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1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA BELO HORIZONTE / MG 2 SUMÁRIO 1. A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS ........................... 4 2. FUNDAMENTOS LEGAIS DO AEE ..................................................................... 5 3. AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL .............................. 8 3.1 Ao Trabalho ........................................................................................................... 9 3.2 À Atenção do Estado (Poder Público) à saúde e proteção.................................... 9 4.O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA .................................................................................................................................. 10 5. EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................................................................... 16 6. AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA..............................................................................................................21 7. O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA..............................................................................................................23 8. ADAPTAÇÕES CURRICULARES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ENSINO30 8.1 Níveis de Adaptações Curriculares ..................................................................... 40 9. ADAPTAÇÕES NO NÍVEL DO PROJETO PEDAGÓGICO (CURRÍCULO ESCOLAR) ................................................................................................................ 41 10. ADAPTAÇÕES RELATIVAS AO CURRÍCULO DA CLASSE ........................... 43 11. ADAPTAÇÕES INDIVIDUALIZADAS DO CURRÍCULO ................................... 45 12. ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO ................................................ 46 12.1 Para alunos com deficiência visual.................................................................... 47 12.2 Para alunos com deficiência auditiva ................................................................. 48 12.3 Para alunos com deficiência mental .................................................................. 49 12.4 Para alunos com deficiência física .................................................................... 49 12.5 Para alunos com superlotação .......................................................................... 50 12.6 Para alunos com deficiências múltiplas ............................................................. 51 12.7 Para alunos com condutas típicas de síndromes e quadros clínicos ................ 52 13. ADAPTAÇÕES NOS ELEMENTOS CURRICULARES ..................................... 53 13.1 Adaptações metodológicas e didáticas ............................................................. 53 13.2 Adaptações dos conteúdos curriculares e no processo avaliativo..................... 54 3 14. A IMPORTÂNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR ................................................................................................................. 58 15. A IMPORTÂNCIA DO COMPUTADOR NA ESCOLA COMO FERRAMENTA DO PROFESSOR EM SEU PROCESSO MEDIADOR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. ................................................................... 65 16. RECEIO AS NOVAS TECNOLOGIAS ............................................................... 68 17. O PAPEL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA FRENTE AS NOVAS TECNOLOGIAS75 18. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................... 77 4 1. A INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS Figura 1. Fonte: catracalivre.com.br Incluir quer dizer fazer parte, inserir, introduzir. E inclusão é o ato ou efeito de incluir. Assim, a inclusão social das pessoas com deficiências significa torná-las participantes da vida social, econômica e política, assegurando o respeito aos seus direitos no âmbito da Sociedade, do Estado e do Poder Público. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948 relaciona os seguintes direitos que valem para todos, isto é, os chamados direitos humanos ou da cidadania: Direitos Civis: direito à liberdade e segurança pessoal; à igualdade perante lei; à livre crença religiosa; à propriedade individual ou em sociedade; e o direito de opinião (Art. 3° ao 19). Direitos Políticos: liberdade de associação para fins políticos; direito de participar do governo; direito de votar e ser votado (Arts. 20 e 21). Direitos Econômicos: direito ao trabalho; à proteção contra o desemprego; à remuneração que assegure uma vida digna, à organização sindical; e direito à jornada de trabalho limitada (Arts. 23 e 24). Direitos Sociais: direito à alimentação; à moradia; à saúde; à previdência e assistência; à educação; à cultura; e direito à participação nos frutos do progresso científico (Art.25 ao 28). 5 2. FUNDAMENTOS LEGAIS DO AEE Figura 2. Fonte: diversidadenarua.cc • Plano de Desenvolvimento da educação-PDE. • Política Nacional de educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. • Decreto nº6571 de 17/09/2008, regulamenta o AEE, como um dos serviços disponibilizados pela educação especial. • Parecer nº13 do CNE • Resolução nº4 do CNE. Esses direitos foram conquistados arduamente nos últimos 200 anos. Contudo, segundo as condições históricas de cada país, podem ser descumpridos ou bastantes fragilizados, o que indica que o esforço do Estado e da Sociedade por sua vigência deva ser permanente. Uma coisa é certa: para fortalecê-los entre nós, a Sociedade e o Estado brasileiros devem agir com base no princípio da associação interdependente dos direitos, isto é, o cumprimento efetivo de um depende do cumprimento dos outros. Por exemplo, o direito à igualdade perante a lei depende do direito de votar e ser votado, o qual está por sua vez associado ao direito de opinião aos direitos à educação e à saúde. Quando isto não ocorre, os direitos de todos perdem as suas forças e, em consequência, os direitos específicos das pessoas com deficiência também. Ora, se o direito universal à saúde não está associado aos demais e além disso, é cumprido de modo insuficiente pelo Estado, o direito à saúde específico das pessoas com deficiência igualmente será fragilizado ou mesmo negado. 6 Portanto a inclusão social tem por base que a vigência dos direitos específicos das pessoas com deficiência está diretamente ligada à vigência dos direitos humanos fundamentais. Em virtude das diferenças que apresentam em relação às demais, as pessoas com deficiência possuem necessidades especiais a serem satisfeitas. Tal fato significa que: • Os direitos específicos das pessoas com deficiências decorrem de suas necessidades especiais; • É preciso compreender que as pessoas não deficientes e as pessoas com deficiências não são “iguais”. • O exercício dos direitos gerais bem como nos direitos específicos destas últimas está diretamente ligado à criação de condições que permitam o seu acesso diferenciado ao bem-estar econômico, social e cultural. Assim orientada, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências. Ponto de chegada de uma luta histórica de entidades nacionais e internacionais e, em particular, das próprias pessoas com deficiências e de suas organizações, a Declaração tornou-se, em todo mundo, o ponto de partida para a defesa da cidadania e do bem-estar destas pessoas, assegurando os seguintes direitos: • O direito essencial à sua própria dignidade humana. As pessoas com deficiência, • Independente da origem, naturezae gravidade de suas incapacidades, têm os mesmos direitos que os outros cidadãos, o que implica no direito de uma vida decente, tão normal quanto possível; • As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos civis e políticos dos demais indivíduos. O parágrafo 7° da Declaração dos Direitos do Deficiente Mental indica a possibilidade de limitar ou de suprimir tais direitos no caso das pessoas com deficiência mental; • O parágrafo 7 da Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas estabelece: “Sempre que pessoas mentalmente retardadas forem incapazes devido à gravidade de sua deficiência de exercer todos os seus direitos de um modo significativo ou que se torne necessário restringir ou denegar alguns ou todos estes direitos, o procedimento usado para tal restrição ou denegação de direitos deve conter salvaguardas legais adequadas contra qualquer forma de abuso. Este procedimento deve ser baseado em avaliação da capacidade social da pessoa mentalmente retardada, por parte de especialistas e deve ser submetido à revisão periódica e ao direito de apelo a autoridades superiores”; • As pessoas com deficiências têm o direito de desenvolver capacidades que as tornem, tanto quanto possível, autoconfiantes; 7 • O direito ao tratamento médico, psicológico e reparador, incluindo próteses e órteses, visando a sua reabilitação, bem como o acesso a serviços que as habilitam a desenvolver capacidades voltadas para sua integração ou reintegração social; • As pessoas com deficiência têm o direito à segurança social econômica e a um nível de bem-estar digno. Elas têm o direito, segundo suas capacidades, ao emprego ou de participar de ocupação útil e remunerada; • O direito a que