Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
116 O tabagismo nos dias atuais Carlos Roberto Pagani Júnior* Mestre em Ciências - Universidade Federal de São Paulo - Unifesp Diretor da Faculdade Comunitária de Santa Bárbara e-mail: carlos.pagani@unianhanguera.edu.br Evandro Guimarães de Sousa Doutor em Radiologia - Universidade Federal do Rio de Janeiro Pesquisador do Centro de Reabilitação Pulmonar da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp e-mail: evansousa@hotmail.com Thais Costa de Sousa Pagani* Doutora em Ciências - Universidade Federal de São Paulo Assessora do Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional da Anhanguera Educacional e-mail: thais.sousa@unianhanguera.edu.br Resumo A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo como a principal causa de morte que pode ser prevenida em todo o mundo. Ações educativas são promovidas no Brasil com o intuito de reverter este quadro, seja mediante campanhas, eventos destinados à comunidade ou informações por meio da mídia, com utilização de materiais educativos e, também, em consultórios e clínicas com a participação de profissionais da área da saúde. Este estudo tem como objetivo principal alertar sobre a importância dos profissionais da saúde no combate ao tabagismo junto a seus pacientes. Foi realizada uma revisão bibliográfica pesquisando Lilacs, Medline e Scielo. Mediante os resultados encontrados na literatura pôde-se concluir que o os profissionais da área da saúde têm papel fundamental na prevenção e combate ao tabagismo porque podem influenciar positivamente na mudança de comportamento de seus pacientes que querem ou precisam parar de fumar. Palavras-chave: tabagismo, ações educativas, prevenção. Abstract The World Health Organization (OMS) considers smoking as the main cause of death that can be prevented in the whole world. Educative actions are promoted in Brazil with intention to revert this picture, using campaigns, events destined to the community or information by means of the media with educative materials and also by intervention of health professionals. The aim of this study is to alert on the importance of the health professionals in the combat to the smoking. A bibliographical revision was carried searching Lilacs, Medline and Scielo. By means of the results found in literature it could be concluded that the health professionals have basic paper in the prevention and combat to the smoking because they can influence positively in the change of behavior of its patients who want or need to stop smoke. Key-words: smoking, educative actions, prevent. Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo como a principal causa de morte que pode ser prevenida em todo o mundo. Estima-se que um terço da população mundial adulta, isto é, um bilhão e 200 milhões de pessoas, sejam fumantes. Destes, 800 milhões encontram-se em paises subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Pesquisas comprovam que, aproximadamente 47% de toda a população masculina e 12% da população feminina no mundo fumam. Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a mortalidade causada pelo uso do tabaco é de aproximadamente 4,9 milhões de óbitos anuais em todo o mundo, ou seja, 10 mil falecimentos por dia. Se o atual padrão de consumo do tabaco não for revertido, o número de mortes poderá alcançar a cifra de 10 milhões em 2020, sendo que a metade ocorrerá em indivíduos em idade produtiva, na faixa etária de 35 a 69 anos (INCA, 2007). As estratégias das grandes indústrias de cigarro superam as campanhas contra o tabagismo fazendo com *Bolsista FUNADESP 117 que haja cada vez mais fumantes, em especial entre os jovens e mulheres. (CAVALCANTE, 2005). No Brasil, 30 milhões de indivíduos com 15 ou mais anos de idade são fumantes regulares. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer, cerca de 370 mil jovens entre 10 e 14 anos e 2,3 milhões entre 15 e 18 anos, fumam com regularidade. No território nacional, as mortes causadas pelo uso do tabaco correspondem a 200 mil a cada ano (INCA, 2007). No Brasil, apesar do conhecimento sobre o tabagismo como fator de risco para várias doenças e a existência de política para o seu controle como uma legislação que proíbe o ato de fumar em alguns estabelecimentos, ainda não é o suficiente para combatê- lo. (CAVALCANTE, 2005). Ações educativas são promovidas no Brasil com o intuito de reverter este quadro, seja mediante campanhas, eventos destinados à comunidade ou informações por meio da mídia, com utilização de materiais educativos. Apesar de existência de tratamento para a cessação do tabagismo disponível, inclusive nos serviços públicos de saúde, parar de fumar requer mudanças no estilo de vida. O fumante precisa “querer” parar de fumar. É sabido que uma das estratégias eficazes para o combate ao tabagismo é o aconselhamento realizado por profissionais da área da saúde (CAVALCANTE, 2005). Na Reunião Informal da Organização Mundial da Saúde sobre as Organizações do Profissional da Saúde e Controle do Tabagismo, realizada em 2004, foi adotado o “Código de Práticas para a Organização de Profissionais de Saúde para o Controle do Tabagismo”, com o objetivo de contribuir ativamente para a redução do consumo do tabaco e incluir o controle do tabagismo na agenda da saúde pública em nível regional, nacional e global. Além disto, recomendou-se às instituições de saúde e centros educacionais a inclusão do controle do tabagismo em seus programas de educação continuada, de capacitação e de treinamento (INCA, 2007). Objetivos Este estudo tem como objetivo principal alertar sobre a importância dos profissionais da saúde no combate ao tabagismo junto a seus pacientes. Como objetivos específicos: - resgatar a história do tabagismo no Brasil e no mundo; - relacionar as principais doenças causadas pelo fumo; - expor os principais tratamentos existentes para auxílio no abandono do tabagismo. Materiais e Métodos Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre tabagismo, sua origem, doenças relacionadas, tratamento e prevenção mediante pesquisa no Lilacs, Scielo e Medline utilizando publicações dos últimos sete anos sobre o tema. Foram pesquisados também os sites do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e o site especializado Pneumoatual. Resultados Dados históricos sobre o tabagismo Dados obtidos sobre o uso do tabaco na América Central mostram que era utilizado pelos índios em rituais religiosos, pelo menos mil anos antes de Cristo e admite- se que os marinheiros da tripulação da esquadra de Cristóvão Colombo foram os primeiros europeus a terem contato com o tabaco ao aportarem nas Américas em 1492 (JARDIM & OLIVEIRA, 2007). Entretanto, pesquisas arqueológicas realizadas na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, sugerem que os índios daquela região utilizaram o tabaco mais de cem séculos A.C (MARTIN, NETO e CHATKIN, 2003). As plantas Nicotiana tabacum e a Nicotiana rustica são nativas nas Américas, especialmente desenvolvidas nos Andes, próximo ao Peru e Equador. O primeiro europeu a plantar tabaco na Europa foi Jean Nicot, embaixador francês em Portugal. Naquela ocasião, ele usava o tabaco para tratamento de enxaqueca de Catarina de Médici e do seu filho, Rei Carlos IX, em Paris (JARDIM & OLIVEIRA, 2007). Há indícios que o fumo era utilizado de várias formas: inalado, fumado, mastigado, ingerido. Parecia ser usado com fins terapêuticos porque também era bebido na forma de chá, esfregado na pele, usado como gotas oculares e em enemas. A fumaça era assoprada no rosto dos guerreiros antes das batalhas, nos campos antes do plantio e sobre a mulher antes do sexo, pois acreditava-se que o tabaco possuía ações medicinais, como inseticida e místicas. Foi utilizado como analgésico, como anti-séptico e para a cura de diversos problemas de saúde (MUSKA & DE KLERK, 2003). O consumo de cigarro no Brasil e no mundo:o papel da propaganda Até o começo do século XX fumar era um hábito 118 incomum, pois em 1900, o consumo per capita nos Estados Unidos era de 54 cigarros/pessoa/ano. Na época, gastava-se menos de uma libra esterlina com cigarros por pessoa a cada ano na Inglaterra. Por volta de 1918, com a industrialização do cigarro, aumentando a oferta a um custo mais baixo, verificou-se um grande aumento no consumo, determinando o início da epidemia do tabagismo, especialmente na primeira metade do século passado, atingindo o