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Reumatologia - Fibromialgia - Medicina Nícia Torres Estrela Fibromialgi�: Doença química e neuromodulatória ⇒ desregulação do controle da dor devido à hiperativação das vias álgicas. Incomum em homens, mas bastante frequente em mulheres (5%) na faixa entre 30-50 anos. VIAS DE DOR: Via nociceptiva/Via álgica ascendente: Tratos espinotalâmicos: ● Lateral (neoespinotalâmico): pressão, temperatura e dores vagas. Se direciona direto para o córtex cerebral. ● Anterior (paleoespinotalâmico): vias dolorosas. Se direciona para a ponte, amígdala, mesencéfalo e córtex cerebral ⇒ relação com diversos sintomas do corpo. Via que mantém o paciente desperto! PACIENTE COM DOR FREQUENTEMENTE TEM ⇒ distúrbios do sono, do humor, da vitalidade e ciclos neurológicos. Substâncias reguladoras: modula o trajeto do 2º neurônio ao chegar no corno posterior da medula, antes de subir para o cérebro. ● Estimuladoras do sistema álgico: ○ Substância P ○ Glutamato Via analgésica descendente: Ativada pela via álgica para fazer a contrarregulação e permitir que o corpo tome uma decisão. Eixo analgésico mesencéfalo-medula: ● Início: substância cinzenta periaquedutal ● Final: neuromodulação no mesmo local que ocorre a estimulação da dor, diminuindo a ação dos estimuladores álgicos. DESESTIMULADORES do sistema álgico: ● Encefalinas (tipo natural da endorfina) ● Serotonina (substância mais importante neste contexto). SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA: Dor o tempo inteiro estimulando o corno posteiror da medula, “desperta” alguns neurônios que estavam dormentes, gerando uma chance maior de responder a dor. SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL: Neuromodulação positiva (mais dor) ⇒ readaptação cerebral ⇒ expansão da área cortical ⇒ aumento das áreas de recebimento álgico no córtex e outras estruturas cerebrais. Reumatologia - Fibromialgia Nícia Torres Estrela RESULTADO: Sensibilização central + sensibilização periférica ⇒ VIA DOLOROSA HIPERATIVADA ● Estímulos dolorosos fracos são interpretados como intensos; ● Estímulos NÃO dolorosos, podem ser transmitidos como se fossem dolorosos. ETIOLOGIA EMINENTEMENTE genética ⇒ polimorfismo (diversos fatores que em conjunto torna o indivíduo mais susceptível à dor). Causas não genéticas: ● Infecções virais (vírus agem sobre substâncias que regulam a dor). ● Traumas físicos que geram grande estímulo álgico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Dor difusa (muitas vezes, fora dos tender points*): ● Intensa ● 4 quadrantes (acomete o corpo todo) ● Pior à compressão (enquanto está sentado, encostado, quando cruza as pernas) ● Dor “cansada”/de peso Exame físico: BEG, sem evidência de doença sistêmica ou anormalidades articulares, com dor muscular difusa e desproporcional ao estímulo realizado. ● Palpação dos pontos dolorosos: utiliza o polegar e o indicador uma força até que o leito ungueal fique esbranquiçado. Tender points*: ● Região anterior: cervical baixo, 2ª costela, epicôndilo lateral, joelho medial; ● Região posterior: occípito, trapézio, supraespinhal, glúteo, grande troncânter. PEGADINHA: idoso com história de dor crônica difusa, pensar em DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS e NÃO fibromialgia. ● História típica da fibromialgia: desde à infância tem “facetas” de dor crônica (muita cólica na adolescência, se machucar o tempo inteiro, “dor de crescimento", etc); Sintomas neurocognitivos: devido à alteração nas áreas da amígdala e neurônios da Rafe ● Memória vaga (fibromialgia NÃO é causa de demência) ● Concentração (queda no desempenho do trabalho, nos estudos). Distúrbios da neuromodulação da serotonina ⇒ humor deprimido, anedonia (características de depressão). Fadiga (exaustão): presente em TODOS os pacientes com fibromialgia. É DIFERENTE DE: sono, dispneia, anedonia. ● Atraso na resposta noradrenérgica e cortisólica (influenciado pelo sono não reparador); ● Paciente fica com vontade de fazer nada. Reumatologia - Fibromialgia Nícia Torres Estrela Alteração