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FILOSOFIA PRÉ-VESTIBULAR 7PROENEM.COM.BR MITO E SENSO COMUM01 O QUE É FILOSOFIA? Quando a Filosofia é apresentada no Ensino Médio, a primeira dificuldade que os alunos têm é relativa à compreensão do que é a Filosofia. Afinal, muitos de vocês, estudantes secundaristas, nunca estudaram a disciplina anteriormente, e poucos já leram algum livro de iniciação à Filosofia. Um bom modo de introduzi-la na sala de aula é demarcá-la frente a outras disciplinas. É importante que se perceba, logo de início, as particularidades da Filosofia, e em que aspectos ela é diferente das outras matérias. A partir daí, é possível compreender o que é a Filosofia. COMO COMEÇAR? Em primeiro lugar, definindo um ponto de partida em comum com as outras disciplinas. Todas as disciplinas têm um objeto e um método. O objeto da Biologia, por exemplo, é o conjunto de fenômenos da vida. O objeto da Física é o conjunto de fenômenos da natureza, de fenômenos do universo. O objeto da História é o conjunto de registros do homem no tempo passado que se apresentam em nosso tempo. A palavra filosofia compõe-se de dois termos gregos: philia, que significa amor, e sophia, que significa sabedoria. Portanto, etimologicamente, filosofia significa amor à sabedoria. Contudo, isso não explica muita coisa. O que, de fato, é a Filosofia? A filosofia é uma atividade que tem um objetivo determinado: resolver problemas por meio da argumentação. Problemas filosóficos são os problemas a priori, independentes da experiência e conceituais, pois referem-se aos conceitos que utilizamos em nosso dia a dia e nas ciências. Diferentemente dos problemas científicos, que são resolvidos por meio da experimentação, os problemas filosóficos somente podem ser resolvidos pelo debate, pelo diálogo, pela controvérsia: o método da filosofia é argumentativo. Todas as disciplinas têm, também, um método. O método da Biologia e da Física é o método experimental, ou o método hipotético- dedutivo. O método da História é a análise documental, ou a análise arqueológica, ou o estudo dos registros de várias espécies que podem ser encontrados no momento em que se faz a história. A Filosofia tem o objetivo de alcançar a verdade acerca das noções, dos conceitos e das ideias mais fundamentais. Mas a verdade não é, necessariamente, absoluta. A verdade é provisória. A verdade é a melhor resposta que se tem atualmente. Isso não faz a verdade ser relativa; a verdade é uma consequência necessária da melhor argumentação possível hoje. Por isso, é melhor estudar Filosofia do que não estudar. Ter a certeza de chegar a uma verdade válida, ainda que provisória, é melhor do que não chegar à verdade e viver cheio de opiniões frágeis fundamentadas em preconceitos. Viver com uma verdade provisória, aberta à discussão, é melhor do que viver sem verdade alguma, achando que se tem todas as verdades do mundo. A Filosofia não é, portanto, mera opinião. Não é, também, qualquer argumentação. É a busca pela melhor argumentação, é o contrário da opinião – isso quer dizer que o filósofo não é uma pessoa cheia de opiniões sobre tudo, mas uma pessoa que investiga ideias e noções, utilizando uma técnica (lógica e argumentativa) para estudá-las. Por esse motivo é importante o estudo da lógica e da técnica argumentativa. Você, aluno, deve saber utilizar os argumentos com propriedade na construção de ensaios sobre temas filosóficos. Afinal, a primeira função do estudo da Filosofia é tornar os estudantes capazes de filosofar com alguma competência. Finalmente, a filosofia é uma atividade que todos praticam em vários momentos de todos os dias. A única diferença entre o leigo e filósofo profissional é que este último aprendeu a utilizar uma série de técnicas filosóficas que tornam o filosofar mais eficiente. Aprender algumas dessas técnicas é a primeira tarefa que um aluno de filosofia – quer no Ensino Médio, quer na faculdade – deve cumprir. Para estudar o objeto da filosofia é necessário um método filosófico, método que conduz ao objetivo de encontrar algumas verdades (ainda que provisórias). Em nossa matéria, aprenderemos justamente as ferramentas mais básicas para que possamos filosofar melhor: a lógica, a técnica argumentativa crítica e a história da Filosofia. O MITO Como vimos, a reflexão sistemática, metodológica e argumentativa sobre a realidade é uma característica da Filosofia, mas nem sempre foi esse o caminho utilizado pelos seres humanos à procura de explicações sobre o mundo. O homem tem sua vivência cotidiana, natural, material, psicológica e emocional repleta de dúvidas, insegurança, medos, e angústias. Em outras palavras, a trajetória do ser humano é permeada por eventos e fenômenos que carecem de explicações racionais, palpáveis e claras. Nessa demanda por explicações, surgem os mitos. Os mitos são narrativas em formato de lendas permeadas por elementos sobrenaturais, simbólicos, fantasiosos, deuses e entidades místicas que, ao contrário da lógica racional, não exigem comprovação ou explicação metódica. O mito dá conta de explicar aquilo que o ser humano não entende, mas que o assusta, gera insegurança acerca do desconhecido, daquilo que não é visto, ouvido ou tocado. https://pixabay.com/pt/photos/grécia-estátua-mitologia-grega-1358644/ A tradição filosófica abre caminho para novas formas de compreensão e explicação do mundo, entretanto, cabe destacar que o surgimento da Filosofia não exclui a presença de mitos. As narrativas mitológicas ainda são presentes e vivas em nosso cotidiano com lendas e histórias envolvendo, fantasias, deuses e entidades sobrenaturais. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR8 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Aponte a origem da palavra filosofia. 02. Aponte o objetivo da Filosofia. 03. Qual a principal característica do método filosófico? 04. Aponte as características do mito. 05. Aponte as características do senso comum PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01.(UNICAMP) A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia. (Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.) A partir do texto, é correto afirmar que: a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes. b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico. c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes. d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico moderno. 02. (UPE) A filosofia, no que tem de realidade, concentra-se na vida humana e deve ser referida sempre a esta para ser plenamente compreendida, pois somente nela e em função dela adquire seu ser efetivo. VITA, Luís Washington. Introdução à Filosofia, 1964, p. 20. Sobre esse aspecto do conhecimento filosófico, é CORRETO afirmar que a) a consciência filosófica impossibilita o distanciamento para avaliar os fundamentos dos atos humanos e dos fins aos quais eles se destinam. b) um dos pontos fundamentais da filosofia é o desejo de conhecer as raízes da realidade, investigando-lhe o sentido, o valor e a finalidade. c) a filosofia é o estudo parcial de tudo aquilo que é objeto do conhecimento particular. d) o conhecimento filosófico é trabalho intelectual, de caráter assistemático, pois se contenta com as respostas para as questões colocadas. e) a filosofia é a consciência intuitiva sensível que busca a compreensão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão. 03. (UEG) O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações,nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão. d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica. 04. (UEMA) Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a expressão ¯ ”o amor é cego”. No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura a servir de guia ao Amor. Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se como a) estética. b) filosófica. c) mitológica. d) científica. e) crítica. 05. (UEM-PAS 2011- adaptada) Aquilo que se estuda hoje como filosofia nas escolas nasceu na Grécia antiga (aproximadamente no séc. VII a.C.), em um contexto cultural de predomínio do pensamento mítico e da religião politeísta grega. Refletindo sobre a ciência, questiona Chauí: “a Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?” (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, p. 34). A respeito do surgimento da filosofia e suas relações com o discurso mítico neste contexto grego, é correto afirmar que a) o discurso filosófico jamais se opôs ao discurso mítico, pois os filósofos eram sábios e sacerdotes; logo, defensores das explicações míticas. b) os primeiros filósofos gregos buscaram construir uma explicação que se aproximasse ao máximo das explicações mítica. c) houve uma ruptura radical entre a mitologia e a filosofia, pois a filosofia dedica-se a problemas distintos da mitologia. d) filosofia e mitologia são discursos contrários, pois a filosofia nega o sobrenatural e busca sempre combater qualquer tipo de divindade. e) nas origens do pensamento filosófico grego se verifica uma substituição gradual, porém, evidente, entre as explicações de natureza mítica, por explicações de caráter racional. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 MITO E SENSO COMUM 9 FILOSOFIA 06. (UFU) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32. Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos. 07.