Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO BACHARELADO EM MEDICINA Alice Morschbacher Evelin Soeiro João Zanon Livya Pereira Natalia Scarpatti INTEGRAÇÃO BÁSICO-CLÍNICA: CASO CLÍNICO DIABETES GESTACIONAL Agosto de 2021 Vitória, ES 1. CASO CLÍNICO - Vontade constante de urinar na gestação Identificação: Beatriz Ferreira dos Anjos, 32 anos, sexo feminino, casada, operadora de caixa em uma rede de supermercados, residente em Nova Carapina, Serra-ES. Procurou a Unidade de Saúde do bairro para consulta pré- natal. HObstétrica (HO): 3ª Gestação,1 Parto, 1 Aborto (G3P1A1). 26 semanas de gestação. Filho (sexo masculino), 2 anos e 10 meses, Peso ao nascimento: 4,1 Kg Queixa principal: “Urinando muito na gestação” HDA: Refere sensação de cansaço, sede excessiva (polidipsia) e vontade constante de urinar nos últimos 2 meses (poliúria). Informa que sempre possuía ciclos menstruais normais e como método anticoncepcional, o marido utilizava preservativos. Não sabe informar a causa do aborto ocorrido há aproximadamente 1 ano. Exame físico: Bom estado geral. Lúcida, Orientada, Hidratada (+/4), Nutrida PA 120 x 70 mmHg, FC 85 bpm, FR 20 irpm, Obesidade grau I (IMC 32 Kg/m²) HPP: Nega outras doenças / Cirurgias prévias: Curetagem para aborto HF: Pai falecido / Mãe saudável HO: Ausência de contrações uterinas, Medida uterina: 34 cm, Bolsa íntegra, Apresentação cefálica. O ultrassom mostrou que o feto tem 26 semanas, olhos parcialmente abertos e peso de 1300g. A médica ginecologista da Unidade de Saúde perguntou para Beatriz o motivo dela estar vindo na primeira consulta de pré-natal somente na 26ª semana de gestação, e Beatriz respondeu “que é difícil para ela acordar cedo para pegar uma ficha para consulta”. A ginecologista solicitou o teste de tolerância a glicose, que faz parte da rotina obstétrica. Beatriz pediu a médica para explicar o motivo do exame de sangue, pois ela “queria mesmo era fazer uma ultrassonografia para ver o bebe”. A médica explicou que devido a poliúria/polidipsia, ao passado obstétrico de 1 aborto e um filho com peso de 4,1 Kg ao nascimento; ela poderia estar desenvolvendo uma doença chamada de diabetes gestacional. “Essa doença tem relação um hormônio chamado insulina que é produzido em uma glândula da sua barriga, chamada de pâncreas”. A Ginecologista solicitou o teste oral de tolerância à glicose (TOTG). A médica tranquilizou Beatriz informando que a ultrassonografia também seria agendada. Na semana seguinte Beatriz levou o resultado do exame solicitado, que confirmou o diabetes gestacional (TOTG: Jejum=96mg/dl, 1ª hora=182mg/dl, 2ª hora=165mg/dl). Então a Ginecologista encaminhou Beatriz para consulta com a Endocrinologista da Unidade de Saúde para dar seguimento ao tratamento. Diagnóstico: Diabetes gestacional 2. Termos desconhecidos Curetagem: A curetagem é um procedimento realizado pelo ginecologista com o objetivo de limpar o útero através da remoção de restos de um aborto incompleto ou da placenta após o parto normal, ou ainda ser utilizado como exame diagnóstico, recebendo o nome de curetagem endocervical semiótica. G3P1A1: indica que a mulher/paciente possui 3 gestações contando com a atual gestação, teve apenas 1 parto e também 1 aborto como antecedentes obstétricos. 3. Palavras-chave Gestante, 3° gestação, 1 aborto, polidipsia, poliúria, obesidade grau I, diabetes gestacional 5. Principais Pontos A paciente de 32 anos está na sua terceira gestação, teve um aborto anteriormente mas não sabe o que ocasionou. Encontra-se na 26a semana da gestação, possui obesidade grau I (IMC 32), relata sede excessiva e vontade de urinar constante. A médica que atendeu Beatriz suspeitou que fosse um caso de diabetes gestacional por conta do histórico e do relato da paciente. Assim, ginecologista solicitou o teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e após o resultado confirmar o diagnóstico, encaminhou a gestante para o endocrinologista da Unidade de Saúde para dar seguimento ao tratamento. 