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Análise da vantagem competitiva – Resumo das aulas Aula 1 TEMA 1 – TEMAS ESTRATÉGICOS Quando falamos em temas estratégicos, nos referimos às direções gerais que definimos de antemão ao realizar o planejamento estratégico. Kaplan e Norton (1996) definem os temas estratégicos como os blocos de construção da estratégia, que criam um modelo microeconômico de uma dimensão da estratégia. Esses temas representam a rota que a organização pretende seguir e possibilitam a ela concentrar seus esforços nos objetivos considerados prioritários para a consecução da estratégia, estando muito alinhados à visão. Ao defini-los, a empresa pode estabelecer os mercados estratégicos que quer conquistar, os atributos necessários e os processos internos que precisam ser afetados para isso. Você já deve ter percebido que “formular estratégias é uma questão de sobrevivência, considerando principalmente as variações constantes e sem controle que ocorrem no ambiente externo” (Martins e Guindani, 2013, p. 14). Segundo esses autores, “a habilidade de perceber e entender mudanças no ambiente externo e de realizar adaptações internas para responder a essas mudanças é o que chamamos de habilidade estratégica”. 1.1 ESTRATÉGIA Estratégia é um tema que gera muita discussão e diferentes conceituações. Podemos conceituá-la como um padrão de decisões dentro de uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos e metas, e que produz suas principais políticas e planos para atingir seus objetivos (Andrews, 2001). A estratégia deve ser capaz de criar posições competitivas viáveis e sustentáveis, resultando no diferencial competitivo organizacional (Porter, 1999). Existem várias maneiras de classificar as estratégias. A seguir, veremos algumas e observaremos que uma delas classifica as estratégias em deliberadas ou emergentes. As deliberadas ocorrem a partir das intenções plenamente realizadas, de um planejamento a priori. Já as estratégias emergentes ocorrem a partir de ações que não foram planejadas previamente, mas foram necessárias e se tornaram padrões não expressamente pretendidos (Mintzberg et al., 2010). Essas últimas têm maior flexibilidade e autonomia de ação, normalmente aparecendo como resposta a uma oportunidade ou ameaça do ambiente (Luce; Borges Júnior, 2000). Porter (2004) traz a classificação de estratégia corporativa, estratégia empresarial e estratégia funcional. A estratégia corporativa busca sinergia entre diferentes unidades estratégicas de negócios de uma corporação ou conglomerado. Assim, pretende definir em que negócios a corporação deve atuar e como deve administrar o conjunto de negócios. A estratégia empresarial ou de negócios detalha as ações a serem adotadas para desenvolver ou manter uma vantagem competitiva. Ela serve de base para a decisão de se manter como está (estabilidade), expandir as atividades (crescer) ou encerrar algumas atividades (diminuir/encolher). Por fim, a estratégia funcional dá suporte, em cada função organizacional, à estratégia empresarial. Assim, cada área funcional se responsabiliza por algumas ações que contribuirão parcialmente para que os objetivos da organização sejam atingidos. São exemplos de estratégias funcionais: finanças, marketing, pesquisa e desenvolvimento (P D), produção e recursos humanos (RH). Porter (2004) defende que a organização deve adotar um dos seguintes perfis estratégicos para ter lucros superiores à média do seu setor: liderança de custo, diferenciação ou enfoque. Fernandes e Berton (2012) explicam que, se ela optar pela liderança em custo, deverá definir um conjunto de políticas visando à redução dos custos de operação, buscando diminuir seus custos em atividades que não agreguem valor, otimizando sua capacidade produtiva, trabalhando a curva de experiência e utilizando o mais racionalmente possível os fatores de produção. Assim, a organização busca a liderança por meio da redução de preços, a partir da otimização de seus custos. Já na estratégia de diferenciação, a organização busca oferecer um produto ou serviço considerado único no mercado. Isso pode ser conseguido por meio do posicionamento de marca, de fatores tecnológicos, dispositivos únicos ou por meio dos serviços ao cliente. Embora essa estratégia permita um rápido crescimento de receitas, também é facilmente imitada por concorrentes, o que pode fazer com que aumentem os custos para se manter na liderança. Por fim, a estratégia de enfoque (ou nicho) busca definir um grupo comprador, um segmento de linha de produtos ou um mercado geográfico, de determinada faixa de renda ou faixa etária para segmentar o mercado, descobrir um nicho e atender um seleto grupo de consumidores. O objetivo é conhecer e assim atender melhor às necessidades desses clientes. Independentemente da estratégia escolhida, o objetivo é “levar a organização a atingir e sustentar a vantagem competitiva sobre seus concorrentes” (Martins e Guindani, 2013, p. 39). Segundo os autores, embora o termo vantagem competitiva tenha sido utilizado inicialmente por Ansoff em sua obra de 1977, foi Porter quem o popularizou. Para Porter, vantagem competitiva pode ser explicada como o objetivo central da organização, sendo “sinônimo de sucesso estratégico ou, como o próprio autor definiu, a conquista de uma posição que possibilitaria ganhos acima da média” (Martins e Guindani, 2013, p. 39). A vantagem competitiva deve ser sustentável, resultando da habilidade da organização de lidar melhor que seus rivais, a partir das cinco forças competitivas (Porter, 2004), conforme veremos mais à frente. A sustentabilidade da vantagem competitiva, segundo McGrath et al. (1995), depende da possibilidade de não replicação estratégica, ou seja, da impossibilidade de os concorrentes copiarem ou replicarem o conjunto de suas práticas. 1.2 OBJETIVOS E TÁTICAS Quinn (2006) apresenta o conceito de metas ou objetivos, afirmando que são decisões norteadoras dos resultados que precisam ser alcançados. Quando afetam a direção e a viabilidade total da entidade, são chamadas de metas estratégicas. Muitas organizações enfatizam a definição de objetivos, além da missão, da visão e dos valores. Objetivos são afirmações de resultados específicos que devem ser atingidos e frequentemente são expressos em termos financeiros (Johnson et al., 2011). Podem ser as vendas desejadas ou os níveis de lucro, as taxas de crescimento, os níveis de dividendos ou a avaliação de ações. Aumenta o número de organizações preocupadas não só com o aspecto financeiro, mas também objetivos ambientais e sociais relacionados à responsabilidade corporativa com relação à sociedade como um todo. Por outro lado, táticas são atitudes adaptáveis, de curta duração, visando a um realinhamento das ações de modo a atingir objetivos dentro do escopo estratégico (Quinn, 2006). 1.3 STAKEHOLDERS Outro conceito importante para a compreensão da estratégia e das vantagens competitivas é o de stakeholders. O termo foi utilizado pela primeira vez por Robert E. Freeman no livro Strategic Management: a Stakeholder Approach, em 1984. A tradução é partes interessadas ou, como definiu Freeman na ocasião, elementos essenciais no planejamento estratégico de negócios. É o conjunto de todos os públicos com quem a organização interage e que são importantes para ela, de alguma maneira. Wood (1990) os classificou em primários e secundários. Segundo a autora, os primários são: proprietários, clientes, fornecedores, empregados e a concorrência, conforme mostra a Figura 1 a seguir. Os stakeholders secundários são: governos internos, governos externos, mídia, comunidade, organizações sem fins lucrativos, analistas financeiros, instituições financeiras, entre outros, conforme a Figura 2 a seguir. Outra forma de classificar os stakeholders é separando-os em externos (atuam em um ambiente fora daorganização – por exemplo, sociedade, compradores, fornecedores, concorrentes, órgãos governamentais, fiscalização, agências reguladoras, sindicatos, ambientalistas, comunidade, sociedade, mídia, vizinhança) e internos (atuam dentro da organização – por exemplo, colaboradores, subcontratados, terceirizados). TEMA 2 – MISSÃO Agora que já temos mais clareza dos principais temas estratégicos que darão base para nosso estudo, vamos aprofundar cada um dos conceitos, iniciando pela missão. Ela é fundamental para as organizações terem clareza sobre o porquê da sua existência e atividade. Para isso, é preciso saber responder com clareza à seguinte pergunta: qual é o diferencial que seu serviço ou produto traz para seus clientes? É a resposta a essa pergunta que dará sentido às atividades diárias da organização. Segundo Wright, Kroll e Parnell (2000, p. 95), “uma empresa com um senso agudo de sua própria identidade tem muito mais chances de obter sucesso do que uma outra que não tenha um entendimento claro de sua razão de existir”. Por isso, o esforço no sentido de conhecer a fundo seu negócio, bem como suas forças e fraquezas, é válido para definir e delimitar a atuação organizacional. De acordo com Scott et al. (1998), a declaração de missão deve ser capaz de distinguir uma empresa de outras, tornando claro aquilo que lhe é exclusivo, servindo como ferramenta-guia para os empregados. 