serviço da Monarquia Lusitana. Ao erguer a Colô­
nia Militar do Sacramento, no estilo romano, D. Manoel Lobo 
defende o patrimônio da Ordem de Cristo na sua dimensão ter­
ritorial, para além do estuário do Rio da Prata, conforme do­
cumentam os mapas dos cartógrafos portugueses e o afirmam 
os jesuítas portugueses Nóbrega, Anchieta e Vasconcelos, cita­
dos em capítulos anteriores. Para a guerra contra os jesuítas 
espanhóis, os portugueses eram obrigados a levar, por mar, 
as tropas dos tupis e lusotupis, os mantimentos, armas e muni­
ções. Logo, com o auxílio precário e incerto dos poderes públi­
cos, a expedição portuguesa tinha em toda a frente “um ini­
migo poderoso, contando com auxílio dos jesuítas espanhóis, 
que tinham às suas ordens milhares de índios, aguerridos e dis­
ciplinados, não poderia resistir ao forte embate que se prepa­
rava.” (Cf. Aurélio Porto. Ob. cit. p. 271). E na retaguarda do 
exército jesuítico-índio estava a tropa espanhola enviada pelo 
governador de Buenos Aires para conduzir os prisioneiros lusi­
tanos para os cárceres argentinos e chilenos, onde morriam de 
fome e doenças, à míngua de socorros.
“A segunda carta que D. Manoel Lobo escreveu ao príncipe 
(D. Pedro IP, rei de Portugal), datada de Buenos Aires, de 21 
de setembro de 1680 (transcrita logo abaixo) ainda inédita, 
(em 1943) resume, melhor do que poderiamos fazer, essa epo­
péia que foi a queda da praça. Transcrevendo-a, na íntegra, em 
primeira mão, historiamos, melhor, os fatos que o fidalgo por­
tuguês relaciona, na sua simplicidade epistolar. Envoltos numa 
auréola de martírios, os defensores da Colônia (Militar) hon­
ram as tradições de bravura da gente lusa. Não falta, porém, a 
nódoa de uma traição de paulistas (portugueses), que aberra dos 
sentimentos bandeirantes da terra.” (Cf. Aurélio Porto, Ob. 
cit. p. 271). Mas a lealdade e a deslealdade são próprias e con­
traditórias das criaturas humanas. Por isso mesmo, Camões lem­
bra Fernão de Magalhães, português de certo no valor, mas não 
no amor da Pátria. E observa:
“O Magalhães, no feito com verdade
Português, porém não na lealdade.”
(Lusíadas. X-46)
130
A contrastar com a traição de alguns portugueses paulistas, 
crgue-se, num fundo de apoteose, um vulto varonil de mu- 
llur, l). loana Galvão. que vendo cair morto o esposo, capitão 
Miinoel Galvão, toma-lhe da mão ainda quente a espada gloriosa 
<■ sc atira ao fragor da luta, e não se rende embora lhe queiram 
poupar a vida, tombando trespassada de feridas sobre o corpo 
Inerte do esposo, na mais heróica e admirável das atitudes da 
raça.” (Cf. Aurélio Porto. Ob. cit. p. 217).
Os governos do Rio Grande do Sul e de São Paulo têm uma 
dívida de honra para saldar com essa mulher de raras quali­
dades. Deviam dar-lhe o nome a uma rua de Porto Alegre e de 
São Paulo, em cuja placa fosse gravado: Rua ou Avenida Joana 
Galvão, a bandeirante paulista que deu a vida pela integridade 
do patrimônio da Ordem de Cristo, hoje Pátria B rasile iraE em 
todas as escolas nacionais o nome de Joana Galvão devia Ser 
mencionado na lista das heroínas brasileiras.
65. Os' portugueses paulistas num documento do fim do 
século XVII
Até 7 de setembro de 1822 não havia a Nação Brasileira, nem 
existia a nacionalidade brasileira. O período lusobrasileiro 
(1500-1822) desdobra-se em província de Santa Cruz (1500- 
1549), Estado do Brasil (1549-1639), Vice-Reino do Estado do 
Brasil (1639-1815), Reino do Brasil integrado no Reino Unido 
de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822), constituía-se do patri­
mônio da Ordem de Cristo governado pelos reis de Portugal até o 
desmembramento do Reino Brasileiro da Monarquia Portuguesa 
pelo príncipe-regente D. Pedro, português, natural de Lisboa. 
Ele assume a nacionalidade brasileira, portanto é o brasileiro 
número um, para outorgar a Constituição Política do Império 
Brasileiro em 25 de março de 1824, a todo o povo brasileiro, ou 
seja, a todos os portugueses naturais do Brasil e aos portugueses 
naturais de Portugal, daí em diante, juridicamente, brasileiros, 
por força da primeira Constituição Política citada acima.
Assim, o período lusobrasileiro (1500-1822) é integralmente 
português, como.de 1822 em diante o período nacional é brasi­
leiro, porque é constituído pelo Império Brasileiro, por um Im­
perador Brasileiro, nascido em Lisboa, o qual abdica o trono 
em 7 de abril de 1831 em favor de seu filho D. Pedro II, brasi­
leiro, nascido no Rio de Janeiro. Logo o período lusobrasileiro 
escreve-se com páginas da História de Portugal, assim como o
131
período nacional escreve-se com capítulos da História do Im­
pério Brasileiro e da República Brasileira. E, assim, pela graça 
de Deus, o Brasil não foi colônia, pois era e é patrimônio da 
Ordem de Cristo.
Por isso, todos os brasileiros pela naturalidade até 1822, eram 
portugueses pela nacionalidade. Nesse caso, quando um escritor 
anônimo se dirige, pouco depois de 1690, a D. Pedro II, Rei de 
Portugal, o Bandeirante, para referir-se aos homens de São Paulo, 
na realidade ele trata dos portugueses de São Paulo, ou portu­
gueses paulistas, segundo escreviam os reis de Espanha e os 
espanhóis do Paraguai e de Buenos Aires. Assim, esse documen­
to diz: “Sua Majestade podia se valer dos homens de São Paulo, 
fazendo-lhes honras e mercês, que as honras e os interesses faci­
litam os homens a todo o perigo, porque são homens capazes 
para penetrar todos os sertões, por onde andam continuamente 
sem mais sustento que caças do mato, bichos, cobras, lagartos, 
frutasbravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto an­
darem pelos sertões anos e anos, pelo hábito que têm daquela 
vida. E suposto que estes paulistas, por alguns casos sucedidos 
de uns para com outros, sejam tidos por insolentes, ninguém lhes 
pode negar que o sertão todo que está povoado neste Brasil eles o 
conquistaram do gentio bravo (brasilíndios) que tinha destruído 
e assolado as vilas de Cairu, Boipeda, Camamu, Jaguaripe, Ma- 
ragogipe e Peruaçu, no tempo do governador Afonso Furtado 
de Mendonça, o que não puderam fazer os mais governadores 
antecedentes por mais diligências que fizeram para isso.
“Também se lhes não pode negar que foram os conquistado­
res dos Palmares de Pernambuco, e também se podem desenga­
nar que sem os paulistas com o seu gênio nunca se há de con­
quistar o gentio bravo que se tem levantado no Ceará, no Rio 
Grande (do Norte) e no sertão da Paraíba e Pernambuco, por­
que o gentio bravo por serras, por penhas, por matos, por 
caatinga só com o gentio manso (tupis) mesmo se há de con­
quistar e não com algum outro poder, e dos paulistas se deve 
valer Sua Majestade para a conquista de suas terras.” (Cf. 
Capistrano de Abreu. “Páginas de História Colonial”, ps. 153- 
-154. l.a ed. — Tito Lívio Ferreira. “História de São Paulo”. 
l.° vol. — p. 307).
