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Thaís Fernandes das Neves (@thais0831 - @studyenffernandes) Retrospectiva histórica O Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) foi criado pelo Ministério da Saúde em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a resolutividade, a abrangência e o alvo das ações. O NASF-AB foi Regulamentado pela Portaria de Consolidação nº 2, e configuram-se como equipes multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de Saúde da Família (eSF), as equipes de Atenção Básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o Programa Academia da Saúde. Esta atuação integrada permite realizar discussões de casos clínicos; o atendimento compartilhado entre profissionais, tanto na Unidade de Saúde como nas visitas domiciliares e possibilita a construção conjunta de projetos terapêuticos de forma a ampliar e qualificar as intervenções no território e na saúde de grupos populacionais. Essas ações de saúde também podem ser intersetoriais, com foco prioritário nas ações de prevenção e promoção da saúde. Com a publicação da Portaria 3.124, de 28 de dezembro de 2012, o Ministério da Saúde criou uma terceira modalidade de conformação de equipe: • O NASF 3, abrindo a possibilidade de qualquer município do Brasil aderir à implantação de equipes NASF, desde que tenha ao menos uma (01) equipe de Saúde da Família. Em 2018, o Ministério celebrou 10 anos da criação do NASF-AB; ao longo do ano foram realizadas ações celebrativas, como os Encontros Estaduais para Fortalecimento da Atenção Básica; a série de vídeos 10 anos do NASF; e as lives com temáticas pertinentes ao NASF. As modalidades de NASF • NASF 1 - 5 a 9 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF); Mínimo de 200 horas semanais; Cada ocupação deve ter no mínimo 20h e no máximo 80h de carga horária semanal; • NASF 2 - 3 a 4 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF); Mínimo de 120 horas semanais; Cada ocupação deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de carga horária semanal; • NASF 3-1 a 2 eSF e/ou eAB para populações específicas (eCR, eSFR e eSFF); Mínimo 80 horas semanais; Cada ocupação deve ter no mínimo 20h e no máximo 40h de carga horária semanal; Poderão compor os NASF as seguintes ocupações do código Brasileiro de Ocupações (CBO) • Médico acupunturista; assistente social; professor de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; nutricionista; médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico geriatra; médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, arte educador e profissional de saúde sanitarista, profissional graduado na área de saúde com pós- graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas. A composição de cada um dos NASF será definida pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. O Ministério da Saúde elimina, na prática, o NASF- publicado em 03/02/2020 • Por meio de mera “Nota Técnica”, o ministério da Saúde elimina, na prática, núcleos multidisciplinares de Apoio à Saúde da Família. • Feito rastilho de pólvora, circula nas redes sociais uma nota técnica (Nº3/2020) do governo Bolsonaro que, basicamente, decreta o fim do NASF, o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica. Como explica o site do próprio Ministério da Saúde, os NASF foram criados em 2008 para fortalecer a atenção básica. • Para isso, oferecem um grande leque de profissionais, como assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos, e por aí vai, que têm a missão de atuar em conjunto com médicos e enfermeiros, Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) Thaís Fernandes das Neves (@thais0831 - @studyenffernandes) auxiliando quem está na ponta a resolver melhor os problemas de saúde da população. • Em 27/1/2020, Otavio Pereira D´Avila, do Departamento de Saúde da Família da Secretaria de Atenção Primária da pasta, assinou um documento que libera os gestores a adotarem qualquer modelo. • Daqui para frente, cabe aos secretários municipais e estaduais de saúde definirem que profissionais entram ou não em uma equipe multiprofissional e sua carga horária mínima. • Além disso, os gestores não precisam mais inserir o profissional do NASF no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), o que, na prática, os torna invisíveis na gestão pública. A possível extinção do Nasf tem relação direta com a instituição do Programa Previne Brasil – Portaria nº 2.979, de 12/11/2019, que estabelece novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária em Saúde no âmbito do SUS, por meio da alteração da Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28/9/2001. O fim do modelo multiprofissional na Saúde da Família? Beatriz Mota - Fiocruz em 04/02/2020; atualizado em 04/02/2020, em Nota técnica, divulgada pelo Ministério da Saúde, confirma extinção do incentivo financeiro ao NASF, que não terá mais equipes credenciadas, deixando incertezas em relação à continuidade do modelo que amplia e qualifica o atendimento na ponta. Por meio de uma nota técnica divulgada, o Ministério da Saúde aboliu a criação de novas equipes multissetoriais que ampliavam e qualificavam o atendimento da Saúde da Família. Os profissionais já credenciados permanecem atuando, porém sem muitas garantias. O desfecho era previsto desde o fim do ano passado, com a instituição do novo modelo de financiamento da atenção básica. O Programa Previne Brasil esvaziou a base de incentivo federal, revogando as normas de parâmetros e custeio dos núcleos. Agora, a nota técnica confirma as más previsões e estabelece uma data para o início do fim: “A partir de janeiro de 2020, o Ministério da Saúde não realizará mais o credenciamento