2.1 CUIDADOS NA ELABORAÇÃO DA MISSÃO O enunciado da missão deve ser “elaborado de maneira cuidadosa, evitando que ela seja circunstancial ou ambígua” (Tavares, 2000, p. 183). Segundo Fernandes e Berton (2012, p. 143), por possuir caráter inspirador e motivacional, pode ser conveniente expressar a missão de forma criativa, com o uso de uma metáfora que provoque a imaginação das pessoas, que mostre como, de alguma forma, elas contribuem para a construção de algo grande, de um propósito para o qual vale a pena emprenharem seu tempo e esforços. Os mesmos autores afirmam que o tom da missão dependerá da própria cultura organizacional, podendo ser mais tradicional e direto. Ao ler a missão, o público deve conseguir identificar o que a empresa faz e os colaboradores devem compreender o que fazem, de modo a uniformizar os esforços de todos para o que é fundamental para a organização (Fernandes e Berton, 2012). Alguns cuidados a mais devem ser tomados ao elaborar a missão. Ela “deve ser o mais perene possível”, por isso não deve se “prender a produtos ou serviços específicos ou fazer menção a situações transitórias” (Fernandes e Berton, 2012, p. 146). Ainda assim, pode ser necessário repensar a missão depois de um período de existência, devido a fatores ambientais ou internos, ou ainda pelo desejo de entrar em novos mercados. TEMA 3 – VISÃO Muitas empresas, além da definição da missão, trabalham também com o conceito de visão – que é praticamente ser capaz de responder à pergunta: aonde a organização quer chegar? Você pode estar se perguntando se visão é o mesmo que meta. A resposta é não. Enquanto as metas são definidas para serem cumpridas em determinados prazos, a visão é definida como algo a ser perseguido por todas as pessoas que atuam na organização, mas que não pode ser delimitada em termos temporais – ou seja, não é algo com data para acontecer, mas algo que define os rumos estratégicos da organização. OBS. MISSÃO - Para isso, é preciso saber responder com clareza à seguinte pergunta: qual é o diferencial que seu serviço ou produto traz para seus clientes? VISÃO - Responder à pergunta: aonde a organização quer chegar? Tal qual a missão, também a visão pode mudar com o tempo. Collins e Porras (1998) sugerem que o horizonte de tempo deve ser de algo entre 10 e 30 anos. Do contrário, uma visão com horizonte de tempo mais curto pode se mostrar pouco desafiadora. 3.1 DECLARAÇÃO DE VISÃO A declaração da visão organizacional se preocupa com o estado futuro desejado, devendo entusiasmar, conquistar engajamento e melhorar o desempenho por meio do comprometimento a um propósito comum (Johnson et al., 2011). Ela serve para comunicar aos stakeholders externos uma imagem clara do que é a organização como um todo. Além disso, provê uma espécie de disciplina à atuação organizacional no sentido de evitar empreender em atividades inadequadas ou assumir custos desnecessários, à medida que aponta para a organização a direção em que ela deve seguir. Fernandes e Berton (2012,p. 147) afirmam que “a visão envolve os desejos de onde se quer chegar, compreendendo temas como valores, desejos, vontades, sonhos e ambição”. TEMA 4 – VALORES Enquanto valores pessoais são indicadores das motivações do indivíduo, valores organizacionais se referem às percepções compartilhadas pelos colaboradores de uma organização. Tamayo e Borges (2001, p. 343) propuseram que valores organizacionais são “princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a condutas ou metas organizacionais desejáveis, que orientam a vida da organização e estão a serviço de interesses individuais, coletivos ou ambos”. Segundo Meglino e Ravlin (1998), valores têm a função de integrar a organização internamente e de adaptá-la ao ambiente externo. Tamayo e Gondim (1996) defendem que há três aspectos básicos relacionados aos valores organizacionais: • Cognitivo: “representam respostas cognitivas prontas e privilegiadas a problemas organizacionais”. • Motivacional: expressam interesses e metas fundamentais. • Organização hierárquica: expressam preferências por determinadas condutas, metas ou estratégias, em detrimento de outras. Collins e Porras (1998) afirmam que o sucesso duradouro de várias corporações americanas, como Disney, General Electric ou 3M, pode ser atribuído, pelo menos em parte, à sua clareza nas declarações de propósito. Para que sejam declarações bem-sucedidas, é preciso que as organizações vivam na prática o que declaram. 4.1 TIPOS MOTIVACIONAIS Oliveira e Tamayo (2004) propuseram a seguinte tipologia para os valores organizacionais, tendo como base a relação destes com valores pessoais básicos do indivíduo, segundo Schwartz (1992), conforme o Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Tipologia dos valores organizacionais TEMA 5 – POLÍTICAS E PRINCÍPIOS Como acontece com vários outros termos, também para as políticas organizacionais é difícil chegar a um conceito que seja unanimidade entre os pesquisadores. Giuzi (1987, p. 6) afirma que “políticas organizacionais são guias orientadoras da ação administrativa para o atingimento das metas e objetivos estabelecidos para a organização”. Owens (1954, p. 3) as vê como “princípios para a conduta de uma empresa, um curso geral de ação seguido por pessoas que são responsáveis pela administração do negócio e relações com os stakeholders”. Quinn (2006) defende que as políticas estabelecem regras ou diretrizes que expressam os limites dentro dos quais a ação deve ocorrer – regras estas que podem tomar a forma de decisões contingentes para que haja a resolução de conflitos entre os objetivos específicos. Já os programas expressam como os objetivos serão alcançados, ou seja, estabelecem a sequência de ações necessárias para que sejam atingidos. Buskirk (1971) lista cinco funções básicas das políticas empresariais no processo decisório: uniformizar o comportamento na organização; dar continuidade às decisões; funcionar como um sistema de comunicação; facilitar na tomada de decisão; e proteger a organização contra pressões imediatas. 5.1 PRINCÍPIOS Acabamos de ver os principais componentes dos chamados princípios ou propósitos organizacionais que são os alicerces da organização: missão, visão e valores. Estes devem ser entendidos como enunciados da organização que representam o modo de pensar sua relação com seus diversos públicos. Princípios são exatamente os tópicos que não estamos dispostosa mudar, mesmo em um tempo de grande transformação. “Eles podem vir descritos como uma carta de princípios, um credo ou uma profissão de fé, declarando quais são as crenças básicas da organização” (Costa, 2007, p. 38). Além desses princípios, também os objetivos e as metas são importantes para definir como a organização alcançará sua visão de futuro. Esse conjunto de definições e declarações ajuda a organização a ter sua identidade reconhecida. Aula 2 TEMA 1 – DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO E ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO O diagnóstico, segundo Oliveira (2007, p. 64), correspondente a uma análise estratégica apresenta algumas premissas básicas: • Deve considerar o ambiente no qual está inserida a organização e suas variáveis relevantes. • Esse ambiente proporcionará à organização oportunidades que deverão ser usufruídas e ameaças que deverão ser evitadas. • A organização deve ter pleno conhecimento de seus pontos fortes e fracos para enfrentar essa situação ambiental. • O processo de análise interna e externa deve ser integrado, contínuo e sistêmico. Quando se refere ao planejamento estratégico e à administração, o ambiente tem sido dividido em dois níveis: externo, geral ou macroambiente, em que se avaliam as grandes forças externas que influenciam a organização; e interno, com questões ligadas diretamente às operações da organização. Para Certo e Peter (1993), analisar o ambiente organizacional é monitorá-lo para identificar riscos e oportunidades, tanto presentes quanto futuros, que possam influenciar a capacidade das empresas de atingir suas metas. Eles ilustram essa distinção entre os dois ambientes que influenciam a organização, ressaltando que o ambiente externo se subdivide em ambiente geral e ambiente operacional, mais próximo da organização. O ambiente organizacional é o conjunto de todos os fatores, tanto internos quanto externos à organização, que possam afetar o seu processo para atingir essas metas. Vamos aprofundar agora as questões referentes à análise do ambiente interno. 1.1 ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO O ambiente interno é composto de proprietários, empregados, administradores e ambiente físico de trabalho, além da cultura organizacional (Silva, 2008). Segundo Costa (2007), sua análise é muito importante porque é a partir do conhecimento das forças e fraquezas da organização que se constroem as melhores estratégias corporativas e competitivas. Certo e Peter (1993) definem o ambiente interno como sendo o que está dentro da organização e que normalmente tem implicação imediata e específica na sua administração. Oliveira (2007) defende que a análise do ambiente interno é fundamental para evidenciar deficiências e qualidades, ou seja, os pontos fracos e os pontos fortes da posição atual perante o mercado de atuação. Fernandes e Berton (2012, p. 94) afirmam que: de forma geral, o diagnóstico do ambiente interno da organização (ou análise da organização) segue as seguintes etapas: identificação das competências da organização; análise da cadeia de valor; análise das estratégias genéricas; análise das áreas funcionais da empresa. Costa (2007) afirma que muitas vezes as dificuldades em detectar, enfrentar e melhorar os pontos fracos decorrem de paradigmas estabelecidos há bastante tempo e que passaram a ser as verdades absolutas da organização. Os questionamentos e mudanças de atitudes podem demorar muito tempo, mas precisam estar incluídos no plano de transformação estratégica da organização. O autor defende que a falta de uma cultura de análise de problemas e aperfeiçoamento contínuo são outras fontes de dificuldade para transformações estratégicas. Ele explica a necessidade de instalar uma nova cultura, na qual pessoas e equipes sejam avaliadas e reconhecidas pelo desempenho dos processos de mudança e seu alinhamento com as estratégias estabelecidas, deixando para trás a cultura de culpar outras pessoas, departamentos ou concorrentes por pontos fracos e falhas que ocorrem na organização. 