Esse documento anônimo, do fim do século XVII, explica a 
lealdade e o valor dos vassalos portugueses nascidos em São 
Paulo e em Portugal. Da mesma forma, por essa mesma época,
132
no decênio de 1600 a 1700, o Procurador da Fazenda Real 
expunha o seu parecer a D. Pedro II, o rei Bandeirante, “sobre 
as queixas e requerimentos dos Paulistas”. Esse parecer insiste: 
Por várias vezes tenho dito que os Paulistas são o melhor, ou 
a única defesa que têm os povos do Brasil contra os inimigos do 
Sertão, pois só eles são acostumados a penetrá-los, passando 
lomes, sedes e muitos outros contrastes, a todas as outras pes­
soas totalmente insuportáveis. Assim o acaba de mostrar a ex­
periência na guerra dos Palmares que se vai concluindo com 
seu valor e experiência, não bastando por tão largo tempo as 
incríveis despesas que pela Fazenda Real e dos moradores se 
lem feito e as multiplicadas expedições empreendidas contra os 
negros rebeldes.” (Cf. Ernesto Ennes. “As Guerras dos Palma­
res”. Doe. 53. p. 311. C.E.N. São Paulo. Tito Lívio Ferreira. 
"História de São Paulo”. Vol. l.° — p. 308).
66. Das aldeias do rei às reduções jesuíticas
Em 1549 a primeira turma de jesuítas chefiados pelo Padre 
Manoel da Nóbrega chega à Bahia, a serviço de Portugal, en­
viados por D. João III, o rei humanista, para iniciar os traba­
lhos da catequese dos brasilíndios e instalar a primeira escola 
pública e gratuita, lusobrasileira. Por ordem expressa do mo­
narca, os religiosos não podiam morar nos aldeamentos indí­
genas. Deviam residir em casa própria, ao lado dos Reais Co­
légios, onde eram professores pagos pela Coroa lusitana. E assim, 
as aldeias e os colégios eram do rei de Portugal, porque os je­
suítas estavam e estiveram de 1549 a 1759, durante 210 anos, 
a serviço da Monarquia Portuguesa.
Em fins do século XVI, os jesuítas portugueses de São Paulo 
requerem ao governador da Capitania de São Vicente fosse-lhes 
entregue o governo das aldeias do rei, para facilitar o exer­
cício do seu ministério. Deferido o requerimento, o diretor do 
Real Colégio de São Paulo apresenta-se à Câmara de Vereado­
res paulistana para assumir o poder na administração dos aldea­
mentos indígenas, ao redor de São Paulo. Reunido o plenário, 
em 1592, a Câmara de Vereadores recorre ao “ajuntamento do 
povo”, e, democraticamente, realiza o plebiscito. Os vereadores 
eram representantes do povo, eleitos por ele. A Edilidade era 
uma República autenticamente popular. O povo não elegia o 
seu rei, mas podia eleger os seus vereadores, segundo a lei elei­
toral capitulada nas “Ordenações”, a Constituição Política do
133
Reino de Portugal. (Cf. Manoel Rodrigues Ferreira. “História 
dos Sistemas Eleitorais Brasileiros”. São Paulo, 1976), E o 
próprio rei D. João V, o rei Mineiro, em carta de Lisboa, 16 de 
julho de 1715, refere-se à “República” da Câmara de Vereado­
res da cidade de São Paulo. (Cf. Tito Lívio Ferreira. “História 
de São Paulo.” Vol. l.° — p. 359).
Assim, convocados os eleitores da Vila de São Paulo, a maio­
ria votou contra o despacho favorável do governador da Capi­
tania, Jorge Corrêa. Num total de 147 eleitores, apenas três vo­
taram a favor das pretensões dos jesuítas. E o procurador Alonso 
Peres, numa algaravia de portunhol, isto é, misto de português 
e espanhol, escreve: “assino jo procurador do consejo (Conce­
lho) por mi e por todos los que faltan aqui fuera, tirante de los 
tres concedieron com o mas pobo.” (Cf. “Atas da Câmara Mu­
nicipal de São Paulo”, vol. I). E os reis de Portugal sempre 
respeitaram as liberdades municipais.
Iniciada em 1549 a educação lusobrasileira com o Padre Ma­
noel da Nóbrega, primeiro Secretário da Educação do Estado 
do Brasil, ou seja, do patrimônio da Ordem de Cristo, 210 anos 
mais tarde, em 1759, funcionavam no Vice-Reino do Estado do 
Brasil, vinte Reais Colégios, doze Reais Seminários, dois Reais 
Recolhimentos Femininos e um Real Colégio Feminino em Sal­
vador (Bahia). (Cf. Tito Lívio Ferreira. “História da Educação 
Luso-brasileira”. ps. 218/19. 1966 — São Paulo. Edição Saraiva).
Exposto em linhas gerais o trabalho dos jesuítas portugueses 
catequistas e educadores, a serviço de Portugal e sustentados 
pela Monarquia Portuguesa, vejamos como era o processo edu­
cativo dos jesuítas espanhóis nas reduções implantadas por eles 
no território gaúcho, isto é, no extremo sul do patrimônio da 
Ordem de Cristo. Cerca de cem anos após os jesuítas espanhóis 
terem instalado o sistema de reduções no Paraguai, estavam em 
fins do século XVII estabelecidos nos rincões aquém do rio 
Uruguai, onde reúnem os povos das sete missões ou colônias 
como também chamavam. E para os jesuítas, os índios eram 
colonos.
Em 1693 missionavam nesse território jesuítas espanhóis, 
italianos e tiroleses. Nesse ano chega o noviço depois padre An­
tônio Sepp, tirolês, para auxiliar os missioneiros. Ouve ainda 
falar dos paulistas bandeirantes e escreve: “Saiba o benévolo 
leitor que os portugueses habitantes do Brasil guerrearam ou- 
trora estes pobres índios e os levaram cativos para o Brasil,
134
l ram mais de cem mil homens. Como fossem esses índios es­
cravos oprimidos, com incessantes trabalhos na fabricação do 
açúcar (esta é a produção dos brasis), sucumbiram um após 
outro, de sorte que, nestes dias em que escrevo, mal se encon- 
trará índio nosso no Brasil. E embora os desumanos brasis te­
nham perdido todos estes índios, devorando-os em parte, em 
parte inutilizando-os pelas privações e trabalhos, não perderam 
por certo a esperança de obter outros. Ainda hoje em dia, pois, 
devem os nossos índios temer o inimigo. Eis porque de nenhum 
modo convinha separar e afastar muito a nova colônia da anti­
ga, para que, em caso de invasão, os índios cristãos se pudessem 
unir mais depressa, prestar mútuo socorro, pegar em armas e 
rechaçar o mais ligeiro possível o inesperado inimigo que amea­
çasse suas cabeças, repelindo-o para longe de seus territórios. 
Nada direi da outra razão palmar: a saber que, no correr dos 
tempos, se deveriam fundar mais e mais colônias. . . ” (Cf. Pa­
dre Anônio Sepp S. J. “Viagem às Missões Jesuíticas e Traba­
lhos Apostólicos”. Ps. 204/205. Livraria Martins. São Paulo 
1943).
O jesuíta tirolês repete os exageros dos seus superiores espa­
nhóis quando escreve: “mais de cem mil homens” vieram das 
reduções para o Brasil. Afirma que a maioria morrera nos tra­
balhos do engenhos de açúcar. Ora, nesse serviço morriam os 
escravos negros. Tanto os tupis quanto os guaranis eram guer­
reiros por índole, por natureza, "por passatempo. E se os gua­
ranis lutavam com arcabuzes, os tupis guerreavam com arco 
e flexa.