de NASF-AB, e as solicitações enviadas até o momento serão arquivadas”, diz o texto. “Já estava claro que os NASFs seriam extintos e essa nota reitera a medida. Os laços foram abolidos, então não haverá mais incentivos para os municípios comporem equipes multiprofissionais para além dos profissionais básicos. Supostamente, ficaria para a iniciativa de cada um dos municípios compor uma equipe da forma que achar mais adequada, o que gera grande repercussão para a saúde dos cidadãos”, explica Lígia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz) e coordenadora da Rede de Pesquisa em Atenção Primária em Saúde. O incentivo financeiro federal foi essencial para a implementação da política de saúde direcionada a um modelo assistencial de atenção integral. “A Estratégia Saúde da Família teve uma expansão enorme no Brasil por conta, principalmente, dos incentivos financeiros do Ministério da Saúde que impulsionaram o estabelecimento de equipes. Com o tempo, isso foi incorporado aos NASFs. Agora, sem incentivo específico, o risco maior que temos é o da demissão desses profissionais e também a redução na composição das equipes”. Extinção a médio prazo A nota do Ministério da Saúde afirma que, “na transição para o novo modelo de financiamento, não haverá prejuízo nos valores transferidos para os municípios quando comparados aos valores repassados anteriormente”. Mas para o médico de família Aristóteles Cardona Júnior, que atua na Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares, a matemática é simples e perversa: com verbas mais arrochadas e menos política de incentivo, as equipes multiprofissionais vão diminuir até se extinguirem. “A gente está acompanhando o que está acontecendo, desde o arrocho financeiro e fiscal do nosso país, coma Emenda Constitucional 95 [que congela até 2036 os gastos federais. Então, por mais bem-intencionadas que as gestões municipais sejam, por mais que digam que não haverá cancelamento, não vai demorar para que extingam os núcleos multiprofissionais... Os gestores não terão mais amarras, nenhuma obrigação de destinar verba para esta política, o dinheiro será sugado para áreas que aparentemente possam representar demanda social maior e os municípios vão abrir mão desses profissionais, diante da pressão”, prevê. Thaís Fernandes das Neves (@thais0831 - @studyenffernandes) Até então, ao serem contratados, os profissionais dos NASFs eram inseridos no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), o que não será mais obrigatório pelas novas regras. Com a desvinculação, eles poderão ser cadastrados diretamente (e apenas) nas equipes de Saúde da Família ou equipes de atenção primária. A carga horária e arranjo da equipe também ficam agora em aberto, sob a decisão dos gestores municipais e estaduais, abrindo precedentes ainda maiores para precarização desses profissionais. “... hoje, todo profissional da saúde básica tem carga horária vinculada ao CNES, inclusive os funcionários vinculados ao NASF... Em pleno 2020, os profissionais do NASF aqui do município não têm 13º salário, não têm férias, têm contratos precários que não estabelecem esses direitos. Imagina como vai ser a partir do momento que não há sequer carga horária mínima? Em algum momento nós vamos começar a sentir as consequências do trabalho intermitente”, critica o médico, que atua em Petrolina (PE). Cidadãos afetados • Para além da questão dos cargos, cargas horárias e salários, os especialistas estão preocupados com o desmonte de uma política que vem afetando positivamente o atendimento aos cidadãos. • Teme-se um retorno ao modelo “médico centrado”. “Vamos reduzir o caráter multiprofissional da equipe, dificultando cada vez mais que se faça um trabalho em modelo assistencial de atenção integral, um trabalho interprofissional. Temos grandes campos da saúde em que a ação integrada é muito relevante: a questão da saúde mental, por exemplo, ficaria descoberta. Assim como no caso das doenças crônicas, degenerativas, com a necessidade de outros profissionais envolvidos, como terapeutas, nutricionistas etc.”, observa Lígia Giovanella. “Temos sério risco de ficarmos restritos aos profissionais médicos e, no máximo, de enfermagem”, afirma Aristóteles Cardona Jr. Há dois modelos de atenção básica: • O modelo integral, que consegue visualizar as pessoas, a saúde, a comunidade como um todo. • E outro é o modelo seletivo – proposto pelo Banco Mundial, desde a década de 1990 para toda a América Latina – que deve se preocupar com a oferta de uma cesta básica de serviços. E isso está na proposta de atuação desse Ministério: o essencial, sem que se dê conta de tudo. Autonomia ou restrição? A nota técnica afirma que o novo formato trará maior autonomia aos municípios para criação das equipes multissetoriais, sugerindo um suposto engessamento da configuração atual. “Dessa forma, quanto mais apropriada for a composição da equipe para resolver os problemas de saúde da população, melhor será o desempenho dessa equipe, caso ela trabalhe de maneira integrada e efetiva” . Opinião de especialistas: Segundo Beatriz Mota, o NASF já tinha até flexibilidade demais. Havia liberdade para decisão de quais profissionais seriam contratados a partir da demanda”, opina Cardona. Ligia Giovanella atesta que a composição de cada equipe já era bastante variada, já havia uma autonomia de escolha entre todos os profissionais de saúde. Definitivamente, não se pode dizer que a mudança aumente a autonomia dos municípios. O que acontece de fato é a restrição de financiamentos. É uma liberdade velada, como quem diz: pode comer o que quiser, mas a geladeira está vazia...
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