Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Infecção Intestinal As gastroenterites infecciosas afetam grande parte da população mundial. A OMS estima que cerca de 2 bilhões de casos acontecem a cada ano, sendo a principal causa de morbidade e mortalidades de origem infecciosa e a maior causa de mortalidade em crianças menores que 5 anos. A evacuação normal de fezes consistentes 1 a 3 vezes ao dia ou até 2 a 3 dias é considerada normal. Diarreia vai ser quando tiver alteração do hábito intestinal por diminuição da consistência das fezes e aumento da frequência e volume das evacuações (>3 evacuações em 24 horas). Assim, alterações intestinais são caracterizadas por variações na consistência e pela presença de produtos patológicos nas fezes, como muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). A origem das diarreias pode ser parasitária, bacteriana ou viral. F ISIOLOGIA DO INTESTINO Absorção de líquidos: no intestino circulam aproximadamente 10L por dia de líquidos provenientes de fontes variadas como: ingesta, saliva, suco gástrico, secreções biliopancreáticas e o suco entérico. A maior parte desse líquido é absorvida no jejuno juntamente com os nutrientes, de forma que apenas 1 a 1,5 L chega ao cólon, apenas 100 ou 150ml serão eliminados nas fezes. Uma redução de apenas 1% na capacidade de absorção será suficiente pra causar diarreia. Osmolaridade da luz intestinal: a direção de fluxo passivo de um líquido acontece sempre daquele de menor osmolaridade para o de maior osmolaridade, de forma a manter o equilíbrio entre os dois ambientes. No organismo, fatores fisiológicos complementam essa transferência passiva, transferindo líquidos ou sólidos de forma ativa. Esse mecanismo fica evidente nos casos de diarreia provocados pela ingestão de açúcares não absorvíveis, como manitol. A água vai ser absorvida e secretada através do gradiente osmótico criado pelo sódio. O Na é absorvido associado ao cloro ou a alguns nutrientes. A absorção de Na+| Cl- pelas vilosidades leva a água passivamente através da mucosa, devido a menor concentração de sódio no enterócito em relação ao lúmen intestinal. Essa via é inibida pelo AMPcíclico e GMPc, que sofrem estimulação da adenilciclase e guanilciclase do enterócito. Essas enzimas podem ser ativadas por toxinas bacterianas. Mucosa intestinal: desde o esôfago até o ânus, o TGI é revestido por uma única camada de células que servem de limite entre os meios externo e interno do corpo humano. Sua função de barreira é importante, uma vez que essa mucosa está em 2 contato permanente com os microrganismos da microbiota intestinal e com inúmeros agentes ambientais ingeridos. Assim, a integridade dessa camada é fundamental para evitar que esses agentes atravessem a barreira epitelial, evitando o início ou a perpetuação de processos inflamatórios mucosos. Além disso, características físicas, como a exiguidade do espaço intercelular, e características funcionais, como secreção de imunoglobulinas, muco, defensinas, e outros produtos antimicrobianos, mantém o equilíbrio dessa relação. Logo, a diarreia pode ocorrer da alteração dessa estrutura por processos inflamatórios agudos ou crônicos. Sistema Nervoso Entérico: composto pelo plexo mioentérico e submucoso. Sua função é mediada por neurotransmissores como peptídeo intestinal vasoativo (VIP), somatostatina, norepinefrina, neuropeptídeo Y, serotonina, acetilcolina e outros, eles regulam a função do músculo liso, o transporte de íons através da mucosa e os processos absortivo e secretor, além de funções endócrinas, da modulação do sistema imune e do controle do fluxo sanguíneo. Dessa forma, alterações na estrutura desses plexos, assim como deficiência ou hipersecreção de substâncias exócrinas ou endócrinas, inibidoras ou estimuladoras de suas funções, poderão provocar sintomas diarreicos. Flora intestinal: no intestino possuem mais de 500 espécies de microrganismos que compõem a flora bacteriana. Dentro disso, tem-se que a troca de material genético entre microrganismos, assim como alterações na camada protetora de muco, podem transformar bactérias comensais em patógenos, desencadeando inflamação intestinal em graus variáveis. Além disso, o uso de antibióticos pode afetar essas bactérias comensais