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Rebeca Woset FISIOPATOLOGIA REPRODUTIVA DAS FÊMEAS ENDOMETRITE EM ÉGUAS A endometrite é o processo infeccioso que acomete o útero das fêmeas e pode ser transmitida por microrganismos que se instalam em razão de sua transmissão venérea, isto é, pela cobertura com reprodutores infectados ou que tiveram contato sexual recente com fêmeas que apresentam a doença. A endometrite se refere a um processo inflamatório que pode ser causado por infecção microbiana, infecção fúngica e causas não infecciosa. Além da infertilidade, a endometrite também causa frequentemente mortes embrionárias, irritações repetidas e introdução de bactérias. A repetição de coberturas com falta de cuidados sanitários são condições que permitem que as bactérias se estabeleçam no trato genital. O útero da égua é protegido da contaminação através de mecanismos físicos e imunológicos. Os mecanismos físicos são constituídos pelas barreiras físicas como a vulva, prega vestíbulo-vaginal, a cérvice e a contratilidade miometrial. Os mecanismos imunológicos são compostos pelo sistema imune humoral, algumas classes de imunoglobulinas e pela fagocitose por neutrófilos. O espermatozóide é o principal fator indutor da resposta inflamatória que ocorre na égua após a cobertura cuja intensidade depende da concentração espermática e do volume infundido. Sendo assim, as imunoglobulinas realizam a opsonização, auxiliando e melhorando a eficiência da fagocitose por neutrófilos. Através da contração uterina, os produtos podem ser eliminados até cinco dias após a ovulação e assim não permitindo um grande crescimento de microorganismos e evitando os efeitos da inflamação persistente sobre o endométrio. O sistema linfático é importante para a retirada de partículas que permanecem no útero após o fechamento da cérvice. Os agentes bacterianos mais frequentemente isolados em casos de endometrite aguda é o streptococcus zooepidemicos, E. coli, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae. Nos sinais clínicos pode ser encontrada uma secreção vaginal, dependendo do grau de lesões. O útero se apresenta espessado devido às reações inflamatórias e ocasionalmente poderá, nas afecções crônicas ou de menor gravidade, eliminar em quantidade moderada uma secreção de coloração clara através da vagina. Os casos mais graves podem se caracterizar por descargas purulentas e geralmente inodoras. As síndromes clínicas produzidas por invasões de microrganismos no útero equino+ variam em intensidade, desde assintomática, ou com discretas alterações durante o ciclo estral, até uma endometrite purulenta persistente e infertilidade crônica. Exame citológico de esfregaços de amostras cervicais ou uterinas é muito útil para auxiliar no diagnóstico, podendo observar células endometriais, elementos fúngicos e células inflamatórias. O exame histológico de biópsia endometrial pode definir se ocorreu invasão de tecido, bem como o grau e a característica da infecção. PIOMETRA ABERTA EM CADELA A piometra resulta de uma infecção bacteriana no endométrio que sofreu hiperplasia cística devido a uma prolongada estimulação hormonal. O acúmulo de líquido no lúmen do útero e glândulas endometriais, juntamente com a diminuição da contratilidade do miométrio causadas pela progesterona favorece a invasão bacteriana. Pode ser com secreção vulvar e aberta ou sem secreção e fechada. Ocorre comumente na fase do diestro. A doença é causada por uma infecção bacteriana uterina e pode resultar em severa bacteremia e/ou toxemia. A lesão patológica primária normalmente é a hiperplasia endometrial cística, causada pela repetida exposição do endométrio a progesterona que é responsável por estimular as Rebeca Woset FISIOPATOLOGIA REPRODUTIVA DAS FÊMEAS atividades proliferativa e secretora das glândulas endometriais. No diestro a hiperplasia uterina associada à diminuição das defesas celulares e imunitárias locais deixa o útero em condições propícias para a multiplicação dos microrganismos que tem origem da própria flora vaginal. Lactobacillus e Cândida sp são comuns na flora humana, mas raras em animais. Essa diferença pode ser explicada pela diferença de pH que é de quatro a cinco em mulheres e seis a nove em cadelas. A Escherichia coli é a principal bactéria associada à piometra, sendo isolada em 59% a 96% dos casos. No entanto, Sthaphylococcus, Streptococcus, Klebsiella, Pseudomonas, Proteus e Pasteurella também podem ser isoladas. Uma piometra causada por E. coli pode evoluir para insuficiência renal, consequência de uma glomerulonefrite de origem imunológica, que é agravada pela azotemia pré-renal devido à desidratação associada ao choque séptico. A piometra possui duas classificações. 1. A primeira consiste em dividir as fêmeas acometidas em jovens e idosas. A piometra que ocorre em fêmeas jovens está muito relacionada à terapia de estrógeno e progesterona exógenos. A piometra que ocorre em fêmeas idosas decorre da longa e repetida estimulação pela progesterona na fase lútea, com maior frequência em fêmeas nulíparas. 2. A segunda classificação é feita conforme a apresentação. A piometra aberta caracteriza-se pela secreção vaginal e cérvix aberta. A piometra fechada se caracteriza pela distensão abdominal e cérvix fechada. O diagnóstico de escolha é o ultra-som, pois com ele pode-se avaliar o tamanho e a espessura do útero e muitas vezes também é possível diagnosticar o tipo de secreção acumulada no lúmen uterino. PROLAPSO UTERINO O prolapso total e o parcial da vagina, na espécie bovina, sempre estiveram associados ao período final da gestação, podendo evoluir para prolapso uterino pós-parto, o mesmo é uma patologia da gestação acometendo preferencialmente bovinos e pequenos ruminantes, sendo rara na porca, égua, cadela e gata. Em bovinos, as causas dessa patologia são o relaxamento exagerado do sistema de fixação da vagina, principalmente em fêmeas idosas, piso do estábulo excessivamente inclinado, transportes em que os animais são sacudidos demasiadamente, defeitos anatômicos, distúrbios hormonais, obesidade, inflamações na região da vulva e do reto e predisposição hereditária. O desenvolvimento do prolapso é progressivo. Inicia-se com a exposição intermitente de uma parte da mucosa vaginal, dependendo de o animal estar em estação ou em decúbito. Isso leva ao ressecamento da mucosa, que se torna irritada e inflamada, evoluindo para a exposição de massa ainda maior. O prolapso vaginal em vacas se dá em um primeiro momento no terço final da gestação, podendo ocorrer no pós-parto imediato. No final da gestação, a combinação do relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais, induzidos pelos hormônios que predominam nesta fase, associado ao aumento do tamanho uterino gravídico, leva ao prolapso, especialmente quando o animal está deitado. Prolapso vaginal é mais comum em pluríparas do que em primíparas, e a recidiva em uma gestação subsequente é quase certa. Muitas técnicas são descritas para o tratamento do prolapso, porém nenhuma é ideal para todas as situações. Amputação do útero é a última opção, sendo de mau prognostico embora haja recuperação. O mesmo promove danos vasculares que resultam em congestão, edema e hemorragias. A exposição da mucosa ao ambiente externo predispõem à lesões traumáticas e infecções bacterianas, causando endotoxemia e morte por choque.
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