6. Questões norteadoras ANATOMIA 1. O que são órgãos retroperitoneais? Órgãos retroperitoneais são aqueles que estão entre o peritônio parietal e a parede posterior do abdome e só têm peritônio parietal nas faces anteriores e geralmente com uma quantidade variável de gordura interposta, como por exemplo os rins. 2. Descreva sobre as formações peritoneais (mesentério, mesocolo e omento) ● Mesentério: O mesentério é uma lâmina dupla de peritônio formada pela invaginação do peritônio por um órgão, e é a continuidade dos peritônios visceral e parietal. Constitui um meio de comunicação neurovascular entre o órgão e a parede do corpo. O mesentério une um órgão intraperitoneal à parede do corpo — geralmente a parede posterior do abdome , por exemplo o mesentério do intestino delgado. ● Mesocolo: O mesentério do intestino grosso é denominado mesocolo e refere-se a parte do intestino grosso que ele está presente, como por exemplo o mesocolo transverso e o mesocolo sigmoide. ● Omento: O omento é uma extensão ou prega de peritônio em duas camadas que vai do estômago e da parte proximal do duodeno até os órgãos adjacentes na cavidade abdominal .Existem dois omentos: O omento maior é uma prega peritoneal proeminente, que tem quatro camadas e pende como um avental da curvatura maior do estômago e da parte proximal do duodeno. Após descer, dobra-se de volta e se fixa à face anterior do colo transverso e seu mesentério . O omento menor é uma prega peritoneal muito menor, dupla, que une a curvatura menor do estômago e a parte proximal do duodeno ao fígado .Também une o estômago a uma tríade de estruturas que seguem entre o duodeno e o fígado na margem livre do omento menor. 3. Descreva sobre as subdivisões da cavidade peritoneal (compartimentos e espaços cólicos) A cavidade peritoneal é dividida em sacos peritoneais maior e menor .A cavidade peritoneal é a parte principal e maior. A bolsa omental situa-se posteriormente ao estômago e ao omento menor. O mesocolo transverso (mesentério do colo transverso) divide a cavidade abdominal em um compartimento supracólico, que contém o estômago, o fígado e o baço, e um compartimento infracólico, que contém o intestino delgado e os colos ascendente e descendente. O compartimento infracólico situa-se posteriormente ao omento maior e é dividido em espaços infracólicos direito e esquerdo pelo mesentério do intestino delgado. A bolsa omental é uma cavidade extensa, semelhante a um saco, situada posteriormente ao estômago, omento menor e estruturas adjacentes . A bolsa omental tem um recesso superior, limitado superiormente pelo diafragma e as camadas posteriores do ligamento coronário do fígado, e um recesso inferior entre as partes superiores das camadas do omento maior. A bolsa omental permite o livre movimento do estômago sobre as estruturas posteriores e inferiores a ela, pois as paredes anterior e posterior da bolsa omental deslizam suavemente uma sobre a outra. A maior parte do recesso inferior da bolsa é separada da parte principal posterior ao estômago após aderência das lâminas anterior e posterior do omento maior . A bolsa omental comunica-se com a cavidade peritoneal por meio do forame omental, uma abertura situada posteriormente à margem livre do omento menor (ligamento hepatoduodenal). HISTOLOGIA e CITOLOGIA 4. Qual a parte endócrina do pâncreas? As ilhotas de Langerhans são micro-órgãos endócrinos localizados no pâncreas, onde são vistos ao microscópio como grupos arredondados de células de coloração menos intensa, incrustados no tecido pancreático exócrino. Há uma pequena tendência para ilhotas serem mais abundantes na região da cauda do pâncreas. 