(UEG) A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas artes, na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para o Ocidente, destaca-se a ideia de que a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso pensamento. b) nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir o verdadeiro do falso. c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as artes dependem do destino, o que negaria a existência de uma vontade livre. d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise. 08. (IFSP) Comparando-se mito e filosofia, é correto afirmar o seguinte: a) A autoridade do mito depende da confiança inspirada pelo narrador, ao passo que a autoridade da filosofia repousa na razão humana, sendo independente da pessoa do filósofo. b) Tanto o mito quanto a filosofia se ocupam da explicação de realidades passadas a partir da interação entre forças naturais personalizadas, criando um discurso que se aproxima do da história e se opõe ao da ciência. c) Enquanto a função do mito é fornecer uma explicação parcial da realidade, limitando-se ao universo da cultura grega, a filosofia tem um caráter universal, buscando respostas para as inquietações de todos os homens. d) Mito e filosofia dedicam-se à busca pelas verdades absolutas e são, em essência, faces distintas do mesmo processo de conhecimento que culminou com o desenvolvimento do pensamento científico. e) A filosofia é a negação do mito, pois não aceita contradições ou fabulações, admitindo apenas explicações que possam ser comprovadas pela observação direta ou pela experiência. 09.(UEL) Leia atentamente os textos abaixo, respectivamente, de Platão e de Aristóteles: [...] a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia. (PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.) Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. (ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.) Com base nos textos acima e nos conhecimentos sobre a origem da filosofia, é correto afirmar: a) A filosofia surgiu, como a mitologia,da capacidade humana de admirar-se com o extraordinário e foi pela utilidade do conhecimento que os homens fugiram da ignorância. b) A admiração é a característica primordial do filósofo porque ele se espanta diante do mundo das ideias e percebe que o conhecimento sobre este pode ser vantajoso para a aquisição de novas técnicas. c) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam os erros inerentes ao mito, além de terem reconhecido a impossibilidade de o conhecimento ser adquirido pela razão. d) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se surpreenderem diante do anseio de conhecer o mundo e as coisas nele contidas, os homens foram tomados de espanto, o que deu início à filosofia. e) A admiração e a perplexidade diante da realidade fizeram com que a reflexão racional se restringisse às explicações fornecidas pelos mitos, sendo a filosofia uma forma de pensar intrínseca às elaborações mitológicas. 10. (UEL 2005) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir. I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia. II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos. III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de, qualquer base religiosa. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, III e IV. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR10 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM 11. Sobre a singularidade do pensamento filosófico, atente ao texto a seguir: Ao fazer filosofia, o pensamento aprimora sua força de busca, quer dizer, aprende a pensar. Aprender a pensar significa promover o nascimento da realidade. (BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 25) O autor na citação acima sinaliza, com clareza e distinção, que a) o pensamento filosófico aprende a pensar, declinando da realidade. b) o aprender a pensar promove a dimensão acrítica. c) o pensamento crítico substitui a realidade. d) o pensamento filosófico está dissociado da realidade. e) aprender a pensar fomenta o entendimento da realidade na sua inteireza. 12. Referindo-se à Filosofia, Montaigne escreve: “É singular que em nosso século as coisas sejam de tal forma que a filosofia, até para as pessoas inteligentes, seja um nome vão e fantástico, que se considera de nenhum uso e de nenhum valor, tanto por opinião como de fato. Creio que a causa disso são esses ergotismos [que significa abuso de silogismos na argumentação] que invadiram seus caminhos de acesso. É um grande erro pintá- la inacessível às crianças e com um semblante carrancudo, sobranceiro e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblante, lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais jovial, mais vivaz e quase digo brincalhão. Ela só prega festa e bons momentos. Uma fisionomia triste e inteiriçada mostra que não é ali sua morada” (MONTAIGNE I, 26, p. 240). Depois de ler o texto acima, atentamente, assinale a alternativa CORRETA. a) Montaigne entende que a filosofia destina-se somente a algumas pessoas muito inteligentes, pois é inacessível para a maioria delas. b) Montaigne considera que a filosofia é carrancuda e triste porque é crítica e precisa assustar as pessoas. c) Montaigne concorda que a filosofia é um nome vão e fantástico: não tem nenhum uso e nenhum valor para as pessoas inteligentes. d) Montaigne argumenta que a filosofia é brincalhona e jovial, aberta a muitos, inclusive para as crianças. e) Montaigne julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se contrapor à festa e à alegria. 