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1 Melinna Cardoso SEMIOLOGIA DO SITEMA LOCOMOTOR – AULA 2 INTRODUÇÃO Anamnese e exame físico. Articular ou extra-articular? Artrite ou artralgia? Padrão de acometimento articular. Exames laboratoriais: valor preditivo positivo baixo quando solicitados indiscriminadamente. Radiografias: pouco acrescentam aos casos agudos (exceto traumatismo); importantes para avaliação de artrite crônica. Sintomas constitucionais. Manifestações extra-articulares. Condições mórbidas: DM, uso de hidralazina para tratamento de HAS (lúpus induzido por fármacos). História familiar: espondilite anquilosante, LES, artrite reumatoide. ARTRITE INFLAMATORIA X NÃO INFLAMATÓRIA Diferenciação clínica; Provas de atividade inflamatória; Nenhum achado isolado (clínico e laboratorial – VHS e proteína C reativa) é definitivo; Medida mais confiável: análise da contagem de leucócitos no líquido sinovial (> 2000/ml na artrite inflamatória). MONOARTRITE AGUDA Causas mais comuns: infecção, artrite induzida por cristais e traumatismo; PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO: infecção do espaço articular; Indicada artrocentese: cultura (bactéria, micobactéria e fungos), contagem celular, coloração de Gram e exame para cristais; Exames laboratoriais de rotina: hemograma, eletrólitos, creatinina, exame de urina de rotina; Hemocultura: nos casos de suspeita de artrite séptica. GOTA Doença causada pela deposição de cristais de ácido úrico, geralmente associada à hiperuricemia; A historia natural da gota pode ser dividida em três estágios bem demarcados: 1. hiperuricemia assintomática; 2. gota aguda e intermitente (ou intercrítica); 3. gota tofácea crônica; Padrão: geralmente monoartrite aguda intermitente, especialmente da primeira articulação metatarsofalangiana; Com o transcorrer do tempo, as crises tornam-se mais frequentes e menos intensas e acometem outras articulações; Diagnóstico: demonstração dos cristais de ácido úrico no líquido articular nos aspirados dos depósitos tofáceos; Manifestações extra-articulares: tofos e cálculos renais. OLIGOARTRITE AGUDA ARTRITE PSORIÁTICA Artrite inflamatória crônica associada a psoríase cutânea e ungueal; Um das espondiloartropatias: artrite do esqueleto axial (articulações sacroilíacas e coluna vertebral), 2 Melinna Cardoso oligoartrite assimétrica ou poliartrite simétrica das articulações periféricas, entesite e fator reumatoide negativo; Afeta predominantemente as articulações IFDs (interfalangianas distais); Cerca de 20 a 30% dos adultos com psoríase desenvolvem artrite psoriática; A idade do início da doença varia de 30 a 55 anos, e os dois sexos são igualmente afetados; A etiologia não está definida o Estudos sobre predisposição genética indicaram associações com os alelos de histocompatibilidade principal HLA-B27, HLA-B7, HLA-B13, HLA-B17, HLA-B57 e HLA-Cw*0602. ACHADOS CLÍNICOS Acometimento articular; Poliartrite simétrica ou oligoartrite assimétrica das mãos e dos pés. Outras articulações: joelhos, quadris e articulações esternoclaviculares; A destruição das articulações é um processo contínuo, que se evidencia clinicamente pelo desenvolvimento de deformidades articulares e, radiograficamente, pelo aparecimento de erosões justa-articulares, estreitamento dos espaços articulares e, em alguns casos, anquilose óssea; Dactilite ou “dedo de salsicha”, caracteriza-se por inflamação de todo um dedo da mão ou do pé o Característica das espondiloartropatias, mas também ocorre na sarcoidose e na gota. Mais comum nos pés. Entesite: comum com outras espondiloartropatias e ocorre em até 40% dos pacientes com artrite psoriática; Anormalidades cutâneas e ungueais; As lesões psoriáticas típicas são placas eritematosas que descamam quando são esfregadas. Curiosamente, muitos pacientes com artrite psoriática tem doença cutânea apenas branda a moderada e não existe correlação direta entre a gravidade da psoríase e a extensão do acometimento articular; O acometimento ungueal é comum: saliências, depressões, onicólise e hiperceratose; Espondiloartropatia: articulações sacroilíacas e esqueleto axial; menos frequente que a artrite das articulações periféricas; Manobras para evidenciar Sacroileíte: Volkmann, Gaenslen e Fabere; A coluna cervical é afetada comumente; O acometimento de outros níveis da coluna vertebral também ocorre na forma de sindesmófitos. Ao contrário do acometimento vertebral ascendente contínuo da espondilite anquilosante, as lesões vertebrais da psoríase geralmente são descontínuas, afetando vértebras ou áreas