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ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular oco, que conecta a cavidade oral ao estômago. Possui esfíncter esofágico superior e inferior- músculo. Há presença de peristaltismo no esôfago para impelir o bolo alimentar. A motilidade esofágica é controlada por neurônios. A avaliação endoscópica do esôfago permite visualizar obstruções (corpo estranho, estenose) ou esofagite. Avaliações contrastadas são recomendadas na presença de sinais clínicos de doença esofágica que não foram identificadas na radiografia simples. AFECÇÕES ESOFÁGICAS: Sinais clínicos: regurgitação e/ou vômito, emagrecimento, polifagia, disfagia, sialorréia, halitose. Complicação: broncopneumonia aspirativa. ESOFAGITE Inflamação esofágica. A esofagite secundária a ingestão de comprimidos secos (sem a oferta de água) é comum em gatos, há retenção médio-cervical; alguns comprimidos contém substâncias com propriedades irritativas. É facilmente evitada com a administração de 5ml de água após o fornecimento de comprimidos/cápsulas. A esofagite também é exacerbada quando há refluxo esofágico do suco gástrico, que ocasiona lesões no esôfago. A esofagite pode ser decorrente de corpo estranho, comprimidos a seco, anestesia (o refluxo gastroesofágico foi registrado em gatos submetidos a anestesia; os episódios de refluxo ocorrem em alguns minutos e em casos severos causam danos significativos na mucosa esofágica, podendo ocorrer estenoses esofágicas pós-anestésicas), êmeses frequentes, trauma, bolas de pelos, substâncias cáusticas (medicamentos, substâncias químicas, refluxo), alimentos quentes. Sinais clínicos: regurgitação, sialorréia, disfagia/odinofagia (dificuldade de deglutir), extensão cervical da deglutição, anorexia, tosse- broncopneumonia. Esses também são sinais de estenose esofágica. Inflamação não é sinônimo de estenose; pode haver formação de anéis fibrosos devido a inflamação intensa. A estenose do esôfago (decorrente de massa, pólipos) não faz obstrução total do tubo, mas proporciona dificuldade na passagem do conteúdo, que fica acumulado na porção cranial da massa e começa a dilatar. Quando o material ingerido umedece e fica parado no esôfago, posteriormente haverá regurgitação. A dismotilidade esofágica é relatada uma elevada prevalência de sinais de comprometimento respiratório (tosse, ruídos a respiração, descargas nasais, dispneia) que podem ser resultantes de refluxo gastroesofágico e de acidificação nas vias aéreas e pulmões. Diagnóstico: - Radiografia simples- auxiliam em estruturas que fornecem contrastes, no entanto, não indicam inflamação. - Radiografia contrastada- irregularidades de mucosa, estreitamento ou dilatação de segmentos - Endoscopia!! Método padrão-ouro para o diagnóstico. - Hemograma, bioquímico… podem não trazer indicações que ajudem no diagnóstico, mas são imprescindíveis para o paciente. Tratamento: - Jejum já foi uma alternativa muito utilizada, entretanto fornece muitos riscos (lipidose hepática) - Alimentação leve/enteral/parenteral (mais pastosa e líquida)- Muitas sondas ficam em contato direto com a mucosa esofágica, deve-se avaliar qual ficará melhor de acordo com o estado do paciente. - Inibidores da secreção gástrica (ranitidina, cimetidina, omeprazol) - Sucralfato (tem efeito citoprotetor; se liga às proteínas e forma um gel que adere a mucosa gástrica e duodenal, proporcionando uma proteção uniforme contra o ácido, pepsina e sais biliares. Essa película formada é fina e atua na proteção mecânica da mucosa, pois o suco gástrico não terá contato direto com a mucosa). - Anti-emético O esôfago é um tubo que não secreta nada. O refluxo de conteúdo gástrico em contato com a mucosa esofágica que causa danos. PARENTERAL TOTAL X PARCIAL A nutrição parenteral pode ser utilizada como terapia exclusiva ou como suporte, através da administração endovenosa de macro e micronutrientes por meio de via periférica ou central. Nela há glicose, proteínas, água, eletrólitos, sais minerais, vitaminas que permitem a manutenção da homeostase. São fabricadas por laboratórios, têm uma validade curta (poucas horas após aberta e fora da temperatura controlada). Infundida por bomba de infusão. Infundir da forma mais asséptica possível, proteger a bolsa da luz e monitorar o paciente. São indicadas em casos de depleção de proteínas plasmáticas, perda significativa ou incapacidade de manutenção do peso corpóreo, traumas e