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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 marc 16 - nefrolitíase OBJETIVO 1: DESCREVER AS COMPLICAÇÕES E O TRATAMENTO CIRÚRGICO DA NEFROLITÍASE. TRATAMENTO AGUDO Analgesia - Os Anti-Inflamatórios Não Esteroidais (AINE) devem ser prescritos como primeira opção, de preferência pela via oral. Em casos de dor severa ou vômitos, a via parenteral deve ser recomendada. Em geral essas drogas têm efeito analgésico excelente, e também previnem o espasmo da musculatura lisa do ureter. - Os opioides são utilizados somente em pacientes que não respondem ou que não toleram os AINEs (ex.: doença renal crônica prévia, pelo risco de IRA fármaco-induzida). - Diferentemente dos AINEs, os opioides não amenizam o espasmo ureteral, o que justifica o fato deles não serem considerados drogas de “primeira linha” para analgesia (já que não reduzem a recidiva da cólica). Além disso, opioides provocam mais efeitos adversos, como náuseas e vômitos. Bloqueadores Alfa-1-Adrenérgicos - Os bloqueadores alfa-1-adrenérgicos relaxam diretamente a musculatura lisa ureteral. Tais drogas conseguem diminuir o espasmo do trato urinário, facilitando a movimentação do cálculo de modo a aumentar a chance de eliminação espontânea. - Evidentemente, eles reduzem a intensidade e as recidivas da cólica nefrética. A combinação AINE + alfabloqueador compõe a chamada Terapia Médica Expulsiva (TME). - Pacientes com cálculos ureterais pequenos (≤ 10 mm), cujos sintomas conseguem ser bem controlados e que não apresentam indicações formais para uma abordagem urológica imediata (ex.: sepse, IRA), podem tentar a TME por um período de até 4-6 semanas. - A droga de escolha na atualidade é o Tamsulosin (Secotex®) na dose de 0,4 mg/dia. Bloqueadores de canais de cálcio (ex.: nifedipina) também podem ser usados com o mesmo intuito, porém, são menos eficazes do que os alfabloqueadores e apresentam maior incidência de efeitos colaterais (ex.: hipotensão arterial). Hidratação - Classicamente se recomendava uma hidratação “forçada”, “vigorosa”, com o intuito de aumentar a produção de urina e, por conseguinte, a “coluna de pressão” acima do cálculo impactado, o que facilitaria sua eliminação espontânea. - Todavia, até hoje nenhuma evidência científica comprovou este benefício, pelo contrário: os estudos sugerem que uma hidratação mínima é tão ou mais eficaz! A hidratação venosa deve ser instituída quando for necessário corrigir um quadro de franca desidratação (ex.: náuseas e vômitos importantes) bem como quando houver indicação de analgesia parenteral. Seguimento - Ao contrário do que muita gente pensa, a maioria das ureterolitíases sintomáticas pode e deve ser manejada de forma conservadora, já que os cálculos com frequência são pequenos (< 5 mm), possuindo grande chance de eliminação espontânea. - A probabilidade de expulsão de um cálculo é inversamente proporcional ao seu tamanho. - Na ausência de complicações que indiquem uma abordagem intervencionista imediata, a literatura moderna aceita uma tentativa inicial de manejo conservador (com terapia médica expulsiva) para cálculos ureterais ≤ 10 mm. - Não obstante, se paciente e médico estiverem de acordo, a abordagem intervencionista pode ser indicada independentemente do tamanho do cálculo ou da presença de complicações. - Vale lembrar que durante a TME devemos reavaliar o paciente (ex.: USG após 7-14 dias), a fim de verificar se houve migração do cálculo. - Quando o cálculo – mesmo pequeno – não for expelido no prazo de quatro a seis semanas, uma abordagem intervencionista deverá ser programada. INTERVENÇÃO UROLÓGICA - A maioria dos cálculos ureterais com < 5 mm é eliminada espontaneamente, ainda que o paciente não receba qualquer tipo de tratamento. Contudo, a TME acelera a passagem do cálculo, devendo sempre ser oferecida. Acima de 5 mm a probabilidade de eliminação espontânea diminui de forma progressiva, sendo extremamente baixa com cálculos maiores do que 10 mm. Desse modo, no tocante às dimensões do cálculo, o “ponto de corte” atualmente aceito pela literatura para indicar uma abordagem intervencionista precoce é > 10 mm. - Cálculos impactados no