auge durantes os anos 50 e 60 (MARTIN, NETO e CHATKIN, 2003). No Brasil, em pesquisa domiciliar sobre o hábito do tabagismo realizado com mais de 200 mil habitantes distribuídos em 107 cidades brasileiras, pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) em 2002, verificou-se que 51,5 % dos brasileiros já fizeram uso alguma vez do tabaco em suas vidas. Das pessoas acima de 35 anos, 24% delas fumam regularmente, representadas por 28% dos homens e 20% das mulheres (JARDIM & OLIVEIRA, 2007). É interessante ressaltar que até a década de 60, pensava-se ser o tabaco mais nocivo para os homens. Entretanto, nas novas gerações de tabagistas verificou- se que as mulheres são igualmente, ou mais, suscetíveis aos malefícios do fumo, devido às peculiaridades próprias do sexo, como a gestação e o uso da pílula anticoncepcional (INCA, 2007). Um fato importante a ser destacado é que estas mulheres iniciaram o tabagismo com mais intensidade a partir da Segunda Grande Guerra, com o advento dos movimentos feministas e da propaganda maciça feita pelas estrelas do cinema americano. Com uma participação cada vez maior no mercado de trabalho, a mulher passou a ter mais poder, tanto aquisitivo, quanto de decisão dentro da própria sociedade e, ao ocupar espaços que, outrora eram de domínio do sexo masculino, adquiriu o hábito de fumar em publico, um privilégio, até então dos homens (INCA, 2007). Devido a todas estas mudanças, a mulher tornou- se um dos alvos prediletos da publicidade da indústria tabaqueira, que passou a divulgar o cigarro como símbolo de emancipação e independência, com o objetivo de aumentar o número de fumantes femininas. Um estudo da Organização Pan-americana de Saúde, realizado em 1992, revelou que no Brasil, apesar das restrições deste tipo de propaganda, houve um aumento de 20% para 51% no número de mulheres fumantes, em um período de apenas quinze anos (INCA, 2007). Além das mulheres, o público jovem também vem apresentando aumento no consumo do tabaco. O Estudo Global do Tabagismo entre os Jovens, realizado pela Organização Mundial da Saúde em 46 países, revelou um quadro alarmante de dependência prematura. Em algumas áreas da Polônia, de Zimbábue e da China, crianças de 10 anos de idade já estão dependentes do tabaco. Os adolescentes globalizados em Nova Iorque, Lagos e Pequim são considerados alvos fáceis pelas multinacionais do tabaco, pois eles tendem a consumir o tabaco em larga escala (INCA, 2007). A propaganda de produtos derivados do tabaco junto ao público jovem é essencial para que a indústria tabaqueira consiga manter e ampliar o mercado de consumo. O tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens, no mundo e no Brasil, e isso se deve às facilidades e estímulos para obtenção do produto, entre eles o baixo custo. Além disto, o tabagismo encontra-se associado às imagens de beleza, sucesso, liberdade, poder e inteligência almejados por este grupo etário. A divulgação dessas idéias ao longo dos anos tornou o hábito de fumar um comportamento socialmente aceitável e até positivo. A prova disso é que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos de idade. Seduzir os jovens faz parte de uma estratégia adotada por todas as companhias de tabaco visando reabastecer as fileiras daqueles que deixam de fumar ou morrem, por outros consumidores que permanecerão com este hábito por vários anos (INCA, 2007). Doenças relacionadas ao tabagismo A fumaça do cigarro contém mais de 4700 substâncias diferentes que podem causar danos ao organismo, distribuídas em uma fase gasosa e outra particulada. Aproximadamente 500 componentes químicos são encontrados na fase gasosa do cigarro, tais como benzeno, amônia, tolueno, acetaldeído, acroleína, dentre outros. A fase particulada contém mais de 3500 elementos, como alcatrão, nicotina, colesterol, fenol, acido fórmico, ácido acético, chumbo, cádmio, zinco, níquel, substâncias radioativas, etc. Destas, as seguintes merecem ser destacadas: - o alcatrão é constituído por diversas substâncias comprovadamente carcinogênicas, destacando-se os hidrocarbonetos policíclicos, as aminas aromáticas e nitrosaminas. - a nicotina é a responsável pela dependência química do fumante. A nicotina