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Antônio Abreu – MED 102 Aula 02/04 – Transtornos de Personalidade Vídeo apresentado pela ABP TV da Associação Brasileira de Psiquiatria em 19/11/19 Influenciados por ambiente, experiencias, situações de vida e características herdadas, a personalidade é uma maneira do indivíduo sentir, pensar e se comportar. O transtorno de personalidade caracteriza mudanças nas características acima, que se desviam das perspectivas culturais, causam sofrimento e mudanças de comportamento. Indivíduos com transtorno de personalidade apresentam padrões de comportamento e experiencias que diferem significamente do esperado, com implicações a longo prazo. Sem tratamento, podem ser duradouros e trazer inúmeros prejuízos ao paciente, afetando o modo de pensar em si e nos outros, e nas respostas emocionais. Quais são os transtornos de personalidade mais comuns nos consultórios? O transtorno de personalidade mais comum é o Transtorno de Borderline, até porque os pacientes sentem uma desregulação e um dor emocional muito intensa, desencadeada por uma hipersensibilidade interpessoal. Apesar de haver o mito que esse tipo de paciente resiste ao tratamento, eles procuram ajuda e costumam ser bastante aderentes aos tratamentos efetivos (que funcionam). Outros transtornos visto comumente são os Transtornos de Personalidade Antisocial e os Transtornos de Personalidade Narcisista (que tem uma ligação muito importante com transtornos relacionados ao uso de substancias). Além disso, Transtornos de Personalidade Obsessivo Compulsivos (que tem como traços principais o perfeccionismo e a dificuldade de lidar com afeto) tem desenvolvido tratamentos mais eficazes e, por isso, tem sido possível realizar diagnósticos. Então, atualmente, tem sido feito terapia com esses pacientes, a fim de ajuda-los a não tentar controlar tanto as coisas e ter um funcionamento mais flexível. Quais os primeiros sintomas ou características aos quais o psiquiatra deve estar atento para diagnosticar os transtornos de personalidade? No transtorno de personalidade de Borderline, o qual tem sido visto bastante, observa-se uma instabilidade emocional muito grande, às vezes, oscilando emoções entre um extremo ao outro. Geralmente, esses pacientes procuram tratamento psiquiátrico por ter sintomas que traz algum transtorno ao dia a dia dele, como depressão, ansiedade, explosões emocionais, impulsividade. Já no tratamento, é importante detectar o que está trazendo sofrimento ao paciente e observar quais são os sintomas e queixas que ele traz. Qual a relação entre o uso abusivo de substancias psicoativas e o transtorno de personalidade? Dificulta ainda mais o tratamento? Antes de falar sobre transtorno de personalidade, é importante falar o que é personalidade – e entender que isso é um padrão individual e distinto de cada pessoa, de percepção, de sentimentos, de comportamentos, de formas de enfrentar o estresse. É muito comum situações de automutilação entre pacientes com transtorno de personalidade, principalmente entre os de Borderline. Quando falamos de transtornos de personalidade, há muitas comorbidades e aquelas causadas por uso de substancias são bem frequentes entre esses pacientes – trazendo uma dificuldade a mais para o tratamento. Às vezes, são pacientes que tem mais dificuldade de aderir ao tratamento. Qual a principal diferença entre o Transtorno de Borderline e o Transtorno Bipolar? No Transtorno Borderline, há uma desregulação de emoções e, sempre que o indivíduo passar por um estresse interpessoal e não for capaz de usar habilidades para lidar com aquele problema, vai haver uma desregulação dessas emoções. O paciente vai sentir as coisas de forma intensa, de forma desproporcional, com comportamentos de raiva, de autolesões, muitas vezes comportamento mais impulsos. No transtorno de borderline, o uso de medicações ajuda muito pouco quanto a pessoa tem oscilação das emoções. O que ajuda bastante é ter uma compreensão dos motivos os quais levaram o paciente a ter a crise e ajudar ela a desenvolver habilidades para lidar com aquela dor emocional e, a partir daí, resolver problemas de deficiente. No transtorno Bipolar, o paciente responde mal a intervenções terapêuticas, sendo o tratamento primário com medicação, caso esteja em uma fase mais depressiva ou intensa. O transtorno de personalidade esta ligado ao desenvolvimento de uma pessoa, observado, ao longo da vida dela, Antônio Abreu – MED 102 