Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 As hepatites agudas são a causa mais comum de doença hepática infeciosa, que afetam de maneira difusa o parênquima hepático e têm duração em geral inferior seis meses. Essas hepatites caracterizam pela presença de alterações lobulares, representadas por infiltrado inflamatório misto de intensidade variável e presença de sinais de degeneração de hepatócitos. São causados por cinco vírus hepatotrópicos: A, B, C, Delta e E. Conforme a via de transmissão, são classificados em dois grupos: enterais – A e E (fecal-oral) e parenterais B, C e D (sangue ou outras secreções). Hepatite A É uma doença viral, contagiosa, causada pelo vírus A (HVA), também chamada de “hepatite infeciosa”, “hepatite endêmica”, “hepatite de período de incubação curto”. Estrutura do Vírus da Hepatite A O HVA é um picornavírus que recentemente foi reclassificado dentro de um novo gênero, o Heparnavirus. É um vírus nu (não envelopado), com capsídeo icosaédrico, possui um genoma de RNA de fita simples e polaridade positiva. Ele se replica através da interação da glicoproteína com o receptor celular 1, expresso nas células hepáticas e nos linfócitos T. Período de incubação da Hepatite A É durante o intervalo entre a exposição efetiva do indivíduo suscetível ao vírus e o início dos sinais e sintomas clínicos da infecção, variando de 15 a 50 dias. Transmissão da Hepatite A A principal via de contágio é a fecal-oral, por meio do contato inter-humano ou por água e alimentos contaminados. A transmissão poderá ocorrer 15 dias antes dos sintomas até 7 dias após o início da icterícia. A transmissão sexual da hepatite A pode ocorrer com a prática sexual oral-anal, pelo contato da mucosa da boca de uma pessoa com o ânus de outra portadora da infecção aguda da hepatite A. Patogênese da Hepatite A O HVA é ingerido e provavelmente penetra na corrente sanguínea pelo revestimento epitelial da orofaringe ou do intestino para atingir seu alvo, que são as células parenquimatosas do fígado. O vírus entra e se replica nos hepatócitos e nas células de Kupffer (fagocitárias), sendo posteriormente liberado na bile e daí para as fezes, por onde é excretado em grande quantidade, ocorrendo em 10 dias antes do aparecimento da icterícia ou da detecção do anticorpo. Esse vírus se replica lentamente no fígado, sem causar danos aparentes. O interferon limita a replicação do vírus, mas só na presença de células NK e linfócitos T citotóxicos que ele é eliminado. 2 Além disso, o anticorpo, o complemento e a citotoxicidade celular dependentes de anticorpo também facilitam a remoção do vírus e a indução da imunopatologia, sendo essa proteção dada pelo anticorpo duradoura. O quadro de icterícia resultantes dos danos causados ao fígado ocorre quando as respostas imunes mediadas por células e anticorpos contra o vírus são detectadas. Epidemiologia da Hepatite A Até 40% dos casos de hepatite aguda são causados por HVA, uma vez que o vírus se espalha facilmente em uma comunidade, pois a maioria das pessoas infectadas é contagiosa 10 a 14 dias antes do aparecimento dos sintomas. Ainda mais que a maioria das crianças infectadas não manifesta sintomas e cerca de 25 a 50% dos adultos também não. O HVA é resistente a detergentes, ácidos e temperaturas acima de 60oC, podendo sobreviver por muitos meses em água fresca e água salgada. Síndromes Clínicas da Hepatite A Os sintomas causados pelo HVA são muito parecidos aos da infecção por HBV e resultam do dano hepático mediado pelo sistema imune. Os sintomas ocorrem abruptamente de 15 a 50 dias após a exposição e se intensificam durante 4 a 6 dias antes da fase ictérica. Os sintomas iniciais incluem febre, fadiga, náusea, perda de apetite e dores abdominais. A icterícia é observada em 70% a 80% dos adultos, mas apenas em 10% das crianças. Urina escura (bilirrubinúria), fezes claras e a icterícia podem ser acompanhadas de dor abdominal e prurido. Os sintomas gerais diminuem durante o período de icterícia, já a disseminação viral nas fezes precede em aproximadamente 14 dias o início dos sintomas e é interrompida antes do desaparecimento dos mesmos. Diagnóstico da Hepatite A O diagnóstico específico de hepatite A aguda é confirmado através da detecção de anticorpos anti- HAV da classe IgM. A positividade desse marcador coincide com início do quadro clínico e dura cerca de 6 a 12 meses. Após a fase aguda, passam a ser identificados anticorpos anti-HAV IgG, que duram até o final da vida, conferindo imunidade à doença. 