sob forma alcalina encontrada no tabaco de charutos e cachimbos é absorvida pela mucosa bucal, entretanto a nicotina ácida contida no fumo dos cigarros deve ser inalada para absorção nos pulmões dos tabagistas. - o monóxido de carbono, devido a sua grande afinidade com a hemoglobina, interfere no 119 transporte do oxigênio para os tecidos. - o óxido de nitrogênio é responsável por danos alveolares ocasionando enfisema. - a amônia representa um agente irritante das vias aéreas - o urânio, polônio210, carbono14, rádio226, rádio228 e tório228 são elementos radioativos encontrados na combustão do fumo. - outros componentes encontrados são representados pelos metais pesados, cianureto, inseticidas, etc (CARVALHO, 2000; VILLANOVA, 2001). Sabe-se que o fumo é responsável ou está associado a mais de 50 problemas de saúde, tais como: arteriosclerose, infarto agudo do miocárdio, angina pectoris, aneurisma da aorta, acidente vascular cerebral, doença vascular obstrutiva periférica , doença pulmonar obstrutiva crônica, tromboangeíte obliterante, asma, bronquiolites, infecções respiratórias, úlcera péptica, esofagite de refluxo, câncer de pulmão, câncer de língua, câncer de boca, câncer de faringe, câncer de laringe, câncer de esôfago, câncer de estômago, câncer de pâncreas, câncer colorretal, câncer de cabeça e pescoço, câncer de bexiga, câncer de rim, câncer de próstata, câncer de colo de útero, câncer de mama, leucemia, envelhecimento precoce da pele, psoríase, osteoporose, catarata, morte súbita, aborto, placente prévia, descolamento prematura da placenta, prematuridade, defeitos congênitos, baixo peso ao nascer, infertilidade, ruptura prematura das membranas, aumento da mortalidade perinatal, menopausa precoce, dismenorréia, impotência sexual, redução da função pulmonar na criança, leucoplasia, gengivite, periodontite, dentes amarelados e dedos manchados (INCA, 2007; CARVALHO, 2000; VILLANOVA, 2001). Destes problemas acima relacionados, merecem ser destacados os seguintes: 1. Câncer: o tabaco constitui o mais importante fator isolado prevenível do câncer, responsável por cerca de 30% de todas as mortes devidas à neoplasia maligna. Está relacionado com 90% dos casos de câncer de pulmão, pois no fumo são identificados de 60 a 70 componentes cancerígenos. Cerca de 90% dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço também são fumantes. Sabe-se que a probabilidade de desenvolver neoplasias malignas depende do tipo e da quantidade do tabaco consumido pelo individuo, com risco de 4 a 15 vezes maior do que a pessoa que não fuma (JARDIM & OLIVEIRA, 2007; INCA, 2007; VILLANOVA, 2001). 2. Doenças vasculares: aproximadamente 25% dos casos de mortes por moléstias cardiovasculares estão associadas ao tabagismo, pois a nicotina é responsável pelo aumento da liberação de catecolaminas e o desenvolvimento de obstrução vascular e, o monóxido de carbono reduz a oferta de oxigênio para os tecidos. (JARDIM & OLIVEIRA, 2007; CARVALHO, 2000; VILLANOVA, 2001). Cerca de um terço à metade dos casos de infarto do miocárdio é devido ao uso do tabaco. Um quarto dos acidentesvasculares cerebrais, na faixa etária de 50 a 70 anos, está relacionado com o tabagismo. O risco relativo de morte em portadores de aneurisma da aorta é 7 vezes maior e o de vasculopatias periféricas, 15 vezes mais em fumantes. Dos pacientes portadores de insuficiência vascular periférica, 90% são tabagistas. A incidência de casos de morte súbita em fumantes, de mais de 20 cigarros por dia, é 5 vezes maior do que aqueles da mesma faixa etária que não fumam. 3. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): cerca de 85% a 90% dos portadores de DPOC são fumantes. O numero de pacientes com esta doença têm aumentado em proporções alarmantes. Nos últimos 30 anos, a freqüência aumentou na ordem de 600%. O tabaco possui diversas substâncias irritantes que desencadeiam uma resposta inflamatória crônica dos brônquios provocando uma limitação ao fluxo aéreo. Além disto, provoca um desequilíbrio protease- antiprotease responsável pela destruição do parênquima pulmonar (JARDIM & OLIVEIRA, 2007; VILLANOVA, 2001). 