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CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 6 Profª Paolla das Graças Felix Munarim Hauser Villena 2 CONVERSA INICIAL Olá! Na aula de hoje vamos conhecer o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC 02 – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis. Quando as empresas possuem investimentos societários no exterior, por exemplo filiais, coligadas ou controladas, seus resultados são afetados pelas mudanças da taxa de câmbio, especialmente no que diz respeito à variação cambial oriunda de tais investimentos. Assim como qualquer outro investimento, as empresas precisam registar os investimentos do exterior nas demonstrações contábeis, e, para isso, vamos entender como funcionam as regras para tal registro com base no CPC 02, que tem por objetivo orientar acerca de como incluir transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade e como converter demonstrações contábeis para moeda de apresentação. Desejamos a você uma boa aula! CONTEXTUALIZANDO Está cada vez mais comum vermos, nas grandes empresas, participação societária de empresas estrangeiras, empréstimos de instituições financeiras do exterior, importação ou exportação de mercadorias. Com isso, as entidades passaram a ter operações com moedas estrangerias. Como em qualquer outro país, mesmo que a entidade possua operações com empresas no exterior, as demonstrações contábeis devem ser apresentadas em moeda corrente do país, que, nosso caso, é o real. Além disso, há a necessidade de consolidar as informações contábeis de grupo empresarial, por exemplo, mesmo que haja localidades distintas. Desta forma, as empresas que realizam tais operações deverão fazer a conversão da moeda. Para saber como podemos efetuar essa conversão, vamos à nossa aula de hoje! TEMA 1 – ASPECTOS INICIAIS – CPC 02 O objetivo deste pronunciamento técnico é orientar acerca de como incluir transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade e como converter demonstrações contábeis para moeda de apresentação. 3 Este pronunciamento deve ser adotado: i. na contabilização de transações e saldos em moeda estrangeira, exceto para aquelas transações com derivativos e saldos dentro do alcance do CPC 48 – Instrumentos Financeiros; ii. na conversão de resultados e posição financeira de operações no exterior que são incluídas nas demonstrações contábeis da entidade por meio de consolidação ou pela aplicação do método da equivalência patrimonial; e iii. na conversão de resultados e posição financeira de uma entidade para uma moeda de apresentação. O objetivo do CPC 02 é orientar as entidades sobre a inclusão de transações em moeda estrangeira e operações no exterior nas demonstrações contábeis da entidade, bem como na conversão de demonstrações contábeis para moeda de apresentação. A conversão das demonstrações contábeis permite ao investidor estrangeiro realizar um melhor acompanhamento do seu investimento, pois as demonstrações contábeis convertidas estarão expressas na moeda corrente do seu país de origem. A operação no exterior é quando a investidora possui uma entidade no exterior por meio de controlada, filial, sucursal, agência, coligada ou empreendimento controlado em conjunto, enquanto a transação em moeda estrangeira é um conjunto de atos que tem por finalidade, por exemplo, a compra ou a venda de bens e serviços cujos preços estão fixados em moeda estrangeira, exigindo liquidação ou recebimento em moeda estrangeira. Saiba mais Atenção para não confundir procedimentos de conversão de demonstrações contábeis e contabilidade em moeda estrangeira, pois, apesar de atenderem aos mesmos objetivos, são conceitos distintos. Na conversão de demonstrações contábeis, a investida mantém a sua contabilidade em moeda local e, no encerramento do exercício social, aplica os procedimentos de conversão de suas demonstrações contábeis para moeda estrangeira do país de origem do investidor. Na contabilidade em moeda estrangeira, as operações em moeda local são convertidas automaticamente para a moeda estrangeira à medida que ocorrem, e, no encerramento do exercício social, a entidade levanta as suas demonstrações contábeis em moeda estrangeira, não havendo necessidade de conversão (Adriano, 2018, p. 156). 4 1.1 Definições Para entendermos totalmente este tema, faz-se necessária a definição de alguns conceitos, como descrito no próprio CPC 02, conforme transcrito a seguir: Taxa de fechamento é a taxa de câmbio à vista vigente ao término do período de reporte. Variação cambial é a diferença resultante da conversão de um número específico de unidades em uma moeda para outra moeda, a diferentes taxas cambiais. Taxa de câmbio é a relação de troca entre duas moedas. Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. Moeda estrangeira é qualquer moeda diferente da moeda funcional da entidade. Entidade no exterior é uma entidade que pode ser controlada, coligada, empreendimento controlado em conjunto ou filial, sucursal ou agência de uma entidade que reporta informação, por meio da qual são desenvolvidas atividades que estão baseadas ou são conduzidas em um país ou em moeda diferente daquelas da entidade que reporta a informação. Moeda funcional é a moeda do ambiente econômico principal no qual a entidade opera. (CPC, 2010) Saiba mais Moeda funcional: O ambiente econômico principal no qual a entidade opera é normalmente aquele em que, principalmente, ela gera e despende caixa. A entidade deve considerar os seguintes fatores na determinação de sua moeda funcional: a. A moeda: i. que mais influencia os preços de venda de bens e serviços (geralmente é a moeda na qual os preços de venda para seus bens e serviços estão expressos e são liquidados); e ii. do país cujas forças competitivas e regulações mais influenciam na determinação dos preços de venda para seus bens e serviços; b. A moeda que mais influencia fatores como mão de obra, matéria-prima e outros custos para o fornecimento de bens ou serviços (geralmente é a moeda na qual tais custos estão expressos e são liquidados). Os seguintes fatores também podem servir como evidências para determinar a moeda funcional da entidade: 5 a. A moeda por meio da qual são originados recursos das atividades de financiamento (exemplo: emissão de títulos de dívida ou ações). b. A moeda por meio da qual os recursos gerados pelas atividades operacionais são usualmente acumulados (CPC 02). Ainda segundo o CPC 02: Grupo econômico é uma entidade controladora e todas as suas controladas. Itens monetários são unidades de moeda mantidas em caixa e ativos e passivos a serem recebidos ou pagos em um número fixo ou determinado de unidades de moeda. Investimento líquido em entidade no exterior é o montante que representa o interesse (participação na maior parte das vezes) da entidade que reporta a informação nos ativos líquidos dessa entidade. Moeda de apresentação é a moeda na qual as demonstrações contábeis são apresentadas. Taxa de câmbio à vista é a taxa de câmbio normalmente utilizada para liquidação imediata das operações de câmbio. (CPC, 2010) TEMA 2 – FORMAS DE INVESTIMENTO NO EXTERIOR O Pronunciamento Técnico CPC 02 determina que as agências, sucursais, dependências e controladas no exterior sejam tratadas como filiais, efetivas coligadasou controladas conforme a essência econômica, não pela forma jurídica. Assim, no caso de entidades que, por não possuírem corpo gerencial próprio, autonomia administrativa, não contratarem operações próprias, utilizarem a moeda da investidora como sua moeda funcional e funcionarem, na essência, como extensão das atividades da investidora, devem normalmente ter, para fins de apresentação, seus ativos, passivos e resultados integrados às demonstrações contábeis da matriz no Brasil como qualquer outra filial, agência, sucursal ou dependência mantida no próprio país (Adriano, 2018). Caso contrário, se possuírem, por exemplo, suficiente corpo gerencial próprio, autonomia administrativa, contratarem operações próprias, inclusive financeiras, caracterizando-se, assim, como entidade autônoma, a matriz, no Brasil, deve reconhecer os resultados apurados nas filiais, agências, dependências ou sucursais pela aplicação do método de equivalência patrimonial e incluí-las nas suas demonstrações consolidadas. Uma empresa pode entrar no mercado internacional de diversas maneiras, devendo escolher a estratégia mais adequada e coerente com os seus objetivos no mercado internacional. Equivale a dizer que a empresa deve 6 escolher como deseja atuar no mercado internacional e, a partir disso, escolher qual é a melhor estratégia a ser adotada (Ferreira, Cardoso, 2011). O Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto está previsto no CPC 18, que tem por objetivo estabelecer a contabilização de investimentos em coligadas e em controladas e definir os requisitos para a aplicação do método da equivalência patrimonial quando da contabilização de investimentos em coligadas, em controladas e em empreendimentos controlados em conjunto (joint ventures). Coligada é a entidade sobre a qual o investidor tem influência significativa. Método