e poupar as patogênicas resistentes, causando grandes transtornos. Motilidade intestinal: apenas em situações específicas, como na diarreia funcional, nas diarreias causadas por doenças endócrinas e na síndrome do intestino irritável com diarreia, a aceleração do peristaltismo intestinal tem papel na fisiopatologia dos episódios diarreicos. F ISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da diarreia envolve 5 mecanismos básicos, podendo ter concomitância de mais de um deles no desencadeamento de determinado tipo de diarreia: a. Diarreia Secretora: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, 3 devido a ação de enterotoxinas bacterianas. Pode resultar também da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática, do adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. b. Diarreia osmótica: distúrbios da digestão presentes nas deficiências dissacaridases, que mantém um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente, diarreia. Também pode acontecer isso pela ingestão de agentes osmoticamente ativos com a lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio. c. Diarreia Motora: devido a alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Podem ocorrer também, devido a redução da área absortiva consequentes de ressecações intestinais ou de fístulas enteroentéricas. d. Diarreia Inflamatória: ocorre devido a lesão da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento da fluidez das fezes. e. Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais no intestino que dificultam a correta digestão ou absorção. Esse processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. CLASSIFICAÇÃO As diarreias podem ser classificadas, basicamente, de duas maneiras: quanto ao tempo de evolução, em agudas e crônicas, e quanto à etiologia, em infecciosa e não infecciosa. A classificação quanto ao tempo é definida pela duração do sintoma: AGUDA – duração de até 15 dias; CRÔNICAS – mais de 30 dias. Entre 15 e 30 dias, pode ser considerada persistente. Nesse sentido, toda diarreia crônica começou com uma diarreia aguda. Outra forma de classificar é quando a localização no TGI. Denomina-se diarreia alta a originada no intestino delgado e diarreia baixa a relacionada com o intestino grosso. ETIOLOGIA A etiologia das diarreias infecciosas e não infecciosas é extremamente variável, tendo, cada uma, características fisiopatogênicas e clínicas específicas. O mecanismo de geração da diarreia aguda está associado à agressão por microrganismo, porém, outras causas como sobrecarga de solutos hiperosmolares por abusos 4 alimentares ou fármacos e estímulos de peristalse (como os induzidos por estresse emocional). Principais agentes etiológicos: VÍRUS: Causas mais frequentes de diarreia aguda. Inúmeros agentes virais podem causar diarreia, no entanto o rotavírus e norovírus tem predileção pelo tubo digestivo. São transmitidos por água contaminada ou de pessoa a pessoa. Outro agente viral que manifesta sintomas diarreicos apenas em pacientes imunocomprometidos é o citomegalovírus. As diarreias virais se manifestam por gastroenterite aguda, com fezes aquosas, tendo como característica importantea presença de vômitos (duração de no máximo 72h). A infecção pelo citomegalovírus pode se apresentar como forma persistente (entre 15 e 30 dias) e disentérica. BACTÉRIAS: as mais prevalentes são: - Campylobacter: bactéria gram- em espiral. As que mais causam gastroenterites são a Campylobacter jejuni e a Campylobacter coli. Os fatores de risco mais evidentes são a ingestão de água e alimentos contaminados, e, às vezes, contato com animais. A enterite devido à infecção pelo Campylobacter tem período de incubação de 2 a 5 dias, manifesta-se por febre, dores abdominais em cólica e diarreia, com duração do quadro diarreico de 2 a 3 dias. As fezes podem vim com aspecto sanguinolento ou aquoso, dependendo da intensidade da infecção e do tempo de enfermidade. - Clostridium difficile: bactéria gram+, considerado microrganismo habitualmente presente no intestino de indivíduos saudáveis. É ingerida na forma de esporos e, se encontra na microbiota que foi alterada pelo uso de antibióticos ou outros fatores, convertendo-se na forma vegetativa. Produz toxinas A e B que provocam aumento