4. Doenças do aparelho digestivo: o fumo e o álcool constituem os principais fatores de risco para ocorrência de câncer de esôfago, estômago, pâncreas e cólon, úlcera péptica e refluxo gastresofágico, pois parte dos produtos proveniente da combustão do tabaco é deglutida e absorvida pela mucosa digestiva. Cerca de 30% dos óbitos por câncer de estômago ocorrem em fumantes e a incidência de neoplasia maligna de pâncreas corresponde ao dobro dos não fumantes (JARDIM & OLIVEIRA, 2007; INCA, 2007; VILLANOVA, 2001). 6. Nas mulheres: o hábito de fumar durante a gestação, diminui o aporte de oxigênio e nutrientes aos tecidos do feto, devido à ação vasoconstritora provocada pela nicotina e o aumento dos níveis 120 de carboxihemoglobina, aumentando os casos de aborto, prematuridade, baixo peso ao nascer, defeitos congênitos, diminuição do nível intelectual, morte perinatal, neonatal e súbita infantil (INCA, 2007). 7. Aparelho gênito-urinário: os fumantes têm de 2 a 4 mais chances de desenvolver câncer de bexiga e rim devido à eliminação de elementos cancerígenos por via urinária. O fumo por aumentar os níveis sanguíneos de androgênios por seu efeito antiestrogênico, está relacionado com o câncer de próstata (INCA, 2007). 8. Menor desempenho sexual masculino: ocorre devido às alterações estruturais na parede dos vasos sanguíneos do pênis comprometendo a capacidade erétil (INCA, 2007). 9. Fumantes passivos: as pessoas que convivem com fumantes são mais propensas a desenvolver otites, sinusites, amigdalites e pneumonias, além de apresentarem piora das crises de asma e ter a sua função pulmonar reduzida. A mortalidade por câncer de pulmão nas mulheres não fumantes cujos maridos são tabagistas é quase o dobro do apurado naquelas cujos maridos não fumavam. Outros efeitos do tabagismo passivo incluem irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaléia, piora de problemas alérgicos e cardíacos (JARDIM & OLIVEIRA, 2007; VILLANOVA, 2001). Principais medicamentos no combate ao tabagismo Os medicamentos utilizados para o combate ao tabagismo são divididos em nicotínicos e não nicotínicos (JARDIM & OLIVEIRA, 2007): - Medicamentos nicotínicos: Terapia de Reposição da nicotina (TRN) Estes medicamentos existem em forma de goma de mascar, adesivos e spray nasal. No Brasil, estão disponíveis para a população a goma de mascar e os adesivos: a) goma de mascar: a goma é apresentada na forma de tabletes mastigáveis e contêm 2 mg de nicotina/ unidade. O paciente deve evitar a ingestão de líquidos enquanto mastiga a goma, para não diminuir a absorção de nicotina. b) adesivo de nicotina: os adesivos são encontrados no mercado em dosagens de 21, 14 ou 7 mg/unidade de nicotina. Eles são colocados sobre a pele liberando a nicotina de forma lenta e constante por 24 horas. (BALBANI, & MANTOVANI, 2005) A TRN deve ser realizada sob orientação médica. Assim que iniciada, o paciente deve interromper imediatamente o uso de cigarro. É importante ressaltar que esta terapia não evita os sintomas da síndrome da abstinência em fumantes, apenas é capaz de abrandar estes sintomas. Fumantes que já tentaram interromper o tabagismo anteriormente e aqueles que consomem acima de 15 cigarros por dia são os que mais se beneficiam com este tratamento (JARDIM & OLIVEIRA, 2007). - Medicamentos não nicotínicos: são os antidepressivos bupropiona e nortriptilina, o anti- hipertensivo clonidina, todos disponíveis no Brasil. Dentre estes medicamentos destaca-se a bupropiona: é um antidepressivo que é capaz de diminuir a vontade de fumar, se usado por fumante e, por isso, atualmente é utilizada para o tratamento antitabagismo. O mecanismo não é totalmente conhecido, mas já se sabe que a bupropiona pode aumentar níveis de dopamina, diminuindo assim a vontade de fumar. Outra hipótese é a de que ela diminui a ativação de neurônios noradrenérgicos, diminuindo os sintomas da síndrome da abstinência. Pacientes com sintomas antidepressivos que consome acima de 15 cigarros por dia podem se beneficiar deste tratamento (JARDIM & OLIVEIRA, 2007). Outra novidade lançada recentemente no mercado nacional é uma medicação denominada vareniclina, que foi desenvolvida exclusivamente para o tratamento do tabagismo. Este medicamento é capaz de bloquear a ação na nicotina impedindo que ela