da equivalência patrimonial é o método de contabilização por meio do qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo e, a partir daí, é ajustado para refletir a alteração pós-aquisição na participação do investidor sobre os ativos líquidos da investida. As receitas ou as despesas do investidor incluem sua participação nos lucros ou prejuízos da investida, e os outros resultados abrangentes do investidor incluem a sua participação em outros resultados abrangentes da investida. Negócio em conjunto é um negócio do qual duas ou mais partes têm controle conjunto. Controle conjunto é o compartilhamento, contratualmente convencionado, do controle de negócio, que existe somente quando decisões sobre as atividades relevantes exigem o consentimento unânime das partes que compartilham o controle. Empreendimento controlado em conjunto (joint venture) é um acordo conjunto por meio do qual as partes que detêm o controle em conjunto do acordo contratual têm direitos sobre os ativos líquidos desse acordo. Investidor conjunto (joint venturer) é uma parte de um empreendimento controlado em conjunto (joint venture) que tem o controle conjunto desse empreendimento. Influência significativa é o poder de participar das decisões sobre políticas financeiras e operacionais de uma investida, mas sem que haja controle individual ou conjunto dessas políticas. 2.1 Influência significativa Se o investidor mantém direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), 20% ou mais do poder de voto da investida, presume-se que ele 7 tenha influência significativa, a menos que possa ser claramente demonstrado o contrário. Por outro lado, se o investidor detém, direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), menos de 20% do poder de voto da investida, presume-se que ele não tenha influência significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada. A propriedade substancial ou majoritária da investida por outro investidor não necessariamente impede que um investidor tenha influência significativa sobre ela. A existência de influência significativa por investidor geralmente é evidenciada por uma ou mais das seguintes formas: Representação no conselho de administração ou na diretoria da investida; Participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em decisões sobre dividendos e outras distribuições; Operações materiais entre o investidor e a investida; Intercâmbio de diretores ou gerentes; Fornecimento de informação técnica essencial. 2.2 Método da equivalência patrimonial Pelo método da equivalência patrimonial, o investimento em coligada, em empreendimento controlado em conjunto e em controlada (neste caso, no balanço individual) deve ser inicialmente reconhecido pelo custo, e o seu valor contábil será aumentado ou diminuído pelo reconhecimento da participação do investidor nos lucros ou prejuízos do período, gerados pela investida após a aquisição. A participação do investidor no lucro ou no prejuízo do período da investida deve ser reconhecida no resultado do período do investidor. As distribuições recebidas da investida reduzem o valor contábil do investimento. Ajustes no valor contábil do investimento também são necessários pelo reconhecimento da participação proporcional do investidor nas variações de saldo dos componentes dos outros resultados abrangentes da investida, reconhecidos diretamente em seu patrimônio líquido. Tais variações incluem aquelas decorrentes da reavaliação de ativos imobilizados, quando permitida legalmente, e das diferenças de conversão em 8 moeda estrangeira, quando aplicável. A participação do investidor nessas mudanças deve ser reconhecida de forma reflexa, ou seja, em outros resultados abrangentes diretamente no patrimônio líquido do investidor. O reconhecimento do resultado com base nas distribuições recebidas sobre este pode não ser uma mensuração adequada da receita auferida pelo investidor no investimento em coligada, em controlada e em empreendimento controlado em conjunto, em função de as distribuições recebidas terem pouca relação com o desempenho da investida. Em decorrência de o investidor possuir o controle individual ou conjunto ou exercer influência significativa sobre a investida, ele tem interesse no desempenho da investida e, como resultado, interesse no retorno de seu investimento. O investidor deve reconhecer contabilmente esse interesse por meio da extensão do alcance de suas demonstrações contábeis com a inclusão de sua participação nos lucros ou prejuízos da investida. Como resultado, a aplicação do método da equivalência patrimonial