5. Qual a função dos principais hormônios do pâncreas no metabolismo da glicose? A insulina é um hormônio polipeptídico cujo principal papel fisiológico é controlar a homeostase glicêmica por meio do estímulo à captação de glicose nos tecidos sensíveis à insulina e da inibição da liberação de glicose pelo fígado. O glucagon, principal hormônio contrarregulatório de ação rápida na hipoglicemia, age nosreceptores acoplados à proteína G das células do fígado aumentando a produção de glicose. É um grande estimulante da glicogenólise hepática. EMBRIOLOGIA 6. Discuta a relação peso e idade gestacional segundo os dados do ultrassom Segundo a tabela de Hadlock, a frequência acumulada do peso fetal esperado para a 26ª semana gestacional para 97% dos bebês é de 1141 g. Conforme descrito no texto, os dados da ultrassonografia indicaram um peso de 1300 g do bebê em questão. Como o valor apontado é superior ao esperado da idade, pode-se considerar que o concepto está acima do peso e tende a sofrer de macrossomia ao nascer (possuir peso superior a 4kg). 7. Quais os riscos da diabetes gestacional para o recém-nascido? Em casos de diabetes gestacional, quer dizer que o bebê nascerá diabético? Por que os bebês nascidos de mães com diabetes gestacional nascem maiores? Os riscos para os recém-nascidos de mães com diabetes gestacional são inúmeros. Com essa doença, os níveis maternos de aminoácidos e ácidos graxos livres tornam-se elevados, além da glicemia. Devido a isso, há um aumento da passagem de nutrientes por meio da barreira placentária e, consequentemente, também ocorre a elevação da produção de insulina pelo pâncreas fetal. Como a insulina é o principal hormônio responsável pelo crescimento intrauterino da criança, há uma grande propensão para que o recém-nascido possua um peso maior do que 4 kg, quadro conhecido como macrossomia. Esse quadro pode culminar em uma série de problemas tanto à criança quanto à mãe na hora do parto. No caso de neonatos, alguns dos principais problemas decorrentes de complicações no parto são hemorragia intracraniana, distócia de ombro, hipoglicemia, hiperbilirrubinemia, hipocalcemia, síndrome do desconforto respiratório e cardiomiopatia hipertrófica. Já a longo prazo, dentre os principais problemas, a literatura do assunto reconhece problemas como: sequelas neurológicas, obesidade, dislipidemias, resistência à insulina e diabetes mellitus. Quando não ocorre um controle glicêmico adequado materno no período pré-natal, apesar de haver uma grande predisposição para que o neonato sofra de diabetes, não se trata de uma condição que certamente afetará a criança. 8. Existe alguma relação entre história familiar de diabetes na mãe e risco aumentado de diabetes gestacional? Que mães possuem risco aumentado de apresentar diabetes gestacional? Sim. Mulheres com história familiar de diabetes em parente de primeiro grau têm risco aumentado de desenvolver a diabetes gestacional. Além disso, as gestantes que apresentam idade superior a 25 anos, obesidade ou ganho excessivo de peso durante a gravidez, deposição central excessiva de gordura corporal e baixa estatura (≤ 1,51m), são considerados fatores de risco para desenvolvimento da diabetes gestacional. Esses fatores de risco incluem também alguns grupos étnicos, como descendentes de africanos, hispânicos e asiáticos. MEDICINA SOCIAL 9. O que é acesso à Saúde? A definição do que seja o acesso à saúde e a criação de um modelo que possa mensurar esse acesso têm sido objeto de muito interesse, já que esses aspectos são fundamentais para o desenvolvimento de planos e metas sustentáveis no setor saúde. Entretanto, ao longo do tempo, o conceito de acesso à saúde tornou-se mais complexo, com a incorporação de aspectos de mais difícil mensuração. Nesse sentido, o conceito de acesso à saúde passou a incorporar dimensões que refletem aspectos menos tangíveis do sistema e da população que o utiliza. Atualmente, as principais características do acesso à saúde são resumidas em quatro dimensões: Disponibilidade: relação geográfica entre os serviços e o indivíduo, como distância e opções de transporte; relação entre tipo, abrangência, qualidade e quantidade dos serviços de saúde prestados. Poder de pagamento: relação entre custo de utilização dos serviços de saúde e capacidade de pagamento dos indivíduos. Informação: grau de assimetria entre o conhecimento do paciente e do profissional de saúde. Aceitabilidade: natureza dos serviços prestados e percepção dos serviços pelos indivíduos e comunidades, influenciada por aspectos culturais e educacionais. 