3 Tratamento e Prevenção da Hepatite A O repouso é importante medida para a condição própria do paciente. Deve-se orientar o paciente que ele defina sua dieta de acordo com seu apetite e aceitação alimentar, a única restrição está relacionada à ingestão de álcool, devendo ser mantida por um período de no mínimo 6 meses. A transmissão do HVA é reduzida interrompendo-se a disseminação do vírus pela rota fecal-oral, é preciso evitar o consumo de água ou alimentos potencialmente contaminados, em especial frutos do mar crus. A profilaxia com globulina sérica imune administrada antes ou logo no início do período de incubação têm eficácia comprovada na prevenção da doença clínica. Vacinas contra o HVA que inicia com dose única aos 15 meses de idade. Hepatite B É uma das doenças infeciosas virais mais prevalentes no mundo, causada pelo vírus da hepatite B (HBV). Essa prevalência tem diminuído em países onde a vacinação foi implantada, no entanto permanece alta em populações de risco e em países onde as transmissões vertical e horizontal intradomiciliar não são controladas. Estrutura do Vírus da Hepatite B O HBV é o principal membro dos hepadnavírus, ele infecta o fígado e menos frequentemente, os rins e o pâncreas. É um vírus de DNA envelopado com fita parcialmente dupla circular. Embora seja um vírus de DNA, ele codifica uma transcriptase reversa e se replica através de um intermediário de RNA. O vírion, chamado de partícula de Dane, dá uma estabilidade incomum para um vírus envelopado. Ele resiste ao tratamento com éter, pH baixo, congelamento e aquecimento moderado, facilitando a transmissão da doença de pessoa a pessoa e dificultando a desinfecção. O vírion do HBV tem uma proteína quinase e uma polimerase com atividade de transcriptase reversa. Todas essas estruturas são cercadas por um capsídeo icosaédrico formado pelo antígeno do core do vírus da Hepatite B (HBcAg) e por um envelope contendo três formas da glicoproteína antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg). As partículas contendo HBsAg são liberadas no soro dos indivíduos infectados e superam o número total de vírions. Podem ser esféricas ou filamentosas. Além disso, elas são imunogênicas e foram incluídas na primeira vacina contra o HBV. 4 O HBsAg, antes denominado de antígeno Austrália, inclui três glicoproteínas (L, M e S). A replicação de HBV é única por várias razões. A primeira é o tropismo distintamente definido para o fígado e a segunda é o fato de a replicação ser por meio de um intermediário de RNA, produzindo e liberando as partículas antigênicas (HBsAg). Após penetrar no hepatócito e desnudar o nucleocapsídeo, a fita de DNA parcialmente dupla do genoma é completada por enzimas virais e, então, liberada no núcleo. A transcrição desse genoma produz 4 RNA mensageiros que se movem para o citoplasma onde serão traduzidos em proteínas. A transcriptase reversa sintetiza as proteínas do nucleocapsídeo, enquanto o RNA é degradado o DNA é sintetizado. O vírion então é liberado do hepatócito por exocitose, sem matar ou lisar a célula, liberando HBsAg e HBV. Em adultos infectados por HBV, a maioria de cura, 5 a10% permanecem com o vírus por mais seis meses, evoluindo para a forma crônica da doença. Os indivíduos com a forma crônica podem ter uma condição de replicação do vírus que confere maior propensão a evolução da doença para formas mais graves. Patogenia da Hepatite B A resposta imune do indivíduo que vai determinar se vai ser uma doença aguda ou crônica, sintomática ou assintomática. A detecção do HBsAg e do HBeAg do vírion indica a existência de uma infecção ativa em andamento. Além disso, as partículas de HBsAg continuam a ser liberadas no sangue, mesmo depois que a liberação do vírion tenha sido