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1 Nervos Cranianos – Victoria Durand Semiologia dos Nervos Cranianos NERVO OLFATÓRIO (NC I) As fibras sensitivas do epitélio do nariz, penetram o osso etmoide (lâmina cribriforme). No bulbo olfatório, seguem- se os tratos olfatórios que se dividem em estrias mediais (característica olfativa) e estrias laterais (consciência olfativa). O olfato é a única modalidade sensitiva não processada no tálamo. ANAMNESE E SEMIOTÉCNICA Os pacientes devem ser questionados quanto: o Medicamentos; (anticonvulsivantes, antidepressivos) o Substâncias tóxicas; o Doenças estruturais; (pólipos nasais, anticongestionantes) o Alergias; o Doenças infecciosas; (neuro sífilis) o Deficiências vitamínicas; o Traumas de crânio; o Parkinson; o COVID-19. OBS.: Essa anamnese só é feita em pacientes que chegam com queixa (depende 100% do que o paciente vai relatar). POSSÍVEIS ALTERAÇÕES RELATADAS: – Anosmia (perda total do olfato); – Agnosia olfatória (não consegue reconhecer um objeto/substância pelo cheiro, geralmente relacionado a lesões mesocorticais). – Hiposmia (diminuição do olfato); – Hiperosmia (olfato excessivamente aguçado); – Cacosmia (alteração do olfato para cheiros ruins); – Disosmia (alterações do olfato para outros cheiros); – Presbiosmia (redução do olfato por envelhecimento). OBS.: É importante, na anamnese, saber que tipo de perda/alteração de olfato o paciente tem. Isso se deve porque é importante saber se essa alteração é de longo/curto prazo. Existe diferença de uma pessoa que tem histórico de trauma ou de outros sintomas neurológicos de Parkinsonismo em relação a outra que tem histórico de sintomas paroxísticos que surgem e melhoram, principalmente quando são sintomas ruins (ex.: odor fétido, fezes, urina, pneu queimado) com durações de poucos segundos, às vezes seguido de uma sensação de confusão mental/sonolência/dor de cabeça, isso pode ser uma crise focal. Então deve-se atentar para a diferença de como o sintoma apareceu, há quanto tempo apareceu, se é paroxístico/crônico/persistente/progressivo porque pensa-se em doenças diferentes. EXAME: APÓS SABER O SINTOMA RELATADO – Sempre usar um material que tenha um cheiro facilmente reconhecível (ex.: café, aroma de rosas, alguns temperos); – Não usar substâncias danosas ou tóxicas (ex.: álcool, cebola). – Fazer o exame testando uma narina de cada vez (comparar os lados); Explicar o exame ao paciente: o mesmo deve manter os olhos fechados e, ao ser exposto a uma substância, acusar primeiramente que percebe um cheiro. Apenas a seguir, quando perguntado, deverá nomear o cheiro que identificou. 2 Nervos Cranianos – Victoria Durand OBS.: Sintomas podem ser uni ou bilaterais. Os unilaterais podem ser causados por trauma, algum tumor intranasal, tumor de bulbo olfatório (faz diferença na hipótese e investigação diagnóstica). Lesão temporal não tem perda olfatória. NERVO ÓPTICO (NC II) O exame físico do nervo óptico é um exame bem mais pormenorizado e que vai precisar de bem mais etapas. Isso se deve porque o sintoma ou a sensibilidade visual é algo que causa muito mais perda para um paciente do ponto de vista instrumental e de vida do que a perda de algumas outras sensibilidades. O diagnóstico diferencial de déficits visuais é fundamental para o neurologista, pois fornece importantes pistas topográficas. A perda visual de instalação aguda constitui urgência neuro-oftalmológica e pode ser a manifestação inicial de doenças potencialmente fatais. Sendo assim, todo paciente com queixa recente de alteração da função visual deve ser examinado de maneiras rápida e eficiente. OBS.: Uma história clínica detalhada é de fundamental importância na avaliação do paciente com queixa visual. É ela quem determinará os diagnósticos diferenciais a serem avaliados por meio do exame neuro-oftalmológico. Qual é a queixa principal do indivíduo? NOÇÕES BÁSICAS DA ANATOMIA