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1 Psicologia e Trabalho @sabrina.estudantedepsi Podemos compreender o ser humano sob duas perspectivas: 1. Como Indivíduo: um, uno, indivisível a si mesmo. Possibilidade de evocar a noção de essência. O indivíduo é concebido como responsável pelo sucesso/fracasso. Se como psicóloga, partimos desse pressuposto, precisamos buscar essa essência. 2. Como Relação: o sujeito é um, ao mesmo tempo que “é” várias outras possibilidades, fruto das relações históricas, assim como de suas escolhas. O sujeito é um resultado de uma equação em aberto composta por múltiplos vetores condicionantes. ▪ Os processos de subjetivação não têm nada a ver com a vida privada, mas designam as operações pelas quais os homens se constituem como sujeitos (Foucault, 1979). ▪ O objeto de trabalho são as relações, os processos e não o sujeito, pois este é um efeito (produto) das relações. ▪ Não há uma subjetividade a ser descoberta, mas sim a ser criada, inventada. Assim, o trabalho como psicóloga tem mais a ver com criar, inventar, produzir, oferecer uma possiblidade de estar em uma relação de qualidade. Não de descobrir a essência do ser humano. Os processos de subjetivação são pré- condição para o pensamento. ▪ Para os gregos a saúde era entendida em relação à possibilidade de enfrentar situações novas, pela margem de tolerância (ou de segurança) que cada um possui para enfrentar e superar as infidelidades do seu meio. ▪ O homem se sente portador de uma super abundância de meios, dos quais é normal abusar (Canguilhem, 1990). ▪ Para Canguilhem, a saúde implica segurança contra os riscos, audácia para corrigi-los e possibilidade de superar nossas capacidades iniciais. Não é apenas uma relação com a conservação. ▪ O ser vivo e o meio não podem ser chamados de normais se forem considerados em separado; o normal é poder viver em um meio em que flutuações e novos acontecimentos são possíveis. (Canguilhem, 1990). É um conceito de saúde que oferece um privilégio ao “erro” (Territorialização e Longitudinalidade). ▪ É o sofrimento e não as medições normativas que estabelece a necessidade de cuidado. ▪ Sofrimento não se pressupõe, sofrimento se escuta; ▪ Não se escuta para depois intervir, a escuta é em si um ato clínico; ▪ Sustentar o lugar de quem não sabe; ▪ O tempo da escuta contribui para que os sujeitos se comprometam com as suas questões; ▪ Acompanhar as Mudanças (atenção as “Pequenas Vertigens”) Evolução; ▪ Escutar é reconhecer do outro do lugar da alteridade e não da empatia. ▪ No referencial grego a política é a participação dos sujeitos na vida comunitária; ▪ A política é o motor da vida coletiva – busca pelo comum; ▪ Intensamente ligada a noção de cidadania – partilha do poder (possibilidade de agir em concerto – H. Arendt); 2 Psicologia e Trabalho @sabrina.estudantedepsi ▪ A política se faz no espaço entre as pessoas, sempre em relação e lidando com os dissensos (H. Arendt). ▪ O espaço da política não é o espaço de produção de consenso, mas é o espaço do conflito de interesses - (Jacques Rancière, 2009) ▪ A palavra detém a violência – na impossibilidade de agir em concerto (poder) abre-se campo para a violência (Hannah Arendt – Sobre a Violência). ▪ Perspectiva instrumental – apropriação dos elementos do território, da cultura, das políticas públicas, dos serviços, das equipes, do esporte e lazer, da educação, trabalho e renda, ... ampliando os elementos que vão compor a análise do profissional sobre a situação/caso, aumentando o conjunto de ofertas as equipes e aos usuários. ▪ Perspectiva Ética – expansão da capacidade de reconhecer modos de vida e com isso criar coletivamente condições concretas, para que estes diferentes modos possam existir. Espera-se com isso: aumentar a capacidade de produção de laço social; ampliação da capacidade de aceitação das diferenças e diminuição da intolerância. ▪ Assim, ampliar a clínica é sobretudo um ato político. ▪ O sentido da clínica não se reduz a um acolhimento de quem demanda tratamento, mas algo que se configura positivamente enquanto ato, como a produção de um desvio - (Passos e Benevides, 2004). ▪ Clinicar aqui é produzir efeitos a partir da escuta e das relações/encontro/parcerias, que se estabelecem. Criar laços que podem se transformar em nós. Assim, clinicar é criar condições, para que outros modos de subjetivação, de construção de si possam acontecer. ▪ Trabalho Colaborativo pressupõe que todos os trabalhadores envolvidos atuem sempre considerando as dimensões clínica e pedagógica do trabalho: transmitir para os demais suas habilidades e competências pela via da ação. É construído por meio da relação recíproca, de dupla mão, entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos profissionais de diferentes áreas, configurando, através da comunicação, a articulação das ações e a cooperação (Peduzzi, 2006). ▪ A aposta na clínica e no compartilhamento do território (responsabilidades, saberes e fazeres) como estratégia de ocupação política dos espaços públicos (intersetorialidade). ▪ O trabalho em rede pressupõe o fortalecimento das estratégias de encontros, comunicação e relacionamentos sistemáticos entre trabalhadores/sujeitos. → Algumas Práticas do Trabalho Colaborativo ou Matriciamento ▪ Atendimento compartilhado; ▪ Discussão de casos clínicos; ▪ Qualificação sobre temas relevantes para as equipes apoiadas (demanda explícita/pactuada ou percebida pelo apoiador); ▪ Construção de protocolos com as equipes; ▪ Suporte na incorporação de novas práticas (ex.: grupos terapêuticos e educativos, técnicas de escuta); ▪ Suporte na construção e condução de projetos terapêuticos singulares; ▪ Suporte no manejo de questões do território. ▪ A equação: + Crises + Precariedade no Trabalho + Desigualdade Social + Pobreza + Uso da Moral + Individualismo + Violências - Instituições - Laços Sociais = Sofrimento Psíquico. 