suas necessidades especiais sejam incluídas no planejamento econômico e social; • As pessoas com deficiência têm o direito de viver com sua família e de participar das atividades sociais. Elas não serão submetidas, mesmo em suas residências, a tratamento diferente (discriminatório) que não seja o necessário para melhorar o seu bem-estar. Se a sua permanência em instituição especializada for indispensável, o ambiente e as condições deverão ser as mais próximas da vida normal; • O direito à proteção contra toda a exploração e todo o tratamento discriminatório, abusivo e degradante; • As pessoas com deficiência têm o direito ao apoio jurídico qualificado quando tal apoio mostrar-se indispensável para sua proteção. Se processos judiciais forem estabelecidos contra elas, o procedimento legal respeitará as suas condições físicas e mentais; • As organizações das pessoas com deficiência devem ser consultadas em todos os assuntos que dizem respeito aos direitos mencionados; • As pessoas com deficiência, suas famílias e a comunidade devem ser plenamente informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos na Declaração. Pode-se perceber que a inclusão social das pessoas com deficiência depende do seu reconhecimento como pessoas, que apresentam necessidades especiais geradoras de direitos específicos, cuja proteção e exercício dependem do cumprimento dos direitos humanos fundamentais. 8 3. AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Fonte: saberprevidenciario.com.br Logo no artigo 1° da Constituição são mencionados dois dos fundamentos que amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo, é claro, as pessoas com deficiência: a cidadania e a dignidade. • Cidadania: é a qualidade de cidadão. E cidadão é o indivíduo no gozo de seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais numa Sociedade, no desempenho de seus deveres para com esta. • Dignidade: é a honra e a respeitabilidade devida a qualquer pessoa provida de cidadania. São fundamentos que orientam os objetivos de nossa República, tais como, “construir uma sociedade livre, justa e solidária “; “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. A expressão o bem de todos indica que os direitos e deveres da cidadania pressupõem que todos são iguais perante a lei, com a garantia de que são invioláveis o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Artigo 5°). Todavia, as pessoas com deficiência possuem necessidades especiais que as distinguem das outras. Desta forma, é importante compreender que, além dos direitos relativos a todos, as pessoas com deficiência devem ter direitos específicos, que compensem, na medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão sujeitas. Por isto é preciso repetir que os não deficientes e as pessoas com deficiência não iguais, no sentido de uma igualdade apenas abstrata e formal, isto é, que não considera as diferenças existentes entre os dois grupos. 9 E que as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, que exigem um tratamento diferenciado para que possam realmente ser consideradas como cidadãos. Assim, a Constituição estabelece as seguintes normas relativas. Veja a seguir: 3.1 Ao Trabalho • Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: • XXXI. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência. • Art.37 – Administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos Princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e, também ao seguinte: • VII. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão. 3.2 À Atenção do Estado (Poder Público) à saúde e proteção Art. 23 – é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: II cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência. Art. 24 – Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XIV. proteção e integração social das pessoas com deficiência. 10 4. O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Figura 3. Fonte: pessoascomdeficiencia.com.br O movimento pela integração da pessoa deficiente, na Europa, pode ser considerado como decorrente da conjunção histórica de três fatores, segundo estudiosos do assunto: o advento das duas grandes guerras mundiais, o fortalecimento do movimento pelos Direitos Humanos e o avanço científico. Como consequência das duas grandes guerras, surgiu nos países atingidos uma grande quantidade de pessoas mutiladas, debilitadas e perturbadas mentalmente. As sociedades desses países viram-se diante da necessidade de criar formas de atendimento e reintegração desses indivíduos ao meio social. Além disso, o curto intervalo entre as duas guerras e o número de baixas ocorridas gerara um déficit de mão de obra, o que levou à implantação de programas de educação, saúde e treinamento para que trabalhadores deficientes pudessem preencher as lacunas da força de trabalho europeia (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o fortalecimento dos movimentos de luta em defesa dos direitos civis, influenciados pelas grandes transformações sociais ocorridas ao longo da segunda metade do Século XX, estão na gênese das recentes disposições de igualdade de oportunidades educativas para crianças com necessidades educacionais especiais. Despontava, então, uma fase de esperança e luta por melhores tempos, espelhada num renascimento humanista, cada vez mais crescente e que atingiu seu augenos anos 60. Nesse período, ocorreu uma mudança de perspectiva em relação ao tipo de inserção das pessoas deficientes na força de trabalho, que havia sido originada no pós-guerra. A demanda, que antes tinha por objetivo preencher lacunas, agora se daria no sentido de integrar os indivíduos deficientes com base em seus direitos como seres humanos e indivíduos pertencentes a uma sociedade (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). Paralelo aos dois fatos já mencionados, o avanço científico dessa época trouxe informações importantes sobre aqueles grupos considerados minorias sociais. Estudos 11 sociológicos, realizados nos Estados Unidos, citados por Santos (1995), revelaram a escassez ou carência total de acesso às provisões sociais, de saúde e educacionais, pelas minorias étnicas. Pesquisas nas áreas médica, educacional e psicológica defendiam uma abordagem menos paternalista em relação aos indivíduos deficientes e enfatizavam que a “excepcionalidade”, necessariamente, não deve se constituir num impedimento total para a aprendizagem dos indivíduos deficientes, nem significar uma incapacidade deles em frequentar o ambiente escolar. As novas tendências no campo educacional, em oposição à visão positivista, trariam à tona a concepção de educação como instrumento para o desenvolvimento de um saber e de uma consciência críticas; com abordagens pedagógicas centradas no aluno, visando a sua formação, como futuro cidadão, como agente social ativo e histórico. Os movimentos a favor da integração dos deficientes mentais surgiram nos países nórdicos no início da década de 60, quando, em 1950, na Dinamarca, traçava- se pela primeira vez, um plano para integração de crianças portadoras de deficiência. A ideia da integração nascia para derrubar a prática da exclusão social a que foram submetidas as pessoas portadoras de deficiências, durante vários séculos. Na década de 60, observou-se um bom de instituições especializadas que ofereciam aos grupos específicos de indivíduos deficientes, todos os serviços possíveis correspondentes àqueles encontrados fora da instituição, disponibilizados para a população considerada normal. A segregação continuava, só que agora no âmbito institucional, dentro de escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes recreativos especiais, etc. (SASSAKI, 1997). Ao final daquela década, a ideia de integração social foi ampliada e o objetivo da nova abordagem passou a promover a integração das pessoas portadoras de deficiência nos sistemas sociais gerais, como a educação, o trabalho, a família e o lazer. O fator propulsor de tal mudança de perspectiva foi a elaboração e a divulgação de um importante princípio – o princípio da normalização (SASSAKI, 1997). Em 1969, na Dinamarca, Nirje – Diretor da Associação Sueca para Crianças Retardadas - formula o princípio da normalização, que se constituiria na base conceitual do processo de integração social dali em diante. Em sua redação inicial, o princípio referia-se apenas a pessoas com deficiência, como se pode constatar: “O princípio de normalização significa colocar ao alcance dos retardados mentais, uns modos e umas condições de vida diários os mais parecidos possível às formas e condições de vida do resto da sociedade” (STEELNLANDT 1991, in CARVALHO, 1997, p.45). Este princípio foi generalizado a partir de 1972, por Wolfensberg, para todas as pessoas com deficiências e contemplou tanto os meios possíveis, quanto os resultados 12 alcançados. Isto quer dizer que, para Wolfensberg, a normalização era a utilização de meios tão culturalmente normativos quanto fosse possível para estabelecer e/ou manter condutas e características pessoais o mais culturalmente normativas quanto fosse possível (STEELLANDT, 1991). O pressuposto básico do princípio da normalização era que toda pessoa portadora de deficiência, especialmente, as deficientes mentais, tinham o direito de experienciar um estilo, ou padrão de vida, que fosse comum ou normal à sua própria cultura, ou seja, a todos os