cirurgias. As vias utilizadas são a periférica e a central. Parenteral total: supre todas as necessidades nutricionais diárias que o paciente está recebendo. Conteúdo com alta concentração e só pode ser realizada com cateter central (que suporta altas concentrações). O cateter central é mais longo que os convencionais para que seja possível chegar até a base do coração direito. Parenteral parcial: supre parte das necessidades nutricionais que o animal precisa diariamente. Realizada com cateter periférico. O acesso venoso pode ser em qualquer via e com qualquer cateter. MEGAESÔFAGO Síndrome caracterizada por dilatação generalizada e hipoperistaltismo do esôfago. Todo o esôfago fica dilatado devido a perda da capacidade de levar estímulo nervoso (fica flácido, perde sua capacidade de levar informação e consequentemente de recebê-la, visto que o SNC não conseguirá receber para processar o estímulo nervoso). Diferente do que ocorre na dilatação esofágica, não haverá perda da capacidade de estímulo nervoso. Acontece uma dilatação do esôfago cranial a um corpo estranho devido a obstrução que pode voltar ao normal com a retirada, diferente do megaesôfago. O megaesôfago pode ser congênito ou adquirido, primário ou secundário (miastenia gravis). A miastenia gravis é uma das principais causas do megaesôfago secundário (25%), é um distúrbio neuromuscular, evidenciado por fraqueza muscular intensa e melhora após repouso, fadiga e ventroflexão da cabeça após exercícios, passos instáveis e curtos, regurgitação devido ao megaesôfago. Pode ser congênita ou adquirida. - Na forma congênita há deficiência hereditária nos receptores de acetilcolina nas membranas pós-sinápticas do músculo esquelético levando a interferência de impulsos nervosos, e consequentemente há flacidez muscular (fisiologicamente, a acetilcolina é difundida na fenda pós-sináptica e ligada ao receptor nicotínico de acetilcolina, após isso há abertura do canal de sódio que se distribui e provoca geração de potencial de ação que se difunde pelas fibras musculares e causa liberação de cálcio, induzindo a contração muscular); raras em gatos, comum em filhotes (6-9 semanas de idade). A provável etiologia pode ser devido a redução do número de receptores colinérgicos na membrana pós-sináptica. - A forma adquirida é caracterizada por uma doença imunomediada. Há anticorpos circulantes contra os receptores nicotínicos de acetilcolina na junção neuromuscular. Acomete animais jovens, adultos e idosos. Comum em raças grandes. Rara em gatas. - Diagnóstico: sinais clínicos, positivo ao teste de administração de inibidores de acetilcolinesterase ou por meio de métodos imunohistoquímicos e detecção de anticorpos circulantes no soro contra os receptores de acetilcolina (imunoprecipitação por radioimunoensaio). - Adm de anticolinesterásicos: utilizada cloreto de edrofônio ou neostigmina que inibe a hidrólise de acetilcolina na junção neuromuscular, permitindo que a acetilcolina liberada dos terminais axônicos fique disponível por um tempo prolongado e com maior oportunidade de se ligar aos receptores muscular e iniciar um potencial de ação. Tomar cuidado com a dosagem pois pode haver despolarização muscular excessiva (fraqueza, vômito, insuficiência respiratória). A adm de atropina antes do teste é útil para prevenção desses efeitos. - É comum a presença de doenças imunomediadas associadas a miastenia gravis (hipotireoidismo, trombocitopenia, anemia hemolítica imunomediada, hiperadrenocorticismo,polimiosite). - Tratamento: pode ser utilizada drogas anticolinesterásicas (avaliar a resposta do animal) para aumentar a força muscular, corticoides (prednisona), imunomodulador (azatioprina). A pneumonia aspirativa é uma complicação comum, deve ser realizado lavagem transtraqueal e cultura + antibiograma com o material. Antibioticoterapia de amplo espectro (ampicilina e aminoglicosídeos). Instituir fluidoterapia e nebulização. - O prognóstico é desfavorável quando há pneumonia aspirativa. E tende a ser reservado quando o animal responde bem ao tratamento, no entanto, são elevadas as situações de risco. Há animais que respondem bem ao tratamento e outros não à terapia anticolinesterásica, nesses casos a eutanásia é realizada. O megaesôfago é causado por um provável defeito na via nervosa aferente. As aferentes parecem intactas e os esfíncteres normais. O megaesôfago congênito ou adquirido possuem os mesmos mecanismos (defeito na via nervosa