dificuldade de comunicação, fazendo com que o paciente tenha dificuldade de se enxergar como uma pessoa bem definida, com dificuldade de autodirecionamento de terminar as coisas e, na maioria das vezes, a pessoa se sente desconfiada. No transtorno bipolar, percebe-se uma quebra: a pessoa este funcionamento bem, mas, às vezes, tem uma fase de humor que dura vários dias, havendo uma ruptura do funcionamento. Geralmente, a melhora dessas quebras se dá através de medicação, sendo a terapia um coadjuvante (ajuda, mas não é o principal). Como ajudar o indivíduo que começa apresentar sintomas e características de transtorno de personalidade, mas não aceita procurar um psiquiatra? O paciente com transtorno de personalidade vem apresentado, desde o início da adolescência, comportamentos e sinais que não está funcionando muito bem, com emoções muito intensas, por exemplo. O mais importante para tentar mobilizar o paciente para o tratamento é mostrando as dificuldades, tentando fazer com que ele perceba que esta demais, seja um transtorno obsessivo compulsivo, seja transtorno de personalidade de borderline. É imprescindível conversar com o paciente, mostrar o sofrimento e as perdas que ele está tendo, além de passar informações que isso pode ser tratado (mostrar como esse transtorno pode ser revertido, como ele pode melhorar). Muitas vezes, é a terapia, e não a medicação, que vai fazer a diferença. Em casos de crianças e adolescentes, é importante conscientizar os pais, haja vista que o tratamento precoce melhora o prognostico, informando essa família do que é possível ser feito, e que existe tratamento. A informação é essencial, pois, hoje em dia, ainda tem muito preconceito em procurar psiquiatra. Como eu consigo diferencias de forma clara o Transtorno Esquizoide da Esquizotípica? A diferença desses transtornos de personalidades é que, ao longo do desenvolvimento da pessoa, ela tem um funcionamento carregado de sintomas negativos ou positivos característicos de psicose. No Transtorno de Personalidade Esquizoide, por exemplo, observa-se um funcionamento mais crônico ao longo do desenvolvimento, muito parecido com a sintomatologia negativa da esquizofrenia. São pacientes mais retraídos, que tem grandes dificuldades de comunicação, mais fechados. Já pacientes esquizotípicos, percebe-se um funcionamento mais parecido com a sintomatologia positiva das psicoses: pacientes com ideias não usuais, pensamentos um tanto quanto magico, o que causa uma disfunção interpessoal nessas pessoas. Isso acontece, pois o pensamento mais delirante, em casos mais graves, acaba desconectando a pessoa de ter um direcionamento de vida mais eficaz. Em qual faixa etária é mais comum o aparecimento desses transtornos? Os primeiros sintomas dos Transtornos de Personalidade começam a aparecer na transição para a vida adulta. Geralmente, no final da adolescência (as vezes, no início) e no início da vida adulta. Quais são as características de uma estrutura Borderline de funcionamento comuns aos transtornos de personalidade dos clusters B e no que estas se diferenciam dos transtornos de Borderline propriamente dito? Estrutura de personalidade Borderline é uma expressão usada para se referir a personalidades mais imaturas, podendo ser os outros transtornos desse agrupamento B. Atualmente, fala-se muito em traços de personalidade e, atualmente, há propostas de um modelo alternativo mais baseado em traços disfuncionais do que propriamente nos critériosdiagnósticos do modelo categorial. Modelo hibrido: combinação do diagnostico categorial com o diagnóstico mais dimensional, em que há a distribuição da população do que seria anormal e normal – sendo o anormal, o que se desvia da média (proposta alternativa de entendimento desses transtornos de personalidade). Os transtornos de personalidade podem desencadear outras condições psiquiátricas? Sim, os pacientes vão ficando mais desconectados, tendo problemas de autodirecionamento, levando elas a sintomas de isolamento social mais graves, abuso de substancias. Transtornos de Personalidade pode se desenvolver em crianças? Caso sim, como os pais podem auxiliar, além do tratamento médico? Sim, às vezes, já na infância, observa-se alguns sintomas que se delineiam melhor na adolescência. É importante prestar atenção em comportamentos impulsivos, crianças mais instáveis, irritadas, que criam problemas na escola (brigas), vítimas de bullying, isolamento. Ou seja, vale estar atento a crianças que tem