membros de uma sociedade deveriam ser oferecidas oportunidades iguais de participar em atividades comuns àquelas partilhadas por seu grupo de pares (MENDES, 1994). Definida como um princípio ou como um objetivo a ser alcançado, a normalização não era específica da escola; ela passava a englobar os diversos aspectos da existência em sociedade e de todas as etapas de vida dos indivíduos com deficiência. Além disso, o princípio da normalização não permaneceu restrito aos fatores relacionados à vida dos indivíduos afetados por uma incapacidade ou uma dificuldade, ele passava a envolver também todas as outras pessoas que estavam em contato com aqueles indivíduos, ou seja, sua família e a sociedade que se relacionasse com eles (DORÉ et. al., 1996). Figura 4. Fonte: casadaptada.com.br Uma das opções de integração escolar denominava-se mainstreaming, ou seja, “inserção na corrente principal” e seu sentido seria análogo à existência de um canal educativo geral, que, em seu fluxo, vai carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou necessidade específica. Pelo conceito de mainstreaming, o aluno portador de deficiência, ou com dificuldades de aprendizagem, deve ter acesso à 13 educação, sendo que essa formação deverá ser adaptada às suas necessidades específicas (MANTOAN,1998). Foi a partir da década de 80 que a integração social, como movimento, teve seu maior impulso com o fortalecimento da luta pelos direitos das pessoas portadoras de deficiência. No Brasil, essa influência é vista, claramente, na redação dos textos oficiais que normatizaram o atendimento educacional especial. Ocorreu, também nessa década, a despeito das críticas iniciais, o desenvolvimento de estratégias de operacionalização do princípio de normalização por meio de integradores. O processo de “mainstreaming” firmou-se como filosofia de integração amplamente aceita (MENDES, 1994). A defesa da integração social da pessoa com deficiência, sem dúvida alguma, foi um avanço social muito importante, pois teve o mérito de inserir esse indivíduo na sociedade de uma forma mais efetiva, se comparado à situação anterior de segregação. Entretanto, se o processo de integração social tem consistido no esforço de inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível compatível com os padrões sociais vigentes, tal esforço tem se mostrado unilateral em nossos dias; um esforço somente da pessoa portadora de deficiência e de seus aliados - a família, a instituição especializada e algumas pessoas envolvidas na causa da inserção social - segundo Sassaki (1997). Da forma como está sendo realizada hoje, a integração escolar/social pouco ou nada exige da sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais. A sociedade “cruza seus braços” e aceita o deficiente desde que ele se torne capaz de adaptar-se ao seu contexto social e às formas de desempenhar os papéis sociais necessários. Essa prática reflete o, ainda vigente, modelo médico de compreensão da deficiência. O modelo médico de compreensão da deficiência significa compreender este fenômeno tendo, como referência, um conjunto de significados construídos historicamente, fundamentados em uma explicação médica da deficiência. Dentro de uma visão organicista de Ser Humano, a explicação médica focaliza a deficiência no indivíduo desviante, enfatiza o diagnóstico e prognóstico clínico (a médio e longo prazo) e tem como objetivo fundamental: classificar, comparar e normatizar o desviante. Figura 5. https://bityli.com/OvVRk 14 O modelo médico de deficiência parte do pressuposto de que as pessoas portadoras de uma deficiência são doentes e debilitadas, pois estão afastados de um “estado normal” de condição humana, que,nesse caso, seria aquele estado considerado dentro da norma – o ser normal, o ser saudável. Por conta das diferenças que apresentam os deficientes, dentro desse modelo, são discriminados como incompetentes para o exercício de atividades sociais (educação, lazer e trabalho), desconsiderados em seus direitos e deveres, reconhecidos como indivíduos incompetentes para aprender, pensar e decidir, estando submetidos a um Permanente estado de dependência em relação a outras pessoas. De forma geral, nas interações sociais realizadas tendo como referência este modelo de compreensão do fenômeno, as pessoas acabam se relacionando com o quadro etiológico da condição deficiente e não com o seu portador. O modelo médico de compreensão da deficiência está arraigado na realidade da educação especial brasileira e, em parte, tem sido responsável pela resistência da sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para inserir em seu meio os indivíduos com deficiência, de modo a favorecer-lhes o desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Partindo do pressuposto de que a deficiência é um problema existente exclusivamente na pessoa deficiente, a sociedade sempre foi levada a crer que bastaria oferecer a esses indivíduos algum tipo de serviço especializado e o problema estaria solucionado. Fundamentado em um modelo médico de deficiência, que “tenta ‘melhorar’ as pessoas com deficiência para adequá-las aos padrões da sociedade” (WESTMACOTT, in SASSAKI, 1997), o processo de integração social tem concentrado esforços no sentido de inserir na sociedade pessoas com deficiência que já tenham alcançado um nível de desempenho compatível com os padrões sociais vigentes. O processo de integração baseado num modelo médico de deficiência, para Sassaki, pouco ou nada exige da sociedade no que se refere a mudanças de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais. De forma geral, a defesa do modelo de integração escolar do indivíduo com deficiência por meio do processo de mainstreaming está muito presente nos projetos de Educação Especial desenvolvidos, atualmente, no Brasil. No processo de mainstreaming, o aluno deficiente deve ter acesso à educação, sendo sua formação escolar adaptada às suas necessidades específicas. Para que tal objetivo seja alcançado, deve haver uma diversidade de possibilidades e de serviços disponíveis a esse aluno, opções que vão da inserção em classes regulares ao ensino em escolas especiais. O processo de integração, nesse modelo, é representado por uma estrutura denominada “sistema de cascata” em que é oferecido ao deficiente um ambiente menos restritivo possível, em todas as etapas da integração, com a garantia desse aluno poder transitar ao longo do “sistema”. 15 “Mainstreaming “seria uma concepção de integração parcial, porque o sistema de cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização. Os alunos que se encontram em serviços segregados, raramente se deslocam para outros menos segregados (MANTOAN, 1998). O sistema de cascata e as políticas de integração no modelo mainstreaming, em muitos casos, acabam sendo usados pela escola para ocultar o seu fracasso em relação a alguns alunos, isolando-os e somente integrando aqueles que não constituem um desafio à sua competência (DORÉ et al.,1996). A seleção dos alunos que se enquadram nas situações de mainstreaming é feita utilizando-se um processo de avaliação e seleção (supostamente “objetivo”), que irá apontar quais serão elegíveis para serem integrados. Entretanto, a objetividade desse processo é questionável e os critérios utilizados, em muitos casos, são subjetivos, arbitrários e inadequados para revelar a real condição daquele aluno. Seguindo o curso das transformações das práticas sociais relacionadas à forma de inserção social das pessoas com necessidades especiais e aos tipos de atendimento oferecidos a eles, observamos o surgimento de uma quinta fase, na segunda metade da década de 80, incrementando-se nos anos 90: é a fase da Inclusão Escolar. 16 5. EDUCAÇÃO INCLUSIVA Figura 6. Fonte: cdn.wp.clicrbs.com.br O fenômeno da Inclusão Escolar surgiu contextualizado nos eventos e transformações sociais que vêm ocorrendo ao longo da história da Educação Especial, caracterizando uma quinta fase na evolução do atendimento educacional que a sociedade, de forma geral, tem oferecido às pessoas com necessidades especiais. Já havia, na segunda metade dos anos 80, em alguns países da Europa e nos EUA, um consenso entre os estudiosos e pesquisadores referente à necessidade de mudanças na forma como o processo de integração/mainstreaming vinha ocorrendo. Se havia consenso quanto a essas mudanças, as opiniões dividiam-se em relação às soluções encontradas para implementá-las, daí surgindo basicamente duas orientações. Uma delas propunha a melhoria e o aprofundamento do conceito de integração/mainstreaming por meio de experiências mais controladas, concomitante ao desenvolvimento de pesquisas. O principal promotor do conceito de integração, Wolfensberger sugeria a substituição do termo normalização pela expressão “valorização dos papéis sociais”, esperando, com esta mudança, enfatizar o objetivo da normalização, ou seja, o apoio ao exercício dos papéis sociais valorizados pelas pessoas suscetíveis de desvalorização social (DORÉ et al.,1997). A outra orientação de mudanças trazia para o foco da discussão um novo conceito – a Inclusão Escolar. A Inclusão Escolar despontava como outra opção de inserção escolar e vinha questionar as políticas e a organização da educação especial, assim como o conceito de integração (mainstreaming). De todas as críticas que os defensores da inclusão fazem ao