proporciona relatórios com maior grau de informação acerca dos ativos líquidos do investidor e acerca de suas receitas e despesas. Quando existirem potenciais direitos de voto ou outros derivativos que contenham potenciais direitos de voto, os interesses da entidade na investida devem ser determinados exclusivamente com base nos interesses de propriedade existentes e não devem refletir o possível exercício ou a conversão dos potenciais direitos de voto ou de outros instrumentos derivativos. Em algumas circunstâncias, a entidade tem, na essência, interesses de propriedade decorrentes do resultado de transação que lhe dê, no momento corrente, acesso aos retornos associados aos interesses de propriedade. Nessas circunstâncias, a proporção alocada à entidade deve ser determinada levando em consideração o eventual exercício de direitos potenciais de voto e outros instrumentos derivativos que no momento corrente dê à entidade acesso aos retornos. A entidade com o controle individual ou conjunto (compartilhado) ou com influência significativasobre uma investida deve contabilizar esse investimento utilizando o método da equivalência patrimonial. 9 TEMA 3 – RECONHECIMENTO INICIAL Uma transação em moeda estrangeira é a transação que é fixada ou requer sua liquidação em moeda estrangeira, incluindo transações que são originadas quando a entidade: Compra ou vende bens ou serviços cujo preço é fixado em moeda estrangeira; Obtém ou concede empréstimos, quando os valores a pagar ou a receber são fixados em moeda estrangeira; De alguma outra forma, adquire ou desfaz-se de ativos ou assume ou liquida passivos fixados em moeda estrangeira. Uma transação em moeda estrangeira deve ser reconhecida contabilmente, no momento inicial, pela moeda funcional, mediante a aplicação da taxa de câmbio à vista entre a moeda funcional e a moeda estrangeira, na data da transação, sobre o montante em moeda estrangeira. “A taxa de câmbio a vista é a taxa de câmbio normalmente utilizada para liquidação imediata das operações de câmbio; no Brasil, a taxa a ser utilizada é a divulgada pelo Banco Central do Brasil” (Adriano, 2018, p. 160). Para Adriano (2018, p. 160) as taxas de câmbio podem ser: Figura 1 – Tipos de taxas de câmbio Saiba mais A taxa histórica é a taxa de câmbio vigente na data da transação. A taxa corrente é a taxa de câmbio vigente no dia da operação. Na data de encerramento do exercício social, a taxa corrente é também chamada de taxa de fechamento. A taxa média é a taxa de câmbio obtida da média aritmética ponderada das taxas de câmbio vigentes durante um determinado período, normalmente uma semana ou um mês, com o objetivo de melhor representar a evolução das taxas de câmbio no período. A taxa média é a taxa de câmbio obtida da média aritmética ponderada das taxas de câmbio vigentes durante um determinado período, normalmente 10 uma semana ou um mês, com o objetivo de melhor representar a evolução das taxas de câmbio no período (Adriano, 2018, p. 160). A taxa de câmbio usualmente adotada que se aproxima da taxa vigente na data da negociação é a taxa de câmbio média semanal ou mensal, que pode ser aplicada a todas as negociações, em cada moeda estrangeira, ocorridas durante o período. A data da transação é a data a partir da qual a transação se qualifica para fins de reconhecimento, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. Ao término de cada período de reporte: Os itens monetários em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio de fechamento; Os itens não monetários que são mensurados pelo custo histórico em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se a taxa de câmbio vigente na data da transação; e Os itens não monetários que são mensurados pelo valor justo em moeda estrangeira devem ser convertidos, usando-se as taxas de câmbio vigentes nas datas em que o valor justo tiver sido mensurado. De acordo com o item 32 do Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2), as variações cambiais resultantes desses itens monetários, integrantes do investimento líquido da entidade em uma entidade no exterior, deverão ser reconhecidas: No resultado, nas demonstrações contábeis separadas da investidora ou nas demonstrações contábeis individuais da entidade no exterior, conforme apropriado; e Em conta específica do patrimônio líquido e reconhecidas como receita ou despesa na venda do investimento líquido, nas demonstrações contábeis consolidadas (aquelas demonstrações que incluem a investidora e a entidade no exterior) e nas demonstrações contábeis individuais da investidora (aquelas demonstrações em que a entidade no exterior é avaliada pelo método de equivalência patrimonial, conforme as práticas contábeis brasileiras). 