ureter com > 10 mm de diâmetro devem ser removidos por alguma forma de intervenção urológica, pois sua chance de eliminação espontânea é remota. - Acontece que não é somente o tamanho do cálculo que importa. Na realidade, uma intervenção urológica precoce deve ser indicada nas seguintes circunstâncias - No caso de infecção urinária, o tipo de intervenção urológica imediata deve ser apenas a desobstrução da via urinária. A retirada do cálculo só deve ser realizada num segundo momento, após resolução do processo infeccioso e estabilização clínica do paciente. - Existem quatro modalidades de intervenção urológica para a retirada de cálculos urinários: (1) Litotripsia com Ondas de Choque Extracorpórea (LOCE); (2) Litotripsia por ureterorrenoscopia (endourológica); (3) Nefrolitotomia percutânea (cirurgia minimamente invasiva); (4) Nefrolitotomia aberta (“anatrófica”). - O tratamento cirúrgico da nefrolitíase evoluiu significativamente a partir das décadas de 1980 e 1990 com o advento da litotripsia extracorpórea (LECO) e dos métodos cirúrgicos microinvasivos. Em consequência, a cirurgia aberta foi sendo progressivamente substituída por tais métodos, utilizada num número pequeno de casos selecionados. As principais indicações de tratamento cirúrgico na nefrolitíase são: dor intratável; dilatação de via excretora; infecção urinária; hematúria espoliante. - A seleção do método intervencionista é determinada basicamente por fatores que dependem: das características do cálculo: tamanho, localização, número e composição; da anatomia renal: presença de obstrução, variações anatômicas; do paciente: presença de infecção do trato urinário, obesidade, deformidades anatômicas, idade, comorbidades, função renal. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Litrotripsia Extracorpórea (LOCE) - É considerado o tratamento de primeira escolha para a maioria dos cálculos renais e ureterais. - Neste método, um aparelho gera ondas mecânicas convergentes que se propagam através dos tecidos do paciente, tendo como ponto focal o cálculo. - Com uma “dose” adequada de energia o cálculo consegue ser “pulverizado” em pequenos fragmentos, que passam espontaneamente pelo ureter. - A LOCE é menos eficaz (e por isso não deve ser indicada) nas seguintes situações: (1) cálculos > 20 mm; (2) cálculos localizados no polo inferior do rim; (3) cálculos “duros”, como os de cistina. - Em todos esses casos a quebra do cálculo é insatisfatória, gerando fragmentos grandes demais para serem eliminados espontaneamente. - o paciente é colocado num tanque d’água, numa posição em que o cálculo é centrado no ponto focal de dois refletores parabólicos. A localização do cálculo é feita por radioscopia ou ultrassonografia. Ondas de choque de alta intensidade são então criadas por descargas de alta voltagem no aparelho, e os refletores focalizam a energia para o cálculo. Atualmente existem três sistemas para a geração das ondas de choque: eletroidráulico, piezoelétrico e eletromagnético. - A litotripsia extracorpórea é o método de primeira escolha para os cálculos RENAIS e URETERAIS PROXIMAIS com tamanho inferior a 20 mm. - O sucesso (paciente livre de cálculos) é alcançado em 90-100% dos casos. O método também é útil para tratar os cálculos em ureter médio, com sucesso em torno de 90%. Nesta última localização, tanto a LOCE quanto a ureterorrenoscopia são igualmente aceitáveis. No ureter distal, a LOCE é considerada como alternativa à litotripsia por ureterorrenoscopia, com taxa de sucesso um pouco inferior a 85%. - Complicações: a principal é o hematoma perinéfrico, que mesmo assim é raro (< 1% dos casos).