finalizada e a infecção resolvida. O vírus inicia a replicação dentro de três dias após sua aquisição, mas os sintomas podem não ser percebidos antes de 45 dias ou mais, dependendo da dose infecciosa, da rota de infecção e da própria pessoa. A infecção prossegue por período relativamente longo sem causar danos hepáticos ou sintomas. Durante esse período, cópias do genoma do HBV se integram à cromatina dos hepatócitos e permanecem latentes. A infecção por HBV se caracteriza justamente pelo aspecto em “vidro fosco”, devido a construção intracelular de formas filamentosas de HBsAg. O HBV não é um vírus citopático, os hepatócitos não são agredidos e forma direta pelo vírus, mas sim pelo sistema imune do hospedeiro, na tentativa de conter a infecção. 5 Sendo essa reposta imune mediada por células a responsável pelos sintomas e resolução efetiva da infecção por HBV, uma vez que elimina o hepatócito infectado. Os linfócitos T reconhecem os epítopos do antígeno HBc, quando essa reposta é insuficiente geralmente ocorre manifestações de sintomas leves. O anticorpo pode proteger contra a infecção inicial ao prevenir a liberação do vírus no fígado. O sistema imune produz citocinas, como interferons, que apresentam atividade antiviral e inibem a replicação, a capacidade de infectar novas células e também modulam a resposta imune à infecção. Posteriormente, com a progressão da infecção, a grande quantidade de HBsAg no soro adere e bloqueia a ação de anticorpos neutralizantes, o que limita a capacidade de resolução da infecção. Os complexos imunes formados entre o HBsAg e os anti-HBs contribuem para reações de hipersensibilidade tipo III, acarretando problemas como vasculite, artralgia, erupção cutânea e dano renal. Durante a fase aguda da infecção, o parênquima hepático mostra alterações degenerativas consistindo em edema e necrose celular, especialmente nos hepatócitos que cercam a veia central de um lóbulo hepático. Esse infiltrado inflamatório é composto principalmente de linfócitos. A resolução da infecção permite a regeneração do parênquima. As infecções fulminantes, a ativação de infecções crônicas ou a coinfecção com o agente delta podem resultar em dano hepático permanente a cirrose. Período de incubação da Hepatite B O intervalo entre a exposição efetiva do hospedeiro suscetível ao vírus e o início dos sinais e sintomas da doença varia de 30 a 180 dias. Manifestações Clínicas da Hepatite B AGUDA A evolução de uma hepatite aguda consiste de três fases: Prodrômica ou pré-ictérica: aparecimento de febre, astenia, dores musculares ou articulares e sintomas digestivos, tais como anorexia, náuseas e vômitos, perversão do paladar, às vezes cefaleia, repulsa ao cigarro. A evolução é de mais ou menos 4 semanas. Ictérica: abrandamento dos sintomas digestivos e surgimento da icterícia que pode ser de intensidade variável, podendo ser precedida de colúria. A hipocolia (diminuição da secreção de bile) pode surgir por prazos curtos, 7 a 10 dias, podendo ser acompanhada de prurido. 6 Convalescência: desaparece a icterícia e volta o estado normal. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, podendo persistir a astenia por mais um tempo. A hepatite fulminante ocorre em cerca de 1% dos pacientes ictéricos e pode ser fatal. A doença é marcada por sintomas mais intensos e indicação de dano hepático grave, como ascite e sangramento. Além disso, pode ocorrer reação de hipersensibilidade tipo III (mediada por imunocomplexos) de HBsAg e anticorpo, esses complexos podem produzir erupção cutânea, poliartrite, febre, vasculite necrosante aguda e glomerulonefrite. CRÔNICA Quando a reação inflamatória do fígado persiste por mais de seis meses, considera-se evolução para a forma crônica. Quando presentes, possui sintomas inespecíficos, com predomínio de fadiga, mal-estar e sintomas digestivos. Em uma parcela dos casos crônicos, após anos de evolução, pode aparecer cirrose, com surgimento de icterícia, edema, ascite, varizes de esôfago e alterações hematológicas. Também pode evoluir para hepatocarcinoma diretamente. Transmissão da Hepatite B - Reações sexuais desprotegidas, uma