DO SISTEMA VISUAL O N. Óptico se inicia na retina, que é formada por duas partes: retina nasal e retina temporal. A imagem formada na retina é duplamente invertida, ou seja, a retina nasal enxerga o que existe no campo de visão temporal e a retina temporal enxerga o que existe no campo de visão nasal. Assim como a imagem captada do hemicampo superior se projeta na hemirretina inferior (e vice-versa). Essas fibras da retina que seguem no NC II chegam no bulbo ocular e seguem até que se cruzam parcialmente no quiasma óptico (as fibras da retina nasal que enxerga o campo temporal vão cruzar para o outro lado, enquanto que as fibras da retina temporal persistem no mesmo lugar). Então após o quiasma óptico o campo visual muda de somatotopia. O trato óptico faz associação no corpo geniculado lateral, de lá, emite radiações ópticas que se dividem em superior e inferior e por fim terminam nos sulcos calcarinos no córtex occipital, local onde entende-se a imagem que é enxergada. ANAMNESE ◌ Baixa acuidade visual? (ex.: miopia) ◌ A alteração é percebida em um ou em ambos os olhos (monocular ou binocular)? Perda monocular localiza a lesão anteriormente ao quiasma (globo ocular ou nervo óptico), enquanto a perda binocular é gerada por lesão no quiasma ou retroquiasmática. ◌ O déficit se estende por todo campo visual ou é mais acentuado em algum ponto específico? As cores estão menos nítidas? ◌ A queixa se iniciou de maneira súbita (amaurose fugaz) ou gradual? ◌ É persistente ou flutuante (paroxismos)? ◌ É acompanhada de dor ocular, cefaleia ou outros sintomas? ◌ O paciente percebe alterações palpebrais, no globo ocular ou pupilas? ◌ Em que situação o déficit se acentua? ◌ A visão piora ao olhar para determinada direção? ◌ Tempo de sintomas, períodos de piora no dia, progressão, regressão, etc. 3 Nervos Cranianos – Victoria Durand ◌ Sintomas positivos: moscas volantes, escotomas cintilantes, aura visual (fortificação, bolhas, formas geométricas), alucinação visual; OBS.: Investigue se o paciente apresenta transtorno pregresso da função visual, ainda que de menor intensidade, e se apresenta história familiar de perda visual. Doenças sistêmicas diagnosticadas ou em investigação, muitas vezes, são a chave para o diagnóstico. Averigue a presença de fatores de risco cardiovascular em pacientes com neuropatia óptica isquêmica ou antecedente de doença autoimune em pacientes com neurite óptica. PUPILAS – FOTORREAÇÃO É necessário examinar a pupila devido ao reflexo fotomotor, a fotorreação. Este só acontece porque o N. Óptico íntegro recebe estímulo luminoso, leva para o mesencéfalo e lá no mesencéfalo existem as integrações dos núcleos mesencefálicos responsáveis que retornam à ação pelo N. Oculomotor para poder fazer a vasoconstrição pupilar (miose). Se o N. Óptico estiver ruim por uma doença inflamatória/infecciosa/traumática constritiva ou vascular, esse reflexo vai estar diminuído, pode até inclusive estar ausente. Sendo assim, por vezes, tem-se uma alteração de reflexo fotomotor por culpa do N. Óptico e não por culpa dos outros nervos que alteram as fotos reações. ISOCÓRICAS: normais MIDRIÁTICAS: quando não se consegue fazer a miose e tem uma lesão das fibras parassimpáticas (as que fazem a miose) e o reflexo fotomotor não existe. MIÓTICAS: lesão das fibras simpáticas (as que fazem midríase). ANISOCÓRICAS: assimétricas. Mais comum quando existe alteração ou das fibras parassimpáticas causando midríase fixa ou uma alteração das fibras simpáticas causando miose fixa, não sendo necessariamente no N. Óptico. Legenda: (1) Isocóricas (2) Midriáticas (3) Mióticas (4) Anisocóricas ALTERAÇÕES NO CAMPO VISUAL – TESTE DE CAMPIMETRIA A campimetria é a medição do campo. Existe o campo nasal, que é enxergado pela retina temporal e o campo temporal, que é enxergado pela retina nasal. Ao chegar no quiasma, a retina nasal cruza. 