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Definição: Ausência completa da valva tricúspide e conexão atrioventricular direita, não havendo nenhuma comunicação entre o átrio direito (AD) e o ventrículo direito (VD). Para que o fluxo pulmonar seja mantido, é obrigatório ter comunicação interatrial (CIA), forame oval patente e comunicação interventricular (CIV) ou persistência do canal arterial. O ventrículo direito pode ser hipoplásico ou ausente. Fisiopatologia O sangue de retorno venoso sistêmico passa para o átrio esquerdo (AE) pela CIA e mistura-se com o sangue oxigenado, vindo da circulação pulmonar antes de chegar ao ventrículo esquerdo (VE). Esse sangue misturado vai tanto para a circulação sistêmica quanto para a circulação pulmonar. O fluxo pulmonar depende do diâmetro da CIV ou do canal arterial e do grau de estenose pulmonar. Apresentação Clínica Anamnese Quadro clínico: Tem prevalência de 0,05 por 1000 nascidos vivos, sendo 0,78% das cardiopatias congênitas. É a terceira cardiopatia congênita cianótica mais comum, sendo a causa mais comum de cianose com hipertrofia de VE. Ocorre prematuridade em aproximadamente 6% dos pacientes. Quase 50% dos pacientes apresentam sintomas no primeiro dia de vida e 80% são sintomáticos no primeiro mês de vida. A apresentação clínica depende do fluxo pulmonar efetivo, havendo cianose quando o fluxo está diminuído ou insuficiência cardíaca quando o fluxo está aumentado. A cianose é o sintoma principal que surge no 1º dia de vida. Está diretamente relacionada com o fluxo pulmonar, sendo mais intensa quando há CIV restritiva e estenose pulmonar. Se houver transposição de grandes artérias, a cianose é discreta ou ausente. Crises hipoxêmicas podem ocorrer nos lactentes em torno de seis meses de vida, por causa da diminuição ou fechamento da CIV, da piora da estenose infundibular ou do fechamento do canal arterial. Nos casos com fluxo pulmonar aumentado, é comum ter sinais de insuficiência cardíaca como taquipneia, sudorese, cansaço às mamadas, palidez e infecções respiratórias. Exame Físico Ao exame físico, há cianose de grau variado associada aos sinais de insuficiência cardíaca; ● A ausculta revela sopro holossistólico em borda esternal esquerda, quando há CIV. Nos casos de atresia pulmonar com persistência do canal arterial (PCA) é possível auscultar sopro contínuo; ● Nos pacientes com comunicação atrial restrita, podem ser detectadas hepatomegalia e distensão jugular com onda “a” proeminente; ● Quando há coarctação da aorta, os pulsos femorais estão diminuídos. Abordagem Diagnóstica Ecocardiograma: - Pré-natal: é o padrão-ouro como teste diagnóstico pré-natal e deve ser feito de 18 a 22 semanas de idade gestacional de rotina. Caso haja suspeita de atresia tricúspide, deve-se encaminhar a gestante para hospital terciário para adequado acompanhamento; - Pós-natal: estabelece o diagnóstico definitivo da atresia tricúspide. Avalia o tamanho do VD, as dimensões das CIV e CIA, a relação das grandes artérias e a confluência das artérias pulmonares, a presença do canal arterial e as anomalias associadas. ● Hemograma: Revela policitemia por causa da cianose. Gasometria arterial: Pode revelar hipóxia, acidose metabólica ou mista.: Realizar teste de hiperóxia para estabelecer diagnóstico clínico de cardiopatia congênita cianótica, o qual envolve coleta de sangue em artéria radial direita (por ser uma região pré-ductal) com FiO2 a 21% e depois de manter paciente com FiO2 a 100% por 5 a 10 minutos, colher nova gasometria arterial na artéria radial direita; Se a PaO2 for > 250 mmHg após esse tempo com FiO2 a 100%, excluímos a presença de cardiopatia cianótica como atresia tricúspide. Se for > 160 mmHg, o diagnóstico é pouco provável; ● Atenção: nas cardiopatias com fluxo sanguíneo pulmonar dependente de canal arterial, o uso de oxigênio acelera o fechamento do canal arterial e não melhora saturação arterial de oxigênio. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) e tempo de protrombina (TP): Podem estar alterados de forma secundária à policitemia. Eletrocardiograma (ECG): Avalia o ritmo, a frequência cardíaca, hemibloqueio anterior esquerdo, sobrecarga AD e VE. Cateterismo cardíaco: Sua indicação é imprescindível antes da correção definitiva para estudo das pressões. Também indicado para realizar atriosseptostomia com cateter balão nos casos de CIA restritiva. Radiografia de tórax: ● Nos casos com fluxo sanguíneo pulmonar diminuído: área cardíaca normal ou pouco aumentada. Circulação pulmonar diminuída; ● Nos casos com fluxo sanguíneo pulmonar aumentado: área cardíaca aumentada. Circulação pulmonar exibe sinais de congestão venosa importante. Morfologia ● A atresia muscular é a forma mais comum (80%). Neste subtipo, existe uma musculatura sólida no assoalho do AD com um dimple na localização esperada da válvula tricúspide (VT); ● Atresia membranosa (10%), na qual a porção atrioventricular do septo membranoso forma o assoalho do AD; ● Atresia valvular (5%), em que pequenas cúspides valvulares são fundidas juntas; Subtipo Ebstein, em que há deslocamento para baixo e fusão dos folhetos da VT na parede do VD. Classificação -Tipo I (70 a 80%) — anatomia normal das grandes artérias: ● Subgrupo a: septo ventricular intacto com atresia pulmonar; ● Subgrupo b: CIV pequena com estenose pulmonar ou hipoplasia; ● Subgrupo c: CIV grande sem estenose pulmonar. -Tipo II (12 a 25%) — dextrotransposição das grandes artérias: ●Subgrupo a: CIV com atresia pulmonar; ●Subgrupo b: CIV com estenose pulmonar ou hipoplasia; ●Subgrupo c: CIV sem estenose pulmonar. -Tipo III (3 a 6%) — levotransposição das grandes artérias (ex.: truncus arteriosus, defeitos do septo atrioventricular, ventrículo direito de dupla saída). Diagnóstico Diferencial ●Coarctação da Aorta; ●Ventrículo direito de saída dupla com grandes artérias normalmente relacionadas; ●Ventrículo direito de saída dupla com transposição; ●Persistência do Canal Arterial; ●Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico; ●Defeito Septal Ventricular Perimembranoso; ●Ventrículo Único; ●Defeito Septal Ventricular Supracristal; ●Tetralogia de Fallot com Válvula Pulmonar Ausente; ●Tetralogia de Fallot com Atresia Pulmonar; ●Transposição das Grandes Artérias; ●Estenose tricúspide; ●Atresia Pulmonar. Abordagem Terapêutica Abordagem Clínica Inicial ● A abordagem terapêutica deve visar a garantia de manutenção do fluxo sanguíneo pulmonar adequado, além de estabilidade cardiovascular. Para isso, deve-se oferecer suporte cardiorrespiratório geral para lactentes com comprometimento respiratório, hipotensão, hipoperfusão, acidose e hipotermia. Estas medidas incluem suporte respiratório (oxigênio suplementar e/ou ventilação mecânica), agentes inotrópicos, correção de acidose e alterações metabólicas, como hipoglicemia; ● O uso de prostaglandina E (0,01 a 0,2 microgramas/kg/minuto EV) é fundamental para manter o canal arterial aberto até confecção cirúrgica de shunt aortopulmonar para aumentar fluxo sanguíneo pulmonar como procedimento de Blalock-Taussig (anastomose entre