1.2 PONTOS FORTES, PONTOS FRACOS E PONTOS A MELHORAR • Pontos fortes são características positivas de destaque que favorecem a organização no cumprimento do seu propósito. Alguns exemplos são uma marca conhecida e respeitada; rede de distribuição de cobertura nacional; presteza no atendimento a reclamações e pedidos de informações; linha de produtos diversificada; capacidade em pesquisa e desenvolvimento; recursos industriais ou de logística; recursos para suportar financiamentos de vendas; características excepcionais de seus recursos humanos etc. • Pontos fracos são características negativas que prejudicam a organização no cumprimento do seu propósito. Alguns exemplos são: ausência de um manual de produto claro; ausência de estacionamento para clientes; dificuldade de pagamento com cartões de crédito; opções de pagamento pouco flexíveis; ausência de atendimento de pós-venda; falta de integração entre setores, filiais ou unidades operacionais; falta de integração entre sistemas de informação etc. • Pontos a melhorar são características positivas que precisam aumentar seu nível ou grau para contribuir efetivamente no cumprimento do propósito da organização. Alguns exemplos são: mecanismos de comunicação ampla, franca e rápida com os clientes, os fornecedores e a imprensa; qualidade do material ou da matéria-prima adquiridos de fornecedores; controle de estoques para evitar pedidos em falta; formação da mão de obra, sistemas de logística, etc. TEMA 2 – MENTALIDADE ESTRATÉGICA Costa (2007) menciona um estudo realizado por Hamel e Prahalad (1995) em empresas internacionais na tentativa de responder à seguinte pergunta: como os líderes e executivos das empresas utilizam seu tempo disponível para trabalho? As respostas mostraram que apenas entre 3% e 5% do tempo dos executivos é dedicado à formulação de uma visão compartilhada do futuro, sendo este justamente o elemento fundamental para condução do bom encaminhamento estratégico da empresa. 2.1 TIPOS DE MENTALIDADE Costa (2007) demonstra em um gráfico a mentalidade dos dirigentes de organizações em relação ao futuro, representando, no eixo horizontal, a variável tempo e, no eixo vertical, a distância. O Gráfico 1 apresenta várias regiões concêntricas, nas quais, progressivamente, os horizontes temporal e espacial se expandem. Quanto mais ampla a abrangência da atuação da organização e do líder, e quanto mais à frente se projeta a estratégia, maior a capacidade de pensar de forma estratégica e com visão de longo prazo. autor apresenta algumas características da mentalidade estratégica, tais como a capacidade dos dirigentes de se abstraírem do presente e voltarem sua visão e suas análises para o futuro, em um horizonte de tempo estendido, em uma perspectiva global. São essas características que permitem construir a visão do futuro, ao se transportar de cinco a dez anos à frente, detalhando a posição da organização no futuro desejado. Uma vantagem da mentalidade estratégica é que ela torna possível a realização do exercício mental de regressão do futuro da organização para o presente, o que permite a determinação dos objetivos e planos do presente de modo a selecionar e priorizar projetos que acabarão convergindo para alcançar o futuro contemplado. Costa (2007) descreve mais dois tipos clássicos de mentalidade, ambos muito presentes em executivos. O primeiro é chamado de mentalidade imediatista, na qual os executivos sofrem de uma miopia estratégica, pois enxergam muito bem o que está perto e no curto prazo, mas não fazem ideia do que pode vir a acontecer no médio e longo prazos. O segundo é a mentalidade operacional, que se baseia nos fatos do cotidiano e nas demandas para que tudo ocorra normalmente, permitindo uma visão de cerca de um ano no futuro, com bom nível de detalhamento. TEMA 3 – TRANSFORMAÇÃO ESTRATÉGICACosta (2007) explica por que é tão importante ter distanciamento do cotidiano quando se trata de pensar estratégias. O autor chama a atenção para a diminuição da duração dos ciclos de mudanças, o que exige que o tempo de reação das organizações também seja cada vez mais curto, fazendo com que apresentem respostas mais rápidas. Ele afirma que, por um lado, tendências, mudanças de valores, novas tecnologias, surgimento ou desaparecimento de grandes agentes do mercado ocorrem hoje com muita frequência, e com menor horizonte de previsibilidade do que há uma ou duas décadas. Por outro lado, também é incontestável que oportunidades e ameaças de longa maturação acentuam-se cada vez mais. (Costa, 2007, p. 15) Costa (2007, p. 16) também diz que os dirigentes precisam saber diferenciar os dois casos e devem manter aguçadas a percepção e a mentalidade estratégicas, uma vez que novas tecnologias, mudanças de estilos de vida, demográficas e geopolíticas, novas regulamentações e desregulamentações, por exemplo, podem afetar positiva ou negativamente os negócios ou atividades da organização. Podem ocorrer em uma época futura e em um local bem distante, mas podem acabar gerando oportunidades a serem aproveitadas e/ou ameaças a serem afastadas. 3.1 AMEAÇAS E OPORTUNIDADES Hamel e Prahalad (1995) defendem que estamos sujeitos a pelo menos cinco grandes tipos de transformações ao nosso redor. Elas devem ser continuamente monitoradas, a fim de identificarmos possíveis mudanças que possam impactar as organizações. As verdadeiras oportunidades e ameaças tendem a ocorrer, primordialmente, nas intersecções de duas ou mais mudanças simultâneas. Os autores afirmam que as cinco áreas são: mudanças tecnológicas; mudanças no estilo de vida das pessoas; mudanças nas leis e regulamentações; mudanças demográficas; e mudanças geopolíticas. Assim, na procura de possíveis oportunidades e ameaças, é preciso investigar primeiro os cruzamentos ou as intersecções de duas ou mais mudanças simultâneas. Costa (2007) comenta acerca da existência de outros tipos de mudanças, de natureza mais profunda, porém, mais sutis, tais como mudanças na composição da pirâmide etária, na opinião pública, no papel da mulher e de minorias na sociedade, nas atitudes e pressões em relação ao meio ambiente e nas mudanças climáticas e suas consequências. Quanto mais fatores em confluência, maiores as ameaças e oportunidades para as organizações. 3.1 RESISTÊNCIA AOS PROCESSOS DE MUDANÇA Costa (2007, p. 67) comenta que “as mudanças nas organizações abrem novas perspectivas para alguns, mas que criam constrangimentos para outros, ameaçando posições consagradas, criando aborrecimentos e provocando medos, tensões e conflitos”. Isso justifica o porquê de haver opositores que demonstram resistências e obstáculos aos processos de mudança. O mundo está cheio de exemplos de empresas que não souberam se reinventar perante a necessidade de mudança e perderam mercado – muitas até mesmo deixando de existir. Costa (2007, p. 71) afirma que “mudanças são fundamentais para a sobrevivência e para o crescimento das organizações no cumprimento de sua missão e, em última análise, para a realização da sua visão, do seu propósito”. Ele explica que a transformação estratégica acontece, mas o ambiente não se estabiliza nesse novo estágio, pois o mundo continua mudando cada vez mais rapidamente, em um processo contínuo e que exige da organização um estado de alerta constante. A seguir, veremos uma das ferramentas utilizadas para se antecipar e se preparar para mudanças. TEMA 4 – ANÁLISE DE CENÁRIOS Cabe aos estrategistas tentar se antecipar às oportunidades e ameaças do futuro da organização. Entretanto, Costa (2007) afirma que, geralmente, a percepção do futuro decorre muito mais de atitudes e posturas individuais – alguns veem a realidade de modo mais positivo ou mais negativo do que as circunstâncias reais. Por isso, devemos utilizar os cenários ou cenários alternativos, “um conjunto harmônico e consistente de hipóteses de trabalho, quantitativas ou qualitativas, sobre características, condições ou fatores que se esperam predominantes no ambiente externo” (Costa, 2007, p. 92). Os aspectos constantes do cenário devem ser os que afetam ou podem afetar as atividades futuras da organização, de seus clientes, de seus concorrentes e das demais partes interessadas, pois são eles que vão condicionar atividades, perspectivas de crescimento, rentabilidade, resultados, vulnerabilidade e até sobrevivência da organização. São uma espécie de quadro de referência, um conjunto de premissas e hipóteses básicas, um consenso dos administradores da empresa sobre o qual o plano estratégico é construído. Mudanças de cenário devem levar a reflexões sobre conveniência e necessidade de revisões das estratégias e dos planos de ação (Costa, 2007). 4.1 CENÁRIOS MÚLTIPLOS Wright et al. (2000) afirmam que com a crescente imprevisibilidade das mudanças ambientais, fica cada vez mais difícil formular suposições seguras que sirvam como base para previsões. Uma ferramenta para aumentar as chances de acerto dessas previsões é desenvolver múltiplos cenários em relação ao futuro, formulando várias descrições alternativas de tendências e eventos futuros (Fahey e Narayanan, 1999). Wright et al. (2000, p. 77) explicam que um cenário pode especificar as condições econômicas mais prováveis de ocorrer num período futuro, podendo fazê-lo tanto de uma perspectiva mais otimista, quanto mais pessimista. Assim, ao formular os cenários, os estrategistas devem “identificar as principais forças no macroambiente e no setor, avaliar suas possíveis inter-relações e estimar sua influência sobre os eventos futuros”. Costa (2007) denomina esses cenários múltiplos de cenários alternativos e avalia como vantagem dessa técnica o fato de forçar a organização à análise de situações, condições e ações, ajudando a estabelecer o limite inferior e o superior para os resultados, preparando a organização para alternativas mais pessimistas e mais otimistas com relação a uma decisão estratégica a ser tomada – uma técnica também conhecida como análise de sensibilidade. 