4 Nervos Cranianos– Victoria Durand ALTERAÇÕES NO CAMPO VISUAL: LESÃO PÓS-QUIASMA: a lesão vai causar uma perda no campo visual contralateral. OBS.: Isso se justifica porque pós quiasma no trato óptico E, por exemplo, enxerga-se o campo visual nasal esquerdo (retina temporal) e o campo visual temporal direito (retina nasal). Então o trato óptico esquerdo vai enxergar o campo visual a direita dos dois olhos juntos. LESÃO NO TRATO ÓPTICO OU CORPO GENICULADO OU NA REGIÃO OCCIPITAL: pode ter perda da metade do campo visual como um todo (hemianopsia). OBS.: HEMIANOPSIA: é a única manifestação de um AVC. LESÃO DE QUIASMA ÓPTICO: nesse momento, as fibras da retina nasal estão cruzando e ambas enxergam o campo temporal. Desse modo ocorre a perda do campo temporal bilateralmente, chamado de hemianopsia heterônima bitemporal. OBS.: Pode ser causado por tumor de hipófise. LESÃO DAS RADIAÇÕES ÓPTICAS: as radiações ópticas superiores passam pelo córtex parietal enquanto que as inferiores passam pelo córtex temporal. Caso se tenha uma lesão parietal, pode-se ter uma alteração de visão por conta daquelas radiações ópticas que foram perdidas, e, nesse caso não se perde todo um campo, e sim metade dele (quadrantanopsia homônima completa). Se pegar as fibras de cima, para de enxergar em baixo no quadrante inferior do outro lado e se pegar as fibras de baixo, para de enxergar em cima no quadrante superior do outro lado. AO EXAME: É preciso ficar a uma distância de 1-2m do paciente e comparar seu próprio campo visual com o campo visual do paciente. Dessa forma, fica-se de frente um para o outro e avalia um olho de cada vez (você fica com o olho esquerdo aberto e o paciente com o olho direito e com a sua mão você vai ver se o paciente enxerga em toda a periferia da visão e no centro). Caso se note alguma lesão em um olho, faz o mesmo procedimento para descobrir se no outro olho também segue o mesmo padrão. ESCOTOMAS Escotoma é uma área com visão comprometida, circundada por visão normal e decorre mais comumente de doença da retina ou nervo óptico. POSSÍVEIS CAUSAS: doença inflamatória do NC II, sintomas paroxísticos de aura migranosa (É a aura da enxaqueca); Na hora da enxaqueca o escotoma tanto pode ser um escotoma negativo no qual o objeto some por trás da imagem como pode ser um escotoma positivo, onde você continua enxergando por trás da imagem, mas parece que tem uma luz sobrepondo (escotoma cintilante); OBS.: Na presença de um escotoma de um paciente que se está examinando, é preciso ver se a doença é do N. Óptico ou da retina ou se o paciente no momento estiver com uma aura precedendo uma enxaqueca. 5 Nervos Cranianos – Victoria Durand AURA VISUAL – Existem outras formas de aura visual; FORTIFICAÇÃO: Auras em que os sintomas positivos que acontecem como formatos geométricos, até mesmo parecendo um prisma; Auras negativas, mas que parecem ser brancas, luminosas como se fosse um sintoma positivo. EXAME: FUNDOSCOPIA Por meio da oftalmoscopia direta é possível ter acesso a duas regiões do sistema nervoso central, a retina e cabeça do nervo óptico, ou disco. Uma papila normal é a região que as fibras da retina se unem para formarem o N. Óptico, para saírem do bulbo ocular e tem entrada e saída de vaso (artéria e veia); O disco é oval, apresenta coloração amarelo-rosada, ligeiramente mais clara do que o restante da retina, em razão da mielina que circunda os axônios. A orla do disco é formada pelos axônios das células ganglionares que comporão o nervo óptico, o cálice é a região central deprimida, ligeiramente mais pálida. O disco normal apresenta bordas nítidas. Ao avaliar as estruturas vasculares, devemos estar atentos ao pulso venoso espontâneo, que consiste na variação de calibre das veias da retina. Se tiver uma inflamação do nervo (ex.: aneurite) se perde a boa escavação ou até mesmo essa boa delimitação do N. Óptico e o vê apenas como um borrão; Esse exame ajuda quando