aferente). Megaesôfago idiopático congênito: Acomete toda a extensão esofágica. Sua apresentação se dá precocemente (animais jovens), raças pequenas são mais susceptíveis, pode ser hereditário em Fox Terrier e Schnauzer Miniatura. Os sinais de regurgitação aparecem durantes ou após o desmame. Diagnóstico: sinal de regurgitação, diferenciar de anomalias vasculares (radiografia simples ou contrastada), corpos estranhos e estenoses esofágicas. Tratamento: comedouro elevado e mudança na consistência da alimentação (pastosa). Prognóstico: reservado. Muitos pacientes apresentam regurgitação persistente, aspiram o conteúdo e desenvolvem pneumonia por aspiração. Podem apresentar desnutrição (o esôfago não leva nutrientes necessários até o estômago). Megaestôfago idiopático adquirido: Comum em raças grandes (Dobermann, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Golden Retriever, Shar-pei), em gatos é incomum, mas a raça mais predisposta é a Siamesa. Diferenciar do megaesôfago secundário de doenças primárias. Há ausência de resposta neural aferente- neuropatias, principalmente Miasteina grave (titulação de anticorpo anti-receptor de acetilcolina: > 0,6 nmol/L= positivo em cão; > 0,3 nmol/L= positivo em gato; ou fármaco anticolinérgico (cloridrato de endrofônio - Tensilon® 0,11 a 0,22 mg/kg, IV) leva melhora dos sinais clínicos, pode considerar miastenia gravis, resposta passageira em 1 a 2 min. Relatado mais comumente em adultos mas, pode ocorrer em animais jovens. Megaesôfago secundário: - Miastenias gravis (fraqueza muscular esofágica, faríngea e laríngea), polimiopatia, polimiosite, botulismo, neoplasia ou trauma em tronco cerebral - Disautonomia em felinos (incoordenação motora) - Hipocalemia (hipopotassemia - Hipoadrenocorticismo - Hipotireoidismo - Dermatomiosite (inflamação na musculatura estriada) - Intoxicações (chumbo, organofosforados) - Estenose pilórica (Gatos) e estenose esofágica inferior SINAIS CLÍNICOS - Regurgitação (esporádicas ou frequentes) é o principal sinal clínico, ocorre após a alimentação, muitas vezes o proprietário relata como vômito- é importante diferenciar. - Desnutrição (pode indicar ingestão inadequada de nutrientes) - Polifagia (animal sente fome) - Crepitação esofágica - Tosse, dispneia (associada a pneumonia aspirativa) - Dilatação palpável ou não - Emaciação (perda de massa muscular- secundário a alterações neuromusculares, fraqueza muscular generalizada, atrofia muscular) - Alopecia e obesidade (secundárias a alterações endócrinas) - Vômito (secundário a intoxicações) - Esofagite (sialorréia, disfagia, inapetência) DIAGNÓSTICO - Radiografia simples (presença de dilatação esofágica generalizada sem sinal de obstrução) - Radiografia contrastada (avalia motilidade, exclui corpos estranhos e estenoses) -> há risco de aspiração do contraste RX que relevam pneumonia -> avaliar a possibilidade de dilatação esofágica Radiografia de Megaesôfago associado a broncopneumonia. - Hemograma (pode apresentar leucocitose- broncopneumonia aspirativa) - Bioquímicos para diag. diferenciais (pode ser encontrado hiponatremia e hiperpotassemia - hipoadrenocorticismo; teste de estimulação por hormônio adrenocorticotrófico para confirmar diagnósticos pois o potássio e sódio pode se encontrar nessa endocrinopatia) - Endoscopia (não é necessária para diagnóstico mas é útil quando associado a esofagite ou pequenas neoplasias) - Eletromiografia (útil para diferenciar polimiopatia, polimiosite, miastenia gravis e polineuropatia) Hipotireoidismo: colesterol alto pode ser indicativo. Concentração sérica de T4. Após o tratamento, o megaesôfago pode diminuir. Disautonomia: colo dilatado, nariz ressecado, pupilas dilatadas, ceratoconjuntivite seca, bradicardia. O megaesôfago é um achado RX comum, além de pneumonia por aspiração, dilatação gástrica, intestino delgado e bexiga urinária. Gatos com disautonomia tem prognóstico ruim. Quando se recuperam (2 a 12 meses) ainda permanecem com sinais clínicos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Estenose esofágica - Corpo estranho - Anomalias vasculares ANOMALIAS VASCULARES É importante diferenciar ESTENOSE NA BASE DO CORAÇÃO (Persistência do ducto arterioso) e DILATAÇÃO ESOFÁGICA CRANIAL A ESTENOSE (Persistência do 4 arco aórtico). Ambos deveriam sumir após o nascimento. São diferenciados no Ecocardiograma (Doppler) e corrigidos cirurgicamente. Persistência do 4 arco aórtico: dilatação esofágica cranial a