13. (UFMA 2008) O senso comum se caracteriza por ser: I. um conhecimento valorativo, em que cada coisa ou fato nos afeta de maneira diferente. II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número de fenômenos sob as mesmas leis. III. um conhecimento subjetivo que expressa um saber da nossa sociedade ou do nosso grupo social. Dos itens acima, pode-se concluir: a) somente I e III estão corretos. b) somente II e III estão incorretos. c) somente I está incorreto. d) todos estão incorretos. e) todos estão corretos. 14. Diante do desprezo dos pragmáticos de plantão, acenamos com a impossibilidade e a necessidade de reflexão filosófica. Com relação à filosofia, pode-se afirmar: a) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é a admiração. b) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para problematizar. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é a loucura. c) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é o sonho. d) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é o destemor. 15. (UEL 2015) Leia os textos a seguir. Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre. HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91. Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens. “A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://super.abril. com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014. No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado. PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22. Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir. I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe. II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada comunidade. III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser. IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 MITO E SENSO COMUM 11 FILOSOFIA Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 16. (UNIOESTE 2013) “Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for, é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a atividade prodigiosa que se expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da ciência” Werner Jaeger. Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo: I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional. II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico. III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe, definitivamente, com o pensamento mítico. IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do julgamento das almas. V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da natureza (Physis). Das afirmativas feitas acima a) apenas a afirmação V está correta. b) apenas as afirmações III e V estão corretas. c) apenas as afirmações II e IV estão corretas. d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas. e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. 17. (UEL 2007) “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER, W. Paideia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual. d) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica. 18. (UPE-SSA 2 2018) Sobre o conhecimento filosófico, considere o texto a seguir: O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação; a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento, que termina por constituir a essência mesma de um ser humano. (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 13) O autor enfatiza a singularidade do conhecimento filosófico. No alinhamento dessa reflexão, tem-se como CORRETO que a) o conhecimento filosófico se adquire sem ser procurado, surge espontânea e naturalmente, no âmbito da razão. b) a filosofia é um saber de acumulação, bastando tão somente adquiri-lo. c) o conhecimento filosófico é a posse do saber racional no âmbito existencial. d) o saber filosófico é infinito e difuso, valendo-se da sensação para se constituir em essência do ser humano. e) o conhecimento filosófico caracteriza-se pela sua dimensão crítica e sonda a essência mesma das coisas. 19. (UNICENTRO 2012) A prática filosófica exige do sujeito disposição para o questionamento e a indagação. Desconfiar do óbvio é uma das exigências da reflexão filosófica. Com base nessa afirmativa e em seus conhecimentos filosóficos, é correto afirmar que a prática filosófica a) é necessária, pois promove a abertura mental, possibilitando mudanças na vida do ser humano. b) não enxerga nada da realidade, pois seu objeto é apenas transcendental. c) é igual a qualquer outra prática humana, por ser apenas informação. d) não trabalha com o pensamento racional. e) necessita apenas de bom-senso. 20. (UPE 2012) Que representa a Filosofia? É uma das raras possibilidades de existência criadora. Seu dever inicial é tornar as coisas mais refletidas, mais profundas (Heidegger, Martin). Nessa perspectiva, é correto afirmar que a Filosofia a) é uma atividade de crítica e de análise dos valores de uma dada sociedade, na perspectiva de reorientação dos sentidos/ significados da vida e do mundo. b) começa dizendo sim às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que sabemos o que imaginávamos saber. c) não se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto em todos os setores do conhecimento e da ação. d) é a impossibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. e) sempre se confronta com o poder, e sua investigação fica alheia à ética e à política R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR12 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UDESC) Os atuais filósofos da educação afirmam que o fundamental na educação de nossos alunos é filosofar e não só filosofia. O que é filosofar? 