do sono: podem até dormir bastante, mas acordam exaustos. ● Sono alfa-delta: sono intercortado ○ Ondas delta: lentas, presentes no sono REM (momento mais relaxado e NÃO PODE SER INTERROMPIDO!) ○ Ondas alfa: rápidas!!! Ocorrem quando estamos despertos e nos intervalos das ondas delta de pacientes com fibromialgia. Sintomas somáticos: alteração de eixos que não temos controle (peristaltismo, tônus vascular e sintomas psiquiátricos); ● Síndrome de sensibilização central: fibromialgia está dentro dessa síndrome. ○ Dispneia funcional (dor dispéptica sem achados na EDA, refratária ao IBP, melhora com MEV) ○ Cistite intersticial (mulher com disúria, polaciúria, dor hipogástrica, sem melhora ao uso de ATB, urocultura negativa. NÃO é infecção urinária, mas desregulação peristáltica do trato urinário); ○ Cefaleia crônica (enxaqueca); ○ Dismenorreia primária (cólicas intensas, difícil de tratamento); ○ Síndrome do intestino irritável (cólicas que melhoram ao evacuar, diarreias intercaladas com constipação, sensível à certos alimentos, com todos os exames normais). DIAGNÓSTICO: é CLÍNICO!!! Exames complementares: EXCLUSÃO de comorbidades que dificultam o tratamento da fibromialgia ⇒ CUIDADO para não pedir exames em excesso! ● Infecto: HIV, HCV, HVB; ● Reumato: PCR, VHS, CPK; ● Onco-hemato: cálcio, hemograma (excelente triagem), DHL, creatinina, sódio, potássio; ● Endócrino: fósforo, TSH, vitamina D ○ Pacientes com hipovitaminose D isolada podem ter mais dor!!! NA PRÁTICA: sorologia para hepatite C, hemograma e íons, TSH e vitamina D. TRATAMENTO: Precisa de vínculo entre o médico e o paciente. 1ª consulta : ensinar ao paciente sobre a doença (fisiopatologia de forma leiga, não tem cura, não mata e não deixa sequela) e sobre a dificuldade do tratamento (70% da melhora do paciente depende APENAS dele). 2ª consulta: prescrição de atividade física de modalidade combinada. ● 3 fatores que determinam: carga, volume e descanso. 3ª consulta: tratamento farmacológico (Duloxetina e Pregabalina) + técnicas meditativas. Medidas não farmacológicas: Exercícios físicos: aumenta a liberação de encefalina e de serotonina em lugares escassos. ● Inicio com a carga e volume baixo e tempo de descanso alto. ● Treino combinado (aeróbico + resistido) é melhor do que isolado. ● Progredir o treino a cada 2-3 meses e sempre uma modalidade de cada vez (ex: se aumentar o volume, não aumenta a carga); Reumatologia - Fibromialgia Nícia Torres Estrela ● Primeiros dias o paciente piora, mas após 3 semanas eles melhoram!!! ● CROSSFIT não pode de forma alguma logo de início!!! ● Quanto mais intenso o paciente conseguir chegar um dia, melhor ficará o seu controle álgico (demora ANOS). Outras medidas: ● Psicoterapia; ● Acupuntura; ● Terapia física (massagem, hidroterapia) ⇒ apenas transicional, pois o que melhora a dor é a INTENSIDADE!!! ● Técnicas medidativas/concentração (mindfulness, yoga, tai chi) Medidas farmacológicas: Podem ser usadas isoladamente ou combinadas: Duloxetina: antidepressivo dual (age na recaptação de serotonina e adrenalina) ● 30-60 mg/dia dose única; ● NÃO TEM NO SUS Pregabalina: anticonvulsivante (bloqueia os canais de cálcio, diminuindo a sinalização do glutamato) ● 150-450 mg/dia, 1 cp manhã e 1 cp noite ● NÃO TEM NO SUS Substituição da Duloxetina e Pregabalina no SUS: antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina) + antidepressivos clássicos/ ISRS (Fluoxetina) ● Amitriptilina para controle álgico: ATÉ 75 mg (dose mais baixa do que a antidepressiva); ● Fluoxetina: até 80 mg (dose antidepressiva). Tramadol: uso crônico, não por conta de ser opioide, mas pelo efeito tricíclico-like. CARO!!! ● Efeitos colaterais: constipação, tontura e vômitos. OBS!!! NÃO adianta dar opioides (morfina, oxicodona, fentanil) para fibromialgia Ciclobenzaprina: relaxante muscular, extremamente sedativo (muita sonolência) ● USO: 5-15 mg/ dia, 1 cp à noite. PARA LEMBRAR!!! As drogas com maiores evidências científicas de eficáciasão a DULOXETINA e PREGABALINA!!!
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