10. Qual a diferença entre acessibilidade e acesso? A acessibilidade possibilita que as pessoas cheguem aos serviços, já o acesso permite o uso oportuno dos serviços para alcançar os melhores resultados possíveis. Seria, portanto, a forma como a pessoa experimenta o serviço de saúde. O acesso como a possibilidade da consecução do cuidado de acordo com as necessidades tem inter-relação com a resolubilidade e extrapola a dimensão geográfica, abrangendo aspectos de ordem econômica, cultural e funcional de oferta de serviços. 11. Na perspectiva do acesso à saúde, o que é Acolhimento? É um dispositivo potente para atender a exigência de acesso, propiciar vínculo entre equipe e população, trabalhador e usuário, questionar o processo de trabalho, desencadear cuidado integral e modificar a clínica. Além de ser um processo no qual trabalhadores e instituições tomam, para si, a responsabilidade de intervir em uma dada realidade, em seu território de atuação, a partir das principais necessidades de saúde, buscando uma relação acolhedora e humanizada para prover saúde nos níveis individual e coletivo. Referências: ● JUNQUEIRA, Luiz Carlos Uchoa, JUNQUEIRA, José Carneiro. Histologia básica: texto e atlas. – 13. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ● PAIVA, Márcia Cristina. O papel fisiológico da insulina e dos hormônios contrarregulatórios na homeostase glicêmica. Disponivel em: {https://www.vponline.com.br/portal/noticia/pdf/625a3c9793434f4226ef9eb5508f2c51.pdf}. Acesso em: 31 jul. 21. ● Sanchez RM, Ciconelli RM. Conceitos de acesso à saúde. Rev Panam Salud Publica. 2012;31(3):260–8. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9344/12.pdf?sequence=1&isAllowed=y ● PADOVAM, Julia Curioso. Diabetes Mellitus Gestacional e o peso da criança ao nascer. 2017. 33f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. ● Silva, Jean Carl et al. Fatores relacionados à presença de recém-nascidos grandes para a idade gestacional em gestantes com diabetes mellitus gestacional. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia [online]. 2009, v. 31, n. 1 [Acessado 1 Agosto 2021] , pp. 5-9. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-72032009000100002>. Epub 30 Mar 2009. ISSN 1806-9339. https://doi.org/10.1590/S0100-72032009000100002. ● Cecatti, José Guilherme et al. Curva dos valores normais de peso fetal estimado por ultra-sonografia segundo a idade gestacional. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2000, v. 16, n. 4 [Acessado 1 Agosto 2021] , pp. 1083-1090. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-311X2000000400026>. Epub 18 Mar 2003. ISSN 1678-4464. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2000000400026. ● Amorim, Melania Maria Ramos de et al. Fatores de risco para macrossomia em recém-nascidos de uma maternidade-escola no nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia [online]. 2009, v. 31, n. 5 [Acessado 1 Agosto 2021] , pp. 241-248. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-72032009000500007>. Epub 29 Jul 2009. ISSN 1806-9339. https://doi.org/10.1590/S0100-72032009000500007. ● Kerche, Luciane Teresa Rodrigues Lima et al. Fatores de risco para macrossomia fetal em gestações complicadas por diabete ou por hiperglicemia diária. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia [online]. 2005, v. 27, n. 10 [Acessado 1 Agosto 2021] , pp. 580-587. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-72032005001000003>. Epub 30 Jan 2006. ISSN 1806-9339. https://doi.org/10.1590/S0100-72032005001000003. ● MOORE, Keith L. Anatomia orientada para a clínica. In: Anatomia orientada para a clínica. 2013. ● SOUZA, E. C. F. et al. Acesso e acolhimento na atenção básica: uma análise da percepção dos usuários e profissionais de saúde. https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/9344/12.pdf?sequence=1&isAllowed=yhttps://doi.org/10.1590/S0100-72032009000100002 https://doi.org/10.1590/S0102-311X2000000400026 https://doi.org/10.1590/S0100-72032009000500007 https://doi.org/10.1590/S0100-72032005001000003
Compartilhar