67. Os guaranis trabalham à custa de surras
A respeito dos guaranis, o padreAntônfó Sepp escreve: “Estes 
índios são tão pueris, tão grandemente simplórios e de juízo 
tão curto, que os primeiros Padres, que converteram, estes povos, 
duvidaram realmente se eram capazes de receber os Santos 
Sacramentos. Não são capazes de inventar e excogitar algo que 
seja de seu próprio juízo e intuição, mesmo que fosse o mais 
simples trabalho manual, mas sempre precisa estar o Padre 
junto deles e orientá-los e fornecer-lhes moldes e modelos. 
Quando os tiverem, podem estar certos que o farão bem igual­
zinho, ao original. É indescritível sua habilidade imitativa.” (Cf. 
Padre Antônio Sepp. ob. cit. p. 132). Assim, os guaranis, redu­
zidos às artes mecânicas, são copiadores. Mas se imitam não têm
135
capacidades criativas. E para trabalhar precisam apanhar boas 
surras como crianças indolentes.
“Mas nós, continua Padre Sepp, não conseguimos fazer com 
que os índios, em sua pura preguiça, semeiem mais de uma ou 
duas rocinhas de 18 passos de grão turco. E mesmo isto só o 
conseguimos com tundas. Ainda no domingo passado tornou-se 
absolutamente necessário passar uma sova em alguns índios que 
não haviam amanhado a terra e nem haviam procurado encon­
trar um arado. Nossos arados não são feitos de relha de ferro, 
porque donde tirar tanto ferro, mas são feitos do primeiro tron­
co de árvore que se encontre e apontado como um arado.” (Ob. 
cit. p. 134). Esses arados de pau já eram empregados pelos por­
tugueses de Piratininga, deste fins do século XVI, segundo os 
inventários desses anos. E por serem livres, os tupis não apa­
nhavam dos jesuítas portugueses para se dedicarem à lavoura.
Os guaranis não têm a preocupação do dia de amanhã, obser­
va o Padre Sepp. Devoram tudo num dia sem deixar nada para 
o dia seguinte, (p. 135) “Quando chega a época do amanho e 
da sementeira, o que comumente se dá no mês de junho e julho, 
o Padre dá a cada índio duas ou três juntas de bois para o 
amanho da roça, que muitas vezes não vai além de quinze pas­
sos. A roça, sem dúvida, não é tão pequena por falta de terra — 
porque esta não tem marcos nem cercas, mas está aí livre, para 
quem queira cultivá-la — mas por pura preguiça!” E não da­
riam conta deste punhado de terra se o Padre não apertasse o 
agricultor preguiçoso com sovas e inspeções incessantes. E não 
amanhariam este punhado de terra nem em dois meses e mal 
fariam uma carreira por dia, mas dependurariam sua rede entre 
duas árvores e fariam folga perpétua.” (Padre Antônio Sepp. 
Ob. cit., ps. 135/6).
4
68. Os índios são comunistas de nascença
Quando o padre aparece para ver o trabalho do casal guarani 
nada encontra. A fome levou-o a comer as sementes. E a fome 
obrigou-o a matar os bois, churrasqueá-los a fogo vivo com o 
pau do arado e comê-los sem preguiça alguma (p. 126). “Aos 
europeus isto parece incrível, mas aqui entre nós é a dura 
verdade, que os índios deixam, por pura preguiça, estragar as 
espigas de milho maduras e amarelas, se os Padres não os amea­
çam com 24 pencadas de sova como castigo.” (ob. cit. p. 137). 
Mas o Padre Sepp continua: “Se alguém pergunta: de que ma­
136
neira costumais castigar esses índios? respondo brevemente: 
Como um pai castiga aos filhos que ama, assim castigamos os 
que o merecem. Naturalmente não é o Padre que pega do 
açoite, mas o primeiro índio que estiver à mão — aqui não 
temos varas de bétula ou outras semelhantes — e coça o delin- 
qüente assim como na Europa o pai surra o filho ou o patrão o 
aprendiz. Assim, são castigados grandes e pequenos e também as 
mulheres. Castigar desta maneira paternal tem resultado extra­
ordinário, também entre os bárbaros mais selvagens, de sorte 
que nos amam em verdade como os filhos ao pai.” (p. 137).
Logo o Padre Sepp é sincero quando escreve ingenuamente: 
“Não haverá no mundo todo um povo que tanto nos ame. E 
quando se os açoita ou coça, não gritam, não praguejam, e tu 
não ouvirás uma só palavra de má vontade, impaciência ou 
raiva. Se o castigo for muito, invocam os santíssimos nomes, 
Jesus Maria, e recebem a surra com a máxima paciência, sim, 
até gratidão. Depois de castigados, vão logo ter com o Padre, 
beijam-lhe a mão sacerdotal e externam seu reconhecimento nas 
seguintes palavras: “Meu pai, mil e dez mil vezes te agradeço 
que por teu castigo paternal me abriste o juízo e me tornaste 
no homem que antes fui.” Esta doçura e paciência nestes bár­
baros selvagens — ninguém n’a estimará demais. E quem na 
Europa, que assim desta maneira suporte uma surra bem mere­
cida? Quanta gritaria, quanta praga! Coisa semelhante nem eu 
nem os outros Padres ouvimos há anos uma só vez que fosse 
da boca de índios ou índias.” (idem, ps. 137/138).
Tenho a impressão que Marx e Engels sonharam com os co­
munistas ameríndios, quando em meados do século XIX quise­
ram reformar os europeus, pela opressão, a ferro e fogo, ao 
querer obrigá-los a regressar ao estado natural de “selvagens 
bárbaros”, na expressão do Padre Sepp. Essa parelha de filóso­
fos da geografia da fome implicou, solenemente, com a civiliza­
ção e com o progresso, muito embora os “progressistas” con­
testem os papas do comunismo, a religião dos consertadores do 
homem e da mulher desde Adão e Eva. E o comunismo espar­
tano estava morto e sepultado.
Padre Sepp cuida dos graúdos e dos miúdos. Este cromo 
oferecido por ele aos psicólogos de hoje, porque naquele tempo 
não havia psicologia nem psicólogos, é sugestivo. “As crianci­
nhas superam em muito o amor e o respeito que demonstram os 
adultos. Muitas vezes se reúnem em meu pátio, sentam-se no
137
chão nu, no maior silêncio, só porque aqui se sentem à vontade 
e me querem ver, caso eu saia do quarto. Isso lhes é o maior 
consolo, principalmente quando lhes dirijo a palavra, pergun­
tando isto ou aquilo da doutrina cristã, ou quando dou uma 
agulha ou um anzol aos que sabem bem responder; ou quando 
lhes dou um monte de limas, limões e pêssegos que aqui dão aos 
montes, ou ainda quando lhes dou licença de atirar ao alvo com 
suas flechas e lhes prendo um pedaço de carne no alvo, cabendo 
a carne àquele que acertar. Tudo isto faço seguidas vezes. En­
tão estes anjinhos inocentes começam a saltar, a alegrar-se e a 
gritar: “Pay, •Pay, che oro hui hu, Pai, pai, gosto de ti, che oro 
hai hu, che pia guibe, do fundo do coração.” (Padre Antônio 
Sepp. ob. cit. p. 138).
Os portugueses paulistas, em trezentos e vinte e dois anos de 
convivência com os tupis, adaptaram-se aos usos e costumes 
deles. E, na medida humana do possível e do impossível, tupi- 
nizaram-se para aportuguesar os tupis, na tropa bandeirante, 
organizada para defender o imenso patrimônio da Ordem de 
Cristo, desde o rio Oiapoque ao Norte, ao Chuí ao Sul, desde 
o Atlântico a Leste aos contrafortes dos Andes a Oeste, po­
voando, civilizando, humanizando.