da permeabilidade intestinal e destruição das células epiteliais colônicas. Manifesta-se sob forma de diarreia aquosa em indivíduos com história de uso recente de antibióticos. - Clostridium perfringens: bactéria gram+, anaeróbica, geralmente em forma de esporos. Transmitida geralmente por alimentos contaminados, como carnes e maioneses. Bloqueia a absorção de água através de enterotoxinas, provocando diarreia aquosa. - Escherichia coli: bastonete gram-, não formador de esporos, flagelado. A E. coli diarreiogênica inclui cinco diferentes sorotipos com características patogênicas individuais: enteroinvasiva (EIEC), enterotoxigênica (ETEC), enteroagregante (EACEC), enteropatogênica (EPEC) e enterro-hemorrágica (EHEC). É transmitida por alimentos e água contaminada com fezes humanas ou de animais, raramente podendo ocorrer transmissão pessoa a pessoa. Elas atuam por meio da produção de enterotoxinas, que estimulam a secreção de cloro e reduzem a absorção de sódio, e de citotoxinas, que vão agredir o epitélio intestinal, alterando sua estrutura. A 5 diarreia aquosa está relacionada à infecção pelos sorotipos EPEC, ETEC, e EAEC, enquanto os sorotipos EIEC e EHEC causam disenteria. A EHEC produz a toxina Shiga pode causar complicações sistêmicas como a síndrome hemolítico-urêmica. - Salmonella: bastonete gram-, transmitido por ovos, aves domésticas, leite e outros alimentos contaminados. Produz enterotoxinas que estimulam a secreção de cloro, e invadem a mucosa, ativando eventos inflamatórios. Manifesta-se inicialmente por diarreia aquosa, seguida de diarreia sanguinolenta. - Shigella: bastonete gram-, transmitido por via fecal-oral e por meio de alimentos e água contaminados. Produz enterotoxinas potente, além de penetrar nas células colônicas, provocando degeneração do epitélio e inflamação da lâmina própria, o que resulta em descamação e ulceração. Os sintomas surgem após um período de incubação de um a dois dias. Manifesta-se inicialmente por diarreia aquosa, seguida por colite com diarreia mucossanguinolenta. - Staphylococcus: coco gram+ que causa diarreia aquosa e vômitos devido a ingestão de alimentos contaminados com a produção de toxina termoestável. Os sintomas surgem 2 a 8 horas após a ingestão e tendem a regredir espontaneamente em até 48h. - Vibrio cholerae: bacilo gram-, transmitido principalmente por água contaminada. Provoca diarreia por meio de uma potente toxina que estimula o AMPc, ocasionando a redução da absorção de sódio e a secreção de cloreto. A diarreia devido a essa infecção é aquosa, extremamente volumosa e coloca a vida do paciente em risco por desidratação. - Yersinia enterocolitica: bacilo gram-, responsável por causar diarreia aguda, linfadenite mesentérica, ileíte terminal e pseudoapendicite. Transmitido por leite cru, água e alimentos contaminados, vegetais crus e de animal pra pessoa. FUNGOS: principalmente o Candida albicans que é um fungo comensal presente habitualmente no TGI. Vai ser patogênico em situações específicas que envolvem imunodepressão, uso de corticosteroides e uso e antibióticos. Sugere-se que causa diarreia por inibição da lactase ou por produção de enzima proteolíticas que degrada a mucina. A diarreia vai ser aquosa e, às vezes, explosiva. PROTOZOÁRIOS: - Cryptosporidium: transmitido através da ingestão de oocistos presentes em água e alimentos contaminados, podendo ser transmitido também de uma pessoa para outra pessoa e de animal pra pessoa. Tem ação predominantemente secretora, mas pode se associar a atrofia vilositária e infiltrado inflamatório da lâmina própria. - Giardia lamblia: protozoário flagelado mais comuns em todo o mundo. Transmitido através da ingestão de cistos em água contaminada, podendo ser transmitido de 6 uma pessoa para outra em locais de má higiene. Pode provocar destruição da borda em escova das células epiteliais, assim como induzir uma resposta imune. Infestações maciças podem resultar em má absorção, tanto pelas lesões da mucosa como pelo impedimento mecânico da absorção de nutrientes provocada pelo revestimento da mucosa em decorrência da enorme quantidade do protozoário. As manifestações variam desde ausência de sintomas até diarreia aquosa, podendo se tornar crônica, causando má absorção e perda de