se pensa em inflamação do N. Óptico, hipertensão intracraniana, papilite. MOTRICIDADE OCULAR EXTRÍNSECA – NCIII, NCIV e NCVI – Existem três nervos que são responsáveis pela motricidade extrínseca, são eles: oculomotor, troclear e abducente; Permite que se enxergue as coisas no mesmo ponto da retina. Caso não esteja com os olhos perfeitamente alinhados, perde-se a visão do objeto no mesmo ponto da retina. Caso ocorra uma alteração, uma paresia muscular desses músculos que fazem a movimentação ocular, causa-se diplopia (visão dupla); Os principais sinais são os de desalinhamento dos olhos, inclinação cefálica (head tilt), ptose palpebral, nistagmos e anisocoria. Entre os principais sintomas de lesões, envolvendo os núcleos, nervos e músculos oculomotores, estão a diplopia, oscilopsia (sensação de que o ambiente está se movendo sozinho) e o embaçamento ou turvação visual. 6 Nervos Cranianos – Victoria Durand Sempre que estes sinais e sintomas estiverem presentes entre as queixas de um paciente, deve-se avaliar com especial atenção a integridade dos nervos motores oculares e seus efetores. ANAMNESE POSIÇÕES DE OLHAR ▪ 2 verticais: superior e inferior; ▪ 2 horizontais: lateral e medial; ▪ 4 diagonais: superior direita, superior esquerda, inferior direita e inferior esquerda. OBS.: No exame físico, pede-se para o paciente olhar para todas essas posições porque cada músculo age em uma mirada dessas e na mirada primária todos agem para deixar o olho reto. – OLHAR PARA CIMA: m. reto superior; – OLHAR PARA BAIXO: m. reto inferior; – OLHAR PARA A MEDIAL: m. reto medial; – OLHAR PARA A LATERAL: m. reto lateral; – OLHAR PARA DENTRO E PARA BAIXO: m. oblíquo superior; – OLHAR PARA DENTRO E PARA CIMA: m. oblíquo inferior. – OLHAR PARA FORA E PARA CIMA: m. reto lateral e m. reto superior; – OLHAR PARA FORA E PARA BAIXO: m. reto lateral e m. reto inferior. OBS.: Os músculos oblíquos só “olham” para dentro. INERVAÇÃO DOS MÚSCULOS N. OCULOMOTOR: ◌ MOE: Inerva todos os músculos, exceto o reto lateral e o oblíquo superior; ◌ MOI: Pupila (inerva as fibras parassimpáticas – miose). OBS.: PARALISIA DO NCIII - Ptose Palpebral e Pupila em midríase. N. TROCLEAR ◌ inerva o m. oblíquo superior; N. ABDUCENTE ◌ inerva o m. reto lateral. OBS.: Observar se alterações pupilar es ou palpebrais, além da presença de alterações ao olhar primário. DIPLOPIA – 4 perguntas: 1. Binocular? 2. Pior para perto ou para longe? 3. Tem lado que é pior? 4. A imagem falsa é horizontal ou vertical? 7 Nervos Cranianos – Victoria Durand NERVO TRIGÊMIO – NC V Composto por 3 ramos: OFTÁLMICO (V1): começa no couro cabeludo e ele desce até a pálpebra superior, e, às vezes até a ponta do nariz; MAXILAR (V2): pega ponta do nariz e lábio superior; MANDIBULAR (V3): pega a parte mandibular, mas não pega o ângulo da mandíbula. EXAME FÍSICO AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE SUPERFICIAL DA FACE: – Deve-se perguntar ao paciente se os estímulos (tato, dor e temperatura) parecem os mesmos dos dois lados da face (nunca se deve sugerir que possam ser diferentes). – Comparar os lados, além de comparar sempre os 3 ramos. OBS.: Faz o exame igual ao corpo, com material descartável (abaixador de língua, gases) e material que pode deixar mais frio ou mais morno. – Se possível e necessário, avaliar reflexos mediados pelo V nervo (aferente / aferente e eferente) AVALIAÇÃO DOS REFLEXOS: – Reflexo mandibular: o examinador deve colocar seu dedo indicador sobre o queixo do paciente de modo a manter a boca do paciente levemente entreaberta e, então, percutir o dedo com o martelo de reflexos. A resposta é um espasmo ascendente da mandíbula. AVALIAÇÃO DA MOTRICIDADE – MASTIGAÇÃO: – Solicitar ao paciente que contraia com força a mandíbula (fechar a boca com força), enquanto se palpa o masseter e o temporalsuperficial, e que abra a boca e faça movimentos de lateralização da mandíbula contra a