produza aumento nos níveis de dopamina e, com isso, impede o cigarro de provocar a sensação de prazer habitualmente experimentada por quem fuma (EDITORIA PNEUMOATUAL, 2007). Tratamentos não farmacológicos no combate ao tabagismo: o papel dos programas educativos e do profissional da saúde O Instituto Nacional do Câncer (INCA) desenvolve o Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer com intuito de gerenciamento e desenvolvimento de ações do Programa nas áreas da educação legislação e economia. “Dentre estas ações estão as ações educativas que são divididas em ações pontuais, que são as campanhas de comunicação de massa, como as desenvolvidas durante as datas comemorativas do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio), Dia Nacional de Combate ao Fumo 121 (29 de agosto) e Dia Nacional de Combate ao Câncer (27 de novembro) e ações contínuas, que utilizam unidades de saúde, escolas e ambientes de trabalho como canais para atingir os públicos-alvo.” (INCA, 2007). Estudos apontam que os pacientes desejam que os seus médicos os aconselhem a parar de fumar. Por isso, cada vez mais tem sido demonstrado a importância do aconselhamento médico durante as consultas e que esses profissionais tenham a percepção da diferença que esta abordagem pode trazer para a decisão de abandonar o fumo por parte dos pacientes. Esta conduta deve ser estendida aos demais profissionais da área de saúde como enfermeiros e fisioterapeutas que devem introduzir esta prática durante as consultas, procedimentos, sessões de tratamento. Estes profissionais, mesmo abordando os pacientes de forma breve sobre os malefícios do tabagismo e a importância da cessação, podem ter papel decisivo na mudança de comportamento dos seus pacientes. (INCA, 2007) Ao receber um paciente fumante no consultório ou na clínica, o profissional da área da saúde pode avaliar o grau de dependência deste paciente à nicotina, podendo utilizar a escala de Fagerström (Tabela 1): Após a aplicação dos questionários, a somatória dos pontos indica o grau de dependência do paciente à nicotina como mostra a tabela 2. É importante ressaltar que uma soma acima de seis pontos indica que, provavelmente, o paciente sentirá desconforto (síndrome da abstinência) se deixar de fumar. A abordagem cognitivo-comportamental é um tipo de terapia que ajuda o fumante na identificação de situações de risco para recaídas e a utilizar técnicas que possam auxiliá-lo a se controlar e a modificar seu comportamento.(PRESMAN, CARNEIRO e GIGLIOTTI, 2005).Essa mudança de comportamento é um processo dinâmico, e por isso foi criado um modelo das etapas que o fumante deve passar até abandonar o fumo. São elas: “Pré-contemplação: o fumante não considera a possibilidade de uma mudança de comportamento e nem se preocupa com a questão; ele não considera a possibilidade de deixar de fumar nos próximos seis meses; Contemplação: admite que o tabagismo é um problema, pretende parar nos próximos seis meses, mas ainda é ambivalente; Ação: pretende efetivamente parar de fumar e neste período já são tomadas medidas para livrar-se do fumo, inclusive na mudança de condições ambientais; Manutenção: é uma fase que requer um trabalho contínuo por parte do fumante e do agente de saúde envolvido no processo, para diminuir a chance de recaída. Podem estar envolvidas mudanças de comportamento da pessoa, para que esta se mantenha sem fumar (como deixar de tomar café e iniciar exercício físico, por exemplo). A idéia por detrás deste esquema é que o indivíduo sempre seja estimulado a passar de um estágio a outro, focado no objetivo de cessar de fumar.”