- Pacientes em uso de AAS devem ter a droga suspensa duas semanas antes do procedimento, e os AINEs empregados no esquema de analgesia devem ser suspensos pelo menos 48h antes. - A litotripsia extracorpórea (LECO), por ser método não invasivo e com baixa incidência de complicações, tem atualmente grande aplicação no tratamento da nefrolitíase. - Os princípios físicos do tratamento baseiam-se no uso de fonte de alta energia e de baixa frequência concentradas no cálculo. A técnica visa à implosão do cálculo com a menor lesão possível ao propagar-se pelos tecidos perirrenais. Os mecanismos de fragmentação dos cálculos baseiam- se na compressão (por pressão positiva), na desaceleração (a partir da diferença de densidade) e na cavitação (com o colapso interno). - O baixo índice de complicações, o baixo custo relativo, a possibilidade de aplicação rápida e ambulatorial, além do caráter não invasivo tornaram possível a popularização da litotripsia extracorpórea. - Considerando as características inerentes ao paciente, os melhores resultados ocorreram naqueles com peso inferior a 100 kg e com distância entre a superfície cutânea e cálculo inferior a 10 cm. - Em relação às características do cálculo, melhores resultados ocorrem em cálculos menores que 1 cm e localizados em cálice superior. - Como desvantagens do método, citam-se a dificuldade na fragmentação dos cálculos em pacientes obesos, a eliminação frequentemente dolorosa destes, a necessidade de procedimentos auxiliares quando a eliminação do cálculo é incompleta, a necessidade de reaplicações e a dificuldade de fragmentação em doenças especificas (como nos cálculos de cistina). - As complicações relatadas podem ser agudas ou crônicas. Dentre as agudas, citam-se a cólica ureteral (cerca de 10% dos casos), a formação de hematomas perirrenais (que são sintomáticos em menos de 1% dos casos) e a síndrome séptica secundária à infecção do trato urinário (que pode ocorrer em 1 a 4% dos casos). Dentre as complicações tardias, cita-se o surgimento de hipertensão, que é levemente mais prevalente naqueles submetidos à litotripsia extracorpórea quando comparados à população geral – 8% versus 6%. - Outro estudo, realizado na Mayo Clinic, com análise retrospectiva de 19 anos, detectou um aumento da prevalência de diabetes melito entre os pacientes submetidos à litotripsia extracorpórea quando comparados à população geral. Ocorrência de diabetes entre estes pacientes esteve relacionada a elevado número de sessões de litotripsia extracorpórea, tal como em sessões que utilizaram níveis mais elevados de energia. Outra complicação relatada refere-se à perda transitória de função renal, mais frequente em idosos e crianças. Cirurgia Percutânea/ Nefrolitotomia Percutânea - A nefrostomia (cirurgia minimamente invasiva) substituiu a cirurgia aberta na nefrolitíase. Guiado pela radioscopia ou ultrassonografia, o urologista faz uma punção percutânea da pelve renal, introduzindo um guia e, em seguida, diversos dilatadores, de modo a formar um pertuito de acesso aos cálculos intrarrenais. O próximo passo é introduzir o nefroscópio, munido de fórcipe removedor e sondas de litotripsia intracorpórea. - Cálculos < 1 cm podem ser removidos diretamente pelo fórcipe, através do canal de nefrostomia. Aqueles com > 2 cm devem ser primeiro fragmentados pela litotripsia in situ (intracorpórea), para depois serem removidos. - Indicaremos a nefrolitotomia percutânea preferencialmente aos demais métodos citados quando os cálculos apresentarem as seguintes características: 1- Tamanho > 2 cm; 2- Cálculos coraliformes; 3- Localizados no polo renal inferior; 4- Refratários à LOCE. - Os cálculos coraliformes devem ser inicialmente submetidos à nefrolitotomia percutânea. Cálculos residuais presentes após o procedimento podem ser abordados com LOCE (litotripsia extracorpórea), seguida eventualmente por uma nova nefrolitotomia percutânea. É a chamada “terapia sanduíche” (nefrolitotomia percutânea – LOCE – nefrolitotomia percutânea). - A cirurgia percutânea (ou nefrolitotripsia percutânea – NPL) encontra-se dentre os procedimentos denominados “minimamente invasivos” e assemelha-se à cirurgia videolaparoscópica moderna. Por meio de uma punção transcutânea e introdução de equipamento óptico dentro da via excretora, ocorre a extração de cálculos renais e mesmo ureterais. - A nefrolitotripsia percutânea é o método de escolha para o tratamento de cálculos renais maiores que 2 cm e para cálculos coraliformes. Pode ser usada também quando não houver sucesso com a litotripsia extracorpórea. - Tem como vantagens: não depender das características do cálculo, permitir recuperação rápida no pós-operatório, permitir abordagem em pacientes obesos que não obtiveram resposta com a litotripsia extracorpórea e, finalmente, permitir reoperações precoces. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Tem como desvantagens: risco de complicações graves como hemorragia e infecção, custo, dose elevada de raios X e ser método dependente da experiência do cirurgião. Ureteroscopia Semirrígida e Flexível/ Litotripsia por Ureterorrenoscopia - Na ureterorrenoscopia, um ureteroscópio rígido, semirrígido ou flexível (fibra óptica) é introduzido sob visão cistoscópica direta no óstio ureteral, podendo ser levado até o interior da pelve renal. Tal instrumento permite a aplicação de diversas modalidades de litotripsia intracorpórea, objetivando a fragmentação dos cálculos. - O tipo de sonda de litotripsia intracorpórea mais utilizado na prática atual é o Holmium-YAG laser. A passagem de baskets (cestas coletoras) ou tubos de aspiração permite a retirada dos fragmentos produzidos. - Coloca-se cateter duplo J. - A ureteroscopia é o método de escolha para a retirada dos cálculos impactados em URETER DISTAL, com uma taxa de sucesso de virtualmente 100%. Em ureter médio, a taxa de sucesso gira em torno de 90%, sendo equiparável a da LOCE para cálculos nessa topografia (como vimos, tanto faz utilizar a LOCE ou a ureterorrenoscopia nesses casos). - Já os cálculos impactados em ureter proximal/junção ureteropélvica, ainda que também possam ser abordados pela ureterorrenoscopia, são melhor tratados com LOCE ou nefrolitotomia percutânea. A litotripsia por ureterorrenoscopia é considerada terapia de “segunda escolha” para cálculos proximais - A ureteroscopia semirrígida pode ser indicada no tratamento dos cálculos ureterais distais e proximais, principalmente em subgrupos com alto risco de complicações ou insucesso com a litotripsia extracorpórea, como os portadores de coagulopatias e os obesos, respectivamente. Além disso, seu uso pode ser reservado como segunda opção de tratamento para casos que não responderam à litotripsia extracorpórea. Cirurgia Aberta para Tratamento da Nefrolitíase/ Nefrolitotomia Aberta (Anatrófica) - A nefrolitotomia aberta foi o primeiro procedimento cirúrgico utilizado para a retirada de cálculos renais, porém, hoje é uma cirurgia quase que obsoleta. Uma minoria dos pacientes necessita dessa técnica, graças ao enorme sucesso dos procedimentos anteriormente descritos. - As principais indicações são: (1) Refratariedade aos métodos não invasivos (LOCE) ou minimamente invasivos (ureterorrenoscopia, nefrolitotomia percutânea); (2) Cálculos anatomicamente complexos e extensos, em geral coraliformes. - O procedimento pode ser uma pielolitotomia aberta simples ou uma nefrolitotomia “anatrófica”. O termo anatrófico quer dizer “sem atrofia”, pelo fato de o parênquima ser incisado para acesso da pelve renal numa região conhecida como linha avascular de Brodel, evitando a ocorrência de lesão vascular iatrogênica. - De outro modo, haveria atrofia pós-operatória variavelmente extensa do parênquima renal, devido à lesão vascular. Vale ressaltar que a perda da funçãodo rim acometido (confirmada por uma cintilografia com DTPA), associada a um cálculo renal impactado ou coraliforme, indica a realização de uma nefrectomia. - Apesar de ser cada vez menos utilizada, a cirurgia aberta ainda tem seu papel no tratamento de cálculos complexos ou quando existem alterações anatômicas importantes do trato urinário (como estenose do infundíbulo). Pode também ser utilizada quando o paciente apresenta deformidades esqueléticas importantes que impeçam a realização dos procedimentos minimamente invasivos. TRATAMENTO DA LITÍASE COMPLICADA - Denominamos “litíase complicada” quando um cálculo obstrutivo se associa à infecção renal (pielonefrite) ou quando sobrevém insuficiência renal aguda pós-renal, por obstrução ureteral total bilateral ou em rim único. - Os cálculos ditos complicados são aqueles que se associam à infecção renal ou à obstrução ureteral total gerando insuficiência renal aguda pós- renal. Nestes casos, a intervenção deve ser o mais precoce possível. - Em tais casos, a primeira preocupação não deve ser retirar o cálculo, mas sim desobstruir a via urinária, a fim de evitar a evolução para perda