peso. - Entamoeba histolytica: transmitida por meio da ingestão de cistos maduros a partir de água, alimentos ou mãos contaminadas. Produz enzimas proteolíticas que provocam ulcerações, hemorragia e até perfuração. Agentes etiológicos não infecciosos das diarreias: - Síndrome do Intestino Irritável: ativação e aumento do número dos mastócitos na mucosa intestinal, alterando a motilidade e sensibilidade intestinais. - Diarreia funcional: não possui achados que a justifiquem, pode ser devido a hiper- reatividade colinérgica que causa o aumento da secreção de muco. Aumento da motilidade. - Doença Celíaca: aumento da permeabilidade intestinal, ativação imune tipo Th1, com consequente dano da mucosa, evoluindo pra atrofia. - Diabete melito: uso de hipoglicemiantes orais reduzindo a atividade de dissacaridades, neuromiopatia entérica diabética, com aceleração do trânsito, uso excessivo de adoçantes à base de manitol, sorbitol, que são açucares não absorvíveis. DIAGNÓSTICO HISTÓRIA CLÍNICA - Tempo de evolução: Diarreias tóxicas: surgem entre 4 e 24h após a ingestão do alimento contaminado por toxinas de bactérias com o S. aureus, C. perfringens e B. cereus, e tendem a desaparecer após a eliminação da toxina, entre 1 e 2 dias após seu início. Diarreia infecciosa: ocorrem 48h ou mais após a contaminação. São mais frequentes quando a infecção é viral. A duração da viral não passa de 3 a 4 dias, enquanto a bacteriana pode evoluir até 7 dias. Quadros que duram mais de 1 semana levantam hipótese para infecção por protozoário. Diarreias funcionais: apresentam características de duração maior que 3 meses, ausência de sintomas ou sinais de alarme, como perda de peso, são intermitentes e costumam não acontecer a noite. - Características físicas das evacuações: 7 Diarreias secundárias ao delgado se manifestam com consistência, presença de sangue ou muco, aquosas, volumosas, número e presença de gordura apresentando maior risco de desidratação. Diarreias secundárias a colites manifestam-se por fezes de pequeno volume e podem apresentam muco ou sangue, o que sugere infecção por microrganismos sugestivo de poder invasivo (Campylobacter, E. coli, Shigella e V. parahemolyticus). Presença de fezes com gordura sugere doença disabsortiva. - Presença de outros sintomas: Febre é sugestiva de doença infecciosa, mais frequentemente viral. Já a presença de vômitos pisca o alerta para desidratação. Além disso,vômitos sem diarreia ou com diarreia mínima são sugestivos de etiologia viral. - Dados epidemiológicos: História de contato com indivíduo portador de sintomas semelhantes há mais de 48h sugere doença infecciosa. Consumo de alimentos e água contaminados com vírus, bactérias e parasitas. Consumo aumentado de bebidas alcoólicas durante viagens. Os agentes etiológicos mais frequentes da diarreia do viajante são as E. coli diarreiogênica. Viagens a países tropicais tornam os indivíduos mais suscetíveis de adquirir patologias específicas dessas regiões, como esquistossomose, amebíase, giardíase e outras helmintíases intestinais. Ingestão de medicamentos associados a quadros diarreicos. - Antecedentes patológicos pessoais: Alergias, DM, doenças pancreáticas, intolerância a lactose, hipertireoidismo, infecção pelo HIV, cirurgias digestivas mutilantes. - Antecedentes patológicos familiares: História de doenças neoplásicas, doença inflamatória intestinal ou doença celíaca. EXAME FÍSICO Útil para avaliar a severidade dos sintomas. O mais importante a ser colhido é a avaliação do nível de desidratação através do turgor da pele, da frequência cardíaca e da mensuração da pressão arterial em decúbito e sentado. O exame do abdome avaliará distensão e sensibilidade abdominais. Pode haver dor leve difusa à palpação, com possibilidade de descompressão brusca levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa. Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados. HEMOGRAMA 8 Em pacientes com formas graves da diarreia aguda, podem observar anemia e hemoconcentração. Nas diarreias por vírus, linfocitose pode estar presente. Leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda é frequentemente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória. FUNÇÃO RENAL E ELETRÓLITOS A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da ureia em depleções volêmicas mais importantes. LEUCÓCITOS FECAIS Teste mais utilizado na avaliação de diarreia aguda e identifica processos inflamatórios mais intensos. COPROCULTURA Deve ser destinado para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais ou para os casos de interesse epidemiológico. PESQUISA DE TOXINAS E ANTÍGENOS DE PATÓGENOS As toxinas A e B do Clostridium difficile podem ser identificadas nas fezes por teste por ELISA que comprova a infecção pelo microrganismo. Na infecção viral pelo rotavírus, a pesquisa de antígenos virais nas fezes por ELISA é a melhor forma de confirmar presença do microrganismo. Giardia e Cryptosporidium também podem ser identificados pelo mesmo método. PCR também pesquisa antígenos nas fezes para diagnóstico de inúmeros microrganismos, contudo tem pouca aplicabilidade clínica. EXAMES DE IMAGEM 9 Utilizada nos casos mais graves para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico. ENDOSCOPIA: Deve ser feita nos pacientes com clínica de proctite e também se tem suspeita de colite pseudomembranosa. TRATAMENTO A imunidade do hospedeiro, na maioria dos casos, é capaz de eliminar infecção gastrintestinal, sem necessidade de terapêutica específica. REIDRATAÇÃO Na maioria dos casos, a reidratação oral é suficiente. A solução deve conter glicose para favorecer a absorção de sódio. Quando as perdas forem mais acentuadas deve-se ser feita reposição com soluções contendo eletrólitos (Na+, K+, HCO3 e Cl-). DIETA O paciente deve continuar se alimentando durante o episódio de diarreia. Aqueles que tem náuseas e vômitos devem dá preferência aos liquidos em pequenas quantidades de cada vez, para garantir a reposição das perdas. Suplementação com zinco por 10 a 14 dias. AGENTES ANTIDIARREICOS Os adsorventes caulim e pectina, embora aumentem a consistênica das fezes, têm pequeno efeito sobre o seu volume. 10 As fibras solúveis medicinais como o Psyllium (uma medida até 3 vezes ao dia) e absorventes de água como a policarbofila de cálcio também podem se usados para reter água e aumentar a consistência das fezes, diminuindo os episódios diarreicos. O subsalicilato de bismuto tem efeito variado, é bactericida e antissecretor por bloquear o efeitos das enterotoxinas, além de estimular a reabsorção intestinal de sódio e água. Os derivados sintéticos do ópio (loperamida e difenoxilato) inibem a motilidade intestinal, aumentam o tempo de contato para a absorção de água e eletrólitos, e com isso diminuem o número das evacuações intestinais e as cólicas. O racecadotril é agente antissecretor que funciona através da inibição da encefalinase, enzima responsável pela inativação da encefalina. Essa ação seletiva protege as ecefalinas endógenas e reduz a hipersecreção de água e elerólitos causada pelas toxinas. TERAPIA ANTIMICROBIANA Seu uso deve obedecer a regras bem definidas, seja para reduzir o tempo de excreção de determinados tipos de bactérias, como a Shigella,seja para eliminar as infecções persistentes ou o estado portador, como na giardíase, amebíase, cólera. Acontece quando tem persistência do quadro diarreico por mais de 4 semanas. Existem inúmeras causas de diarreia crônica, ligadas ora ao intestino delgado, ora ao cólon, criando dificuldades na sua identificação e terapêutica. ETIOLOGIA As principais causas de diarreia crônica são síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, síndrome de má absorção e infecção crônica. Portadores de imunodeficiência apresentam frequentemete diarreia associada a infecções oportunistas crônicas. O câncer colorretal pode apresentar-se com diarreia crônica, habitualmente associada a infecções oportunistas crônicas. O uso de medicamentos deve ser investigado, principalmente a fenolftaleína e os derivados antraquinônicos que têm efeito secretório direto no intestino delgado e cólon. O uso de dissacarídos não absorvíveis, como o sorbitol, em dietas com restrição de açúcar pode causar diarreia osmótica. - Diarreia crônica sanguinolenta: secundária a infecções bacterianas por Shigella, Salmonella, C. difcile, E. coli e outras, ou relacionada a doença inflamatória intestinal. - Diarreia crônica não sanguinolenta: a investigação deve ser direencionada para Giardia lamblia e C. difficile. 