resistência (didução mandibular), para se testar os pterigoides. – Um outro teste interessante da função motora é interpor-se um abaixador de língua entre os dentes das arcadas maxilar e mandibular de cada lado, solicitando ao paciente que abra e feche a boca com força (avaliando- se perfeitamente o masseter e o temporal superficial através da impressão dentária dos molares). – Fraqueza motora unilateral do trigêmeo (que causa fraqueza do pterigoide ipsilateral) causa desvio da mandíbula para o lado da fraqueza após abertura da boca (assim como a língua na lesão unilateral do NC XII). Para melhor avaliar o desvio, peça ao paciente que mostre os dentes, verificando, dessa forma, a linha dos incisivos inferiores, que estará desviada para o lado lesado. – Fraqueza unilateral dos músculos inervados pelo NC V indica geralmente lesão envolvendo o tronco cerebral, o gânglio gasseriano ou a raiz motora do NC V na base do crânio. – Fraqueza bilateral com incapacidade de fechar a boca (queixo caído) sugere doença do neurônio motor, doença de junção neuromuscular ou uma miopatia, além de lesões supra nucleares. NERVO FACIAL (NC VII) o Inerva os músculos da expressão facial (motricidade e mimica), assim como os músculos do couro cabeludo, ouvido, bucinador, platisma, estapédio, estilo-hioide e o corpo posterior do digástrico. o Paladar – 2/3 anteriores da língua (sensitiva); o Função glandular (submandibular) e lacrimal. 8 Nervos Cranianos – Victoria Durand PARALISIA FACIAL CENTRAL Acontece em casos de lesões acima do núcleo do tronco, ou seja, situações como AVC, tumor, causando perda dos movimentos dos 2/3 inferiores da face. Paralisia que possui acometimento apenas motor. PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA Quando tem uma lesão periférica do nervo facial, ou seja, depois que ele saiu do tronco cerebral, causando uma perda dos movimentos da testa, da região frontal, da sobrancelha, do fechamento do olho, dos movimentos nasolabiais, além de perda da musculatura do platisma. Paralisia que possui acometimento motor e pode apresentar perda sensitiva (perda gustativa). EXAME FÍSICO Pede para o paciente fazer os movimentos como elevar a sobrancelha, fechar os olhos com força, dar um sorriso, encher a bochecha, contrair o platisma e assobiar se for possível. REFLEXO CÓRNEOPALPEBRAL Mediado pelo NC V e NCVII; ◌ Se tiver uma lesão no quinto nervo, nem se recebe o estímulo e o reflexo não acontece; ◌ Se tiver uma lesão no sétimo nervo, o paciente não pisca. Evocado tocando-se delicadamente a córnea (e não a esclera, pois pode gerar um falso-negativo) com um chumaço de algodão. É importante pedir que o paciente olhe para um lado, e, daí, o examinador toca a borda lateral da córnea do olho contralateral (isto é feito para evitar o piscamento pelo reflexo de ameaça). A resposta esperada é uma piscada direta e consensual. PARA DIFERENCIAR: se tocar com uma gaze a córnea, os dois vão fechar (reflexo combinado). Se a lesão for no trigêmeo, não se recebe o estímulo, ou seja, nenhum dos dois vai fechar. Se o problema for no nervo facial, na hora que toca em um olho, o outro fecha. REFLEXO ORBICULAR DOS OLHOS Evocado ao percutir sobre a face externa da crista supraorbitária (reflexo de McCarthy) ou na região glabelar (reflexo glabelar). A resposta esperada é o piscamento bilateral. Em pessoas normais, a resposta é normalmente inibida até a terceira percussão. Porém, em pacientes com parkinsonismo, a resposta de piscar não é suprimida e persiste por mais de cinco percussões (Sinal de Myerson). 