69. O século de ouro do patrimônio da Ordem de Cristo
No declinar do século XVII, D. Pedro II, o rei bandeirante, 
encoraja os portugueses paulistas a peneirar os sertões das 
alterosas, para além da serra da Mantiqueira, em busca de 
ouro. Para isso escreve carta ao vassalo bandeirante Fernão Dias 
Pais, o Caçador das Esmeraldas, já famoso pelas suas jornadas 
às reduções jesuíticas do Paraguai e dos rincões gaúchos. O su­
cessor do rei bandeirante é D. João V, o rei mineiro. O século 
XVIII é o século do ouro do período lusobrasileiro. "O ouro 
das Minas Gerais propicia à Monarquia Portuguesa a construção 
de igrejas, edifícios públicos, conventos e auxílios a Ordens 
religiosas de Salvador da Bahia, Rio de Janeiro, Ouro Preto, 
Sabará, Congonhas do Campo, São João dei Rei, Pernambuco, 
Paraíba, Belém do Pará, Goiás, Maranhão e Mato Grosso, se­
gundo a documentação existente nos arquivos do Brasil e de 
Portugal, à espera de pesquisadores-historiadores não bitolados 
pelo marxismo e pelo negativismo exóticos. E os monumentos 
históricos dessas cidades refletem o progresso artístico e inte­
138
-A
lectual, social e econômico, do século de ouro do período luso- 
brasileiro.
Estudioso de assuntos econômicos,o Dr. José Pires do Rio, 
engenheiro paulista, é o primeiro a fazer uma análise séria e 
honesta da economia lusobrasileira, observando: “O açúcar e o 
ouro. A produção exportável dos canaviais de Pernambuco, da 
Bahia e do Rio de Janeiro, base da economia do Brasil no primei­
ro século e meio de sua vida colonial(?) não se deixou suplantar 
pelas minas de ouro do século XVIII, das quais teriam saído 
essas 70.000 arrobas tão faladas pelos que pedem contas rigo­
rosas aos governos da colonia(?) e da metrópole(?) durante 120 
anos de extração desse metal precioso. Efetivamente, as 70.000 
arrobas de ouro, dando a média de 9.000 quilos por ano, com 
valor de 12.200 contos (de réis) ao câmbio de 27 d., correspon­
diam à metade do valor do açúcar de Pernambuco, a medir-se 
pela exportação do fim do século passado (XIX). O quinto desse 
metal, arrecadado pelo Fisco, longe de atingir 14.000 arrobas, 
não passou de 7.673, conforme Rocha Pombo, quantia acumu­
lada em 120 anos de arrecadação e cujo valor total, ao câmbio 
de 70 d. (setenta) por mil-réis, que vigorava ao chegar ao Brasil 
o príncipe regente (futuro D. João VI, o rei íusobrasileiro) orça 
em 46.202 contos (de réis), correspondentes à média de cerca 
de 390 contos (de réis) por ano, sem descontar-se a despesa de 
arrecadação. O Brasil, entretanto, para custeio dos serviços pú­
blicos, já despendia, no ano de 1810, cerca de 3.000 contos (de 
réis) muitas vezes mais do que lhe rendia o quinto do ouro, ao 
câmbio do tempo. Curioso de notar-se é o fato que o Transwaal 
(África do Sul) de hoje, nos três últimos anos, de 1925 a 1927, 
produzindo libras 120.000.000 de ouro metálico, forneceu tanto 
ouro como quando o Brasil Colonial'?), em mais de um século 
de trabalho mineiro.” (Cf. José Pires do Rio. “Traços da evolu­
ção econômica do Brasil”, em “Revista do Instituto Histórico 
e Geográfico de São Paulo”, p. 14. Vol. 27. São Paulo, 1930. 
São meus os sublinhados e as palavras entre parênteses).
Pires do Rio usa as palavras “colonial”, “colônia”, “metró­
pole”, não existentes na linguagem histórica, isto é, na lingua­
gem dos documentos do período íusobrasileiro (1500-1822), in­
troduzidas em 1810 na sua “History of Brazil” pelo escritor in­
glês Robert Southey. Ao traduzir a obra do original inglês para 
o português, em 1862, o tradutor Luís Joaquim de Oliveira e 
Castro (edição da livraria de B. L. Garnier) foi fiel ao pensa­
mento de Southey.
139
Daí os historiadores brasileiros aceitarem o linguajar sou- 
theyno, inteiramente ao arrepio da linguagem dos documentos, 
isto é, da linguagem da História do Brasil, período lusobrasileiro. 
E desse equívoco se aproveitam os marxistas e os negativistas 
para deturparem, deformarem, denegrirem a História do Brasil, 
generalizando.
70. A defesa do patrimônio da Ordem de Cristo
A defesa do patrimônio da Ordem de Cristo, politicamente, 
Vice-Reino do Estado do Brasil, Província da Monarquia Por­
tuguesa, foi feita ao longo do período lusobrasileiro, durante 
322 anos, pelos portugueses de Portugal, unidos aos portugue­
ses do Brasil, ou seja, os lusobandeirantes, tupis, lusotupis e 
brasilíndios. Para isso, a Monarquia Portuguesa manda construir 
fortes e fortalezas, a começar ao Sul, pela Colônia Militar do 
Sacramento, sobre o estuário do Rio da Prata, Iguatemi (na 
fronteira do Paraguai com Mato Grosso), ao Norte, desde a foz 
do Amazonas ao extremo Oeste, a partir de Tapajós, Macapá, 
Santo Antônio de Curupá, Santarém, São José de Marabitanas, 
Paru, Almeirim, Barcelos, São Gabriel, Rio Negro, Borba, Prín­
cipe da Beira, Tabatinga, e a Oeste Vizeu, Casalvasco, Vila Ma­
ria (mais tarde S. Luís de Cáceres), Albuquerque (hoje Co­
rumbá), Coimbra, Mondego (agora Miranda) e Fecho dos Mor­
ros. Num total de vinte e dois (22) fortes nas fronteiras com 
a América Espanhola, com guarnições cuja oficialidade é por­
tuguesa, de Portugal e do Brasil, e a tropa é brasilíndia. Além 
desses vinte e dois fortes construídos no interior, havia os fortes 
e fortalezas do mar, para a defesa das vilas e cidades litorâneas 
expostas aos assaltos da pirataria inglesa, francesa e holandesa.
Desses vinte e dois (22) fortes portugueses levantados em 
pleno sertão, o mais importante é o Príncipe da Beira, estende-se 
“em um quadrado fortificado pelo sistema de Mr. de Vauban, 
revestido de cantaria, erigido em terreno sólido e próprio para 
uma defesa, por ser o mais elevado, que se encontra, desde a foz 
do Mamoré até a do Baurez, além da situação geográfica do 
Mamoré, Guaporé, Itonamaz, e dito Baurez, (rios que comuni­
cam as missões espanholas de Moscos nele estabelecidas, pas­
sando necessariamente as desta nação [tribo] com muita fre- 
qüência pelo espaço intermédio) pelo que concludentemente se 
deixa ver a precisão que ali havia de uma fortaleza que fosse 
fronteira a tantos pontos para os Estabelecimentos Portugueses,
•
140
e que ao mesmo tempo servisse de Registro aos Canoeiros, que 
todos os anos sobem do Pará e pagam nele os Direitos (impos­
tos) de Sua Majestade, pois só daqui para cima se pode extrair 
fazendas” (produtos comerciáveis). (Cf, João Vasco Manuel de 
Braun. “Roteiro Corográfico da viagem que se costuma fazer 
na Cidade de Santa Maria de Belém, Capital do Grão-Pará, à 
Vila Bela, capital de Mato Grosso. Tirado do Diário Astronô­
mico, que po Rio Madeira fizeram os Oficiais Engenheiros e 
Doutores Matemáticos, que no ano de 1781 foram mandados 
por ordem de Sua Majestade. [Rainha de Portugal, D. Maria l,a] 
a demarcar a Terceira Divisão dos Reais Limites. E das práticas 
e teóricas indagações e combinações que nos Rios e Povoações 
interiores têm feito. . . em 1784). O original desse documento 
existe na Biblioteca^Nacional do Rio de Janeiro. Foi publicado 
na “Revista do Instituto Histórico Brasileiro”, em 1860, e enq 
Belém do Pará, em volume de 36 páginas.