processo de integração/mainstreaming, talvez, a mais radical seja aquela que afirma que a escola acaba ocultando seu fracasso em 17 relação aos alunos com dificuldades, isolando-os em serviços educacionais especiais segregados (DORÉ et al.,1996). Em relação ao surgimento do movimento inclusivista na Educação, apesar dos estudiosos da área concordar que países desenvolvidos como os EUA, o Canadá, a Espanha e a Itália foram os pioneiros na implantação de classes e de escolas inclusivas, não foi possível definir, com exatidão, a partir da bibliografia pertinente, o marco exato do início do movimento de Inclusão Escolar. Em sua retrospectiva histórica, Semeghini (1998) comenta que, desde a década de 50, a escola inclusiva está atuante em vários países da Europa com o desenvolvimento de projetos e programas de inclusão, apontando a década de 70 como sendo o marco do surgimento do processo de Inclusão Escolar nos EUA. Mrech (1997; 1998; 1999) acredita que tanto o movimento de Integração Escolar e o subsequente movimento da Educação Inclusiva surgiram nos EUA em consequência da promulgação da Lei Pública 94.142, de 1975. Outros autores relatam que o conceito de inclusão surgiu, nos EUA, relacionado à implantação em 1986 de uma política educacional denominada “Regular Education Iniciative (REI)”, que defendia a adaptação da classe regular de modo a tornar possível inserir ali o maior número possível de alunos com necessidades especiais; incentivando os serviços de educação especial e outros serviços especializados a associarem-se ao ensino regular (CORREIA,1997; DORÉ et al.,1996). Sem a preocupação com a precisão histórica de seu surgimento, o fato é que depois de um período de intensas discussões e críticas a respeito do processo de integração/mainstreaming e suas possíveis limitações, ao final dos anos 80 e início da década de 90, começaram a tomar vulto as discussões em torno do novo paradigma de atendimento educacional – a Inclusão Escolar. Na realidade, tanto o processo de integração quanto o deinclusão escolar são formas de inserção escolar ou sistemas organizacionais de ensino cuja origem se fundamenta no mesmo princípio, o princípio da normalização. Apesar da origem comum no mesmo princípio e de terem basicamente o mesmo significado, os conceitos de Integração e de Inclusão escolar estão fundamentados em posicionamentos divergentes quanto à consecução de suas metas. A Integração Escolar remete à ideia de uma inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa, enquanto que o processo de Inclusão se refere a uma forma de inserção radical e sistemática, total e incondicional, de toda e qualquer criança no sistema escolar comum (WERNECK, 1997; MANTOAN, 1997; 1998). Normalizar uma pessoa, dentro do paradigma inclusivista, segundo Werneck (1997), não significa torná-la normal; significa garantir-lhe o direito de ser diferente e de ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade. Em relação à área educacional, continua Werneck, normalizar é oferecer ao aluno com necessidades 18 especiais os recursos profissionais e institucionais adequados e suficientes para que ele tenha condições de desenvolver-se como estudante, pessoa e cidadão. Dessa forma, o objetivo fundamental da Inclusão Escolar é não deixar criança alguma fora do sistema escolar e garantir que todas possam frequentar a sala de aula do ensino regular da escola comum, e, que está escola, por sua vez, adapte-se às particularidades de todos os alunos para concretizar o objetivo da diversidade, proposto pelo modelo inclusivista. O paradigma da Inclusão não admite diversificação de atendimentos pela segregação e, na busca de um ensino especializado no aluno, procura soluções que atendam às suas diversidades, sem segregá-los em atendimentos especializados ou em modalidades especiais de ensino (WERNECK, 1997; MANTOAN, 1996; 1997). Portanto, a inserção proposta no modelo da inclusão é muito mais completa, radical e sistemática, não admitindo que ninguém fique fora da escola; por isso, os pressupostos da inclusão provocam o questionamento das políticas educacionais e da organização da educação especial e regular, assim como o conceito de mainstreaming e de integração. Nesse sentido, as escolas inclusivas propõem um modo de constituir um sistema educacional que considere as necessidades de todos os alunos e que seja estruturado em virtude dessas necessidades. A proposta inclusivista, assim, provoca uma ampliação na perspectiva educacional, dentro do contexto escolar, já que sua prática não prevê apenas o atendimento aos alunos que apresentam dificuldades na escola. Além disto, o trabalho educacional desenvolvido dentro do paradigma da inclusão apoia a todos os que se encontram envolvidos no processo de escolarização, professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral (MANTOAN, 1997). Figura 7. Fonte: portalbaixada.com.br 19 A ênfase da escola inclusivista não se restringe ao atendimento das crianças com necessidades especiais. A meta do novo paradigma é incluir todos aqueles que se encontra em situação de exclusão, quer sejam eles deficientes físicos, mentais, sensoriais, ou crianças fracassadas na escola; ou alunos marginalizados por conta de suas peculiaridades raciais ou culturais; ou qualquer outra criança que esteja impedida de usufruir seu direito de acesso à educação democrática e de qualidade que lhe garanta um desenvolvimento social, emocional e intelectual adequado. A escola inclusivista respeita e valoriza as diversidades apresentadas por seus alunos. A proposta da Inclusão exige uma transformação radical da escola, pois caberá a ela adaptar-se às necessidades dos alunos, ao contrário do que acontece atualmente, quando são os alunos que devem se adaptar aos modelos e expectativas da escola. Se a meta do processo de Inclusão é que todo e qualquer educando seja inserido na escola comum, então, a escola inclusivista deve preparar-se para oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento das potencialidades de todos os tipos de alunos, qualquer que seja sua deficiência, diferença, déficit ou necessidades individuais (WERNECK, 1997; SEMEGHINI, 1998). O princípio da Inclusão, sintetiza Correia (1997), apela para uma escola que tenha sua atenção voltada para a criança-todo, e não só a criança-aluno, respeitando os três níveis de desenvolvimentos essenciais – o acadêmico, o sócio emocional e o pessoal, de modo a proporcionar a essa criança uma educação apropriada, orientada para a maximização de seu potencial. Em termos teóricos e ideológicos, a ideia da inclusão escolar é, sem dúvida alguma, revolucionária. Entretanto, há que se refletir sobre importantes questões de natureza pragmática e operacional levantadas pelos pesquisadores da área. A instalação de uma prática educacional inclusivista não será garantida por meio de promulgações de leis que, simplesmente, extingam os serviços de educação especial e obriguem as escolas regulares a aceitarem a matrícula dos alunos “especiais”, ou seja, a inserção física do aluno com deficiência mental em sala de aula regular não garante a sua “inclusão escolar”. Por outro lado, conforme observa Bueno (1999), a implementação de uma escola regular inclusivista demanda o estabelecimento de políticas de aprimoramento dos sistemas de ensino, sem as quais não será possível garantir um processo de escolarização de qualidade. Uma política de Inclusão Escolar implica no (re) planejamento e na reestruturação da dinâmica da escola para receber esses alunos (GLAT, 1998). Em relação a estas mudanças da escola, alguns autores alertam que devam ser feitas com cautela, ponderação e conscientização, alertando que a realização de uma reforma de fundo não ocorre de imediato; ao contrário, trata-se de um processo em 20 curso, que deve ser devidamente estudado e planejado, considerando todos os fatores envolvidos na questão educacional (CORREIA, 1997; CARVALHO, 1998). Apesar do conceito de inclusão conciliar-se com uma educação para todos e com o ensino especializado no aluno, a opção por esse tipo de inserção escolar não poderia ser realizada sem o enfrentamento de desafios importantes, uma vez que o maior deles recai sobre o fator humano. Na adoção do paradigma da inclusão, as mudanças no relacionamento pessoal e social e na maneira de efetivar os processos de ensino e aprendizagem têm prioridade sobre o desenvolvimento de recursos físicos e os meios materiais para a realização de um processo escolar de qualidade (MANTOAN, 1998). Essas novas atitudes e formas de interação na escola dependem de fatores, tais como: o aprimoramento da capacitação profissional dos professores em serviço; a instituição de novos posicionamentos e procedimentos de ensino, baseados em concepções e práticas pedagógicas mais modernas; mudanças nas atitudes dos educadores e no modo deles avaliarem o progresso acadêmico de seus alunos; assistência às famílias dos alunos e a todos os outros que estejam envolvidos no processo de inclusão. Todas estas mudanças, na opinião de Mantoan (1997; 1998), não devem ser impostas, ao contrário, devem resultar de uma conscientização cada vez mais evoluída de educação e de desenvolvimento humano. 