4.2 AS GRANDES FORÇAS QUE MODELAM O FUTURO Costa (2007, p. 399) traz as principais fontes de tendências e descontinuidades que afetam o futuro das organizações e que devem ser levadas em conta ao se projetar os cenários futuros. São temas • sociais: novos hábitos, comportamentos, valores, cultura, lazer, família, educação, padrões éticos, estilos de vida, desigualdades etc. • econômicos: globalização, regionalização, câmbio, inflação, crescimento, renda, desemprego, privatização, distribuição de renda etc. • políticos e geopolíticos: movimentações geopolíticas, mudanças nas formas de governo, políticas públicas, políticas fiscais etc. • tecnológicos: redes sem fio, telefonia móvel, satélites, nanotecnologia, biocibernética, células-tronco, novas fontes de energia etc. Tavares (2000) desdobra alguns dos temas mencionados, listando as seguintes variáveis que devem ser analisadas separadamente para a construção dos cenários: econômica, demográfica, social, política interna, política econômica, política externa, legal, cultural, tecnológica e de natureza. TEMA 5 – CINCO FORÇAS DE PORTER Segundo Wright et al. (2000, p. 79), “um conjunto de forças mais específicas dentro do setor de uma organização afeta direta e poderosamente o planejamento estratégico da administração”. É o que compõe o ambiente operacional, ou seja, a esfera mais próxima à organização, constituída por clientes, fornecedores, concorrentes, produtos e serviços substitutos, entre outros (Fernandes e Berton, 2012). Porter (1986) identificou as cinco forças setoriais competitivas básicas que afetam uma organização, proporcionando uma análise estrutural,como veremos mais detalhadamente a seguir. Fernandes e Berton (2012) explicam que o desempenho de uma organização estaria ligado a dois fatores: desempenho estrutural do setor e posicionamento da organização nesse setor. Os autores afirmam que a lógica subjacente ao modelo é que, quanto maior a força, menor a rentabilidade estrutural do setor e, consequentemente, da organização. A Figura 2 explica as forças que veremos em detalhes a seguir. a) Ameaça de entrada de novos competidores: Fernandes e Berton (2012) afirmam que se um mercado é atrativo e não existem barreiras significativas, novos competidores podem entrar a qualquer momento, roubando participação de mercado, oferecendo descontos e incrementando a necessidade de propaganda e, assim, diminuindo a rentabilidade do negócio. A ameaça deve ser considerada a partir de vários fatores, como economias de escala, diferenciação dos produtos, necessidades de capital, custos de mudança, acesso a canais de distribuição, reação dos concorrentes e políticas governamentais. b) Rivalidade em relação aos concorrentes existentes: para Fernandes e Berton (2012, p. 73) “as empresas são mutuamente dependentes, pois as ações de uma sempre exercem impacto sobre as demais”. Geralmente, a rivalidade se manifesta na forma de concorrência de preços, batalhas de publicidade ou frequente introdução de produtos. Os autores dizem que “o grau de concorrência cresce, de certo modo, em função do número de concorrentes: a presença de numerosos concorrentes faz com que muitas empresas movimentem-se no mercado sem serem percebidas; a existência de poucos concorrentes propicia a formação de oligopólios” e “a concorrência será mais acirrada quando houver equilíbrio relativo dos concorrentes em termos de recursos e tamanho”. c) Pressão dos produtos substitutos: produtos substitutos são alternativas satisfatórias às necessidades semelhantes dos consumidores, mas diferem em características específicas (Wrightetal.,2000)e representam um risco para qualquer setor à medida que impõem limite para os preços (Fernandes e Berton, 2012). d) Poder de barganha dos compradores: segundo Fernandes e Berton (2012, p. 77), “o poder dos compradores pode pressionar a rentabilidade de uma indústria, forçando os preços para baixo, exigindo melhor qualidade e forçando o acirramento da concorrência”. Um grupo comprador é poderoso se: for concentrado ou representar grande volume de compra em relação às vendas do setor; adquire produtos que representam uma fração significativa de seus custos; compra produtos padronizados da indústria e não tem outras opções; enfrenta poucos custos de mudança; seus lucros são baixos; representa ameaça de integração na cadeia de fornecedores, passando a produzir aquilo que adquiria de terceiros; o comprador tem total informação do mercado (demanda, preços reais praticados, custo dos fornecedores). e) Poder de barganha dos fornecedores: “os fornecedores também pressionam a rentabilidade de um setor à medida que podem aumentar seus preços e reduzir a qualidade de seus produtos” (Fernandes e Berton, 2012, p. 78). Um grupo fornecedor é poderoso se: é dominado por poucas companhias e é mais concentrado do que a indústria para a qual vende; não está obrigado a lutar com os outros produtos substitutos; a indústria não é um cliente importante para ele; a produção dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do comprador; os produtos que compra da indústria são diferenciados ou há custos de mudança; existe ameaça de integração futuramente. Aula 3 TEMA 1 – ANÁLISE DO PORTFÓLIO “Portfólio é o conjunto das áreas estratégicas de atuação da empresa em seu mercado ou da instituição frente a seu público-alvo”, sendo que “cada área estratégica é uma combinação particular de produto ou serviço com um segmento de mercado ou de público-alvo” (Costa, 2007, p. 58). Assim, analisar um portfólio é analisar em que mercados a organização quer atuar e com que produtos ou serviços irá fazê-lo, de modo a obter retornos satisfatórios. Isso é o que se chama balanceamento de portfólio. 1.1 BALANCEAMENTO DE PORTFÓLIO Normalmente, a organização planeja estratégias específicas para cada um dos segmentos em que atua, mas para que o portfólio seja bem balanceado, é preciso priorizar áreas estratégicas que possam assegurar rentabilidade, caixa e resultados para sustentar a organização no futuro, remunerar seus investimentos e impulsionar a inovação (Costa, 2007). Por outro lado, portfólios problemáticos são aqueles que, normalmente, diversificam demais ou têm baixa sinergia entre suas áreas estratégicas ou, pelo contrário, concentram demais seus produtos e/ou serviços, tecnologias, mercado ou público-alvo, ficando vulneráveis a um mesmo fator de risco. A caracterização de um segmento envolve fatores como: produtos ou serviços ofertados; tipos de clientes ou usuários; tipos de uso dos produtos (consumo direto, reposição, insumo, investimento); motivações para aquisição; estágio da curva de maturidade; atuação geográfica; ambiente competitivo (posicionamento de cada competidor); tecnologias; fatores-chave de escolha; especificações técnicas; fatores de risco ou oportunidades; processos produtivos; práticas comerciais; e canais de distribuição (Costa, 2007, p. 130-131). 1.2 MATRIZ DE PORTFÓLIO Segundo Costa (2007), é possível representar o portfólio de uma organização por meio de um desenho esquemático em uma matriz 2x2. No eixo horizontal está representada a atratividade de cada área estratégica e no vertical, sua competitividade, conforme a Figura 1, a seguir: Figura 1 – Portfólio de uma organização em uma matriz 2x2 A atratividade está relacionada a fatores externos à organização. Envolve questões relativas ao crescimento de mercado, ao ambiente competitivo, lucratividade do setor, às barreiras de entrada, ao estágio da curva de maturidade, à turbulência, às tecnologias, aos processos produtivos, às práticas comerciais e aos canais de distribuição (Costa, 2007, p. 134). A competitividade diz respeito à maneira como a organização responde a esses fatores de atratividade ou, posto de outra forma, como se posiciona em relação a atributos essenciais para aproveitar o segmento. Tal posicionamento envolve o atendimento de fatores-chave de escolha em áreas consideradas estratégicas para competição no setor. Voltando à matriz, observe que os segmentos mais interessantes são aqueles de alta atratividade (mercado interessante) e alta competitividade (a organização está bem posicionada para aproveitar esse mercado atrativo), ou seja, o quadrante 2. De modo inverso, o segmento menos interessante é aquele de baixa atratividade e baixa competitividade, ou seja, a organização está mal posicionada em um mercado pouco atrativo (quadrante 4). TEMA 2 – CICLO DE VIDA DO PRODUTO Os diversos setores de atividade econômica possuem diferentes níveis de maturidade, o que costuma ser denominado ciclo de vida do produto ou do setor. Por exemplo, há produtos ou serviços recém-lançados no mercado como um todo e que ainda não se estabilizaram (no sentido de que poucos clientes o conhecem ou experimentaram), a tecnologia e a qualidade ainda são erráticas (ou sujeitas a erros e problemas), os canais de distribuição não são consolidados. Em outro extremo, existem produtos que estão sendo ameaçados e substituídos por lançamentos, de modo que suas vendas estão declinando, como é o caso de ligações telefônicas de longa distância versus ligações por WhatsApp. Entender o nível de maturidade de um setor é fundamental para pensar estratégias, pois nos casos ilustrados, os esforços para se posicionar um produto inovador ou para retardar (ou substituir) um produto em declínio são bem diferentes. De maneira ampla, autores costumam classificar os estágios do ciclo de vida do produto (ou setor) emquatro fases: introdução (ou pioneirismo), crescimento, maturidade ou declínio (Porter, 1986; Fernandes e Berton, 2012). A introdução se caracteriza pelo lançamento de um novo produto ou serviço desconhecido no mercado. Os esforços se concentram em divulgar o produto, seus benefícios, mostrar a demanda a que se propõe atender, educar o consumidor a consumir, despertando sua necessidade pelo produto. Para tanto, é comum que essas empresas, nesse momento, tenham que investir fortemente em marketing. Um exemplo que aconteceu recentemente foi a introdução do Uber no mercado de mobilidade urbana. Sua proposta foi trazer uma alternativa para o uso de carro próprio, ônibus ou táxi. Claro que, de alguma forma, esses outros segmentos se sentiram ameaçados e foi feita uma ampla campanha de marketing, com diversas promoções, para estimular o primeiro uso e tornar o serviço conhecido e desejado. O estágio seguinte é o de crescimento. O setor experimenta essa fase quando cai nas graças do cliente ou consumidor. Nesse momento, são características as altas taxas de crescimento, com novos clientes passando a adquirir o produto a cada dia, ou mesmo os clientes existentes aumentando seu consumo. Nessa fase é normal também a entrada de concorrentes, e a empresa deve cuidar para fixar sua marca. No caso do Uber, esse movimento também é observado, à medida que o transporte por aplicativo conseguiu se estabelecer, e apareceram novas empresas com ofertas semelhantes, como a 99 e a Cabify. Porém, um setor não fica eternamente em crescimento. Há um momento em que o ritmo de aquisição de novos clientes se estabiliza e reduz e o setor passa a viver de demanda de reposição por parte dos clientes estabelecidos, ou seja, o setor como um todo não vive mais um crescimento acelerado. Essa fase é chamada de maturidade e sua característica é que aspectos como escala de produção, nível de qualidade e aumento da concorrência passam a ser cruciais. Nessa etapa, conforme a natureza do setor, ocorrem movimentos de consolidação, no sentido de que muitas empresas tendem a adquirir outras e o número de competidores tende a ser bem menor do que em momentos anteriores. Muitos setores que conhecemos vivem esse momento, como o setor bancário, a indústria automobilística, a telefonia móvel, entre outros Por fim, a última fase consiste no declínio, momento em que as vendas decrescem, em geral por força do surgimento de alguma tecnologia ou oferta superior àquela que o setor faz. Exemplo clássico é o das locadoras de vídeo que alugavam DVDs e foram substituídas pelo preço decrescente ou, até mais expressivo, dos mesmos DVDs acessados diretamente pelo consumidor, por meio de TV a cabo, YouTube e Netflix. A análise do ciclo de vida do setor coloca o seguinte desafio às empresas: em que momento está nosso negócio? Porque, dependendo da resposta, as estratégias devem ser diferentes. Empresas em setores em introdução, conforme descrito, devem investir fortemente em marketing; atuando em setores em crescimento, devem buscar crescer de preferência a taxas superiores às do setor, para estar entre as grandes quando o setor amadurecer. Empresas de setores maduros devem cuidar da escala, dos custos; eventualmente devem buscar nichos de consumidores não tão bem atendidos, incrementar a oferta de serviços associados ao produto, entre outros. Por fim, empresas de setores em declínio devem prospectar outros setores, ou mirar clientes saudosistas para prolongar sua existência no mercado. TEMA 3 – MATRIZ BCG A Matriz BCG complementa e sugere ações a serem realizadas com base no conhecimento do ciclo de vida dos produtos. Seu nome se deve à sigla de uma empresa de consultoria, o Boston Consulting Group, que a desenvolveu. Seu insight básico é o reconhecimento de que os produtos de uma organização podem estar em diferentes momentos do ciclo de vida e, mais ainda, talvez até seja conveniente que estejam, pois assim alguns deles podem gerar recursos para o desenvolvimento de outros. De modo mais específico, a matriz BCG, em sua concepção original, considera duas dimensões: a participação relativa de mercado e a taxa de crescimento de mercado (Wright et al., 2000). Considerando essas dimensões, a estabelecia que tanto uma como a outra poderiam ser alta ou baixa. A combinação dessas dimensões com esses níveis (alto-baixo) estabelece quatro quadrantes, como demonstra a Figura 2, a seguir: Definidos os quadrantes, a Matriz BCG classifica os produtos/serviços de acordo com seu posicionamento. Assim, o produto que tem alta participação em um mercado em crescimento (quadrante superior esquerdo) é denominado estrela, no sentido de estrela ascendente, brilhante. Tais produtos costumam gerar receitas, mas boa parte delas acabam sendo consumidas no esforço de sustentar o crescimento – consumidas, por exemplo, em expansão da produção, em campanhas de marketing etc. Os produtos vaca leiteira são aqueles em mercado de alta participação e baixo crescimento. Por essa condição, tendem a ser geradores de caixa, pois têm vendas elevadas e não precisam dispender muitos recursos para sustentar crescimento. Por outro lado, existem os produtos/serviços que têm baixa participação de mercado. Podem ser divididos em dois grupos: em setores de alto crescimento ou setores de baixo crescimento. Os primeiros são denominados pontos de interrogação, pois seu futuro é incerto. Por um lado, não geram caixa expressivo, pois suas vendas são relativamente pequenas e ainda são consumidas pelo esforço de crescimento. Mas, por outro lado, por estarem em setores em expansão, podem ser promissores. O caso mais crítico são os produtos de baixa participação em mercados de baixo crescimento – ou pior, crescimento negativo. Tais negócios, os abacaxis, correm risco de se tornar cada vez mais irrelevantes com o tempo. Observe a similaridade entre a Matriz BCG e a matriz de portfólio, que vimos anteriormente. Ambas tratam de dimensões similares, porém a matriz de portfólio amplia o olhar sobre as variáveis, ou seja, olha atratividade, que inclui também crescimento de mercado, mas também elementos como lucratividade do setor e volume, entre outros. Por outro lado, olha competitividade, que vai além da participação de mercado: inclui, por exemplo, reputação e marca da empresa, qualidade de seus produtos e serviços, canais de distribuição etc. TEMA 4 – MATRIZ GE A matriz GE é uma outra maneira de olhar e pensar o portfólio de uma organização. Em vez de considerar apenas participação e crescimento de mercado, ela aborda duas perspectivas: atratividade do setor e força da unidade de negócio (Wright et al., 2000). Recebeu esse nome por ter sido desenvolvida para a General Eletric pela empresa de consultoria McKinsey e, por esse motivo, às vezes também é denominada Matriz McKinsey. O que se entende por atratividade não está distante do que apresentamos ao discorrer sobre a matriz de portfólio. Aborda critérios como taxa de crescimento, ciclicidade do setor (por exemplo, o quanto o setor depende mais ou menos da expansão da economia, como bens supérfluos, ou tem demanda inelástica, como saneamento), tamanho do setor, sazonalidade (como consumo de ovos de Páscoa), entre outros (Wright et al., 2000). Na dimensão força da unidade de negócio, é considerada a posição competitiva da unidade naquele setor específico. Isso leva em conta participação de mercado, lucratividade da empresa, custos operacionais, reputação da marca, entre outros. À semelhança de matrizes anteriores, essas duas dimensões são cruzadas, mas neste caso, em uma matriz 3x3, que considera as gradações alto, médio, baixo. A Figura 3, a seguir, ilustra o resultado. Na Figura 3, a matriz está ilustrada com vários negócios, de várias unidades, cada um deles representado por um círculo de diferente tamanho, expressando o volume dosnegócios da empresa em termos de faturamento. Ao confrontar a atratividade do mercado com a posição do negócio, a matriz sugere algumas prescrições genéricas, como apresenta a Figura 4. Explicando alguns dos casos, considere negócios de baixa força em mercados de baixa atratividade. Isso significa, por exemplo, uma empresa com pouca escala, marca desconhecida, baixa margem etc., em um setor em declínio, competição intensa, entre outros fatores. Não é de se estranhar que, nesse caso, haja recomendação de desinvestir ou vender a empresa (esse é o sentido de colher; colher os frutos). No outro extremo, um negócio bem posicionado (marca forte, qualidade elevada, lucratividade expressiva etc.), em um setor atrativo (em crescimento, de grande volume, baixa competição, entre outros fatores), deve ser prioritário em termos de investimentos pela empresa. TEMA 5 – ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA E DOS CONCORRENTES Um elemento a ser levado em conta para criar uma perspectiva para a estratégia, tema deste tema, é a análise da concorrência e dos concorrentes. São consideradas concorrentes “todas as organizações que disputam o atendimento das mesmas necessidades do mercado ou público-alvo” (Costa, 2007, p. 88). Segundo Costa (2007), o fato de uma empresa ser pioneira em um mercado, tanto pode ter aspectos positivos quanto negativos. É positivo conquistar o espaço e criar um mercado próprio, mas isso logo pode ser ameaçado por concorrentes – o que traz os aspectos negativos – que chegam com inovações e soluções diferentes, apresentando melhor desempenho, menor preço ou serviço superior. Martins e Guindani (2013) relembram que geralmente duas ou três empresas líderes dominam a indústria. É com base na liderança de preço que elas são responsáveis por coordenar a indústria. Para analisar a concorrência, é importante considerar que há diversos níveis de concorrentes. Para efeito dessa análise, vamos considerar a concorrência mais próxima, ou seja, empresas que oferecem produtos similares, para o mesmo público, atuando nas mesmas regiões, mesmo setor ou indústria. 