irreversível do parênquima. Além disso, uma pielonefrite obstruída leva facilmente à sepse urinária fulminante, bacterêmica, uma condição de enorme letalidade. - Para desobstruir o rim acometido, dois procedimentos emergenciais podem ser usados: (1) Nefrostomia percutânea (cateter “único-J”); (2) Stent ureteral (cateter “duplo-J”). Conduta Urológica no Tratamento da Litíase Urinária INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA) - Obstruções unilaterais costumam não resultar em insuficiência renal aguda (IRA). Entretanto, determinadas situações como rim único (inclusive rim transplantado), doença renal crônica prévia, concomitância de outros fatores agravantes, como pielonefrite aguda e síndrome séptica, são fatores de risco para desenvolvimento de insuficiência renal aguda nas obstruções unilaterais. - Em casos de anúria, a etiologia obstrutiva deve sempre ser descartada por exame de imagem. Em nefrolitíase, a anúria pode se associar a obstruções baixas (uretrais, por exemplo), a obstruções bilaterais (incomuns) ou mesmo a obstruções unilaterais, quando o rim não obstruído já apresenta doença parenquimatosa. - Outra causa de anúria em obstrução ureteral unilateral denomina-se “anúria reflexa”, cuja fisiopatologia relaciona-se ao espasmo reflexo do ureter contralateral durante a passagem traumática do cálculo no lado afetado. Caso o fator obstrutivo permaneça, haverá dano tubular e necrose tubular aguda. - Vale lembrar que, após o alívio de uma obstrução bilateral, pode ocorrer o fenômeno de diurese pós-obstrutiva, cuja principal manifestação é a perda de água e eletrólitos, principalmente sódio e potássio. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 DOENÇA RENAL CRÔNICA - A hidronefrose, a atrofia do parênquima renal e o desenvolvimento de doença renal crônica são complicações graves e cada vez mais diagnosticadas. Estima-se que cerca de 5 a 13% dos pacientes com doença renal crônica (DRC) em terapia renal substitutiva (TRS) tenham a nefropatia obstrutiva secundária à nefrolitíase como doença de base. - Dentre os tipos de cálculo, o de estruvita destaca-se como causa frequente de doença renal crônica. Doenças mais raras, como o hiperparatireoidismo primário, a cistinúria e a hiperoxalúria primária, também podem evoluir com doença renal crônica e necessidade de terapia renal substitutiva. OBJETIVO 2: REVER O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE DORES RENAIS E OSTEOMUSCULARES (ANAMNESE E EXAME FÍSICO). - A obtenção da história do paciente é a base da avaliação médica e, portanto, urológica, pois permite estabelecer hipóteses diagnósticas, orientando os exames a ser requisitados. Anamnese completa e exame clínico minucioso permitem direcionar a investigação para se estabelecer o diagnóstico preciso e com o mínimo de exames subsidiários, ou seja, menor custo. ANAMNESE - Distúrbios miccionais necessitam de exata caracterização para uniformização de discussões e troca de informações científicas. - Disúria: emissão de urina com diferentes graus de desconforto. Na prática, traduz-se por micção acompanhada de dor. - Polaciúria: aumento da frequência das micções, ou seja, micções com intervalos menores que o habitual. Frequentemente, associa-se à eliminação de volumes urinários menores que os de hábito. - Poliúria: aumento do volume urinário, ou seja, da diurese. - Oligúria: diminuição da diurese. - Anúria: ausência total de urina. - Urgência: desejo forte, súbito e irrefreável de urinar ou imperiosidade. - Esforço: condição em que se usam recursos auxiliares para urinar. - Alteração do jato: força e/ou calibre. Geralmente, há esforço miccional; tem significado clínico semelhante. - Retenção urinária: incapacidade de eliminar a urina acumulada na bexiga. - Incontinência: perda involuntária de urina. Contínua ou intermitente, com ou sem micções preservadas, relacionada ou não ao esforço abdominal. - Nictúria: micção noturna. Sinônimo de noctúria, reflete diminuição da autonomia miccional ou aumento do volume urinário noturno. - Alterações das características da urina: Ao ser eliminado, o filtrado urinário tem aspecto límpido, cor amarelo-citrina e odor característico (sui