estenose O ligamento arterial (não tem fluxo sanguíneo) passa sobre o esôfago e o comprime, provocando alterações digestivas (pode comprimir a traqueia também). Persistência do ducto arterioso: O ducto arterioso (possui fluxo sanguíneo) leva a mistura de sangue arterial e venoso (hipóxia, cansaço, exaustão pós-exercícios, cianose, letargia, tosse, sopro, síncopes). O ducto arterioso é uma estrutura presente na vida fetal, derivada do 6º arco aórtico, ligando a aorta a artéria pulmonar. Ao nascer, a expansão pulmonar e o aumento da pressão de oxigênio alveolar e arterial estimulam a constrição da musculatura lisa do DA e seu fechamento. Na PDA isso não ocorre devido a assimetria na distribuição da musculatura. Aumento da silhueta cardíaca, edema pulmonar. DAo: aorta; PA: artéria pulmonar; PDA: ducto arterioso persistente. Na maior parte dos casos: A pressão na aorta é maior, o fluxo do shunt é esquerdo-direito (pode acontecer o oposto), levando a sobrecarga do coração esquerdo e hipertrofia ventricular, disfunção sistólica e dilatação atrial esquerda. A sobrecarga de volume na circulação pulmonar pode conduzir a hipertensão pulmonar. Resultado: ICC e edema pulmonar. TRATAMENTO Caso haja causa primária do megaesôfago, deve ser tratada, e pode ser reversível (dependendo do grau de acometimento, tempo, reação do organismo do paciente etc). O tratamento consiste em: diminuir regurgitações, minimizar possibilidades de pneumonia aspirativa e aumentar a captação de nutrientes. O paciente deve ser alimentado com a parte superior do corpo elevada (PELO MENOS 45º), visto que, a gravidade vai auxiliar na entrada da comida no estômago (quadrúpedes). A comida pode ser colocada em escada ou plataforma. Cães com alterações articulares (ou com predisposição) podem sentir dificuldades. Alguns podem ser treinados e se adaptam ao manejo. Após a alimentação, a posição elevada deve ser mantida por 15-30 minutos para a comida chegar ao estômago. Como o estômago nunca está vazio, é interessante elevar o paciente por 5 a 10 min entre as refeições. E durante a noite, o número de regurgitações podem aumentar, é importante elevar o animal antes de dormir. A frequência da alimentação depende do animal- 2 a 4 vezes ao dia, e da disponibilidade do proprietário. Em dietas hipercalóricas o animal comerá em menor quantidade e menos vezes ao dia. Na ração amolecida o animal precisa de comer um maior volume, no entanto, é menos custosa. A consistência da alimentação deve ser adaptada. Algunsse adaptam à alimentação pastosa. A dieta líquida pode ser facilmente aspirada. Não dá para prever a alimentação que o cão se adaptará, cada paciente responde de uma forma. A ração seca não é indicada pois o alimento pode ficar aderido e não chegar ao estômago. Uso de pró-cinéticos se necessário (cisaprida- não é mais vendido nacionalmente; metoclopramida- não é tão efetivo; bromoprida) As complicações mais comuns são pneumonia aspirativa e perda de peso. Muitos pacientes não recebem adequadamente os nutrientes e ficam imunocomprometidos. Pacientes muito caquéticos e debilitados necessitam de serem sondados. Também é uma opção quando não se adaptam ao manejo e quando a regurgitação é frequente. O gastrotubo (via endoscópica ou cirúrgica) tem tempo de permanência variável, de meses (quando respondem bem e se adaptam ao manejo) a anos (onde o tubo deve ser trocado). E há casos que mesmo sondado o paciente apresenta regurgitação e refluxo gastroesofágico. O tratamento para pneumonia aspirativa inclui: fluidoterapia, antibiótico IV (oral tem baixa concentração sérica e não é transportado corretamente até o estômago), suporte nutricional, inalação, tapotagem. Minimizar chances de aspiração do conteúdo. A esofagite (diminui apetite, sialorréia) é tratada com sucralfato, antagonista de receptor H2 (ranitidina) ou inibidor da bomba de prótons (omeprazol). Megaesôfago secundário a miastenia gravis tem o manejo somado a terapia medicamentosa. Neostigmina IV (prevenir superdosagem de acetilcolinesterase). Corticoide em dose imunossupressora ou azatioprina (imunossupressor). PROGNÓSTICO De reservado a ruim. A eutanásia é uma alternativa. Alguns animais podem apresentar êxito. Na existência de pneumonia aspirativa o tempo de sobrevida é influenciado. Grande parte do sucesso depende da dedicação do proprietário. Animais com megaesôfago adquirido secundário têm prognóstico favorável se a doença primária for diagnosticada e tratada.