21 6. AS NORMAS LEGAIS DE GARANTIA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Figura 8. Fonte: colegiobrasilcroacia.com.br Logo no artigo 1° da Constituição são mencionados dois dos fundamentos que amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo, é claro, as pessoas com deficiência: a cidadania e a dignidade. Cidadania: é a qualidade de cidadão. E cidadão é o indivíduo no gozo de seus direitos civis, políticos, econômicos e sociais numa Sociedade, no desempenho de seus deveres para com esta. Dignidade: é a honra e a respeitabilidade devida a qualquer pessoa provida de cidadania. São fundamentos que orientam os objetivos de nossa República, tais como, “construir uma sociedade livre, justa e solidária “; “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. A expressão o bem de todos indica que os direitos e deveres da cidadania pressupõem que todos são iguais perante a lei, com a garantia de que são invioláveis. 22 O direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Artigo 5°). Todavia, as pessoas com deficiência possuem necessidades especiais que as distinguem das outras. Desta forma, é importante compreender que, além dos direitos relativos a todos, as pessoas com deficiência devem ter direitos específicos, que compensem, na medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão sujeitas. Por isto é preciso repetir que os não deficientes e as pessoas com deficiência não iguais, no sentido de uma igualdade apenas abstrata e formal, isto é, que não considera as diferenças existentes entre os dois grupos. E que as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, que exigem um tratamento diferenciado para que possam realmente ser consideradas como cidadãos. Figura 9. Fonte: ripio.com.br 23 7. O MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Figura 10. Fonte: gabyyluisa.wordpress.com O movimento pela integração da pessoa deficiente, na Europa, pode ser considerado como decorrente da conjunção histórica de três fatores, segundo estudiosos do assunto: o advento das duas grandes guerras mundiais, o fortalecimento do movimento pelos Direitos Humanos e o avanço científico. Como consequência das duas grandes guerras, surgiu nos países atingidos uma grande quantidade de pessoas mutiladas, debilitadas e perturbadas mentalmente. As sociedades desses países viram-se diante da necessidade de criar formas de atendimento e reintegração desses indivíduos ao meio social. Além disso, o curto intervalo entre as duas guerras e o número de baixas ocorridas gerara um déficit de mão de obra, o que levou à implantação de programas de educação, saúde e treinamento para que trabalhadores deficientes pudessem preencher as lacunas da força de trabalho europeia (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o fortalecimento dos movimentos de luta em defesa dos direitos civis, influenciados pelas grandes transformações sociais ocorridas ao longo da segunda metade do Século XX, estão na gênese das recentes disposições de igualdade de oportunidades educativas para crianças com necessidades educacionais especiais. Despontava, então, uma fase de esperança e luta por melhores tempos, espelhada num renascimento humanista, cada vez mais crescente e que atingiu seu auge nos anos 60. Nesse período, ocorreu uma 24 mudança de perspectiva em relação ao tipo de inserção das pessoas deficientes na força de trabalho, que havia sido originada no pós-guerra. A demanda, que antes tinha por objetivo preencher lacunas, agora se daria no sentido de integrar os indivíduos deficientes com base em seus direitos como seres humanos e indivíduos pertencentes a uma sociedade (SANTOS, 1995; CORREIA, 1997). Figura 11. Fonte: institutodamiaoximenes.blogspot.com.br Paralelo aos dois fatos já mencionados, o avanço científico dessa época trouxe informações importantes sobre aqueles grupos considerados minorias sociais. Estudos sociológicos, realizados nos Estados Unidos, citados por Santos (1995), revelaram a escassez ou carência total de acesso às provisões sociais, de saúde e educacionais, pelas minorias étnicas. Pesquisas nas áreas médica, educacional e psicológica defendiam uma abordagem menos paternalista em relação aos indivíduos deficientes e enfatizavam que a “excepcionalidade”, necessariamente, não deve se constituir num impedimento total para a aprendizagem dos indivíduos deficientes, nem significar uma incapacidade deles em frequentar o ambiente escolar. As novas tendências no campo educacional, em oposição à visão positivista, trariam à tona a concepção de educação como instrumento para o desenvolvimento de um saber e de uma consciência críticas; com abordagens pedagógicas centradas no aluno, visando a sua formação, como futuro cidadão, como agente social ativo e histórico. Os movimentos a favor da integração dos deficientes mentais surgiram nos países nórdicos no início da década de 60, quando, em 1950, na Dinamarca, traçava- se pela primeira vez, um plano para integração de crianças portadoras de deficiência. 25 A ideia da integração nascia para derrubar a prática da exclusão social a que foram submetidas as pessoas portadoras de deficiências, durante vários séculos. Figura 12. Fonte: pessoascomdeficiencia.com.br Na década de 60, observou-se um boom de instituições especializadas que ofereciam aos grupos específicos de indivíduos deficientes, todos os serviços possíveis correspondentes àqueles encontrados fora da instituição, disponibilizados para a população considerada normal. A segregação continuava, só que agora no âmbito institucional, dentro de escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes recreativos especiais, etc. (SASSAKI, 1997). Ao final daquela década, a ideia de integração social foi ampliada e o objetivo da nova abordagem passou a promover a integração das pessoas portadoras de deficiência nos sistemas sociais gerais, como a educação, o trabalho, a família e o lazer. O fator propulsor de tal mudança de perspectiva foi a elaboração e a divulgação de um importante princípio – o princípio da normalização (SASSAKI, 1997). Em 1969, na Dinamarca, Nirje – Diretor da Associação Sueca para Crianças Retardadas - formula o princípio da normalização, que se constituiria na base conceitual do processo de integração social dali em diante. Em sua redação inicial, o princípio referia-se apenas a pessoas com deficiência, como se pode constatar: “O princípio de normalização significa colocar ao alcance dos retardados mentais, uns modos e umas condições de vida diários os mais parecidos possível às formas e condições de vida do resto da sociedade” (STEELNLANDT 1991, in CARVALHO, 1997, p.45). Este princípio foi generalizado a partir de 1972, por Wolfensberg, para todas as pessoas com deficiências e contemplou tanto os meios possíveis, quanto os resultados alcançados. Isto quer dizer que, para Wolfensberg, a normalização era a utilização de meios tão culturalmente normativos quanto fosse possível para estabelecer e/ou 26 manter condutas e características pessoais o mais culturalmente normativas quanto fosse possível (STEELLANDT, 1991). Figura 13. Fonte: marlenegonzatto.blogspot.com.br O pressuposto básico do princípio da normalização era que toda pessoa portadora de deficiência, especialmente, as deficientes mentais, tinham o direito de experiência um estilo, ou padrão de vida, que fosse comum ou normal à sua própria cultura, ou seja, a todos os membros de uma sociedade deveriam ser oferecidas oportunidades iguais de participar em atividades comuns àquelas partilhadas por seu grupo de pares (MENDES, 1994). Definida como um princípio ou como um objetivo a ser alcançado, a normalização não era específica da escola; ela passava a englobar os diversos aspectos da existência em sociedade e de todas as etapas de vida dos indivíduos com deficiência. Além disso, o princípio da normalização não permaneceu restrito aos fatores relacionados à vida dos indivíduos afetados por uma incapacidade ou uma dificuldade, ele passavaa envolver também todas as outras pessoas que estavam em contato com aqueles indivíduos, ou seja, sua família e a sociedade que se relacionasse com eles (DORÉ et. al., 1996). Uma das opções de integração escolar denominava-se mainstreaming, ou seja, “inserção na corrente principal” e seu sentido seria análogo à existência de um canal educativo geral, que, em seu fluxo, vai carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou necessidade específica. Pelo conceito de mainstreaming, o aluno portador de deficiência, ou com dificuldades de aprendizagem, deve ter acesso à educação, sendo que essa formação deverá ser adaptada às suas necessidades específicas (MANTOAN,1998). Foi a partir da década de 80 que a integração social, como movimento, teve seu maior impulso com o fortalecimento da luta pelos direitos das pessoas portadoras de 27 deficiência. No Brasil, essa influência é vista, claramente, na redação dos textos oficiais que normatizaram o atendimento educacional especial. Ocorreu, também nessa década, a despeito das críticas iniciais, o desenvolvimento de estratégias de operacionalização do princípio de normalização por meio de integradores. O processo de “mainstreaming” firmou-se como filosofia de integração amplamente aceita (MENDES, 1994). A defesa da integração social da pessoa com deficiência, sem dúvida alguma, foi um avanço social muito importante, pois teve o mérito de inserir esse indivíduo na sociedade de uma forma mais efetiva, se comparado à situação anterior de segregação. Entretanto, se o processo de integração