alguma dificuldade social, a fim Antônio Abreu – MED 102 de detectar algum possível sofrimento. É muito comum, também, pacientes com transtorno de personalidade de Borderline, por exemplo, histórico de abuso sexual na infância. O olhar a biografia da criança pode ser preventivo em termos de desenvolvimento de uma série de transtornos mentais. Comportamentos como esses podem predispor ao uso de substancias, por exemplo. Para resultar em transtorno de personalidade, precisa-se haver a interação de uma parte biológica com uma parte mais ambiental (experiencias na infância). Qual a importância da psicoterapia focada no amadurecimento emocional para o paciente Borderline? Ate os anos 90, havia um certo ceticismo sobre o tratamento de transtornos de personalidade de Borderline e, hoje, tem dados bastantes consistentes de que esses transtornos, inclusive de Transtornos de Personalidade Antissocial, melhoram muito com tratamentos baseados em evidências. Dessa forma, a psicoterapia é fundamental no tratamento de pacientes com transtorno de personalidade de Borderline. Vale ressaltar que existem diversas técnicas de psicoterapia que podem funcionar em pacientes com esse tipo de transtorno. Algum desses transtornos tem cura? Ou são somente controlados? Na psiquiatria, chamamos de recuperação clínica – e não de cura. Sabe-se que todos os transtornos de personalidade, hoje, se forem adequadamente tratados, a chance de recuperação clinica é bastante elevada. Por exemplo, nos pacientes com transtornos de Borderline, cerca de 40% dos pacientes em tratamento atinge a recuperação. Atualmente, há muito otimismo em relação ao tratamento dos transtornos de personalidade. Todos os pacientes precisam de tratamento farmacológico ou algum deles pode fazer apenas psicoterapia? Essa questão vai de acordo com a demanda. Deve-se sempre lembrar a tríade do transtorno de personalidade (o inicio precoce, o curso recorrente e a resposta parcial ao tratamento). Dessa forma, e muito difícil passar todo o percurso biográfico sem, em nenhum momento, acabar necessitando de algum tipo de ajuda, seja psiquiátrica ou psicológica - claro que, idealmente, o tratamento deve ser o menos intervencionista possível. Começar a abordagem por uma psicoterapia, mas sem abrir mão de uma avaliação psiquiátrica é fundamental. Conforme a evolução do paciente, a medicação é revista, já que, no transtorno de personalidade, os médicos tratam muito os sintomas (não tanto o diagnóstico). É sempre bom lembrar, também, que a comorbidade agrava ou leva a um transtorno de personalidade. Nesse sentido, quando existe algum traço anormal de personalidade, como depressão, comorbidades podem aumentar a expressão desse transtorno. Como a família e os amigos podem auxiliar no tratamento prescrito pelo médico? Os familiares e amigos devem trabalhar em uma rede de suporte. É sempre bom entender que transtorno de personalidade não é questão de má vontade, de fraqueza, de não ter coragem. É sempre bom orientar o paciente para um olhar especializado de um profissional habilitado, como psiquiatra com título de especialista, a fim de que o caso por ser avaliado, encaminhado para o tratamento recomendado. Sem a família, não há sucesso com o tratamento de transtorno de personalidade. Considerações finais: Deve-se dar um cuidado consistente, uma atenção aos pacientes com transtornos de personalidade, a fim de ajudar essas pessoas – que, muitas vezes, passam por um sofrimento emocional muito intenso – a ter uma vida mais significativa e satisfatória. Pede-se aos pais que fiquem atentos aos filhos, crianças ou adolescentes, que possuem características como isolamento social, instabilidade emocional, uso de drogas e automutilação. Caso apareça algum tipo de sintoma não esperado, é importante procurar um especialista e se informar, haja vista que o adiamento pode levar a problemas futuros. Não deve pensar que isso vai passar, que é somente uma fase. O papel do profissional de saúde de escutar e acolher a angustia dos pacientes pode ter um impacto importante na luta contra o suicídio, muito comum entre os pacientes com transtorno de personalidade de Borderline. É importante tirar a mística acerca do tratamento psiquiátrico e entender que saúde mental é vida. O paciente quanto mais precocemente diagnosticado e avaliado por um profissional, melhor vai ser o prognostico dele a longo prazo e o funcionamento em diversos ambientes.
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