vez que o vírus se encontra no sêmen e secreções vaginais. - Intervenções odontológicas e cirúrgicas, hemodiálise, tatuagens, perfurações de orelha, colocação de piercings. - Transfusão de sangue e derivados contaminados. - Uso de drogas com compartilhamento de seringas, agulhas ou outros equipamentos. - Transmissão vertical (mãe pra filho). - Aleitamento materno. - Acidentes perfurocortantes, relacionado, principalmente, ao grau de exposição ao sangue. Epidemiologia da Hepatite B No mundo, uma em cada três pessoas já foi infectada com HBV, com cerca de 1 milhão de mortes por ano. A grande quantidade de portadores crônicos assintomáticos com o vírus no sangue e em outras secreções do corpo estimula a disseminação do vírus. O vírus é disseminado por vias sexual, parenteral e perinatal. A triagem sorológica em indivíduos doadores em bancos de sangue tem reduzido significativamente o risco de aquisição d vírus de sangue. Diagnóstico da Hepatite B A suspeita diagnóstica pode ser guiada pelos dados clínicos e epidemiológicos e a confirmação se dá pelos exames laboratoriais com os marcadores sorológicos do HBV. Conhecendo os marcadores... - HBsAg é o antígeno de superfície do vírus da hepatite B, é o primeiro marcador de infecção por HBV, aparece de 1 a três semanas antes dos sintomas e sua presença junto com o anti-HBc indica presença de infecção. Se persistir por mais de 6 meses, indica infecção crônica, e quando some nos primeiros seis meses indica evolução para cura. 7 - Anti-HBc IgG ou total é o anticorpo IgG contra o HBsAg que indica contato prévio com o HBV, NÃO INDICA IMUNIDADE, não é induzido pela vacinação. - Anti-HBc IgM é o anticorpo IgM contra o HBsAg que aparece no início dos sintomas, marcando infecção aguda recente, podendo persistir por seis meses. - HBeAg é o antígeno de replicação viral que aparece pouco antes dos sintomas indicando alta infectividade e sua persistência no soro indica replicação viral independente da fase da doença. - Anti-HBe é o anticorpo contra o HBeAg que aparece dentro de poucas semanas após a perda do HBeAg indicando declínio da infectividade. - Anti-HBs é o anticorpo contra o HBsAg que aparece de um a três meses após a vacinação contra a hepatite B ou após recuperação de uma infecção aguda, indica imunidade à hepatite B. Interpretando os marcadores... HBsAg reagente: infecção pelo HBV, podendo ser aguda ou crônica. HBsAg não reagente: ausência de infecção pelo HBV. HBsAg reagente e anti- HBc IgM reagente: hepatite aguda HBsAg reagente e anti- HBc IgG total reagente: presença de infecção pelo HBV. Anti-HBs reagente e anti-HBc total reagente: cura de infecção prévia com imunidade permanente para o HBV. HBsAg não reagente e anti-HBc total reagente: infecção passada pelo HBV ou infecção do vírus da hepatite delta (HDV) com supressão de HBsAg. Anti-HBs reativo isolado: proteção pós vacina. 8 O HBsAg é o primeiromarcador a aparecer, sendo que na hepatite aguda ele persiste por até 24 semanas após a infecção e desaparece com posterior surgimento do anti-HBs, se tiver presente por mais de seis meses, indica infecção crônica. O anti-HBs é o último a aparecer, na maioria das vezes entre 1 e 10 semanas após o desaparecimento do HBsAg, constituindo marcador de resolução de infecção. O período após infecção que não identifica nenhum dos dois marcadores é chamado de janela imunológica. O HBeAg é o segundo marcador a aparecer e indica intensa replicação viral. Esse antígeno é encontrado apenas na presença de HBsAg, associando-se ao período de maior infectividade. No início dos sintomas, em resposta ao antígeno do capsídeo do HBV, predominam os anticorpos da classe IgM, que persistem por 2 a 3 meses, indicando infecção aguda. Tratamento da Hepatite B Tem como objetivo erradicar o HBV e reduzir a progressão da lesão hepática para, assim, prevenir o desenvolvimento de cirrose, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular. Na hepatite aguda recomenda-se: acompanhamento ambulatorial, com tratamento sintomático (vômitos e febre), repouso relativo, dieta conforme aceitação, abstinência de consumo alcoólico por no mínimo