social tem consistido no esforço de inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível compatível com os padrões sociais vigentes, tal esforço tem se mostrado unilateral em nossos dias; um esforço somente da pessoa portadora de deficiência e de seus aliados - a família, a instituição especializada e algumas pessoas envolvidas na causa da inserção social - segundo Sassaki (1997). Da forma como está sendo realizada hoje, a integração escolar/social pouco ou nada exige da sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais. A sociedade “cruza seus braços” e aceita o deficiente desde que ele se torne capaz de adaptar-se ao seu contexto social e às formas de desempenhar os papéis sociais necessários. Essa prática reflete o, ainda vigente, modelo médico de compreensão da deficiência. O modelo médico de compreensão da deficiência significa compreender este fenômeno tendo, como referência, um conjunto de significados construídos historicamente, fundamentados em uma explicação médica da deficiência. Dentro de uma visão organicista de Ser Humano, a explicação médica focaliza a deficiência no indivíduo desviante, enfatiza o diagnóstico e prognóstico clínico (a médio e longo prazo) e tem como objetivo fundamental: classificar, comparar e normatizar o desviante. Figura 14. Fonte: tecnologia.culturamix.com 28 O modelo médico de deficiência parte do pressuposto de que as pessoas portadoras de uma deficiência são doentes e debilitadas, pois estão afastados de um “estado normal” de condição humana, que, nesse caso, seria aquele estado considerado dentro da norma – o ser normal, o ser saudável. Por conta das diferenças que apresentam os deficientes, dentro desse modelo, são discriminados como incompetentes para o exercício de atividades sociais (educação, lazer e trabalho), desconsiderados em seus direitos e deveres, reconhecidos como indivíduos incompetentes para aprender, pensar e decidir, estando submetidos a um permanente estado de dependência em relação a outras pessoas. De forma geral, nas interações sociais realizadas tendo como referência este modelo de compreensão do fenômeno, as pessoas acabam se relacionando com o quadro etiológico da condição deficiente e não com o seu portador. O modelo médico de compreensão da deficiência está arraigado na realidade da educação especial brasileira e, em parte, tem sido responsável pela resistência da sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para inserir em seu meio os indivíduos com deficiência, de modo a favorecer o desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Partindo do pressuposto de que a deficiência é um problema existente exclusivamente na pessoa deficiente, a sociedade sempre foi levada a crer que bastaria oferecer a esses indivíduos algum tipo de serviço especializado e o problema estaria solucionado. Figura 15. Fonte: fclar.unesp.br 29 Fundamentado em um modelo médico de deficiência, que “tenta ‘melhorar’ as Pessoas com deficiência para adequá-las aos padrões da sociedade” (WESTMACOTT, in SASSAKI, 1997), o processo de integração social tem concentrado esforços no sentido de inserir na sociedade pessoas com deficiência que já tenham alcançado um nível de desempenho compatível com os padrões sociais vigentes. O processo de integração baseado num modelo médico de deficiência, para Sassaki, pouco ou nada exige da sociedade no que se refere a mudanças de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais. De forma geral, a defesa do modelo de integração escolar do indivíduo com deficiência por meio do processo de mainstreaming está muito presente nos projetos de Educação Especial desenvolvidos, atualmente, no Brasil. No processo de mainstreaming, o aluno deficiente deve ter acesso à educação, sendo sua formação escolar adaptada às suas necessidades específicas. Para que tal objetivo seja alcançado, deve haver uma diversidade de possibilidades e de serviços disponíveis a esse aluno, opções que vão da inserção em classes regulares ao ensino em escolas especiais. O processo de integração, nesse modelo, é representado por uma estrutura denominada “sistema de cascata” em que é oferecido ao deficiente um ambiente menos restritivo possível, em todas as etapas da integração, com a garantia desse aluno poder transitar ao longo do “sistema”. “Mainstreaming “seria uma concepção de integração parcial, porque o sistema de cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização. Os alunos que se encontram em serviços segregados, raramente se deslocam para outros menos segregados (MANTOAN, 1998). O sistema de cascata e as políticas de integração no modelo mainstreaming, em muitos casos, acabam sendo usados pela escola para ocultar o seu fracasso em relação a alguns alunos, isolando-os e somente integrando aqueles que não constituem um desafio à sua competência (DORÉ et al.,1996). A seleção dos alunos que se enquadram nas situações de mainstreaming é feita utilizando-se um processo de avaliação e seleção (supostamente “objetivo”), que irá apontar quais serão elegíveis para serem integrados. Entretanto, a objetividade desse processo é questionável e os critérios utilizados, em muitos casos, são subjetivos, arbitrários e inadequados para revelar a real condição daquele aluno. Seguindo o curso das transformações das práticas sociais relacionadas à forma de inserção social das pessoas com necessidades especiais e aos tipos de atendimento oferecidos a eles, observamos o surgimento de uma quinta fase, na segunda metade da década de 80, incrementando-se nos anos 90: é a fase da Inclusão Escolar. 30 8. ADAPTAÇÕES CURRICULARES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ENSINO Figura 16. Fonte: liliacamposmartins.blogspot.com.br As manifestações de dificuldades de aprendizagem na escola apresentam-se como um contínuo, desde situações leves e transitórias que podem se resolver espontaneamente no curso do trabalho pedagógico até situações mais graves e persistentes que requerem o uso de recursos especiais para a sua solução. Atender a esse contínuo de dificuldades requer respostas educacionais adequadas envolvendograduais e progressivas adaptações do currículo. As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize a adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a planificação pedagógica e a ações docentes fundamentadas em critérios que definem: • O que o aluno deve aprender; • Como e quando aprender; • Que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; • Como e quando avaliar o aluno. 31 Para que alunos com necessidades educacionais especiais possam participar integralmente em um ambiente rico de oportunidades educacionais com resultados favoráveis, alguns aspectos precisam ser considerados, destacando-se entre eles: A preparação e a dedicação da equipe educacional e dos professores; • o apoio adequado e recursos especializados, quando forem necessários; as adaptações curriculares e de acesso ao currículo. Figura 17. Fonte: pessoascomdeficiencia.com.br Algumas características curriculares facilitam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, dentre elas: Atinjam o mesmo grau de abstração ou de conhecimento, num tempo determinado; desenvolvidas pelos demais colegas, embora não o façam com a mesma intensidade, em necessariamente de igual modo ou com a mesma ação e grau de abstração. As adaptações curriculares apoiam-se nesses pressupostos para atender às necessidades educacionais especiais dos alunos, objetivando estabelecer uma relação harmônica entre essas necessidades e a programação curricular. Estão focalizadas, portanto, na interação entre as necessidades do educando e as respostas educacionais a serem propiciadas. Devem ser destinadas aos que necessitam de serviços e/ou situações especiais de educação, realizando-se, preferencialmente, em ambiente menos restritivo e pelo menor período de tempo, de modo a favorecer a promoção do aluno a formas cada vez mais comuns de ensino. As necessidades especiais revelam que tipos de ajuda, diferentes das usuais, são requeridos, de modo a cumprir as finalidades da educação. As respostas a essas 32 necessidades devem estar previstas e respaldadas no projeto pedagógico da escola, não por meio de um currículo novo, mas, da adaptação progressiva do regular, buscando garantir que os alunos com necessidades especiais participem de uma programação tão normal quanto possível, mas considere as especificidades que as suas necessidades possam requerer. Figura 18. Fonte: araras.sp.gov.br O currículo, nessa visão, é um instrumento útil, uma ferramenta que pode ser alterada para beneficiar o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, resultando em alterações que podem ser maiores de idade ou menor expressividade. A maior parte das adaptações curriculares realizadas na escola é considerada menos significativas, porque constituem modificações menores no currículo regular e são facilmente realizadas pelo professor no planejamento normal das atividades docentes e constituem pequenos ajustes dentro do contexto normal de sala de aula. Figura 19. Fonte: brasil.estadao.com.br 33 O Quadro I especifica alguns aspectos desses tipos de adaptação. São importantes como medidas preventivas levando o aluno a aprender os conteúdos curriculares de maneira mais ajustada às suas condições individuais, para prosseguir na sua carreira acadêmica, evitando-se seu afastamento da escola regular. 