A mais importante fortaleza da defesa do patrimônio da Or­
dem de Cristo, representada pelo Vice-Reino do Estado do 
Brasil, é o Forte Príncipe da Beira, construído na margem direita 
do rio Guaporé, no Território do Guaporé, fronteiriço à Bolívia. 
“Quadrado de llOm, 50 de lado com quatro baluartes à Vau- 
ban, de 59 metros por 48, tendo por nomes os de Nossa Se­
nhora da Conceição, Santo Antônio, Santa Bárbara e Santo 
André Avelino.” (Cf. Roger Courteville. “ Le Mato Grosso”, 
p. 10). O Governador de Mato Grosso, Luís de Albuquerque 
Melo Pereira e Cáceres, em pessoa, fez o lançamento da pedra 
fundamental, em 20 de janeiro de 1776. Foi ’ terminado em 
agosto de 1783. Construído num contraforte da serra dos Parecis, 
cujas vertentes vêm morrer no rio Guaporé, é uma obra gigan­
tesca. Dificuldades ciclópicas foram vencidas para levar os ma­
teriais até esse ponto. Nas cercanias não '.havia pedreiras. As 
pedras trabalhadas vieram de Lisboa como lastro de navios até 
Belém do Pará, donde subiram o rio Amazonas e o Madeira, 
através de suas corredeiras, ao Guaporé, o Itenez dos bolivianos, 
com os primeiros mil alqueires de cal. Depois de Albuquerque, 
hoje Corumbá, Paraguai acima até o Jauru, até chegar o Gua­
poré, numa distância de mais de 1.500 quilômetros. Quatro de 
seus canhões de bronze, de calibre 24, vieram de Lisboa até o 
Pará, donde subiram o rio Tapajós e levaram cinco (5) dias 
para chegar ao forte.
A plánta do forte é de autoria do Capitão de engenharia Ri­
cardo Franco de Almeida Serra, formado na Universidade de
141
Coimbra, de quem falaremos mais adiante. A execução coube 
ao genovês Domingos Sambucetti, a serviço da Monarquia Por­
tuguesa. As muralhas do forte têm dez (10) metros de altura. 
Para a grande obra vieram operários de Portugal, de Belém do 
Pará e do Rio de Janeiro. Duzentos homens ali trabalharam dia­
riamente na construção, que durou seis anos. Manoel Espiridião 
da Costa Marques, engenheiro, que ali esteve em 1906, escreveu:
“Nas povoáções bolivianas de Madalena, de Baúres, de São 
Joaquim, há telhas, há portadas, há tijolos das casas da fortaleza, 
como há também imagens de sua capela destaúltima povoação! 
No porto de Antofogasta, no Pacífico, uma vez um cruzador 
inglês comprou um dos pequenos canhões de bronze, que tem 
as armas de Portugal do tempo de D. Maria I e o levou para o 
Museu Histórico de Londres! Estou disto perfeitamente infor­
mado. E assim as sólidas casarias de dentro da fortaleza, que 
formavam du-as ruas e que eram nobres moradas dos coman­
dantes do forte e dos oficiais; capela, armazéns, depósitos têm 
apenas hoje as suas paredes, que sendo de pedra e cal, hão de 
ficar de pé e hão de atestar por muitos séculos a nossa incúria 
porque, se prevalece o argumento de que a fortaleza nunca teve 
o valor estratégico que lhe deram os seus fundadores, essas 
espaçosas casas serviram de moradas a destacamentos militares 
de que o governo central e estadual não deveria prescindir neste 
ponto de nossa fronteira. Para mim é a obra mais monumental 
do Estado.” (Cf. Generoso Ponce Filho. “O Forte do Príncipe 
da Beira”, em Rev. “Cultura Política” n.° 28 — Ano III. Rio 
1943. ps. 159/167).
71. O Tratado de Limites de 1750
Em 13 de janeiro de 1750 Portugal e Espanha assinapi o Tra­
tado de Limites entre o patrimônio da Ordemx de Cristo, repre­
sentado pelo Vice-Reino do Estado do Brasil e a América Espa­
nhola. Os três artigos desse documento, abaixo transcritos, di­
zem claramente:
“Art. XIV — Sua Majestade Católica em seu nome e de seus 
herdeiros e sucessores cede para sempre à Coroa de Portugal. . . 
todas e quaisquer povoáções e estabelecimentos, que se tenham 
feito por parte de Espanha no ângulo de terras compreendido 
entre a margem setentrional do rio Ibicuí e a oriental do Uruguai.
142
Ari. XVI — Das povoáções ou Aldeias que cede Sua Majes- 
Inde Católica na margem oriental do Uruguai sairão os .Missio­
nários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios 
pura aldear em outras terras de Espanha; e os referidos índios 
poderão levar todos os seus bens móveis e semoventes, e as 
Armas, Pólvora e Munições que tiverem; em cuja forma se en- 
I regarão as Povoáções à Coroa de Portugal com todas as suas 
Casas, Igrejas e Edifícios e a propriedade e posse do terreno. . .
Art. XXII — Determinar-se-á entre as duas Majestades o dia 
em que se hão de fazer as mútuas entregas da Colônia do Sa­
cramento com o Território adjacente e das terras e Povoáções 
compreendidas na cessão, que faz Sua Majestade Católica na 
margem oriental do rio Uruguai, a qual não passará do ano, 
depois de se firmar este Tratado. . . ”X ,
O Tratado de 1750 fora redigido por Alexandre de Gusmão, 
lusossantista, isto é, português nascido em Santos, primeiro mi­
nistro de D. João V, o rei mineiro. “A linguagem e o teor todo 
desse memorável Tratado estão dando testemunho da sinceri­
dade e boas intenções das duas cortes. Parece, na verdade, os 
dois soberanos contratantes terem-se adiantado ao seu século.” 
(Cf. Robert Southey. “História do Brasil”, 6.° vol., ps. 8/9. 
ed. 1862). “Ratificado o convênio por parte de Portugal em 26 
de janeiro e por parte de Espanha em 8 de fevereiro, foram em 
17 de janeiro de 1751 assinados três outros Tratados, em Madri, 
pelos quais, respectivamente, se regulavam as instruções dos 
comissários que deviam passar ao sul da América, se formula­
vam artigos separados so'bre as mesmas instruções e se prorro­
gava o termo das entregas mútuas para se estenderem por todo 
o ano de 1751. Para presidirem a execução do pactuado a corte 
de Lisboa nomeou comissários principais Gomes Freire de An­
drade, governador e capitão-general dó Rio de Janeiro, Minas 
Gerais e São Paulo para a divisão do Sul, e Francisco Xavier 
de Mendonça Furtado, governador do Estado do Maranhão para 
a divisão do Norte* este substituído depois por D. Antônio 
Rolim de Moura (português nascido no Brasil), governador do 
Mato Grosso. A corte de Madri, por sua vez, nomeou seus co­
missários especiais para a divisão do Sul o Marquês de Valde- 
lírios, D. Gaspar de Munive León Garabito Telo Y Espinosa, 
natural do Peru, e para a divisão do Norte o chefe de' esquadra 
D. Jo&é de Iturriaga.” (Cf. R. Garcia. Anais da Biblioteca Na­
cional. Tratado de 1750. I, 8).