5.1 FATORES-CHAVE DE SUCESSO Um conceito importante para essa análise é o de fatores-chave de sucesso (FCS). Segundo Fernandes e Berton (2012), FCS consistem em atributos essenciais a serem atendidos para competir em um dado setor. Por exemplo, uma empresa de bebidas deve atentar à força da marca, capacidade de distribuição e custo. Se descuidar desses atributos – por exemplo, por ter uma marca desconhecida, ou logística deficiente – perderá competitividade. Nesse sentido, cada setor possui atributos diferentes. Os atributos necessários para ser bem-sucedido em um hospital não são os mesmos que uma indústria siderúrgica ou uma agência de publicidade precisam. Mapear FCS, portanto, consiste em um primeiro exercício a ser feito pelas empresas para entender a dinâmica da concorrência em um setor. Assim, uma empresa que se dispõe a analisar a concorrência deve perguntar: Quais são os FCS essenciais para competir neste setor? Quais são os atributos que, se as empresas não atenderem, serão fortemente prejudicadas? Uma vez enumerados tais atributos, o passo seguinte é enumerar os diversos concorrentes presentes naquele setor ou as empresas que disputam diretamente o dinheiro dos mesmos clientes com ofertas semelhantes. O terceiro passo é comparar como cada empresa se situa em relação a cada atributo. O próximo passo consiste em avaliar cada um desses concorrentes com base nos FCS elencados, utilizando dados reais do setor e atribuindo notas para cada empresa, em cada um dos quesitos do quadro. Uma maneira de proceder à análise é utilizar um quadro como o representado na seção Na Prática, mais à frente. É preciso classificar o desempenho de cada uma dessas empresas utilizando um sistema de classificação numérico de 1 a 5, sendo 1: muito fraco; 2: fraco; 3: regular; 4: bom; 5; muito bom. A vantagem de utilizar essa ferramenta, além de conhecer mais a fundo a concorrência e o setor, é que a tabela pode revelar atributos em que os concorrentes podem estar falhando e que a empresa pode suprir, aproveitando a oportunidade e desenhando uma nova estratégia. 5.2 CONCORRENTES ATUAIS E POTENCIAIS Costa (2007) chama a atenção para o fato de que enquanto os concorrentes atuais de uma organização normalmente são conhecidos – embora nem sempre tenham uma configuração semelhante à da nossa organização (ele cita o exemplo de casas lotéricas, agências de correio, serviços financeiros online, cooperativas de crédito ou consórcios de compradores como sendo concorrentes de um banco) –, os concorrentes potenciais podem vir de setores ainda nem imaginados. Segundo o mesmo autor, esses concorrentes “terão diferentes formas de atuar, usarão outras metodologias, tecnologias, formas e regras operativas ou comerciais” (p. 88). É útil ver o negócio de maneira mais ampla para poder identificar os potenciais concorrentes. Para mapear esses futuros concorrentes, o autor sugere que sejam feitas as seguintes perguntas: • Que mudanças tecnológicas podem afetar nosso negócio? • Que mudanças de hábitos dos clientes viabilizam negócios ou atividades atuais ou novas formas de serem atendidos? • Que novas leis, regulamentações ou desregulamentações do setor podem abrir oportunidades para que outros entrem e se estabeleçam? Aula 4 TEMA 1 – MATRIZ SWOT A matriz Swot tem a origem de seu nome nas iniciais em inglês dos termos forças (strenghts), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats), o que leva alguns autores e professores a mudarem um pouco a ordem dos termos e se referirem a ela como matriz ou análise Fofa. Trata-se de um “[...] conceito que resume os principais aspectos do ambiente e as capacitações da empresa que têm maior impacto para o desenvolvimento da estratégia” (Fernandes; Berton, 2012, p. 136). Segundo Fernandes e Berton (2012), a matriz Swot funciona como um filtro no qual só devem constar os itens realmente relevantes e dos quais derivarão ações no momento da formulação da estratégia, em que as forças e fraquezas se referem a aspectos internos de uma organização e as ameaças e oportunidades são seus aspectos externos. A análise Swot tem maior utilidade quando feita para uma empresa em relação a seus concorrentes (Johnson; Whittington; Scholes, 2011). Mas Johnson, Whittington e Scholes (2011) chamam a atenção para o que consideram ser os principais perigos dessa ferramenta: • Listas: o exercício pode gerar longas listas do que aparentam ser forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, mas o que realmente conta é ser claro sobre o que é realmente mais importante e o que é menos importante, priorizando-se os tópicos. • Resumo e não substituto: a análise Swot deve ser usada como um resumo ou consolidação de outras análises, mas não é indicada como um substituto para elas, pois, assim, corre-se o risco de se basear em visões preconcebidas ou tendenciosas, por não serem tão profundas essas avaliações quanto às resultantes de outras ferramentas de análise. Costa (2007) considera, além dos pontos fortes e fracos do Swot, uma terceira categoria: a dos pontos a melhorar. Segundo ele, esses se tratam dos pontos positivos da organização, mas que ainda não se encontram em um nível ou grau considerado suficientemente bom para contribuírem de fato para o cumprimento do propósito organizacional. Uma técnica interessante para verificar a posição de uma organização em comparação às concorrentes é o benchmarking, ou seja, identificar e se comparar aos “[...] melhores processos conhecidos em outras instituições do Brasil de do mundo” (Costa, 2007, p. 113). Assim, as instituições consideradas as melhores em determinado aspecto passam a mostrar o nível que a organização que ainda não atingiu esse patamar ainda pode alcançar. 1.1CRIAÇÃO DA MATRIZ E DEFINIÇÃO DA POSTURA ESTRATÉGICA Existem vários modelos ou formatos da matriz Swot e cada organização deve definir o modelo com o qual mais se identifique. Um exemplo bastante simples é apresentado no Quadro 1 e cabe à organização definir os itens que devem preencher cada um dos quadrantes, de acordo com a realidade do seu negócio e ambiente. Quadro 1 – A matriz Swot Assim, após ter realizado o diagnóstico do negócio e do ambiente e finalizado uma análise com uso da matriz Swot, já é possível desenhar as estratégias e partir para a ação, procurando potencializar os pontos fortes e aproveitar as oportunidades, assim como buscando defender-se das ameaças e fortalecer os pontos então considerados como fracos, em uma organização. Com essa ferramenta, encerramos a etapa diagnóstica e a partir de agora abordaremos aspectos mais práticos da estratégia. Com as informações coletadas com a utilização da matriz Swot, deve-se definir a postura estratégica do negócio, que é a escolha feita pelos estrategistas considerando os pontos fortes da organização e visando às necessidades atuais e de longo prazo do negócio em seu mercado de atuação. Normalmente, isso é feito após uma análise das alternativas disponíveis e a priorização da que melhor possibilite a realização da missão empresarial. Para se definir a postura estratégica, é preciso levar em conta a missão da empresa, a relação entre oportunidades e ameaças e a relação entre seus pontos fortes e fracos. O Quadro 2 ilustra essas estratégias. Quadro 2 – Posturas estratégicas com base na matriz Swot Com base no Quadro 2, percebe-se que, conforme seja identificado o predomínio de pontos fortes ou fracos e de oportunidades e ameaças, pode-se adotar estratégias que busquem a sobrevivência, a manutenção, o crescimento ou o desenvolvimento da organização. Veremos, a seguir, essas posturas estratégicas com mais detalhes. TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO DO NEGÓCIO Tavares (2000) argumenta que cada uma das posturas estratégicas deriva da ênfase que se dá a cada estratégia, conforme o Quadro 3. Quadro 3 – Ênfase das posturas estratégicas O autor faz uma analogia entre o desenvolvimento humano, cujo desenvolvimento físico deve ser ancorado no desenvolvimento intelectual, emocional e moral, e o desenvolvimento de uma organização, que deve crescer em estrutura, mas também se desenvolver em aspectos como o capital intelectual e os recursos tecnológicos (Tavares, 2000). Isso deve estar aliado a um profundo conhecimento de aspectos que já vimos nesta aula, tais como a definição da missão, da visão e os demais aspectos que vimos na etapa diagnóstica do negócio. Para Costa (2007), essa fase se chama fase pioneira e indica a ideia empreendedora que deriva da percepção de uma lacuna a ser preenchida por um novo negócio. Muitas vezes, essa percepção é praticamente intuitiva, partindo “[...] de um sentimento ou uma convicção de visão e de missão” (Costa, 2007, p. 68) dos fundadores da organização, mas, em outras vezes, essa percepção deriva “[...] de um levantamento detalhado do mercado e de suas potencialidades” (Costa, 2007, p. 67). Por essa visão, há uma ênfase na percepção de uma oportunidade e também a crença de que se possui os pontos fortes necessários para desenvolver um novo negócio. 