11 3.1 Variação cambial Segundo o CPC 02, em regra geral, as variações cambiais advindas da liquidação de itens monetários ou da conversão de itens monetários por taxas diferentes daquelas pelas quais foram convertidos quando da mensuração inicial, durante o período ou em demonstrações contábeis anteriores, devem ser reconhecidas na demonstração do resultado no período em que surgirem. Já as variações cambiais advindas de itens monetários que fazem parte do investimento líquido em entidade no exterior da entidade que reporta a informação devem ser reconhecidas no resultado nas demonstrações contábeis separadas da entidade que reporta a informação ou nas demonstrações contábeis individuais da entidade no exterior, conforme apropriado. Nas demonstrações contábeis que incluem a entidade no exterior e a entidade que reporta a informação (por exemplo: demonstrações contábeis individuais com avaliação das investidas por equivalência patrimonial, ou demonstrações contábeis consolidadas quando a entidade no exterior é uma controlada), tais variações cambiais devem ser reconhecidas, inicialmente, em outros resultados abrangentes em conta específica do patrimônio líquido, e devem ser transferidas do patrimônio líquido para a demonstração do resultado quando da baixa do investimento líquido [...]. (Brasil, 2010) Quando itens monetários são originados de transações em moeda estrangeira e há mudança na taxa de câmbio entre a data da transação e a data da liquidação, surge uma variação cambial (CPC 02). Quando a transação é liquidada dentro do mesmo período contábil em que foi originada, toda a variação cambial deve ser reconhecida nesse mesmo período (CPC 02). Entretanto, quando a transação é liquidada em período contábil subsequente, a variação cambial reconhecida em cada período, até a data de liquidação, deve ser determinada pela mudança nas taxas de câmbio ocorrida durante cada período (CPC 02). TEMA 4 – MÉTODOS DE CONVERSÃO Para Rios e Marion (2018), a entidade pode apresentar suas demonstrações contábeis em outras moedas. Se a moeda de apresentação for diferente da moeda funcional, deve ser convertida a demonstração para a moeda de apresentação. 12 Por exemplo, se uma controlada estabelecida no Brasil tem sua controladora nos Estados Unidos, terá suas demonstrações contábeis elaboradas em sua moeda funcional, neste caso, o real. No entanto, ao apresentar as demonstrações a sua controladora, deverá convertê-las em moeda de apresentação, ou seja, o dólar. Para a conversão da moeda em moeda diferente da funcional, devemos seguir estes procedimentos: Ativos e passivos para cada balanço patrimonial apresentado (incluindo os balanços comparativos) devem ser convertidos, utilizando-se a taxa de câmbio de fechamento na data do respectivo balanço; Receitas e despesas para cada demonstração do resultado abrangente ou demonstração do resultado apresentada (incluindo as demonstrações comparativas) devem ser convertidas pelas taxas de câmbio vigentes nas datas de ocorrência das transações; e Todas as variações cambiais resultantes devem ser reconhecidas em outros resultados abrangentes. Estas últimas variações cambiais são decorrentes de: Conversão de receitas e despesas pelas taxas de câmbio vigentes nas datas de ocorrência das transações e conversão de ativos e passivos pela taxa de câmbio de fechamento; Conversão dos saldos de abertura de ativos líquidos (patrimônio líquido) pela taxa de câmbio de fechamento atual, que difere da taxa de câmbio de fechamento anterior. Em países cuja economia é hiperinflacionária, a conversão da moeda deve adotar os seguintes procedimentos: Todos os montantes (isto é, ativos, passivos, itens do patrimônio líquido, receitas e despesas, incluindo saldos comparativos) devem ser convertidos pela taxa de câmbio de fechamentoda data do balanço patrimonial mais recente; A exceção ao item anterior ocorre quando os montantes forem convertidos para a moeda de economia não hiperinflacionária, pois, então, os montantes comparativos devem ser aqueles que seriam apresentados como montantes do ano corrente nas demonstrações contábeis do ano 13 anterior (isto é, não ajustados para mudanças subsequentes no nível de preços ou mudanças subsequentes nas taxas de câmbio). 