distantes umas das outras. Manifestações extra-articulares: inflamação ocular (conjuntivite, irite, esclerite e episclerite), úlceras orais e uretrite ocorrem com menos frequência que com as outras espondiloartropatias; Nenhum exame laboratorial é especifico: até 20% tem hiperuricemia; os reagentes da fase aguda podem estar elevados; as análises do líquido sinovial mostram líquido inflamatório com contagens de leucócitos geralmente na faixa de 5.000 a 50.000/mL; maioria tem FR negativo, mas ate 10% pode ter testes positivos; FAN positivo em 10 a 20% dos pacientes, um valor comparável a prevalência desses anticorpos nas populações de controle saudáveis. EXAMES DE IMAGEM Os achados radiográficos mais comuns são estreitamento dos espaços articulares e erosões das articulações interfalangianas distais (IFDs) e proximais (IFPs); As articulações metacarpofalangianas e os punhos são afetados menos comumente que na artrite reumatoide, e geralmente não há osteopenia periarticular. Imagem C. “Lápis na xícara” 3 Melinna Cardoso “Óculos em ópera” ou dedos telescopados. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Artrite reumatoide e outras espondiloartropatias soronegativas, especialmente quando os pacientes tem sacroileíte e entesite; Quando a doença tem início agudo, as apresentações monoarticular e oligoarticular podem ser confundidas com as artropatias causadas por cristais (gota e pseudogota) e artrite séptica, exigindo a análise do líquido sinovial; Ao realizar uma artrocentese no paciente com psoríase, é fundamental evitar que a agulha atravesse as placas psoriáticas, que geralmente apresentam contaminação profusa por bactérias. POLIARTRITE AGUDA AVALIAÇÃO CLÍNICA INICIAL A poliartrite viral se resolve normalmente em alguns dias ou semanas. Assim, se a poliartrite persiste por mais tempo, menor se torna a possibilidade de ser uma poliartrite viral. A artrite reumatoide geralmente tem um início insidioso, e os pacientes procuram cuidados médicos após terem apresentado sintomas durante algumas semanas ou meses. No entanto, ela começa abruptamente em um número suficiente de pacientes para justificar considerá-la como uma causa de poliartrite aguda. A poliartrite aguda também pode ser a manifestação inicial de LES e lúpus induzido por fármaco, bem como uma variedade de entidades incomuns, incluindo a vasculite sistêmica. EXAMES COMPLEMENTARES Se suspeita clínica de artrite viral: solicitar testes para eritrovírus [parvovirus B19] e hepatite B; Se a poliartrite viral parecer improvável, os exames laboratoriais de rotina estão indicados (incluindo hemograma, eletrólitos e creatinina sérica, testes de função hepática e analise urinária), VHS ou proteína C-reativa e testes para fator reumatoide no soro, anticorpos anti--CCP e fatores antinucleares (FANs); Radiografias articulares raramente são valiosas na poliartrite aguda e podem ser adiadas até que fique claro que a poliartrite é persistente. MONOARTRITE CRÔNICA Distinção entre artrite inflamatória e não inflamatória; Análise do líquido sinovial: cultura (para bactérias, microbactérias e fungos), contagem celular, coloração de Gram, pesquisa decristais; Hemograma, eletrólitos, creatinina sérica, análise urinária, VHS e proteína C-reativa; Pacientes com monoartrite inflamatória e culturas bacterianas negativas devem ser testados para doença de Lyme e para reatividade a derivado proteico purificado (PPD ou tuberculínico); Radiografia: distinção entre infecção, osteoartrite, osteonecrose, articulações neuropáticas e outras entidades. 4 Melinna Cardoso OLIGOARTRITE CRÔNICA As espondiloartropatias são a causa mais comum de oligoartrite inflamatórias crônicas; No entanto, pode ser difícil de distinguir as espondiloartropatias da artrite reumatoide de inicio recente; A osteoartrite comumente se apresenta como uma oligoartrite não inflamatória dos quadris ou joelhos e normalmente não apresenta dificuldades diagnosticas. EXAMES COMPLEMENTARES Exame do líquido sinovial; FR e anti-CCP; Teste para HLA-B27; Radiografia. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Manifestações extra-articulares apontam para o diagnóstico, mas que passam desapercebidas: 1. Psoríase sutil (especialmente no umbigo, no conduto auditivo externo, no couro cabeludo e na fenda anal); 2. Úlceras orais da artrite reativa são indolores e geralmente não são detectadas, a não ser que se procure especificamente por elas; 3. Pacientes com doença intestinal inflamatória podem não informar voluntariamente que apresentam diarreia crônica; 4. A uveíte anterior prévia pode ser uma dica importante para a presença de uma espondiloartropatia, mas os pacientes não associam a inflamação ocular com a artrite e podem não mencionar o episódio. POLIARTRITE CRÔNICA Artrite reumatoide e osteoartrite são as principais causas de poliartrite crônica; O delineamento cuidadoso das articulações envolvidas, particularmente nas mãos, pode ajudar a apontar o diagnóstico; Análise do líquido sinovial, hemograma, eletrólitos, sérica, análise urinária; Se características inflamatórias: VHS e proteína C- reativa, além de testes para fator reumatoide no soro, anticorpos anti-CCP, FAN e infecção por hepatite B e C. 5 Melinna Cardoso DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A osteoartrite envolve as articulações interfalangianas distais (IFD) e as articulações interfalangianas proximais (IFP), além da primeira articulação carpometacarpal; A artrite reumatoide, por sua vez, envolve as articulações IFP e metacarpofalangianas (MCF), além dos punhos; A osteoartrite geralmente não envolve articulações MCF, punhos, cotovelos, articulações glenoumerais e tornozelos: a artrite degenerativa dessas articulações levanta a possibilidade de traumatismo antecedente, deposição do doença de pirofosfato de cálcio, osteonecrose subjacente ou artropatia neuropática; A artrite reumatoide geralmente poupa as articulações IFD, a coluna torácica e lombossacra e as articulações sacroilíacas; OSTEOARTRITE A dor articular é desencadeada e agravada por movimentos e aliviada pelo repouso. A rigidez ocorre apenas nas primeiras horas da manhã depois de acordar, ou quando o indivíduo se levanta da posição sentada depois de um período longo de inatividade. O paciente não tem sintomas constitucionais marcantes. O exame físico é marcado por acentuação das proeminências ósseas nas margens das articulações, crepitação ou sensação de rangido ao manipular uma articulação e hipersensibilidade sobre a linha articular da articulação sintomática. O diagnóstico é confirmado pelas anormalidades radiográficas de estreitamento do espaço articular e formação de osteófitos (espículas ósseas ou esporões). ARTRITE REUMATÓIDE Deve ser considerada em todo paciente que apresenta artrite com duração maior que seis semanas, exceto se houver outro diagnóstico mais provável conforme outras características clínicas (exemplos: osteoartrite, gota e artrite psoriásica). ARTRITE: edema articular + dor à palpação CARACTERÍSTICAS DA ARTRITE: 6 Melinna Cardoso o Acometimento poliarticular; o Artrite em mãos e punhos; o Artrite simétrica; o Artrite cumulativa ou aditiva; o Rigidez matinal. Início insidioso; Manifestações sistêmicas (fadiga, astenia, febre, mialgia, perda de peso) podem preceder ou acompanhar o quadro articular; Manifestações extra-articulares: linfadenopatia, nódulos reumatoides, vasculite cutânea, doença intersticial pulmonar, serosite, episclerite e escleromalácia perfurante; Doença mais grave e de pior prognóstico. DEFORMIDADES Sinovite (pannus) em metacarpofalangeanas e desvio ulnar dos dedos: Dedos em “botoeira” ou “casa de botão”: hiperflexão de interfalangeana proximal e hiperextensão da interfalangeana distal Dedos em pescoço de cisne: hiperextensão de interfalangeana proximal e flexão de interfalangeana distal Mão em dorso de camelo e hipotrofia da musculatura interóssea dorsal Deformidades nos pés: Teste do aperto: Squeeze test DIAGNÓSTICO Achados clínicos + exames complementares Exames Complementares Na suspeita de AR deve-se solicitar: Fator Reumatoide (se negativo complementar investigação com anti-CCP, quando disponível), proteína C reativa (PCR) e Velocidade de hemossedimentação (VHS); Radiografias: aumento de partes moles e osteopenia justarticular. Lesões mais características – como redução do espaço articular e erosões ósseas – aparecem em casos mais avançados. 7 Melinna Cardoso DICAS 1) Qual a origem da dor? (MUSCULAR, VASCULAR, NERVOSA OU ARTICULAR) 2) Se de origem articular: É ARTRITE OU ARTRALGIA? 3) Se artrite, QUAL O PADRÃO DE ENVOLVIMENTO ARTICULAR? (aguda – menos de 6 semanas- ou crônica; axial ou periférica; mono, oligo ou poliartrite; aditiva, migratória ou intermitente; simétrica ou assimétrica). 4) Sintomas associados (manifestações extra- articulares, sintomas constitucionais, etc.) 5) Quem é o paciente? Sugestivo, mas NÃO EXCLUSIVO: 5.1 Crianças e jovens: febre reumática 5.2 Mulheres jovens e de meia-idade: LES e artrite reumatoide 5.3 Homens: gota 5.4 Adultos sexualmente ativos: artrite gonocócica 5.5 Idosos: osteoartrite
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