143
72. Os jesuítas espanhóis comandam a guerra das Missões
No início dos preparativos para a execução da tarefa, ordenada 
pelo rei de Portugal, ainda no Rio de Janeiro, Gomes Freire de 
Andrada envia instruções ao coronel Cristóvão Pereira de Abreu, 
português nascido em Portugal, residente em Sorocaba, para 
passar à cidade de São Paulo e que organizasse um batalhão de 
duzentos portugueses paulistas, selecionados, para formar a 
vanguarda a fim de preceder ao conhecimento prático do ter­
reno a região demarcadora. Por sua vez, a fim de cumprir as 
cláusulas do Tratado, junto aos jesuítas espanhóis invasores do 
território patrimonial da Ordem de Cristo, o rei de Espanha 
designa, por indicação do Geral da Companhia de Jesus, o 
padre Lope Luiz Altamirano, o qual embarca para a América 
em companhia do comissário Marquês de Valdelírios. Sediado 
em Japeju, o padre comissário Luiz Altamirano, em 27 de feve­
reiro de 1753 sente-se ameaçado em sua vida, pois entre os tapes 
lavra o boato de que esse jesuíta “estava a serviço dos portugue­
ses”, resolve seguir para Buenos Aires e deixa o padre Francisco 
Xavier Limp em seu lugar para efetuar a mudança dos Sete 
Povos. Nessa altura entra em cena o jesuíta Lourenço Balda e 
escreve para Buenos Aires que os tapes estavam em pé de guerra, 
pois foram convencidos que o padre Altamirano não “era sacer­
dote e sim português” e que iria expulsá-los de suas reduções 
“y asy que lo echaran rio abajo.” (Doc. Trat. vol. LII, 362).
“Õs ‘Documentos sobre o Tratado de 1750’, publicados nos 
dois magníficos volumes dos Anais da Biblioteca, lançam luz 
sobre os acontecimentos da época. Ante a insurreição geral dos 
índios, que não se importavam de pertencer a esta ou aquela 
coroa, mas que agiam em legítima defesa de suas terras e bens, 
os padres dos Sete Povos nada mais fizeram -do que reproduzir 
o gesto antigo de seus predecessores e tudo arriscar para os 
socorrer, material e espiritualmente, nessas horas de sofrimen­
to, em que jogavam os destinos de sua secular organização.” 
(Cf. Aurélio Porto. Ob. cit. p. 427).
Ora, cem anos antes, os jesuítas espanhóis haviam conduzido 
os guaranis das reduções paraguaias, o seu habitat secular, para 
as campinas gaúchas, onde se localizaram. No entanto, então 
esses pobres índios não reclamaram, não protestaram, não se 
insurgiram contra o fato de serem levados para outras regiões e 
abandonaram seus bens e terras com toda a naturalidade. Se ler­
mos com atenção o depoimento do padre jesuíta Antônio Sepp,
144
citado nos capítulos 63, 64 e 65, verificamos como os índios 
têm o físico do adulto e a mentalidade infantil. Os psicólogos já 
chegaram a esse juízo. Assim como entre os brancos há pala­
vras cujo sentido escapa a certos indivíduos, também os índios 
não compreendem o alcance do nosso vocabulário. Em sua últi­
ma obra “Combat avec 1’ombre”, Jung comprova essa assertiva. 
Ele visitou uma povoação asteca, no México, onde conversou 
longamente com o cacique. Este disse ao psicólogo: — ‘Não 
compreendo os europeus. Eles vivem desvairados, à procura de 
riquezas. Dizem que pensam com a cabeça.’ Jung pergunta-lhe: 
— ‘Você com o que pensa?’ O interrogado responde, apontando 
o peito: — ‘Com o coração.’ E os astecas têm o nível intelec­
tual acima dos pobres ameríndios.
Nesse caso, para os jesuítas espanhóis, “não há duvidar do 
empenho que puseram na mudança dos Povos, embora lhes 
fosse o mais cruel de todos os sacrifícios. Mas, sentindo-se des-, 
prestigiados, quase anulados ante a desconfiança dos índios, 
quando estes se organizam para combater forças disciplinadas 
e superiores (portuguesas e espanholas), num ato de desespero, 
não os abandonam à mercê da própria sorte e, num gesto que 
não os deprime, preferem assistir a seus filhos e com eles rece­
ber o peso do golpe tremendo. Além do padre Balda, considerado 
a alma da resistência,os padres Adolfo Skal, Tedeo Enis e 
Miguel de Sotto assumem maiores responsabilidades. Acusam- 
nos os documentos de serem os organizadores da resistência 
armada, “y especialmente Balda y Enis, mandaram hacer las 
baterias y les ensenaban la formación.” (Doc. sobre o Tratado. 
Anais, LII. 444). Conhecida a organização militar das doutrinas, 
ver-se-á que esses aprestos guerreiros vinham de épocas bas­
tante remotas. . . Santos como Cristóvão de Mendoza, Boroa, 
Romero e outros haviam resistido, à mão armada, em defesa dos 
seus pobres catecúmenos, ante a agressão,das bandeiras.” (Auré­
lio Porto. Ob. cit. ps. 428/429. Os grifos e as palavras entre 
parênteses são meus.)
Não houve agressão das bandeiras. Os lusobandeirantes, vas­
salos da Coroa Lusitana, defendiam o patrimônio da Ordem 
de Cristo ocupado por invasores. Competia-lhes, como portu­
gueses, defenderem esse território sagrado, segundo as bulas 
dos Papas do século XV, porque estavam sob a guarda e juris­
dição da Monarquia Portuguesa. Por isso, os reis de Portugal 
faziam todos os esforços, possíveis e impossíveis, para manter
145
intato esse patrimônio descoberto pela Milícia da Ordem de 
Cristo. E o povoamento português intenso vai começar com as 
famílias açorianas fundadoras de Porto Alegre.
“Outros (jesuítas) mais tarde, a serviço dos espanhóis, haviam 
defendido a terra contra a expansão portuguesa. A história re- 
produzia-se, agora, em proporções maiores. Diz o padre Enis, 
em uma declaração, jurando ‘in verbo sacerdotis’, “que habia 
procurado la transmigración dei mismo modo que los santos 
padres y verdaderos pastores de los rebanos de Cristo en la 
primitiva Iglesia, licita y santamente animaban a los cristianos 
a desamparar sua tierra y haciendas por los mandatos de los 
Emperadores,” (Cf. Aurélio Porto. Ob. cit. p. 429. Doc. sobre 
o Tratado. Anais LII, 444).
73. Jesuítas portugueses e jesuítas espanhóis
O historiador português, jesuíta padre Serafim Leite, explica e 
esclarece: “Na história da Colônia (Militar) do Sacramento 
aparecem Jesuítas de Portugal e Jesuítas de Espanha, a saber: 
Jesuítas da Província do Brasil e Jesuítas da Província do Para­
guai. Todos da Companhia, mas com deveres políticos opostos. 