4.1 Baixa de entidade no exterior Na baixa de entidade no exterior, o montante acumulado de variações cambiais relacionadas a essa entidade no exterior, reconhecido em outros resultados abrangentes e registrado em conta específica do patrimônio líquido, deve ser transferido do Patrimônio Líquido para a demonstração do resultado (como ajuste de reclassificação) quando o ganho ou a perda na baixa for reconhecido. Para o caso de baixa de entidade situada no exterior, o montante acumulado da variação cambial relacionada a essa entidade deverá ser transferido para o resultado, quando for reconhecido o ganho ou a perda da baixa. Segundo Gelbcke (2018), quando da baixa, também possuem tratamento similar à baixa integral da participação em investimento no exterior as seguintes baixas parciais: Quando a baixa parcial envolver a perda de controle de controlada que contenha entidade no exterior, mesmo que a entidade mantenha participação na ex-controlada após a baixa parcial; e Quando a participação retida após a alienação parcial de uma participação em um negócio em conjunto ou uma alienação parcial de uma participação em coligada que incluir uma operação no exterior for um ativo financeiro que inclui uma operação no exterior (CPC 02). Exemplo A Cia. Alfa sediada no Brasil em 11/02/2018 criou a subsidiária integral, a Cia. Delta, sediada nos USA, com integralização de um capital no valor de US$ 2.500.000,00. Em 16/03/2018, a Cia. Alfa, necessitando expandir as suas operações no exterior, obteve um financiamento de longo prazo junto ao BIRD no montante de US$ 5.000.000,00, com carência de 3 anos. Por medidas de precaução, no ato do empréstimo, a Cia. Alfa designou US$ 1.000.000,00 como um hedge de seu investimento líquido na subsidiária integral nos USA. Dados: I. A taxa de câmbio no período de 11/02/2018 a 16/03/2018: US$ 1,00 = R$ 2,00. II. Balanço patrimonial da Cia. Alfa em 11/02/2018 imediatamente antes da aquisição do investimento na Cia. Delta: 14 (1) Registro na Cia. Alfa da aquisição dos investimentos da Cia. Delta em 11/02/2018 em reais: (2) Registro na Cia. Alfa da aquisição dos empréstimos no BIRD em 16/03/2018 em reais: (3) Registro na Cia. Alfa da operação de hedge em 16/03/2018 em reais: Balanço patrimonial da Cia. Alfa em 16/03/2018 imediatamente após as operações de empréstimos e hedge: O CPC 02 não se aplica à contabilização de operações de hedge para itens em moeda estrangeira, incluindo o hedge de investimento líquido em entidade no exterior. Portanto, a parte da dívida no montante de US$ 1.000.000,00 qualificada como um instrumento de hedge na Cia. Delta está fora do âmbito do CPC 02, mas no alcance do CPC 38. O restante do empréstimo, no montante de US$ 4.000.000,00, está dentro do alcance do CPC 02. Fonte: Adriano, 2018, p 158. 15 TEMA 5 – DIVULGAÇÃO Com relação à divulgação das variações cambiais, o CPC determina que a entidade deve divulgar: O montante das variações cambiais reconhecidas na demonstração do resultado, com exceção daquelas originadas de instrumentos financeiros mensurados ao valor justo por meio do resultado, e Variações cambiais líquidas reconhecidas em outros resultados abrangentes e registradas em conta específica do patrimônio líquido e a conciliação do montante de tais variações cambiais, no início e no final do período. Quando a moeda de apresentação das demonstrações contábeis for diferente da moeda funcional, esse fato deve ser relatado juntamente com a divulgação da moeda funcional e da razão para a utilização de moeda de apresentação diferente. Algumas vezes, a entidade apresenta suas demonstrações contábeis ou outras informações financeiras em moeda que não é a sua moeda funcional, sem cumprir as exigências do item 55. Por exemplo, a entidade pode converter para outra moeda somente itens selecionados de suas demonstrações contábeis. Ou, ainda, a entidade cuja moeda funcional não é a moeda de economia hiperinflacionária pode converter suas demonstrações contábeis para outra moeda, aplicando a todos os itens a taxa de câmbio de fechamento mais recente. 