9 Nervos Cranianos – Victoria Durand NERVO VESTIBULOCOCLEAR (NC VIII) ◌ Ele emerge da transição bulbopontina já em posição mais lateralizada em relação aos outros nervos. Além disso, ele anda em posição muito próxima ao N. Facial, então algumas afecções que acometem o N. Facial ou que acometem o N. Vestibulococlear, acabam acometendo os dois nervos ao mesmo tempo (ex.: um tumor dessa região ou doença inflamatória); ◌ Ademais, ambos os nervos mantêm uma relação muito próxima dentro do ouvido interno. O N. Facial tem uma relação de proximidade no mesmo canal do N. Vestibulococlear; OBS.: Portanto, sempre que for visto uma situação que tem uma lesão, uma paralisia facial periférica associada a uma lesão do N. Vestibulococlear, deve- se pensar nessa posição próxima entre eles; ◌ O Nervo Vestibulococlear tem os seus núcleos alojados na posição bulbopontina do ponto de vista micro anatômico, tanto os núcleos vestibulares quanto os núcleos cocleares, já que é um nervo que possui duas “ações”; ◌ Entra no ouvido interno pelo meato acústico interno e vai se dividir nessas duas partes dentro do próprio ouvido interno. VESTIBULAR – EQUILÍBRIO O sistema vestibular permite que a movimentação cefálica, principalmente, e a corporal em relação ao espaço. Faz a integração da visão e o movimento ocular associado ao movimento cefálico e a posição corporal no espaço, para que se consiga manter a movimentação da cabeça sem ter nenhum prejuízo em relação a movimentação do corpo. Assim, para conseguir movimentar a cabeça de um lado para o outro, continuar olhando para um ponto fixo, movimentar as mãos, continuar com a mesma postura de tronco ou até mesmo andar enquanto olha para cima, coloca a cabeça para cima, para baixo, para um lado e pro outro (diversas direções) e não ter um desequilíbrio em relação a isso, consegue-se manter a posição no espaço, é importante a integridade do sistema vestibular. LESÃO/AFECÇÃO NO SISTEMA VESTIBULAR: causa desequilíbrio e tontura. EXAME FÍSICO – MOTRICIDADE OCULAR EXTRÍNSECA (MOE): Protocolo HINTS ◌ Nistagmo; ◌ VOR; ◌ Desvio Skew (ou skew deviation) – Equilíbrio estático e dinâmico; – Marcha O Protocolo HINTS é um protocolo muito utilizado pelos neurologistas para definir se uma vertigem (aquela tontura com sintoma de movimento, seja rotatório ou oscilatório) se ela está relacionada a uma afecção periférica (do nervo vestibulococlear) ou central (doenças cerebelares ou doenças de tronco). Há diferenças importantes entre uma vertigem central (AVC, tumor) e as que acontecem por uma afecção do nervo (infecção, labirintite). Juntando os exames desse protocolo, consegue-se ter uma sensibilidade de lesões centrais até maior que uma tomografia de crânio num pronto-socorro. Esse protocolo é constituído por 3 exames: head impulse, nistagmus e testof skew. HEAD IMPULSE: reflexo vestíbulo ocular ou VOR. É aquele reflexo que quando fica ausente (não existe), o paciente fica com “olhos de boneca” – quando você mexe a cabeça dele no espaço, ele acompanha a movimentação da cabeça com os olhos sem conseguir para o mesmo ponto (morte cefálica). É o reflexo em que se precisa checar se o paciente tem a capacidade de manter o olhar fixo em um objeto enquanto se faz uma movimentação cefálica (ex.: capacidade de dizer não para o próprio dedo olhando para ele). Outra forma de examinar é através da movimentação do impulso cefálico, onde o paciente fica olhando para os olhos do examinador e o examinador pega a cabeça do paciente e vai levar ela para um lado e para o outro de forma passiva enquanto 10 Nervos Cranianos – Victoria Durand o paciente olha para ele. Se o nervo estiver lesado, encontra-se um atraso no movimento (paciente olha pra frente e depois corrig). É checado bem em doenças periféricas, mas se estiver normal, fala a favor de uma doença central. TEST OF SKEW: se tiver uma lesão central da via vestibulocereberal, perde-se o equilíbrio ocular e uma das írises simplesmente desnivela. Então, nota-se que o paciente tem um desnível de um olho em relação ao outro. NISTAGMUS: O nistagmo é uma movimentação involuntária dos olhos que é constituída por uma fase lenta e uma fase rápida posterior, de correção.Quando se perde a força do vestibular normal, o coclear empurra para aquele