seis meses. As medicações disponíveis para o tratamento da hepatite B crônica são: interferon-alfa, interferon-alfa penguilado, lamivudina, telbivudina, adefovir, tenofovir e entecavir. Interferon-alfa É uma droga com efeito antiviral, antiproliferativo e imunomodulatório, tendo ação na supressão da replicação do HBV e também induz a remissão da doença hepática. Interferon-alfa penguilado Tem como vantagem sua administração mais conveniente e maiores taxas de supressão viral sustentada. Lamivudina É um análogo nucleosídeo oral que apresenta como vantagens o baixo preço e a segurança confirmada na prática clínica, incluindo em gestantes. Telbivudina Também é um análogo nucleosídeo, porém, mais potente que a lamivudina em suprimir o HBV. 9 Adefovir É um análogo nucleotídeo capaz de inibir a transcriptase reversa e a DNA polimerase. A dose recomendada é de 10 mg/dia. É importante levar em consideração a toxicidade renal da droga. Tenofovir Análogo nucleotídeo com atividade contra HIV e com alta potência contra o HBV. Profilaxia da Hepatite B A vacinação é recomendada para lactentes, crianças e pessoas do grupo de risco (áreas endêmicas, bebês de mães portadoras, pessoas com vários parceiros sexuais, hemofílicos, profissionais da saúde, pacientes de hemodiálise, etc.). Deve ser aplicada em uma série de três injeções, com a segunda e a terceira doses administradas dentre de 1 a 6 meses após a primeira dose. Em recém nascidos, a primeira dose da vacina deve ser aplicada logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida, para evitar a transmissão vertical. Outras medidas englobam: uso de EPIs pelos profissionais de saúde; não compartilhamento de alicates de unha, lâminas de barbear, escovas de dente, equipamentos para uso de drogas. Hepatite C Doença infecciosa viral, contagiosa, causada pelo vírus da hepatite C (HCV). Estrutura do Vírus da Hepatite C O HCV é o único membro do gênero Hepacivirus da família Flaviviridae. O vírus apresenta genoma de RNA de polaridade positiva e é envelopado. A RNA polimerase é propensa ao erro e gera mutações nos genes das glicoproteínas o que acaba gerando uma variabilidade antigênica, tornando muito difícil o desenvolvimento de uma vacina. É formado pelas proteínas estruturais (E1 e E2) e não estruturais (NS2, NS3, NS4, NS5), sendo a NS5 a responsável pela sua migração transmembrana, penetração hepatocitária e ligação aos ribossomos. O HCV se adere aos receptores de superfície CD81 (tetraspanina), que são expressos nos hepatócitos e nos linfócitos B. O vírus se replica quando o vírion é montado e brota no retículo endoplasmático, tornando-se associado com a célula. As proteínas do HCV inibem a apoptose e ação do IFN-alfa, evitando assim a morte da célula hospedeira e provocando uma infecção persistente. Patogênese da Hepatite C A habilidade do HCV em ficar aderido a célula sem causa a morte dela, promove infecção persistente, mas resulta em posterior doença hepática. A resposta imune mediada por célula é a responsável pela resolução do quadro e pelo dano ao tecido. Assim como o que acontece no HBV, a infecção crônica pode resultar no esgotamento dos linfócitos T citotóxicos para impedir a resolução da infecção. 10 A presença desse vírus nos hepatócitos dispara uma série de eventos intracelulares, modulados via receptores específicos, resultando em produção aumentada de INF alfa e beta que ativam transdutores de sinais pela via Janus-cinase, ativando também a transcrição em células infectada e não infectadas. Produzem-se assim dez diferentes polipeptídeos, através da NS3, ao mesmo tempo que que se envolve na evasão da resposta exercida pelo hospedeiro, levando a persistência da infecção viral. Epidemiologia da Hepatite C A alta incidência de infecções assintomáticas crônicas promove a disseminação do vírus na população. Procedimentos de triagem têm diminuindo esses níveis de transmissão por transfusão sanguínea e doação de órgãos, mas a transmissão por outras vias ainda é prevalente. Período de incubação da Hepatite C O intervalo entra a exposição efetiva do hospedeiro suscetível a um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença varia de 15 a 150 dias. Transmissão da Hepatite C Os mecanismos conhecidos para a transmissão dessa infecção são os seguintes: Transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis Hemodiálise devido a utilização de heparina de uso coletivo e ausência de limpeza e desinfecção de todos os instrumentos e superfícies ambientais. Acupuntura, piercings, tatuagem, droga inalada, manicures, barbearia, instrumentos cirúrgicos (qualquer procedimento que envolva sangue pode servir de mecanismos de transmissão desse vírus). Relacionamento sexual, principalmente o anal desprotegido uma vez que está relacionado a microtraumatismos e passagem de sangue. Também foi encontrado em pequenas quantidades no sêmen e secreções vaginais. Transmissão vertical e aleitamento materno. Transplante de órgãos e tecidos. Síndromes Clínicas da Hepatite C O HCV causa três tipos de doença: hepatite aguda com resolução da infecção hepatite crônica com possível progressão da doença e progressão rápida e intensa para cirrose. Em sua forma aguda, a infecção por HCV é semelhante a pôr HVA e HVB, mas a resposta inflamatória é mais branda causando sintomas mais leves. Com mais frequência a doença é assintomática, mas estabelece infecção crônica persistente. O sintoma 11 predominante é a fadiga crônica. A doença crônica persistente progride para a hepatite crônica ativa dentro de dez a quinze anos, para cirrose e para insuficiência hepática. Diagnóstico da Hepatite C É feito pela realização de exames de sangue de dois tipos: exames sorológicos e exames que envolvem técnicas de biologia molecular. Os testes sorológicos podem identificar anticorpos contra esse vírus apresentando alta sensibilidade e especificidade. Utiliza o teste ELISA para pesquisa de anti-HCV. A presença do Anticorpo contra o vírus da hepatite C significa que o paciente teve contato com o vírus. A presença de infecção persistente e atual pelo HCV é demonstrada pela pesquisa do vírus no sangue, através do exame HCV-RNA qualitativo. Tratamento da Hepatite C Nem todo paciente vai necessitar de tratamento e a definição dependerá da realização de exames específicos, como biópsia hepática e exames de biologia molecular. Quando indicado, otratamento poderá ser feito por meio da utilização de interferon com ribavirina ou do interferon penguilado associado à ribavirina. Prevenção da Hepatite C Não existe vacina, mas possui outros métodos de prevenção primárias e secundárias. As medidas primárias visam a redução do risco para disseminação da doença e as secundária a interrupção da progressão da doença em uma pessoa já infectada. As medidas de prevenção primária destacam-se: Triagem em bancos de sangue e centrais de doação de sêmen. 12 Triagem de doadores de órgãos. Triagem de doadores de córnea ou pele. Cumprimento das práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios dentários, serviços de hemodiálise. As medidas de prevenção secundarias podem ser: Tratamento em indivíduos infectados; Abstinência ou diminuição do uso de álcool, não exposição a outras substâncias hepatotóxicas. Hepatite Delta Doença infecciosa viral contagiosa causada pelo vírus da hepatite delta ou HDV> Estrutura do Vírus da Hepatite D É um vírus singular pois ele utiliza o HBV e as proteínas das células alvo para se replicar e produzir suas proteínas, ou seja, ele é um parasita viral. O HBsAg é essencial para o empacotamento do vírus. O genoma do RNA é muito pequeno sendo cercado pelo nucleocapsídeo do antígeno delta, que por sua vez, é revestido por um envelope contendo HBsAg, o antígeno delta adere e é internalizado mesma maneira que o HBV, pois tem HBsAg em seu envelope. A replicação acontece através da RNA polimerase II da célula hospedeira que faz uma cópia do RNA para replicar seu genoma, esse genoma forma a ribozima, que cliva RNA circular para produzir um RNAm para o antígeno delta pequeno. A produção desse antígeno limita a replicação do vírus, mas também promove a associação do genoma com o HBsAg para formar um vírion e o vírus é liberado da célula. A diversidade genética do HVD está classificada em 8 genótipos (HVD-1 