55. Quando a entidade apresentar suas demonstrações contábeis em moeda que é diferente da sua moeda funcional, ela só deve mencionar que essas demonstrações estão em conformidade com as práticas contábeis adotadas no Brasil se elas estiverem de acordo com todas as exigências de cada Pronunciamento Técnico, Orientação e Interpretação do CPC aplicáveis, incluindo o método de conversão definido nos itens 39 e 42. (CPC 02) Quando a entidade apresentar suas demonstrações contábeis ou outras informações financeiras em moeda que seja diferente da sua moeda funcional ou da moeda de apresentação das suas demonstrações contábeis, e as exigências do item 55 não forem observadas, a mesma entidade deve: Identificar claramente as informações como sendo informações suplementares para distingui-las das informações que estão de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; 16 Divulgar a moeda utilizada para essas informações suplementares; e Divulgar a moeda funcional da entidade e o método de conversão utilizado para determinar as informações suplementares. TROCANDO IDEIAS (Contador CEFET Cesgranrio 2014): O pronunciamento técnico CPC 02 (R2) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis trata das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. De acordo com o acima citado CPC, a expressão “é a relação de troca entre duas moedas” indica a definição de: a. taxa de câmbio. b. moeda funcional. c. variação cambial. d. moeda estrangeira. e. taxa de fechamento. A resposta está no final deste documento. NA PRÁTICA Este caso foi extraído da obra de Adriano (2018, p. 168), e a resposta está no final deste documento. A empresa Asa Norte S.A. obteve um empréstimo em uma instituição financeira americana no valor de US$ 100.000,00, em 01/10/2018, com prazo de vencimento de 5 anos. Os juros incidem trimestralmente a uma taxa de 8% ao trimestre e são incorporados ao principal. O dólar estava cotado para compra no dia do empréstimo a 2,00 e no encerramento do exercício social de 2018 a 2,20. Sabendo-se que a taxa de câmbio média no período foi de 2,30, a empresa Asa Norte S.A., ao realizar a conversão do balanço patrimonial em 31/12/2018, vai obter, em reais, um valor para os empréstimos: a. 200.000,00. b. 220.000,00. c. 230.000,00. d. 237.600,00. 17 FINALIZANDO Prezado aluno, com a economia globalizada, é importante que o contador, principalmente das grandes empresas, para que sejam realizadas operações com investidores, parceiros, fornecedores e clientes do exterior, de forma que a empresa pode crescer em outras localidades. Para isso, precisamos aplicar as regras do CPC 02, que trata da conversão da moeda estrangeira e da consolidação das demonstrações entre empresas com moedas distintas. Espero que você tenha conseguido realizar as atividades propostas neste material, assim como nas demais aulas. Bons estudos. 18 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentoscontábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL, Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. _____. Resolução n. 1.295, de 17 de setembro de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 out. 2010. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 02 (R2) – Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9>. Acesso em: 8 jun. 2018. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013. 19 RESPOSTAS Resposta da atividade da seção TROCANDO IDEIAS: Alternativa correta: a. Resposta da atividade da seção NA PRÁTICA Registro na data do empréstimo: D – Banco conta Movimento 200.000,00 C – Empréstimos 200.000,00 De acordo com o CPC 02, as variações cambiais advindas da liquidação de itens monetários ou da conversão de itens monetários por taxas diferentes daquelas pelas quais foram convertidas quando da mensuração inicial, durante o período ou em demonstrações contábeis anteriores, devem ser reconhecidas na demonstração do resultado no período em que surgirem. Nesse caso, em 31/12/2018, a variação cambial passiva decorrente dos empréstimos em dólares e os juros passivos, ambos, devem ser apropriados para o resultado do exercício de 2018. Registro da variação cambial passiva em 31/12/2018: Empréstimo em US$ em 01/10/2018 100.000,00 x (Câmbio em 31/12/2018 – Câmbio em 01/10/2018) x(2,20 – 2,00) = Variação Cambial Passiva em 31/12/2018 20.000,00 D – Variação Cambial Passiva (resultado) 20.000,00 C – Empréstimos 20.000,00 Registro dos juros passivos em 31/12/2018: Empréstimo em US$ em 01/10/2018 100.000,00 Taxa de Câmbio em 31/12/2018 2,20 = Empréstimo em 31/12/2018 220.000,00 X Taxa de juros no período x8% = juros passivos em 31/12/2018 17.600,00 D – Juros Passivos (resultado) 17.600,00 C – Empréstimos 17.600,00 Data da contratação do empréstimo Empréstimo US$ 100.000,00 Taxa câmbio histórica 2,00 Empréstimo R$ 200.000,00 Data da conversão – 31/12/2018 Empréstimo US$ 108.000,00 Taxa câmbio fechamento 2,20 Empréstimo R$ 237.600,00 20 Na data da conversão das demonstrações contábeis, aplica-se a taxa de fechamento. A diferença de R$ 37.600,00 corresponde a uma variação cambial passiva de R$ 20.000,00 e à incidência de juros passivos de R$ 17.600,00, que são reconhecidos no resultado do exercício. Alternativa correta: d.
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