34 As adaptações organizativas têm um caráter facilitador do processo de ensino aprendizagem e dizem respeito: Ao tipo de agrupamento de alunos para a realização das atividades de ensino-aprendizagem; À organização didática da aula – propõe conteúdos e objetivos de interesse do aluno ou diversificados, para atender às suas necessidades especiais, bem como disposição física de mobiliários, de materiais didáticos e de espaço disponíveis para trabalhos diversos; À organização dos períodos definidos para o desenvolvimento das atividades previstas – propõe previsão de tempo diversificada para desenvolver os diferentes elementos do currículo na sala de aula. Figura 20. Fonte: desciclopedia.org As adaptações relativas aos objetivos e conteúdos dizem respeito: À priorização de áreas ou unidades de conteúdos que garantam funcionalidade e que sejam essenciais e instrumentais para as aprendizagens posteriores. Ex: habilidades de leitura e escrita, cálculos etc.; À priorização de objetivos que enfatizam capacidades e habilidades básicas de atenção, participação e adaptabilidade do aluno. Ex: desenvolvimento de habilidades sociais, de trabalho em equipe, de persistência na tarefa etc.; 35 Há sequenciarão pormenorizada de conteúdos que requeiram processos gradativos de menor à maior complexidade das tarefas, atendendo à sequência de passos, à ordenação da aprendizagem etc.; Ao reforço da aprendizagem e à retomada de determinados conteúdos para garantir o seu domínio e a sua consolidação; À eliminação de conteúdos menos relevantes, secundários para dar enfoque mais intensivo e prolongado a conteúdos considerados básicos e essenciais no currículo. As adaptações avaliativas dizem respeito: À seleção das técnicas e instrumentos utilizados para avaliar o aluno. Propõem modificações sensíveis na forma de apresentação das técnicas e dos instrumentos de avaliação, a sua linguagem, de um modo diferente dos demais alunos de modo que atenda às peculiaridades dos que apresentam necessidades especiais. As adaptações nos procedimentos didáticos e nas atividades de ensinoaprendizagem referem-se ao como ensinar os componentes curriculares. Dizem respeito: Há alteração nos métodos definidos para o ensino dos conteúdos curriculares; À seleção de um método mais acessível para o aluno; À introdução de atividades complementares que requeiram habilidades diferentes ou a fixação e consolidação de conhecimentos já ministrados – utilizadas para reforçar ou apoiar o aluno, oferecer oportunidades de prática suplementar ou aprofundamento. São facilitadas pelos trabalhos diversificados, que se realizam no mesmo segmento temporal; À introdução de atividades prévias que preparam o aluno para novas aprendizagens; À introdução de atividades alternativas além das planejadas para a turma, enquanto os demais colegas realizam outras atividades. É indicada nas atividades mais complexas que exigem uma sequenciarão de tarefas; Há alteração do nível de abstração de uma atividade oferecendo recursos de apoio, sejam visuais, auditivos, gráficos, materiais manipulativos etc.; Há alteração do nível de complexidade das atividades por meio de recursos do tipo: eliminar partes de seus componentes (simplificar um problema matemático, excluindo a necessidade de alguns cálculos, é um exemplo); ou explicitar os passos que devem ser seguidos para orientar a solução da tarefa, ou seja, oferecer apoio, especificando passo a passo a sua realização; 36 Há alteração na seleção de materiais e adaptação de materiais – uso de máquina braile para o aluno cego, calculadoras científicas para alunos com altas habilidades/superdotados etc. As adaptações na temporalidade dizem respeito: Há alteração no tempo previsto para a realização das atividades ou conteúdo; Ao período para alcançar determinados objetivos.Muitas vezes, há necessidade de adotar adaptações significativas do currículo para atender às necessidades especiais dos alunos, quando estas forem mais acentuadas e não se solucionarem com medidas curriculares menos significativas. De um modo geral constituem estratégias necessárias quando os alunos apresentam sérias dificuldades para aprender, como resultado, entre outros fatores: Da defasagem entre a sua competência curricular e a de seus colegas; Da discrepância entre as suas necessidades e as demandas das atividades e expectativas escolares; Da crescente complexidade das atividades acadêmicas que vai se ampliando, na medida do avanço na escolarização. Figura 21. Fonte: acessibilidadesaudeeinformacao.blogspot.com.br 37 O que se almeja é a busca de soluções para as necessidades específicas do aluno e, não, o fracasso na viabilização do processo de ensino-aprendizagem. As demandas escolares precisam ser ajustadas, para favorecer a inclusão do aluno. É importante observar que as adaptações focalizam as capacidades, o potencial, a zona de desenvolvimento proximal (nos termos de Vygotsky) e não se centralizam nas deficiências e limitações do aluno, como tradicionalmente ocorria. Embora muitos educadores possam interpretar essas medidas como “abrir mão” da qualidade do ensino ou empobrecer as expectativas educacionais, essas decisões curriculares podem ser as únicas alternativas possíveis para os alunos que apresentam necessidades especiais como forma de evitar a sua exclusão. O Quadro II especifica alguns aspectos das adaptações curriculares significativas. 38 As adaptações relativas aos objetivos sugerem decisões que modificam significativamente o planejamento quanto aos objetivos definidos, adotando uma ou mais das seguintes alternativas: Eliminação de objetivos básicos – quando extrapolam as condições do aluno para atingi-lo, temporária ou permanentemente; Figura 22. Fonte: afabricadedesenhos.wordpress.com Introdução de objetivos específicos alternativos – não previstos para os demais alunos, mas que podem ser incluídos em substituição a outros que não podem ser alcançados, temporária ou permanentemente; Introdução de objetivos específicos complementares – não previstos para os demais alunos, mas acrescidos na programação pedagógica para suplementar necessidades específicas. As adaptações relativas aos conteúdos incidem sobre conteúdos básicos e essenciais do currículo e requerem uma avaliação criteriosa para serem adotados. Dizem respeito: À introdução de novos conteúdos não revistos para os demais alunos, mas essenciais para alguns, em particular; Eliminação de conteúdos que, embora essenciais no currículo, sejam inviáveis de aquisição por parte do aluno. Geralmente estão associados a objetivos que também tiveram de ser eliminados. 39 As adaptações relativas à metodologia são consideradas significativas quando implicam uma modificação expressiva no planejamento e na atuação docente. Dizem respeito: À introdução de métodos muito específicos para atender às necessidades particulares do aluno. De um modo geral, são orientados por professor especializado; Às alterações nos procedimentos didáticos usualmente adotados pelo professor; À organização significativamente diferenciada da sala de aula para atender às necessidades específicas do aluno. Figura 23. Fonte: new.d24am.com As adaptações significativas na avaliação estão vinculadas às alterações nos objetivos e conteúdo que foram acrescidos ou eliminados. Desse modo, influenciam os resultados que levam, ou não, à promoção do aluno e evitam a “cobrança” de conteúdos e habilidades que possam estar além de suas atuais possibilidades de aprendizagem e aquisição. As adaptações significativas na temporalidade referem-se ao ajuste temporal possível para que o aluno adquira conhecimentos e habilidades que estão ao seu alcance, mas que dependem do ritmo próprio ou do desenvolvimento de um repertório anterior que seja indispensável para novas aprendizagens. Desse modo, requerem uma criteriosa avaliação do aluno e do contexto escolar e familiar, porque podem resultar em um prolongamento significativo do tempo de escolarização do aluno, ou seja, em sua retenção. Não caracteriza reprovação, mas parcelamento e sequenciarão de objetivos e conteúdo. 