02. (UDESC) Afirma-se, comumente, que as principais características da filosofia são a reflexão e a atitude crítica. Nesse horizonte, estabeleça a diferença entre a filosofia e o senso comum. 03. (UFU) Quais são as principais diferenças entre Filosofia e mito? 04. (UNESP) À medida que a ciência se mostrou capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa, tornando possível fazer previsões e transformar o mundo, houve a tendência a desprezar outras abordagens da realidade, como o mito, a religião, o bom senso da vida cotidiana, a vida afetiva, a arte e a filosofia. A confiança total na ciência valoriza apenas a racionalidade científica, como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas que o homem se faz e a única capaz de resolver os problemas humanos. Maria L. de A. Aranha e Maria H.P. Martins. Temas de filosofia, 1992. Com base na ideia de “verdade absoluta”, explique a diferença entre mito e ciência. Considerando a expressão “confiança total na ciência”, explique como o próprio conhecimento científico pode se transformar em mito. 05. (UNESP) O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais dopensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.) A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do pensamento mítico. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1.D 2.B 3.D 4.C 5.E 6.C 7.A 8.A 9.D 10.D 11.E 12.D 13.A 14.A 15.D 16.D 17.C 18.E 19.A 20.A EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Filosofar pode ser considerado como a atitude de reflexão e de problematização das verdades incorporadas pelo senso comum e pelo pensamento dogmático, além da busca por critérios válidos de investigação das verdades e da origem das coisas para que os estudantes criem uma autonomia no seu pensamento e não sejam facilmente enganados e manipulados. 02. A Filosofia propriamente dita surge no momento em que o exercício do pensar torna- se objeto de reflexão, ou seja, no instante em que o homem retoma o significado de seus atos e dos seus pensamentos e nesta hora é chamado a pensar o já pensando. A atitude crítica na filosofia não faz afirmação apenas, mas se obriga a justificar o pensamento com argumentos que evita contradições e ambiguidades. Senso comum é aquele conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados ao qual, ao longo da experiência vivida acrescentamos seus resultados a partir do coletivo em que vivemos. Este conjunto de ideias permite-nos interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e agir. 03. A filosofia possui uma tendência à racionalidade, isto é, a razão é o seu critério de verdade. Já o mito não possui uma tendência à racionalidade, e sim uma tendência à irracionalidade, isto é, os deuses e as fantasias sobre coisas incontroláveis que não podemos acessar normalmente, definem o valor da crença. 04. A diferença entre mito e ciência consiste no modo a partir do qual cada um entende que se dá o processo do conhecimento acerca da realidade: enquanto no mito esse processo se fundamenta no sobrenatural e no dogmatismo, na ciência é a experimentação metódica e a formulação de teorias e leis gerais que possibilita o conhecimento. Com o aumento da importância da ciência como paradigma da vida humana e do universo, sobretudo a partir do século XIX, passou a predominar a ideia de que apenas o conhecimento científico possuiria legitimidade e seria capaz de fornecer uma verdade absoluta. No entanto, a confiança total na ciência pode levar a um processo contraditório no qual ocorre a mitificação da ciência, na medida em que busca-se explicações científicas para aspectos da condição humana que escapam ao entendimento da mesma e/ou entende-se as produções da ciência como verdades absolutas inquestionáveis, ou seja, como dogmas. 05. O pensamento mítico e o pensamento filosófico buscam responder a questionamentos acerca da natureza e do homem que muitas vezes coincidem, ou seja, ambos os pensamentos buscam o entendimento do mundo que cerca os indivíduos. No entanto, enquanto o pensamento mítico se baseia na atribuição de caráter sobrenatural às explicações fornecidas, o que dispensa o uso da postura crítica investigativa, o pensamento filosófico é fundamentado na aplicação do paradigma do raciocínio lógico na formulação das interpretações acerca dos questionamentos considerados, o que impõe o uso de uma perspectiva racional na observação dos fenômenos. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP .
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