a HVD-8) e parece estar envolvida nas diferentes formas de evolução clínica. A HVD-1 apresenta ampla variação de patogenicidade a infecção por HVD-2 e HVD-4 está relacionada a formas mais leves de doença hepática, ao passo que a infecção por HVD-3 está associada a surtos de hepatite fulminante. Epidemiologia da Hepatite D O agente delta infecta crianças e adultos com infecção subjacente por HBV, e as pessoas persistentemente infectadas com HBV e HDV representam uma fonte para o vírus. Esse agente tem distribuição mundial, sendo endêmico no sul da Itália, Bacia Amazônica, parte da África e Oriente Médio. Período de incubação da Hepatite D 13 Intervalo entre a exposição efetiva do hospedeiro suscetível a um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença nesse hospedeiro varia de 30 a 50 dias. Transmissão da Hepatite D Os mecanismos de transmissão são os mesmos da hepatite B, incluindo a via parenteral e sexual, podendo ser transmitido ao mesmo tempo do HBV. Patogênese da Hepatite D O agente delta é disseminado em sangue, sêmen e secreções vaginais, entretanto ele pode causar doença só em indivíduos com infecções ativas por HBV. Dentro disso, uma vez que esses dois vírus são transmitidos pela mesma via pode ocorrer uma coinfecção com o HBV e o HVD, além disso uma pessoa com HBV crônica também pode ser superinfectada com agente delta. A progressão mais rápida e intensa ocorre em portadores de HBV superinfectados com HDV do que pessoas coinfectadas com HBV e agente delta, uma vez que durante a coinfecção, o HBV precisa primeiro estabelecer sua infecção antes que o HDV possa se replicar, enquanto na superinfecção por HBV, o vírus permite que o agente delta se replique imediatamente. A replicação do agente delta resulta em toxicidade e dano hepático e vai ser de forma persistente com frequência em pacientes portadores de HBV. Embora os anticorpos sejam produzidos contra o agente delta, a proteção provavelmente se origina da resposta imune ao HBsAg, pois ele é o antígeno externo e a proteína de adesão viral para o HDV. Formas Clinicas da Hepatite D AGUDA Pode cursar de forma assintomática, oligossintomática ou sintomática, dependendo em parte do momento de aquisição do vírus delta (coinfecção ou superinfecção). Coinfecção do vírus D com vírus B em indivíduos normais: ocorre quando o indivíduo adquire simultaneamente o HVD e o HVB. Na maioria dos casos se manifesta como uma hepatite aguda benigna, com as mesmas características da hepatite B clássica. Superinfecção pelo HVD em portadores (sintomáticos ou não) do HVB: ocorre quando o indivíduo infectado pelo HVB que evolui para cronicidade sendo posteriormente infectado pelo HVD. O prognóstico é mais grave, podendo haver dano hepático severo, ocasionando formas fulminantes de hepatite ou evolução rápida e progressiva para a cirrose. CRÔNICA A cirrose é mais frequentemente tipo de hepatite do que nos portadores de hepatite B isolada. 14 Diagnóstico da Hepatite D A infecção pelo HVD é caracterizada pela replicação do genoma viral com expressão do antígeno delta e resposta imune especifica produzida pelo hospedeiro infectado. Assim, os principais marcadores para o diagnostico dessa infecção são os anticorpos anti antígeno delta e IgM e IgG que são detectados pelo método ELISA, e o HVD RNA que é detectado por PCR. Tratamento da Hepatite D O interferon alfa é a principal opção terapêutica licenciada para o tratamento da hepatite D. 15 O transplante hepático é a única opção terapêutica para pacientes com cirrose em estágio final. Hepatite E É uma doença infeciosa viral, contagiosa, causada pelo HVE. Esse vírus é disseminado predominantemente pela via fecal-oral, em especial pela água contaminada. Possui um período de incubação que varia de 15 a 60 dias. Só se manifesta de forma aguda, tendo sintomatologia bem parecida com a da HVA. O diagnóstico é feito através de dados clínicos e epidemiológicos e confirmado por meio da detecção de anticorpos IgM contra o HVE no sangue. O tratamento é feito através de repouso, evitar o álcool e dieta de acordo com a aceitação, além do tratamento sintomático.
Compartilhar