(JARDIM & OLIVEIRA, 2007). O método denominado PAPA (pergunte, aconselhe, prepare, acompanhe) consiste em uma abordagem de no máximo 10 minutos que pode ser usado por qualquer profissional da área da saúde durante consultas ou procedimentos com seus pacientes: - Pergunte aos pacientes se já pensaram em parar de fumar. Se a resposta for positiva, é preciso investigar a história tabágica destes pacientes incluindo outras tentativas de parar de fumar. - Aconselhe os pacientes a abandonar o tabagismo dizendo, como profissional da área da 122 saúde, o quanto se importa com a saúde deles e o quanto é importante que deixem de fumar. É fundamental que o paciente sinta que o profissional se importa com ele. - Prepare os fumantes para deixar de fumar, sugerindo que os mesmos marquem uma data próxima que possa coincidir com uma data que seja importante para eles, como por exemplo, a data de aniversário. É fundamental que eles sejam estimulados a praticar atividades físicas para reduzir o estresse e adquirir hábitos saudáveis. Além disso, é importante que o profissional ofereça leitura de material de auto-ajuda, oriente a exclusão de fatores que possam desencadear a vontade de fumar (ingestão de café ou bebidas alcoólicas, evitar situações de estresse, por exemplo) e explicar os sintomas da abstinência e as estratégias que podem ser utilizadas para controlar a vontade de fumar como tomar água e marcar chicletes. Acima de tudo, o profissional deve ser colocar ä disposição dos fumantes para auxiliá-los. - Acompanhe o processo em que os pacientes estão parando de fumar, marcando consultas para discussão de problemas enfrentados evitando recaídas ou para acompanhar o progresso destes pacientes. É importante que os retornos sejam marcados nas duas primeiras semanas após a cessação, porque a síndrome da abstinência é mais intensa neste período. Esta abordagem é denominada pelo INCA como abordagem mínima ao paciente fumante, e como citado anteriormente, pode e deve ser realizada por qualquer profissional da área da saúde. Além disso, segundo o programa de controle do tabagismo e outros fatores de risco de câncer (INCA, 2007), existe a abordagem intensiva ou específica realizada em ambulatório especial para atender os fumantes que desejam parar de fumar. Este atendimento pode ser realizado de forma individual ou em grupo, por meio de sessões comandadas por dois profissionais. Após quatro sessões seguidas, são programadas outras para acompanhamento destes fumantes para prevenção de recaídas até completar um ano sem fumar. Depois deste período, o paciente é considerado ex-fumante. Conclusão O tabagismo é considerado um importante problema de saúde pública mundial que pode ser prevenido mediante ações específicas. A dependência à nicotina é uma doença séria e de difícil solução, uma vez que, ao contrário das demais drogas é socialmente aceita. Apesar de serem conhecidos os malefícios do tabagismo e as doenças que podem ser ocasionadas pelo ato de fumar, ainda são incipientes as campanhas anti-tabágicas frente à propaganda das indústrias de cigarro. Os profissionais da área da saúde têm papel fundamental na prevenção e combate ao tabagismo porque podem influenciar positivamente na mudança de comportamento dos indivíduos que querem ou precisam parar de fumar. Referências Bibliográficas BALBANI, Aracy Pereira Silveira; MONTOVANI, Jair Cortez; CARVALHO, Lidia Raquel de. Smoking, smoking cessation and otorhinolaryngologists in the state of Sao Paulo, Brazil. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 72, n. 1, 2006. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: http://www.inca.gov.br. Acessado em: 10 de julho de 2007. CARVALHO, JT. Componentes químicos do fumo do tabaco. In: ____ O Tabagismo. Visto sob vários aspectos. Rio de Janeiro. MEDSI, 2000; 210-13. CAVALCANTE, Tânia Maria. Tobacco control in Brazil: advances and challenges. Rev. Psiquiatr. Clín., São Paulo, v. 32, n. 5, 2005. EDITORIA PNEUMOATUAL. Vareniclina: uma nova opção para o tratamento do tabagismo. Pneumoatual. Disponível em http:// www.pneumoatual.com.br. Acessado em: 10 de julho de 2007. JARDIM, JR; OLIVEIRA, JCA. Tabagismo. Pneumoatual. Disponível em http:// www.pneumoatual.com.br. Acessado em: 10 de julho de 2007. MARTIN, EC; NETO, AC; CHATKIN, JM. O tabagismo e a formação médica. Rev Bras Educ Méd. v. 27, n. 3, 2003. MUSKA, AW; DE KLERK, NH. History of tobacco and health. Respirology v. 8, 2003. PRESMAN, Sabrina; CARNEIRO, Elizabeth; GIGLIOTTI, Analice. Non-pharmacological treatments for smoking. Rev. Psiquiatr. Clín., São Paulo, v. 32, n. 5, 2005. VILLANOVA, CAC. Tabagismo como fator de risco. In: Silva LCC. Condutas em Pneumologia. Volume I. Rio de Janeiro. Revinter, 2001: 210-3. Recebido em 15 de julho de 2007 e aprovado em 13 de agosto de 2007.
Compartilhar