40 8.1 Níveis de Adaptações Curriculares As adaptações curriculares não devem ser entendidas como um processo exclusivamente individual ou uma decisão que envolve apenas o professor e o aluno. Realizam-se em três níveis: No âmbito do projeto pedagógico (currículo escolar); No currículo desenvolvido na sala de aula; No nível individual. Figura 24. Fonte: professoremiliofigueira.com.br 41 9. ADAPTAÇÕES NO NÍVEL DO PROJETO PEDAGÓGICO (CURRÍCULO ESCOLAR) As adaptações nesse nível referem-se a medidas de ajuste do currículo em geral, que nem sempre precisam resultar em adaptações individualizadas. As ações adaptativas visam a flexibilizar o currículo para que ele possa ser desenvolvido na sala de aula e atender às necessidades especiais de alguns alunos. Figura 25. Fonte:www.danielatrigo.com.br As adaptações curriculares no nível do projeto pedagógico devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio. Elas devem propiciar condições estruturais para que possam ocorrer no nível da sala de aula e no nível individual, caso seja necessária uma programação específica para o aluno. Essas medidas podem se concretizar nas seguintes situações ilustrativas: A escola flexibiliza os critérios e os procedimentos pedagógicos levando em conta a diversidade dos seus alunos; O contexto escolar permite discussões e propicia medidas diferenciadas metodológicas e de avaliação e promoção que contemplam as diferenças individuais dos alunos; A escola favorece e estimula a diversificação de técnicas, procedimentos e estratégias de ensino, de modo que ajuste o processo de ensino e aprendizagem às características, potencialidades e capacidades dos alunos; A comunidade escolar realiza avaliações do contexto que interferem no processo pedagógico; 42 A escola assume a responsabilidade na identificação e avaliação diagnóstica dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, com o apoio dos setores do sistema e outras articulações; A escola elabora documentos informativos mais completos e elucidativos; A escola define objetivos gerais levando em conta a diversidade dos alunos; O currículo escolar flexibiliza a priorização, a sequenciarão e a eliminação de objetivos específicos, para atender às diferenças individuais. As decisões curriculares devem envolver a equipe da escola para realizar a avaliação, a identificação das necessidades especiais e providenciar o apoio correspondente para o professor e o aluno. Devem reduzir ao mínimo, transferir as responsabilidades de atendimento para profissionais fora do âmbito escolar ou exigir recursos externos à escola. Figura 26. Fonte: institutoitard.com.br 43 10. ADAPTAÇÕES RELATIVAS AO CURRÍCULO DA CLASSE Figura 27. Fonte: pt.slideshare.net As medidas adaptativas desse nível são realizadas pelo professor e destinam- se, principalmente, à programação das atividades da sala de aula. Focalizam a organização e os procedimentos didático-pedagógicos e destacam o como fazer, a organização temporal dos componentes e dos conteúdos curriculares e a coordenação das atividades docentes, de modo que favoreça a efetiva participação e integração do aluno, bem como a sua aprendizagem. Os procedimentos deadaptação curricular destinados à classe devem constar na programação de aula do professor e podem ser exemplificados nos seguintes exemplos ilustrativos: A relação professor/aluno considera as dificuldades de comunicação do aluno, inclusive a necessidade que alguns têm de utilizar sistemas alternativos (língua de sinais, sistema braile, sistema bliss ou similares etc.); A relação entre colegas é marcada por atitudes positivas; Os alunos são agrupados de modo que favoreça as relações sociais e o processo de ensino e aprendizagem; O trabalho do professor da sala de aula e dos professores de apoio ou outros profissionais envolvidos é realizado de forma cooperativa, interativa e bem definida do ponto de vista de papéis, competência e coordenação; 44 A organização do espaço e dos aspectos físicos da sala de aula considera a funcionalidade, a boa utilização e a otimização desses recursos; A seleção, a adaptação e a utilização dos recursos materiais, equipamentos e mobiliários realizam-se de modo que favoreça a aprendizagem de todos os alunos; A organização do tempo é feita considerando os serviços de apoio ao aluno e o respeito ao ritmo próprio de aprendizagem e desempenho de cada um; Na avaliação é flexível de modo que considere a diversificação de critérios, de instrumentos, procedimentos e leve em conta diferentes situações de ensino e aprendizagem e condições individuais dos alunos; As metodologias, as atividades e procedimentos de ensino são organizados e realizados levando-se em conta o nível de compreensão e a motivação dos alunos; os sistemas de comunicação que utilizam, favorecendo a experiência, a participação e o estímulo à expressão; O planejamento é organizado de modo que contenha atividades amplas com diferentes níveis de dificuldades e de realização; As atividades são realizadas de várias formas, com diferentes tipos de execução, envolvendo situações individuais e grupais, cooperativamente, favorecendo comportamentos de ajuda mútua; Os objetivos são acrescentados, eliminados ou adaptados de modo que atenda às peculiaridades individuais e grupais na sala de aula. As adaptações no nível da sala de aula visam a tornar possível a real participação do aluno e a sua aprendizagem eficiente no ambiente da escola regular. Consideram, inclusive, a organização do tempo de modo a incluir as atividades destinadas ao atendimento especializado fora do horário normal de aula, muitas vezes necessários e indispensáveis ao aluno. 45 11. ADAPTAÇÕES INDIVIDUALIZADAS DO CURRÍCULO Figura 28. Fonte: gestaoescolar.abril.com.br As modalidades adaptativas, nesse nível, focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento do aluno. Compete-lhe o papel principal na definição do nível de competência curricular do educando, bem como na identificação dos fatores que interferem no seu processo de ensino aprendizagem. As adaptações têm o currículo regular como referência básica, adotam formas progressivas de adequá-lo, norteando a organização do trabalho consoante com as necessidades do aluno (adaptação processual). Alguns aspectos devem ser previamente considerados para se identificar a necessidade das adaptações curriculares, em qualquer nível: A real necessidade dessas adaptações; Na avaliação do nível de competência curricular do aluno, tendo como referência o currículo regular; O respeito ao seu caráter processual, de modo que permita alterações constantes e graduais nas tomadas de decisão. É importante ressaltar que as adaptações curriculares, seja para atender alunos nas classes comuns ou em classes especiais, não se aplicam exclusivamente à escola regular, devendo ser utilizadas para os que estudam em escolas especializadas, quando a inclusão não for possível. Além da classificação, por níveis, as medidas adaptativas podem se distinguir em 2 categorias: adaptações de acesso ao currículo e nos elementos curriculares. 46 12. ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO Correspondem ao conjunto de modificações nos elementos físicos e materiais do ensino, bem como aos recursos pessoais do professor quanto ao seu preparo para trabalhar com os alunos. São definidas como alterações ou recursos espaciais, materiais ou de comunicação que venham a facilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currículo escolar. Figura 29. Fonte: futurotaqui.blogspot.com.br As seguintes medidas constituem adaptações de acesso ao currículo: Criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na sua unidade escolar de atendimento; Propiciar os melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas com as quais convive na comunidade escolar; Favorecer a participação nas atividades escolares; Propiciar o mobiliário específico necessário; Fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários; Adaptar materiais de uso comum em sala de aula; Adotar sistemas de comunicação alternativos para os alunos impedidos de comunicação oral (no processo de ensino aprendizagem e na avaliação). Sugestões que favorecem o acesso ao currículo: Agrupar os alunos de uma maneira que facilite a realização de atividades em grupo e incentive a comunicação e as relações interpessoais; 47 Propiciar ambientes com adequada luminosidade, sonoridade e movimentação; Encorajar, estimular e reforçar a comunicação, a participação, o sucesso, a iniciativa e o desempenho do aluno; Adaptar materiais escritos de uso comum: destacar alguns aspectos que necessitam ser apreendidos com cores, desenhos, traços; cobrir partes que podem desviar a atenção do aluno; incluir desenhos, gráficos que ajudem na compreensão; destacar imagens; modificar conteúdos de material escrito de modo a torná-lo mais acessível à compreensão etc.; Providenciar adaptação de instrumentos de avaliação e de ensino aprendizagem; • favorecer o processo comunicativo entre aluno/professor, aluno-aluno, aluno-adultos; Providenciar softwares educativos específicos; Despertar a motivação, a atenção e o interesse do aluno; Apoiar o uso dos materiais de ensino-aprendizagem de uso comum; Atuar para eliminar sentimentos de inferioridade, menos valia e fracasso. Sugestões de recursos de acesso ao currículo para alunos com necessidades especiais, segundo necessidades específicas: 12.1 Para alunos com deficiência visual Figura 30. Fonte: professorawaldebora.blogspot.com.br 48 Materiais desportivos adaptados: bola de guizo e outros; Sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno: sistema braile, tipos escritos ampliados; Textos escritos com outros elementos (ilustrações táteis) para melhorar a compreensão; Posicionamento do aluno na sala de Aula de modo que favoreça sua possibilidade de ouvir o professor; Deslocamento do aluno na sala de aula para obter materiais ou informações, facilitado pela disposição do mobiliário; Explicações verbais sobre todo o material apresentado em aula, de maneira visual; Boa postura do aluno, evitando-se os maneirismos comumente exibidos pelos que são cegos; Adaptação de materiais escritos de uso comum: tamanho das letras, relevo, softwares educativos em tipo ampliado, textura modificada etc.; Máquina braille, reglete, sorobã, bengala longa, livro falado etc.; Organização espacial para facilitar a mobilidade e evitar acidentes: colocação de extintores de incêndio em posição mais alta, pistas olfativas para orientar na localização de ambientes, espaço entre as carteiras para facilitar o deslocamento,
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