Num ponto, os mesmos: na unidade da doutrina e da moral, 
unidade substancial, religiosa, a mesma em todo o mundo, co­
mo no Universo são unidos na Fé e na Moral todos os católicos 
cultos, conscientes e dignos de tão grande nome e honra. Mas 
assim como no resto do mundo, em tempo de guerra se en­
contram Católicos nos dois campos opostos, assim também neste, 
os jesuítas do Brasil defendiam a bandeira portuguesa (pois es­
tavam a serviço da Monarquia Lusitana), os Jesuítas do Para­
guai, a bandeira espanhola. Era a estrita obrigação de cada 
qual, como cidadãos e patriotas. Nem todos os historiadores, 
mesmo os de nota, têm compreendido esta verdade. Os Jesuítas 
espanhóis, com a experiência dolorosa das depredações prati­
cadas nas suas Aldeias (reduções) pelos “Paulistas” ou “Portu­
gueses de São Paulo”, termo correlativo naquela época, ou sim­
plesmente “Portugueses”, temiam que a Colônia (Militar) do 
Sacramento fosse outro baluarte de inimigos, donde saíssem 
novas investidas e lhes destruíssem as Missões. Não se engana­
ram no seu pressentimento. O que levou foi um século a reali­
zar-se. Porque foi dela, da Colônia (Militar) do Sacramento, na 
troca (sic) proposta pelo Tratado de 1750, que veio a depreda­
ção e ruína totál das Reduções. Explica-se, pois, a atividade
146
Incessante dos lesuítas castelhanos em colaboração com os ele­
mentos oficiais de Espanha para dificultar ou suprimir aquele 
lllbraltar platino. Luta longa de contrastes, reveses e glórias.” 
(Cf. Serafim Leite, S. J. “História da Companhia de Jesus no 
llrasil”, Vol. VI. p. 536. São meus os grifos e as palavras entre 
parênteses).
Neste caso, o Gibraltar eram as reduções dos jesuítas espa­
nhóis levantadas no patrimônio da Ordem de Cristo, e a Colônia 
Mi li lar do Sacramento fora construída para defesa desse terri­
tório invadido pelos religiosos castelhanos, pois eram como 
guarda avançada ou ponta de lança estrangeira nas terras en- 
Iregues à defesa e jurisdição da Milícia da Ordem de Cristo. Por 
isso mesmo, os jesuítas portugueses diretamente contratados pela 
Coroa de Portugal para catequizar o gentio, isto é, os bra- 
níIíndios, e ensinar nos Reais Colégios, porque os Colégios 
eram do Rei de Portugal, não tinham jurisdição alguma sobre 
os indígenas, pois as Aldeias eram a residência natural desses 
novos vassalos portugueses cristianizados cujos usos e costumes, 
sociedade e maneiras de vida era preciso respeitar e foram res­
peitados pelos portugueses. Com esse pensamento, da Bahia, 5 
de julho de 1559, já com dez anos de trabalhos no patrimônio 
da Ordem de Cristo, Padre Manoel da Nóbrega escreve a Tomé 
de Sousa, em Lisboa: “Porque pera isso fuy com meus Yrmãos 
mandado a esta terra, e esta foy a yntenção de nosso Rey (D. 
João III) tam cristianíssimo, que a estas partes nos mandou.” 
(Cf. Padre Manoel da Nóbrega, “Cartas do Brasil e mais escri- 
los”. (Opera Omnia) com introdução e notas históricas e críti­
cas de Serafim Leite S. J., Coimbra, 1955).
Da mesma forma, o jesuíta Padre Antônio Vieira, do Mara­
nhão, 20 de abril de 1657, escreve a D. Afonso VI, rei de 
Portugal:
“Que Vossa Majestade mande vir maior número de religiosos 
da Companhia (de Jesus) para que ajudem a levar adiante o 
que têm começado os que cá estamos; porque é o único meio 
(posto que mui trabalhoso para os ditos religiosos) com que só 
se podem reduzir estas gentilidades (brasilíndios). E porque à 
nossa notícia tem chegado que, contra os missionários (Jesuítas) 
que neste Estado servimos a Deus e a Vossa Majestade, e con­
tra o governo da dita missão, se tem presenteado a Vossa Ma­
jestade algumas queixas, pedimos humildemente a Vossa Ma­
jestade seja Vossa Majestade mandar-nos dar vista de todas,
1 4 7
porque a todos esperamos satisfazer de maneira que fique co­
nhecido com grande clareza quão úteis são os missionários da 
Companhia (de Jesus), não só ao melhoramento espiritual dos 
Portugueses e índios, senão ainda ao temporal de todos.” (Cf. 
Padre Antônio Vieira. “Cartas”, ed. João Lúcio de Azevedo. 
l.° vol. p. 470. Coimbra, 1925).
Quanto aos Tapes que haviam ficado nos Povos, receosos 
do mau tratamento que lhes davam os espanhóis, quando o 
exército português se pôs em marcha, “fugiam, escondendo-se 
nos bosques”, onde “ficavam expostos à fome e à miséria.” (Cf. 
Aurélio Portò. Ob. cit., ps. 565/566). “Aos chefes dessas famí­
lias são dados nomes portugueses, fazendo com que se confun­
dam com os povoadores brancos.” (A. Porto. Ob. cit., p. 573).
74. A demarcação das fronteiras do patrimônio da Ordem 
de Cristo
Em duas cartas secretíssimas, respectivamente datadas de Lisboa, 
6 de julho de 1752 e 17 de março de 1755, o ministro Sebastião 
José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, escreve a 
Gomes Freire de Andrade, no Rio de Janeiro, dando instru­
ções para a execução do Tratado de Limites de 1750, ao sul e 
ao norte do patrimônio da Ordem de Cristo. A primeira contém 
33 artigos. A segunda é da mesma data, cujo original está cor­
rigido pelo autor. Com essas cartas veio a relação das pessoas 
enviadas de Lisboa para a demarcação das fronteiras no sul do 
patrimônio da Ordem de Cristo, politicamente, Vice-Reino do 
Estado do Brasil, província da Monarquia Portuguesa.
“Sul. l.:l Tropa de Castilhos até à foz do Ibicuí: Coronel de 
infantaria com exercício de engenheiro, Miguel Ângelo Blasco, 
genovês; Astrônomo padre jesuíta Bartolomeu Panigai, vene- 
ziano; Capitão-tenente José Rollen Vandreck, .holandês; Aju­
dante José Ignácio Piton, francês; Tenente de infantaria com 
exercício de engenheiro, Adam Wantzel Hestcko, alemão; Ci­
rurgião José Poliani, piemontês. Esta l.a tropa no retorno pode 
vir pela comarca de São Paulo e Minas Gerais a tirar o mapa 
destes distritos.
2.a Tropa do Ibicuí até defronte doIgureí. Tenente-General 
José Fernandes Pinto Alpoim, que está no Rio de Janeiro, por­
tuguês; Astrônomo Padre jesuíta Bartolomeu Pincete, genovês; 
Capitão Carlos Ignácio Reverend, alemão; Ajudante José Maria
148
i (i\.i) 11íi, italiano; Desenhador Ponzone, italiano; Cirurgião 
Maurício da Costa, português. Esta 2.a tropa no retorno pode 
vir pelo Goiás, rio de São Francisco e sertão da Bahia.
L“ Tropa da foz do Igureí até à do Jauru. Sargento-mor José 
t u.slódio de Sá e Faria, português; Astrônomo Dr. Michele 
Cicra, paduano; Capitão João Baptista Havelle, suíço; Tenente 
Ignácio Hatton; Geógrafo Guilherme de Bazines, suíço; Cirur­
gião Bartolomeu da Silva, português. Esta 3.a tropa no retomo 
pode vir por Cuiabá, conduzir água da Botuca e recolher-se por 
Piauí e sertão de Pernambuco.
Norte. l.a Tropa desde a boca do Japurá até às terras de Su- 
l inam. Sargento-mor José Gonçalves, que está no Pará, portu­
guês; Astrônomo padre jesuíta Xavério Haller, alemão; Capitão 
João André Schwebel, alemão; Ajudante Adam Leopoldo de 
lireuning, alemão; Cirurgião Daniel Paink, alemão. Esta l.a tro­
pa no retorno pode vir pelas cabeceiras do rio Branco e montes 
que confinam com o distrito de Caiena e depois visitar as terras 
rio cabo Norte. 2.a Tropa para marcar a ,linha de Leste-Oeste. 