lado, podendo acontecer muitas coisas como cair para o lado que está lesado, a marcha desviando para o lado lesado e isso não foge à regra quando fala da motricidade ocular extrínseca, os olhos acabam perdendo o tônus, resultando que os pacientes apresentam um certo desvio do olho para o lado lesado e depois o córtex tenta compensar e puxa de volta, causando o nistagmo. Pode acontecer tanto em lesões periféricas como centrais. COCLEAR – AUDIÇÃO – Usa-se um diapasão menor – 512Hz; – Diferenciar perdas condutivas de sensoriais; – Se um paciente tem a audição diminuída de um lado, é preciso saber se a perda é do nervo ou se tem alguma coisa tampando a passagem do som; – Existem dois tipos de condução auditiva: aérea e óssea. WEBER: teste que checa a condução óssea. Faz o diapasão vibrar e o posiciona no vértix da cabeça. Ao posicionar, se o paciente não apresentar lesões irá escutar igualmente pelos dois ouvidos por conta da condução óssea. Se o paciente tiver uma lesão no nervo, tanto a condução aérea quanto a óssea do paciente vão estar prejudicadas, porque o nervo é quem capta qualquer uma dessas conduções, desse modo, o paciente vai sentir aquela audição só no ouvido íntegro e no outro ele vai sentir pouco. RINNE: Faz-se para confirmar se é uma perda de condução neurossensorial do nervo. É um teste em que se checa as conduções aérea e óssea. Percute o diapasão e posiciona inicialmente no processo mastoide, ao colocar, o paciente vai escutar até um certo tempo porque a condução óssea é pobre. No momento em que para de escutar pela vibração, coloca-se as pernas do diapasão na frente do ouvido e o paciente continua ouvindo, pois, a condução aérea é muito melhor, então esse teste serve para checar se o paciente continua com essa diferença de condução óssea menor que a condução aérea, confirmando que é uma doença neurossensorial. Se for uma obstrução, acontece o contrário porque ao diminuir a condução aérea, a condução óssea 11 Nervos Cranianos – Victoria Durand tenta compensar um pouco. Então, posiciona o diapasão e o paciente consegue ouvir, na hora que ele para de escutar e coloca-se o diapasão na frente do ouvido, ele não escuta mais porque tá obstruído (doença obstrutiva). OBS.: Condução aérea > condução óssea. OBS.: Obstrução: condução óssea > condução aérea. Ao colocar o diapasão no vértix da cabeça (WEBER), ao invés dele ser igual para os dois ouvidos, escuta-se mais no ouvido que está ruim, já que a condução óssea tenta se sobrepor. OBS.: Perda Neurossensorial: perde as duas modalidades. Logo, na hora em que se coloca o diapasão no vértix da cabeça, o som da vibração vai mais para o ouvido que está bom, porque o ouvido ruim perdeu as duas modalidades (tanto a óssea quanto a aérea), mas mesmo perdendo as duas, elas continuam com essa diferença da aérea ser maior que a óssea. NERVOS GLOSSOFARÍNGEO (NC IX) E NERVO VAGO (NC X) São estudados em conjunto por serem raras as manifestações clínicas de um deles isoladamente. o Nervos mistos – funções sensitivas, autonômicas e motoras; o Eles têm ações em áreas importantes do ponto de vista cefálico. AVALIAÇÃO CONJUNTA NCIX E NCX Deve-se sempre atentar a sintomas e sinais associados que possam indicar acometimento no tronco encefálico, cérebro ou demais estruturas fora do sistema nervoso central (como o trajeto cervical ou infracervical de ramos mais distais). A combinação e/ou presença de um ou mais achados define o diagnóstico topográfico e, até mesmo, pode restringir os diagnósticos etiológicos. Manifestações motoras e o reflexo de engasgo são os mais importantes. ▪ Orofaringe – palato, úvula, reflexo nauseoso; ▪ Fonação – rouquidão, estridor laríngeo, hipofonia, disfonia, tosse, tremor vocal. N. GLOSSOFARÍNGEO – NCIX – Fibras sensitivas somáticas, viscerais gerais e viscerais especiais (sensibilidade do canal auditivo, sensibilidade da orofaringe – palato, úvula, etc. – e gustação do 