2.1 SOBREVIVÊNCIA Alguns autores consideram a sobrevivência como uma das posturas estratégicas derivadas da matriz Swot. Tavares (2000) explica que essa estratégia é adequada para organizações que estejam sofrendo ameaça de extinção, ou seja, que estejam à beira da falência por algum motivo, com um desempenho muito abaixo do esperado, e necessitem se reposicionar em relação às suas áreas de negócios. Ainda assim, essa estratégia deve ser adotada somente quando não for possível vislumbrar outras formas de reverter o quadro de crise, pois ela tende a diminuir o tamanho da empresa, eliminando desperdícios ou mesmo fechando uma unidade de negócio, realizando a venda de seus ativos. Normalmente, essa estratégia resulta de uma combinação de fatores internos e externos que estabeleçam um ambiente desfavorável para a operacionalização da empresa, com um grande número de pontos fracos e um alto índice de ameaças tanto internas quanto externas. Entre os fatores internos, os mais comuns são a má gestão, o mau uso dos recursos, a existência de conflitos sucessórios, de disputas por controle acionário ou de problemas de posicionamento e definição de negócio, missão, visão. Dentre os principais fatores externos figuram recessões econômicas, mudanças de hábitos ou de estilo de vida dos consumidores, aumento da pressão, mudanças nas regras competitivas ou emergência de novas tecnologias. Tavares (2000) defende que, quando a organização está nessa situação, a estratégia deve ter como objetivo a sua reconstrução ou institucionalização, para que as questões internas e/ou externas identificadas sejam superadas. Alguns autores enquadram ainda a estratégia de redução na tipologia derivada da matriz Swot. Quando se percebe um predomínio de pontos fracos e de ameaças à empresa, deve-se avaliar até que ponto insistir num negócio ou produto/serviço específico não está demandando esforços demais para pouco ou nenhum resultado. Se for percebido que o mercado em questão está em declínio ou que a empresa ficou para trás perante a concorrência, que pode ter investido mais em tecnologia, propaganda ou outros aspectos do negócio e, com isso, ter ganhado muito mercado, é preciso decidir se um negócio ou produto/serviço deve ser descontinuado, migrando os esforços e investimentos para áreas ou produtos/serviços com maior resultado e perspectivas. Assim, a estratégia de redução deve ser aplicada quando a sobrevivência de uma organização está ameaçada e ela não está competindo com eficiência. Ela visa à concentração de recursos em uma única linha de negócios, para se obter vantagem competitiva por meio do conhecimento especializado e eficiente em um determinado setor (Fernandes; Berton, 2012). Wright, Kroll e Parnell (2000) e Certo (2005) listam os seguintes tipos básicos de estratégia quando se opta pela redução: • Estratégia de reviravolta (turnaround) ou rotatividade: usada quando ainda não se chegou a um estágio crítico, mas se caminha nessa direção. Deve ser feita uma criteriosa análise de portfólio, eliminando produtos ou serviços não lucrativos, para que haja redução da força de trabalho e dos canais de distribuição, com a organização diminuindo seus ativos e tornando-se mais enxuta e eficaz, ao mesmo tempo que busca alternativas para se tornar mais eficiente para, futuramente, passar para uma estratégia de crescimento, como veremos mais à frente. • Estratégia de desinvestimento: utilizada quando um negócio específico não está sendo bem gerido ou quando não atinge os objetivos definidos ou, ainda, quando se pretende melhorar os resultados financeiros. Assim, opta-se pela venda ou transferência desse negócio específico, de maneira que haja melhora financeira, já que a unidade problemática para de demandar recursos de unidades de negócio mais lucrativas. Outra forma de realizar o desinvestimento é por meio de um spin-off, ou seja, distribuição das ações da empresa em fatias, com a comercialização das ações menos e mais interessantes de forma separada. • Estratégia de liquidação: aplicada quando não existe alternativa para redução de custos e o negócio é encerrado, com os seus ativos sendo vendidos ou dispensados – carteira de produtos, clientes, fornecedores e pessoal –, o que normalmente acarreta perdas para os acionistas da organização. TEMA 3 – MANUTENÇÃO Como vimos no Quadro 2, quando predominam ameaças e forças a opção mais indicada é adotar uma postura estratégica de manutenção. Ela é recomendável quando a organização atingiu um patamar em que o investimento parasua expansão pode representar um custo maior do que os benefícios a serem obtidos com essa expansão (como quando a organização já tem alta participação no mercado e os investimentos adicionais não dão retorno compensatório) ou a concorrência implique tomada de ações para manter a posição já conquistada pela organização (barrando a entrada de um concorrente que queira conquistar uma parcela dos consumidores da organização) (Tavares, 2000). Embora nessa fase a ideia seja a manutenção de um estado de equilíbrio já adquirido, alguns autores a chamam de fase de estabilidade, uma vez que o seu objetivo é manter os negócios ou as linhas de atuação atuais, evitando que seus esforços competitivos se tornem dispendiosos. Deve-se potencializar ao máximo os pontos fortes ao mesmo tempo que se busca minimizar os pontos fracos da organização, tentando, ainda, maximizar os pontos fracos e minimizar os pontos fortes dos concorrentes, assumindo uma atitude defensiva diante das ameaças. Certo (2005) afirma que os motivos que levam as organizações a adotarem a estratégia de manutenção ou estabilidade são: • evitar problemas com controles governamentais ou penalidades por monopólio, quando a organização é considerada de grande porte e domina seu mercado; • garantir o equilíbrio das atividades econômicas quando a organização está inserida em um cenário com baixo crescimento ou estagnação do crescimento, não tendo outras opções de estratégia. Wright, Kroll e Parnell (2000) complementam afirmando que a estratégia de manutenção para uma empresa atuante em mais de um setor corresponde à preservação do seu atual conjunto de empresas, enquanto que, para uma empresa que atua em um único setor, a estratégia deve ser manter praticamente as mesmas operações, sem buscar um crescimento significativo nas receitas ou no tamanho da empresa. De acordo com Oliveira (2007), essa estratégia apresenta três possibilidades: 1. estratégia de estabilidade: objetiva recuperar um estado de equilíbrio que está ameaçado, muitas vezes visando alcançar e manter o ponto de equilíbrio ou realizando esforços para solidificação da marca; 2. estratégia de nicho: busca dominar apenas um segmento do mercado; com isso, a organização dedica-se apenas a um único produto ou atua em um mercado exclusivo, focando os seus negócios; 3. estratégia de especialização: pretende levar a empresa a conquistar ou manter a liderança de mercado, por meio de uma única expansão de produtos ou serviços (mantendo um escopo estreito). Enfim, as estratégias de manutenção objetivam o aumento das posições competitivas, o foco na melhoria da produtividade e a manutenção das operações de uma organização, sem o objetivo de buscar seu crescimento significativo. A manutenção estratégica é utilizada em mercados que não possuem crescimento acelerado ou nas situações em que o crescimento no ambiente proporcionará um custo elevado, reduzindo os lucros. TEMA 4 – CRESCIMENTO ESTRUTURAL Quando se fala em crescimento interno, este pode se apresentar de várias formas. Um crescimento estrutural se refere ao crescimento em termos de estrutura física (tamanho das instalações, número de unidades, distribuição geográfica, quantidade de máquinas e equipamentos), estrutura de recursos humanos (número de colaboradores diretos e indiretos) e estrutura financeira (investimentos, capital de giro). Voltando ao Quadro 2, vê-se que, quando predominam oportunidades e fraquezas após o uso da análise Swot, a opção é adotar uma postura estratégica de crescimento. Essa configuração é bastante comum em empresas iniciantes, que ainda não têm domínio sobre aspectos de funcionamento do negócio ou do mercado em que estão inseridas e acabam errando mais do que as empresas já estabelecidas. Se elas conseguem passar por esse estágio inicial, em que é muito alta a taxa de mortalidade de empresas, normalmente passam para a fase de crescimento. Costa (2007) defende que as empresas que conseguem passar pelos desafios iniciais devem ter uma estratégia adequada ao chamado triângulo estratégico, que compreende o propósito, o ambiente externo e a capacitação de uma organização. Conforme o autor, cada um desses três aspectos fica em um vértice desse triângulo e, caso algum deles não esteja sendo satisfeito ou não esteja em condições favoráveis, deve-se desenvolver “[...] planos de ação específicos para minorar as lacunas antes de implementar efetivamente a estratégia escolhida” (Costa, 2007, p. 49). Fernandes e Berton (2012) explicam que o crescimento interno ou orgânico deriva do aumento das vendas, da capacidade de produção e da força de trabalho de uma empresa. Por um lado, isso preserva melhor a cultura, a eficiência, a qualidade e a imagem organizacionais; mas, por outro lado, aumenta os seus custos burocráticos e de coordenação. A ressalva é de que somente devem ser criados novos negócios quando os seus benefícios são superiores aos seus custos. Wright, Kroll e Parnell (2000) afirmam que são três os principais fatores que demonstram o crescimento de uma organização: o lucro, as vendas ou a participação no mercado e, portanto, o porte da organização é um limitador para atender à demanda. Esse crescimento pode se dar por meio do crescimento interno, integração vertical, integração horizontal, diversificação ou fusões e alianças estratégicas. A seguir veremos cada um desses meios de forma mais detalhada. 