3 Psicologia e Trabalho @sabrina.estudantedepsi ▪ O pensamento evolucionista, típico do século XIX, propiciou características etnocêntricas à Antropologia. ▪ Os seres humanos encontrados aqui são classificados em civilizados e primitivos. ▪ O conceito de cultura é usado nessa perspectiva como desigualdade, como modo de excluir as pessoas consideradas menos civilizadas. ▪ Ao longo do século XX, a questão dos significados se impõe para a Antropologia. Os usos e costumes que eram considerados primitivos passam a ser vistos como parte de um conjunto de significações. ▪ Segundo Clifford Geertz, a cultura é pública porque o significado é público, constituindo relações sociais cotidianamente. Vivemos num mundo de significados. O conceito de Cultura, para Geertz, é, portanto, eminentemente simbólico. → Claude Lévi-Strauss: “Pode ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos dos quais se colocam a linguagem, as regras matrimoniais, as relações econômicas, a arte, a ciência e a religião.” → Marilena Chauí: “É a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística.” → Clifford Geertz: “Acreditando que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias.” → Eunice Durham: “A cultura constitui um processo pelo qual os homens orientam e dão significado às suas ações através de uma manipulação simbólica que é atributo fundamental de toda prática humana.” A dimensão cultural é superposta a outras dimensões (biológica, psicológica, social), como um manto, um complemento ou um verniz, mas o núcleo ainda é biológico. → Implicações: organiza e garante a especificidade de cada matriz disciplinar, porém naturaliza e secundariza a dimensão cultural à dimensão biológica. Baseada em Cllifford Geertz. Os aspectosbiológicos, psicológicos, sociais e culturais são reconhecidos no ser humano, porém são vistos como variáveis em sistemas unitários de análise. → Implicações: visão de múltipla, buscando as relações entre os vários aspectos do ser humano e entre as várias disciplinas científicas. Não há predominância de um aspecto sobre o outro. → Baseada em Cllifford Geertz. Dilemas da Antropologia: ▪ Conciliação entre a unidade biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana (LARAIA, 1993). ▪ A espécie humana possui, ao mesmo tempo e em mútua atuação/interferência, uma unidade biológica e, por outro, apresenta Social Psicologico Biológico Cultural Cultural Social Psicológico Biológico Biológica Psicológica Social Cultural 4 Psicologia e Trabalho @sabrina.estudantedepsi uma diversidade de hábitos, costumes e valores culturais. ▪ Tanto o determinismo geográfico como o determinismo biológico [...] foram incapazes de resolver o “dilema” referente à conciliação entre unidade biológica e diversidade cultural (LARAIA, 1993). ▪ A espécie humana rompeu com suas próprias limitações, mesmo sendo um animal frágil, provido de insignificante força física, conseguiu exercer um domínio sobre a natureza (LARAIA, 1993). ▪ Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (LARAIA, 1993). → Nós estamos abrindo mão de ver o ser humano como indivíduo, como uno, como algo indivisível a si mesmo para entendermos o ser humano com um produto, o resultado de um conjunto de relações que ela estabelece. → De uma maneira geral, o que interessa é a qualidade das relações que a pessoa tem. → Historiciazição dos Fenômenos (Canguilhem): os fenômenos têm história. → Passagem ao Ato (Psicanálise): onde a palavra falta, a violência entra em cena. → Os autores alemães e franceses trabalham na perspectiva do “e” e não do “ou”. Nesse sentido, as coisas são isso e aquilo, em vez de isso ou aquilo. → Sofrimento em nenhuma hipótese pode ser pressuposto. Sofrimento dever ser escutado. Nem sempre o que seria sofrimento para mim, seria para o outro ou vice-versa. → Autonomia: não é apenas a capacidade de fazer coisas sozinho. Tem a ver com a ampliação das conexões, com a possibilidade de ter mais relações ao longo da vida. Assim, é mais autônomo aquele que tem mais conexões para as quais recorrer (mais conexões = mais recursos). → Ampliar a Clínica: tem a ver com ter mais elementos para praticar a clínica. Por exemplo: o trabalho. → Posição Etnocêntrica: hierarquização das culturas e dos níveis de conhecimento dos sujeitos. BERGSON, H. A evolução criadora. São Paulo: Martins Fontes, 2005 ____. Duração e simultaneidade. Tradução Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006. ____. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. Tradução João Silva Gama. Lisboa: Edições 70, 1988. ____. Matéria e memória: Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Martins Fontes, 2006. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertharnd Brasil, 2010. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. MARX, Karl. O capital. Livro 2: O processo de circulação do capital. Trad. Reginaldo Sant’anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 1ª ed. 2001. _____________ Assim falou Zaratustra (tradução de Mário da Silva). São Paulo: Civilização Brasileira, 1977. _____________ Além do Bem e do Mal (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 2ª ed. 2002. _____________ Genealogia da Moral (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 5 Psicologia e Trabalho @sabrina.estudantedepsi WEBER, M. A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia Das Letras 2007 Veja Também: Subjetividade e Saúde
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