1/3 posterior da língua); – Fibras motoras – deglutição, fonação. N. VAGO – NCX – Fibras sensitivas somáticas, viscerais gerais, autonômicas parassimpáticas (sensibilidade somáticas da faringe, laringe, tubo auditivo, tímpano, meninges da fossa posterior, sensibilidade visceral da faringe, laringe, traqueia, brônquios, pulmões, coração, esôfago, vísceras abdominais); gustação da epiglote e das aritenoides; – Fibras motoras – deglutição, fonação (+). EXAME FÍSICO Checa-se a fonação e o palato do paciente. Pede para o paciente abrir a boca, checa se ele tem úvula centrada, arcos palatinos iguais, reflexo nauseoso. Pede para o paciente falar “A” ou puxar o ar ou tentar engolir, pois é possível ver a contração do palato e a úvula subindo (em pessoas normais a úvula sobe simetricamente). Quando existe uma paralisia de um lado o arco não sobe no lugar que está paralisado. É importante lembrar que pouco mais de um terço dos indivíduos normais podem ter reflexo ausente bilateralmente. Pega-se uma espátula, coloca na base da língua ou tocando perto das amígdalas e o paciente vai ter uma sensação de náusea (reflexo nauseoso) para os dois lados. Caso tenha uma paralisia de um lado, o reflexo nauseoso vai estar ausente no lado ruim. É importante fazer esse exame porque se tiver uma lesão, causa disfagia (dificuldade de passar comida para o esôfago) e pode acontecer de ter microaspirações (fatal). 12 Nervos Cranianos – Victoria Durand N. ACESSÓRIO – NCXI Fibras internas – associa-se às fibras do nervo vago, fibras eferentes viscerais gerais, que inervam vísceras torácicas junto às fibras vagais e fibras eferentes viscerais especiais, que, mediante o nervo laríngeo recorrente, inervam músculos da laringe. Fibras externas são motoras: inervam o músculo esternocleidomastóideo e o músculo trapézio. OBS.: M. ESTERNOCLEIDOMASTÓIDEO: responsável pela rotação e flexão cefálica. Ao contrair, ele puxa a cabeça de um lado para o outro, por exemplo, se fizer rotação para a esquerda, é o esternoicleidomastóideo direito que está funcionando e vice-versa. Caso ocorra uma fraqueza no nervo, não vai ser possível fazer essa rotação. OBS.: M. TRAPÉZIO: responsável por elevar o ombro e faz extensão da cabeça. EXAME FÍSICO Deve-se iniciar pela inspeção e palpação dos músculos ECM e trapézio, avaliando-se trofismo, tônus e presença ou não de fasciculações. Normalmente, os músculos são de fácil inspeção, com forma e limites nítidos. M. ESTERNOCLEIDOMASTOIDEO: Avaliação da rotação e flexão cefálica: o paciente coloca a cabeça para um dos lados e examinador coloca força contra aquele movimento para graduar a perda de força. OBS.: É importante salientar-se que para os movimentos da cabeça, diversos músculos estão atuando em conjunto com o ECM e o trapézio (escalenos e esplênios, por exemplo). Desta forma, paralisias desses músculos, ainda que bilaterais, causarão dificuldade na rotação cefálica, porém não causarão ausência do movimento. M. TRAPÉZIO: Avaliação da extensão cefálica, elevação dos ombros e elevação do braço abduzido acima de 90 graus. Avaliação contra resistência. N. HIPOGLOSSO – NCXII – Sai do final do bulbo; – Função motora da língua EXAME FÍSICO 1) Deve-se examinar a orofaringe; 2) Pede-se para o paciente protrair a língua, se tiver uma lesão nesse nervo o lado íntegro vai empurrar para o lado fraco. A paralisia pode ou não se acompanhar da atrofia da língua a depender do tipo de lesão e do tempo de evolução. OBS.: Mesmo pacientes com AVC, eles podem ter esse tipo de desvio. A diferença é onde está a lesão. AVC DE A. CEREBRAL MÉDIA + desvio ao protrair a língua e é do mesmo lado do déficit do paciente: Lesão central do lado esquerdo. Se o paciente não tiver mais nada e for uma lesão do nervo que geralmente é o que causa atrofia(lesões por AVC não causam atrofia grave): Lesão do nervo do mesmo lado.
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