generis). - Febre: Pode ocorrer em processos infecciosos localizados em qualquer parte do sistema geniturinário, sendo mais frequente em pielonefrite, epididimite e prostatite. Habitualmente é intensa, de início súbito, podendo estar acompanhada de calafrios e de tremores. - Dor: Dor proveniente do trato geniturinário costuma ser bastante intensa e normalmente associa-se a inflamação ou a obstrução. Deve ser caracterizada quanto ao tipo (contínua ou intermitente), à localização, à irradiação, à intensidade e a fatores desencadeantes de melhora ou de piora. De maneira geral, dor decorrente de inflamação é contínua, ao passo que aquela oriunda de processo obstrutivo tem caráter em cólicas. Quanto à localização, aquela proveniente do rim normalmente localiza-se no ângulo costovertebral ipsilateral – lateral ao músculo sacroespinhal e abaixo da 12a costela. Essa dor é atribuída à distensão súbita da cápsula renal, podendo irradiar-se ao trajeto do ureter, à região umbilical e até aos genitais. Por estímulo reflexo ao plexo celíaco, pode haver náuseas, vômitos e diarreia. Dor originada no ureter aparece subitamente, geralmente secundária à obstrução, por distensão aguda e aumento de sua peristalse. Suspeita do nível de obstrução pode se dar pela localização da dor: quando de terço superior, pode mimetizar dor renal; no terço médio, pode ser referida no quadrante inferior do abdome, à direita no ponto de McBurney (e sugerir apendicite) e à esquerda lembrando diverticulite. EXAME CLÍNICO - Informações obtidas na anamnese devem ser confirmadas e complementadas pelo exame clínico, que deve ser realizado de maneira completa e minuciosa. Com a anamnese, é chave na avaliação do paciente, devendo ser exercitado em sua plenitude, ou seja, por meio de inspeção, palpação, percussão e ausculta. - Febre: Pode ocorrer em processos infecciosos localizados em qualquer parte do sistema geniturinário, sendo mais frequente em pielonefrite, epididimite e prostatite. Habitualmente é intensa, de início súbito, podendo estar acompanhada de calafrios e de tremores. - Avaliação geral: Fornece impressão inicial e deve focar as alterações cutâneas (icterícia ou palidez) e o estado nutricional, pois caquexia é sinal frequente de doença neoplásica maligna. - Rins: Por estarem protegidos pelo gradeado costal e por musculatura, geralmente os rins não são palpáveis no adulto. O esquerdo, por ser mais alto, é praticamente impalpável. Punho-percussão da loja renal (manobra de Giordano) deve ser feitade maneira sutil e costuma ser positiva em pacientes com distensão da cápsula renal por obstrução ou por infecção. Todo paciente com queixa de dor lombar deve ser examinado em busca de sinais de irritação de raízes nervosas ou de dor osteomuscular. - Bexiga: Em adultos, não pode ser avaliada por palpação ou por percussão, a menos que contenha urina em quantidade superior a 300 ml. - No exame físico, serão feitos testes físicos específicos para o diagnóstico da lombalgia, entre eles a flexão e extensão da coluna lombar, a manobra de Lasègue e a manobra de Valsalva. - Movimento de flexão da coluna: deve ser em torno de 90°. Movimento de extensão: 20 a 30°. - Movimentos de lateralização: em torno de 30° da direita e da esquerda. - Movimentos de rotação: de 20 a 45°. - TESTE DE ELEVAÇÃO DA PERNA RETA ou TESTE DE LASÈGUE (Raiz de L4, L5 E S1): paciente em decúbito dorsal eleva o membro acometido, com o avaliador apoiando o joelho para evitar a flexão, este vai se queixar de dor com irradiação normalmente em torno de 30 a 70° de elevação. - TESTE DE ESTIRAMENTO DO NERVO FEMORAL (Raiz de L2, L3 E L4): paciente em decúbito ventral faz-se a flexão do joelho com elevação da perna, paciente queixará de dor da região lombar até a fossa poplítea. OBJETIVO 3: DISCUTIR OS RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO (AINES). - Um fenômeno discutido, principalmente por profissionais da área de saúde é a automedicação. Esta é definida como uso de medicamentos sem prescrição médica, onde o mesmo ocorre pela decisão do próprio paciente. - A prática da automedicação faz com que a população seja exposta a sérios riscos relacionados à segurança quanto ao uso racional