a artéria subclávia e a artéria pulmonar). Tratamento Cirúrgico O tratamento cirúrgico é obrigatório para todos os tipos de atresia tricúspide. O momento da realização e o tipo da abordagem cirúrgica paliativa dependerão das alterações estruturais de cada paciente e do grau da obstrução ao fluxo pulmonar e/ou sistêmico. ● Tipos de cirurgia: -Neonatos com defeitos de septo atrial restritivo devem submeter-se a septostomia atrial por cateter balão (procedimento de Rashkind); -A primeira cirurgia indicada para neonatos com hipoxemia importante é a cirurgia paliativa de derivação sistêmico-pulmonar (cirurgia de Blalock-Taussig modificada); -Após cirurgia de Blalock-Taussig modificada, geralmente entre 3 a 6 meses de idade, deve ser submetido à cirurgia de Glenn com shunt bidirecional ou Hemi-Fontan; -Depois da cirurgia de Glenn ou Hemi-Fontan, geralmente entre 2 e 5 anos de idade, está indicada a cirurgia de Fontan modificada (anastomose entre veia cava inferior diretamente nasartérias pulmonares por túnel de Fontan lateral ou por conduto externo); Em crianças maiores, com pressão pulmonar baixa, a cirurgia de Fontan pode ser realizada em uma única etapa; -Se houver hiperfluxo pulmonar e insuficiência cardíaca, deve-se realizar primeiro a bandagem da artéria pulmonar para evitar o desenvolvimento de hipertensão pulmonar que inviabilize as correções futuras. Guia de Prescrição Tratamento Hospitalar Dieta e Hidratação 1. Dieta zero ou própria para a idade, avaliando se a criança tem condições de sugar ou se precisa de sonda nasogástrica ou de nutrição parenteral. 2. Avaliar necessidade de hidratação venosa. 3. Avaliar necessidade de suporte respiratório (oxigênio suplementar e/ou ventilação mecânica). 4. Alprostadil (500 microgramas/mL) dose inicial de 0,05-0,1 micrograma/kg/minuto EV. A dose deve ser aumentada diante de resposta inadequada e diminuída até dose mínima efetiva conforme resposta do paciente. Dose de manutenção 0,01-0,4 micrograma/kg/minuto EV. Insuficiência Cardíaca 5. Dobutamina (solução injetável 12,5 mg/mL, ou seja, 12500 microgramas/mL): Neonatal EV, em acesso venoso profundo: dose inicial 0,5-1 micrograma/kg/minuto, titular até resposta desejada com dose de manutenção usual de 2-20 microgramas/kg/minuto. 6. Furosemida (solução oral pouco disponível 2 mg/mL; 40 mg comprimido oral - diluir o comprimido se não estiver disponível para alcançar dose desejada; solução injetável 10 mg/mL EV): ● Neonatal EV/VO idade gestacional (IG) ≤ 31 semanas: dose habitual 1 mg/kg/dose de 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 24/24 horas; ● Neonatal EV (via de escolha se paciente grave)/ VO IG ≥ 31 semanas: dose habitual 1 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas; ● Pediátrica: EV (via de escolha se estiver grave) / VO : dose inicial (0,5 a 2 mg/kg/dose) a cada 6h ou a cada 12h. Se necessário e for possível o uso do trato gastrointestinal: ● Espironolactona (solução oral: 2,5 mg/mL - pouco disponível; comprimido: 25 ou 50 mg/cp): 1-3 mg/kg/dia VO de 12/12 ou 24/24 horas. Para atingir efeito diurético associado a hidroclorotiazida ou como adjuvante no tratamento da ICC ou poupador de potássio, na ausência de insuficiência renal; ● Hidroclorotiazida (25 ou 50 mg/cp) 1-2 mg/kg/dia VO de 12/12 horas. É necessário diluir o comprimido para atingir dose desejada e dar apenas fração da solução. Sintomáticos 7. Dipirona 25 mg/kg EV até de 6/6 horas, se dor ou febre ≥ 37,8ºC. - Última atualização: 12/10/2020
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