Sargento-mor Sebastião José da Silva, português; Astrônomo 
l)r. Agostinho Brunelli, bolonhês; Capitão Gaspar João Ge- 
rardo de Cronsfeld, alemão; Ajudante Henrique Antônio Galuz- 
zi, italiano; Desenhador José Antonio Landi, bolonhês, arqui­
teto, (dele falarei mais adiante); Cirurgião Antônio de Matos, 
português. Esta 2.a tropa no retomo pode visitar os rios Tapa­
jós e Xingu e passar a tirar o mapa ao Pará até’o Maranhão.
3.a Tropa desde o rio Madeira até a foz do Jauru. Capitão Gre- 
gório Rebelo Guerreiro Camacho, português; Astrônomo Padre 
jesuíta Inácio Stezentmartony, alemão; Ajudante Filipe Frederico 
Sturms, alemão; Tenente Manuel Gotz; Cirurgião Domingos de 
Sousa, português. Esta 3.a tropa no retorno pode ser a condução 
da água da Bouca depois ir descer pelo rio Araguaia e Tocantins 
e finalmente tirar q mapa desde Maranhão pelas Capitanias do 
Ceará, Rio Grande (do Norte) até a Paraíba. Nesse total de 36 
homens a serviço de Portugal, apenas nove são portugueses, os 
vinte restantes são estrangeiros, todos vassalos da Monarquia 
Portuguesa. A naturalidade era genoveses, alemães, italianos, 
venezianos, placentino, piemontês, francês, holandês, suíço. A 
nacionalidade surge em 1792, com a primeira República Fran­
cesa. Até esta data, os homens eram vassalos desta ou daquela 
monarquia. Daí em diante, há cidadãos franceses, porque a sua 
pátria é todo o território da República da França. No século
149
XIX há os vassalos ou súdilos da Monarquia Inglesa. Com o 
Império Brasileiro há os súditos ou cidadãos da Monarquia 
Brasileira porque a Pátria Brasileira surge após a Independência 
com a Nação Brasileira. Do século XIX em diante a naturalidade 
indica o lugar do nascimento. Até 1822 todos os nascidos no pa­
trimônio da Ordem de Cristo eram portugueses. E dessa data 
em diante, com a Nação, surge a nacionalidade brasileira. (Cf. 
Sousa Viterbo, Ob. cit. 2 vols. Francisco Adolpho de Varnha- 
gen. “História Geral do Brasil.” Vol. IV. Notas da seccão 
XLI1I.)
Assim, todos os componentes das seis tropas eram vassalos 
portugueses, pagos pela Monarquia Portuguesa. Em moeda atual, 
a despesa mensal de Portugal, apenas com essa tropa especial­
mente contratada para demarcação das fronteiras do patrimônio 
da Ordem de Cristo, politicamente o Vice-Reino do Estado do 
Brasil, talvez ultrapassasse a quantia de um trilhão e trezentos 
bilhões de cruzeiros (Cr$ 1,300. bilhões de cruzeiros). Sem con­
tar, está claro, com os vencimentos dos governadores das Capi­
tanias, das autoridades civis e militares, do Exército Lusobrasi- 
leiro, dos bispos, padres, frades e freiras. Nessa despesa se 
incluiu, até 1759, a Companhia de Jesus, cujos professores dos 
Reais Colégios eram pagos pela Monarquia Lusitana. E, com 
estes documentos, os escritores da história do Brasil, bitolados 
pelo materialismo histórico e pela miopia do colonialismo, po­
dem supor que o povoamento lusobrasileiro foi uma “operação 
comercial”.
Cumpre-me aqui fazer especial referência ao português na­
tural da Bahia, isto é, lusobaiano, a serviço de Portugal, Dr. 
Alexandre Rodrigues Ferreira, autor da notável obra “A Via­
gem Filosófica” às Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato 
Grosso e Corumbá (1783-1792), volume 1, com desenhos coli- 
gidos e coloridos pelo inadjetivável pesquisador Professor Dr. 
Edgard da Cerqueira Falcão, Editados por Gráficos Brunner 
Ltda. São Paulo — Brasil — MCMLXX. Nessa viagem cientí­
fica, o Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira foi acompanhado pelo 
jardineiro botânico Agostinho José do Cabo, pelos desenhadores 
José e Joaquim Freire. José Antonio Landi chegou ao Pará inte­
grado na 2.a Tropa de Demarcação das fronteiras — Norte do 
Vicc-Reino do Estado do Brasil. Trabalhou ora como desenha- 
dor-naluralista, ora como arquiteto. Na “Viagem Filosófica”
150
podem ser vistos e admirados os desenhos coloridos de José 
\itlonio Landi. E daí esta justa referência ao pesquisador Pro- 
IViiüor Dr. Edgard de Cerqueira Falcão.
Nos dois volumes de “Expedições científico-militares envia- 
il.i. ao Brasil”, de autoria do pesquisador Sousa Viterbo, tantas 
vr/.es citados neste livro, aparecem os nomes e as obras de 
duzentos e onze (211) engenheiros militares, arquitetos, cien- 
ÜNtns e desenhistas Portugueses de Portugal e do Brasil, estran­
geiros, todos a serviço de Portugal e do patrimônio da Ordem 
de Cristo.
'/!>. A defesa do patrimônio da Ordem de Cristo a Oeste 
e Sudoeste
i*
O engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra, português nas­
cido em Portugal, formado pela Universidade de Coimbra, rece­
bera do rei de Portugal a incumbência de construir o Forte 
Príncipe da Beira, cuja planta fora traçada por ele, às margens 
do rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia, a Oeste. Esse mo­
numento de arquitetura militar, sem igual nas três Américas, é 
o documento concreto levantado há duzentos anos pelos portu­
gueses de Portugal, portugueses do Brasil, todos irmãos, pela 
raça, pelo sangue e pelos ideais, pelos lusobrasilíndios, filhos de 
pais portugueses e mães brasilíndias e pelos brasilíndios; esse 
monumento imponente há de sempre bradar, pela sua voz de 
pedra, o quanto e como Portugal cuidava, com todo o carinho, 
da defesa heróica do patrimônio da Ordem de Cristo, politica­
mente Vice-Reino do Estado do Brasil, província da Monarquia 
Portuguesa. E esse documento impressionante, construído em 
plena selva amazônica, aguarda até hoje á visita dos historiado­
res honestos, não bitolados pelo materiálismo histórico e pelos 
lecnicistas materializados, mas dos historiadores conscientes dos 
nossos valores humanos tão amesquinhados pela ignorância his­
tórica dos escritores literatejantes.
Além do Forte Príncipe da Beira, o engenheiro militar Ricar­
do Franco de Almeida Serra constrói outros fortes nas. fronteiras 
do patrimônio da Ordem de Cristo com a América Espanhola. 
O Arquivo Militar do Rio de Janeiro possui os seguintes ma­
pas originais:
— Mapa de parte do rio Guaporé, e dos rios Sararé, Galera, 
São João e Branco, seus braços na qual vai lançada a derrota
151
da diligência que por ordem do . . . Senhor João de Albuquerque 
de Melo e Cáceres (Governador da Capitania do Mato Grosso) 
se fez pelo alferes de dragões Francisco Pedro de Melo, no ano 
de 1795, navegando pelo rio Branco até perto do seu nascimen­
to; e atravessando dele por terra até o rio de S. João e Aldeia 
Carlota, e deste lugar, pelo mais alto do terreno a sair pelo rio 
Galera no Arraial de S. Vicente e ponte do Sararé, da qual con­
tinua até os Quilombos do Pindaituba. . . Igualmente vai confi­
gurada a derrota da diligência que no ano de 1794 se fez por 
ordem do mesmo senhor pelos campos dos Parecis e cabeceiras 
dos rios Galera e

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