4.1 TIPOS DE CRESCIMENTO INTERNO Wright, Kroll e Parnell (2000) consideram que o crescimento interno de uma organização não se aplica só num mesmo negócio, mas pode incluir a criação de novos negócios, tanto na direção horizontal quanto na vertical. O crescimento interno horizontal pode envolver a criação de novas empresas que operem em negócios relacionados ou não ao atual negócio. Na integração vertical, o crescimento se dá por meio da aquisição ou criação de outras organizações em um canal de distribuição, aproximando e fortalecendo o relacionamento da organização com seus clientes ou fornecedores. Já na integração horizontal, são adquiridos concorrentes em uma mesma linha de negócios ou são lançados outros produtos ou marcas nas linhas em que a empresa já atua, fazendo com que ela aumente seu porte no mercado. A estratégia de diversificação abrange crescimento em outras linhas de negócio, seja em áreas próximas (diversificação relacionada), seja em muito distintas daquelas em que a empresa já atua (diversificação não relacionada). Já as fusões e aquisições buscam a incorporação de outras empresas. No caso de uma fusão, busca-se a “[...] partilha ou transferência de recursos e o ganho em força competitiva. Já na aquisição, uma empresa adquire o controle de outra, podendo ou não preservar a razão social e/ou marcas da adquirida” (Fernandes; Berton, 2012, p. 159). Por fim, quando ocorrem alianças estratégicas entre organizações, buscam-se parcerias externas para melhorar a posição organizacional no mercado. Nesse caso, duas ou mais empresas fazem uma parceria para realizar um projeto específico ou para cooperar em determinada área de um negócio, mesmo que apenas temporariamente (Fernandes; Berton, 2012). TEMA 5 – MUDANÇA ORGANIZACIONAL Agora que vimos as posturas estratégicas, é importante salientar que as organizações são dinâmicas e, portanto, as estratégias por elas definidas precisam ser revistas de tempos em tempos, assim como o preenchimento da matriz Swot. Afinal, se trabalhamos para minimizar os pontos fracos e potencializar os pontos fortes de uma organização, é natural que haja mudança nesses indicadores, demonstrando a eficiência das estratégias e dos esforços de toda a organização para atingir os seus objetivos propostos. O cruzamento da matriz, assim como o direcionamento estratégico da organização, definirá ações importantes, que devem ser controladas com um planode ação para garantir sua execução. A medição periódica é uma forma de checar a eficiência das ações e indicar-lhes os ajustes necessários, sempre priorizando a análise crítica e a percepção do contexto em que a empresa está inserida. Mudança organizacional é qualquer transformação de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de outro componente capaz de gerar impacto em partes da organização ou no seu conjunto (Wood Junior, 2000). Normalmente, parte-se de uma situação atual, que necessita de mudanças, para um estado futuro, que é a realidade a que se pretende chegar, passando por um estado de transição, que é quando as mudanças vão sendo implementadas. “A migração da situação existente para a situação desejada é papel maior da liderança organizacional” (Tavares, 2000, p. 283), que deve buscar transformar a direção em um senso de propósito comum para todos os colaboradores, que devem ter a visão e os valores comuns baseados nos princípios em que acreditam. E cabe ao líder da organização construir a rota que levará a esse destino, propondo desafios inspiradores. No entanto, em alguns casos, mudanças mais profundas precisam ser empreendidas. Nesse ponto, é importante diferenciar as mudanças incrementais das mudanças radicais. As mudanças incrementais são aquelas que produzem alterações sutis, embora muitas vezes necessárias e efetivas, mantendo uma mesma lógica de funcionamento na organização. Elas podem representar avanços nos benefícios percebidos pelo consumidor sem modificar de maneira expressiva o modelo de negócio ou a forma como o produto é consumido, mas geram um impacto mensurável nos negócios. Elas normalmente estão associadas à redução de custos e a melhorias dos produtos e serviços existentes, gerando a otimização do negócio existente e promovendo o reforço das competências já desenvolvidas. Já a mudança radical de um produto ou processo pressupõe alterações drásticas nas características de desempenho ou custo do negócio, criando novos mercados ou transformando os mercados existentes, o relacionamento entre consumidores e fornecedores, reestruturando aspectos econômicos do mercado, desestabilizando produtos existentes e dando origem a novas categorias de produtos (Leifer; O’Connor; Rice, 2002). 5.1 TIPOS DE MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS Fernandes e Berton (2012) propõem que há três grupos de mudanças organizacionais: mudanças na estrutura, nas pessoas e nos processos organizacionais. A mudança na estrutura se refere à distribuição de responsabilidades em uma organização e deve ser concebida para que a organização atinja seus objetivos e cumpra sua missão. Deve-se levar em conta, ao se conceber a estrutura, a idade da organização, seu tamanho, o ambiente em que se insere, a natureza do negócio, a natureza do trabalho, as diferenças internas e a cultura organizacionais. As mudanças no âmbito das pessoas incluem questões como motivação, cultura, poder e liderança. A motivação é importante porque as pessoas precisam “comprar” a ideia que será implementada, de modo a se esforçarem para fazê-la acontecer. Às vezes, o próprio desafio que a mudança acarreta é suficiente para motivar as pessoas; mas, em muitos casos, é preciso que a liderança de uma organização intervenha para elevar a motivação das equipes. A relevância da cultura organizacional demanda que a mudança deve buscar manter valores semelhantes da velha cultura no novo modelo proposto, para ser percebida como legítima e ser de fato incorporada. Schein (1991, tradução nossa) define cultura como sendo o “[...] conjunto de pressupostos básicos que um determinado grupo inventou ou descobriu ao lidar com problemas de integração interna ou adaptação externa e ensina a outros membros a maneira correta de pensar ou agir em relação àqueles problemas”. O autor defende que a cultura está presente em uma organização em diversos níveis. O mais superficial deles é chamado de nível dos artefatos visíveis e é mais fácil de enxergar, estando presente na maneira de tomar decisões e executar as ações. O segundo é o dos valores professos, que a organização pratica e reconhece como sendo seus. Já o terceiro nível é mais profundo e engloba as crenças e pressupostos básicos da empresa. É o mais internalizado e é tido como óbvio, e qualquer pessoa que destoe desse modo de pensar e agir é tido como estranho à cultura organizacional (Schein, 1991). Com relação ao poder, deve-se observar as relações de poder na organização, percebendo-se quem ganhará e quem perderá espaço com uma mudança, uma vez que implantar uma nova estratégia pode desestabilizar as relações de poder existentes e causar desconfortos e resistências. Para minimizar esses efeitos, que podem colocar em risco o sucesso das mudanças, é preciso que seja desenvolvida uma estratégia de implantação da mudança, incluindo mecanismos como coalizão, barganha, asserção, uso da autoridade e até mesmo aplicação de sanções (Fernandes; Berton, 2012). Por fim, no que diz respeito à liderança, supõe-se que haja coerência de objetivos entre líder e liderados, além de uma direção, que vai do líder para seus subordinados, devendo partir da alta administração. É importante que haja pessoas que comuniquem os novos objetivos, entusiasmem o grupo, acompanhem os resultados e deem feedbacks, refletindo as novas ideias que os líderes assumem e vendem, na organização. No âmbito dos processos, as mudanças definem as novas regras para o funcionamento da organização. Para tanto, é preciso que haja clareza nos processos organizacionais e na distribuição de responsabilidades, que muitas vezes não segue a lógica de cargos, mas de competências. Além disso, deve haver uma boa estratégia de comunicação, de modo a evitar os ruídos. Isso inclui pensar em uma estratégia de cima para baixo (da gerência para as equipes); mas também de baixo para cima (dos subordinados para os gerentes) e uma comunicação lateral (entre os pares). Outro aspecto é a utilização de recompensas, com um sistema de remuneração alinhado à estratégia do negócio e que pode prever distribuição de benefícios que não sejam somente dinheiro, mas que podem abarcar bônus, ações, programas de reconhecimento, entre outros. Outro aspecto ainda é o dos processos de controle, que “[...] remetem à ideia de monitoramento e mensuração do desempenho organizacional. Os agentes de mudança devem estabelecer indicadores-chave em dimensões associadas à estratégia” (Fernandes; Berton, 2012, p. 212). Por fim, no que tange à tecnologia, muitas vezes a estratégia implicará mudança nos padrões tecnológicos e isso pressupõe que haja pessoas capacitadas para implementar os aspectos tecnológicos e garantir que eles não representem um empecilho à implantação das mudanças. Aula 5 TEMA 1 – ESTRATÉGIA DE ANSOFF E SEU OBJETIVO Continuando com o processo de análise do ambiente e da organização, agora apresentaremos uma ferramenta muito utilizada: a matriz produto-mercado, também conhecida como matriz Ansoff. Desenvolvida por Igor Ansoff (1977) em 1957 e com adaptações feitas por vários autores ao longo dos anos, ela visa identificar as oportunidades de crescimento, apresentando, de maneira simples, as quatro direções nas quais uma organização pode seguir com sua estratégia corporativa. Com isso, ela auxilia na avaliação de oportunidades de crescimento de um determinado negócio em um mercado específico. Afinal, uma estratégia bem elaborada provavelmente levará a organização a alcançar melhores resultados do que seus concorrentes. A ferramenta é especialmente indicada quando uma organização está definindo seu portfólio de produtos ou serviços, pois ajuda a identificar as opções de crescimento para atingir os objetivos a que se propõe. Assim, se ela alinhar adequadamente seus produtos aos mercados certos, poderá operar num estado de sinergia empresarial.
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