11 HISTÓRIA CLÍNICA Caracterização da diarreia como alta ou baixa é uma das formas de classificar para guiar a propedêutica complementar. Sinais de síndrome do intestino irritável envolvem: ausência de perda ponderal e de sinais de desnutrição, presença de sintomas predominantemente diurnos, alternância do hábito intestinal com períodos de constipação, crise de dor associada à distensão abdominal e aliviada pela evacuação. Deve-se pesquisar: viagens a áreas endêmicas para parasitoses; sintomas precipitados ou agravados por uso de determinado alimento, como a lactose ou o glúten; comorbidades como DM e hipertireoidismo; história familiar de doença inflamatóri intestinal ou doença celíaca; história medicamentosa, etc. DIAGNÓSTICO HEMOGRAMA: Presença de anemia pode estar relacionada com disabsorção ou perdas. Em doenças que promovem perda sanguínea pode-se encontrar sinais de deficiência de ferro com microcitose e hipocromia. Doenças que acomete o delgado proximal causam dificuldade de absroção de ferro e ácido fólico com formação de hemácias disfórmicas (poiquilocitose) com micro e macrocitose concomitantes. Doenças que lesam o íleo ou que causam deficiência pancreática dificultam a absorção de vit B12 com consequente macrocitose. Alterações leucitárias sugerem diarreia de origem infecciosa. Quando há predomínio de eosinofilia desconfia-se de eosinofilia. PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA: PCR, VHSe a -1 glicoproteínas são bons marcadores de atividade inflamatória. Marcadores específicos: O anticorpo antiendmísio IgA e o antitransglutaminase tecidual IgA têm alta sensibilidade para doença celíaca. Anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae (ASCA) tem sensibilidade de 40 a 76% para doença de Crohn e o pANCA, de 60 a 65% para RCUI. Os hormônios tireoidianos livres nos casos de suspeita de hipertireoidismo. 12 ESTUDO DAS FEZES: Diagnosticar parasitose intestinal. - Pesquisa de agentes infecciosos: A Entamoeba hystolitica e a Giardia lamblia são os agentes infecciosos mais frequentes como causadores de diarreia crônica. ELISA tem alta sensibilidade para identificação. - Leucócitos: O método padrão para sua pesquisa nas fezes é a coloração pelo Wright e microscopia, vai ser considerada positiva quando há três ou mais polimorfonucleares por campo. A lactoferrina fecal é marcador para leucócitos fecais, altamente sensível e específica para diarreias agudas. - Gordura: A análise qualitativa se baseia na pesquisa microscópica de gorura corada pelo Sudan III. - Eletrólitos e Osmolaridade: As concentrações de eletrólitos são medidas nas fezes após sua homogeneização e centrifugação da amostra para obter um sobredante para a análise. - pH fecal Indicada para suspeita de diarreia causada por má absorção de carboidratos, como nos casos relacionados com o uso de sorbitol ou lactulose, deixando o pH < 6. Nas diarreias com perda de aminoácidos e de ácidos graxos, o pH fica elevado entre 6 e 7,5. ENDOSCOPIA Em casos de diarreia alta, a EDA pode auxiliar no diagnóstico através da vizualização da mucosa do intestino delgado proximal ou de sua análise por biópsia. COLONOSCOPIA De grande importância pro diagnóstico de diarreias crônicas baixas, uma vez que faz uma avaliação do cólon e do íleo distal. TRATAMENTO Quando a etiologia é clara, o controle clínico dependerá do êxito da terapêutica específica. Para os pacientes que estão em investigação diagnóstica, prescreve-se inicialmente uma dieta pobre em resíduos, restrição de leite e derivados, utilizando-se medicamentos sintomáticos para a diarreia. Os agentes antimotilidade (loperamida e difenoxilato) também atuam sobre receptores específicos de membrana celular, inibindo a atividade da adenilciclase, diminuindo a concentração intracelular de AMPc, logo eles tem atividade antissecretora e inibidora da motilidade intestinal. 13 Os alfa2-adrenorreceptores estão presentes no intestino e medeiam os efeits pró- absortivos e antimotilidade das catecolaminas, assim a clonidina, agonista alfa2- adrenérgico, tem efeito anti-diarreico. A somatostatina e o octreotídio têm ação diversificada no tubo digestivo. Inibem a motilidade e a secreção gástrica e pancreática, favorecendo a absorção de água e eletrólitos.
Compartilhar