dos medicamentos, podendo muitas vezes mascarar uma doença, agravar seu quadro ou trazer novos problemas pelos seus efeitos adversos. - Estima-se que no mundo mais de 30 milhões de pessoas utilizem diariamente os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), sendo, em alguns países, a classe medicamentosa mais consumida sem receita médica, apesar de sua toxicidade e de seus efeitos adversos, principalmente os gastrointestinais. - Os AINEs são amplamente utilizados no tratamento da dor aguda e crônica decorrente do processo inflamatório. Suas propriedades antiinflamatórias, 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 analgésica e antipirética são devido a inibição da síntese das prostaglandinas (PG), inibindo as enzimas ciclo-oxigenase 1 (COX-1) e ciclo- oxigenase 2 (COX- 2). A COX-1 encontrada em vários tecidos, sendo uma enzima capaz de promover a função de homeostasia. Já a COX-2 é uma enzima induzida na inflamação, tendo influência nos eventos vasculares. Tais enzimas estão envolvidas diretamente na produção de prostaglandinas, as quais exercem papel importante na manutenção de órgãos e tecidos. - Os AINEs causam reações adversas devido a sua toxicidade sobre vários sistemas, entre os efeitos mais importantes estão os danos gastrointestinais, que podem ir do desconforto abdominal até a erosão da mucosa, podendo levar ao sangramento e perfuração. Podem ainda induzir ou agravar a hipertensão arterial, provocar insuficiência renal, síndrome nefrótica, necrose papilar e outras formas de doença renal. - Os efeitos colaterais costumam ser bastante semelhantes para todos os AINEs: No sistema nervoso central: Cefaleia, zumbido e tontura. Cardiovasculares: Retenção hídrica, hipertensão, edema e, raramente, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva. Gastrintestinais: Dor abdominal, displasia, náuseas, vômitos e, úlceras ou sangramento. Hematológicos: Raramente, trombocitopenia, neutropenia ou até mesmo anemia aplástica. Hepáticos: Provas de funções hepáticas anormais e, raramente, insuficiência hepática. Pulmonares: Asma. Cutâneos: Exantemas de todos os tipos, prurido. Renais: Insuficiência renal, falência renal, hiperpotassemia e proteinúria - As gastropatias induzidas por AINEs, além da erosão da mucosa estomacal já discutida, incluem, ainda, esofagite, hemorragia digestiva e reativação de doença inflamatória intestinal. Estas lesões revelam-se, através de náuseas e vômitos, dor gástrica e, em alguns casos, diarréia ou a presença de sangue nas fezes. - Sobre os rins, são mais frequentes a nefrite intersticial, insuficiência renal aguda, retenção de Na+ e edema difuso. - Sob o aparelho cardiovascular a descompensação de insuficiência cardíaca (IC) e aumento do risco de eventos aterotrombóticos (expecialmente os coxibs). Além destas, existem, ainda, relatos de desenvolvimento de urticária, angioedema e eritema polimorfo-Stevens Johnson com praticamente todos os AINEs. - Efeitos estes que acarretam disfunções sobre os sistemas cardiovascular, cerebrovascular, renal e reprodutor feminino. - As complicações gastrintestinais podem estar associada são uso dos AINEs, e não se pode esquecer que o uso crônico dessas medicações pode acarretar esofagite, gastrite ou duodenite, úlcera gástrica ou duodenal. - Além disso, a utilização concomitante de corticosteróides, anticoagulantes e a história pregressa do paciente são os principais fatores de riscos para estas complicações. - Os efeitos no sistema renal por AINE se atribui à inibição da síntese de PG, o que leva a isquemia renal reversível, declínio da pressão hidrostática e insuficiência renal aguda. - Durante o primeiro e o segundo trimestre da gravidez, o uso de AINE não é recomendado. Apresentou estudo populacional que demonstrou aumento de 80% na taxa de risco de aborto espontâneo associado ao AINE, aumentando esse risco com uso próximo da concepção ou por mais de uma semana. - Em idosos, o uso de AINE deve ser considerado com cautela, visto o aumento do risco de sangramento gastrintestinal e perfurações, manifestações que podem ser fatais. Os AINEs não são recomendados em gestantes.
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