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Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 Definição de Demências: 🎔 deve ser compreendida como uma síndrome com múltiplas etiologias, decorrente de comprometimento (“orgânico”) do sistema nervoso central. 🎔 o diagnóstico sindrômico de demência baseia-se na presença de declínio cognitivo persistente, geralmente progressivo e crônico, que interfere na capacidade do indivíduo de desempenhar as atividades profissionais ou sociais a que estava habituado. 🎔 a queixa do paciente e/ou dos familiares que motiva a consulta é a perda da memória para fatos recentes, o que reflete redução da capacidade de reter novas informações. Menos frequentemente, são as mudanças de comportamento, como apatia, desinibição ou dificuldades em tarefas da vida cotidiana, que trazem o paciente à consulta. 🎔 a prevalência de demência na população idosa é muito alta, dobrando a cada 5 anos, aproximadamente, depois dos 65 anos. 🎔 a doença vascular é considerada a segunda causa mais frequente de demência e é particularmente comum em pacientes idosos ou em populações com acesso limitado à assistência médica, nas quais os fatores de risco vasculares recebem tratamento insuficiente. 🎔 as demências relacionadas com doença de Parkinson (DP) são extremamente comuns e podem, temporariamente, acompanhar um distúrbio parkinsoniano, como observado com a demência relacionada com DP (DDP) ou pode ocorrer concomitantemente com ou precedendo a síndrome motora como com a demência com corpúsculos de Lewy (DCL). 🎔 podem ser divididas nas seguintes categorias: ● causa: degenerativas e não degenerativas; ● localização principal: corticais e subcorticais; ● idade de início: precoce (início antes dos 65 anos de idade) e tardio (após os 65 anos); ● resposta ao tratamento: potencialmente tratáveis e irreversíveis; e ● tempo de evolução: rapidamente ou lentamente progressivas. 🎔 entre as alterações cognitivas do envelhecer normal e a demência existe o comprometimento cognitivo leve (CCL) ou transtorno neurocognitivo menor, onde existe um déficit cognitivo leve sem alteração na funcionalidade. Ou seja, os pacientes apresentam um declínio cognitivo maior do que o esperado para a idade, mas são independentes. 🎔 como a demência é uma doença progressiva, todos os pacientes que possuem diagnóstico de demência passaram pelo CCL, exceto, é claro, em quadros agudos como trauma cranioencefálico ou AVC. 🎔 para definir uma síndrome demencial é necessário declínio cognitivo suficiente para gerar prejuízo funcional em relação a um nível prévio do indivíduo. Hoje são exigidos acometimento de dois domínios cognitivos afetados, não necessariamente a memória na maior parte dos critérios em voga. 🎔 Demência com Corpos de Lewy : é a segunda causa de demência de causa degenerativa em idosos. Os pacientes são Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 altamente sensíveis a perturbações metabólicas, e em alguns a primeira manifestação da doença é o delirium, muitas vezes precipitado por infecção ou outra enfermidade sistêmica. Mesmo sem um fator precipitante subjacente, as flutuações podem ser acentuadas na DCL, ocorrendo confusão episódica ou até mesmo estupor entremeados com intervalos lúcidos. Cognitivamente, a DCL caracteriza preservação relativa da memória porém com déficits visuoespaciais e executivos mais graves do que nos pacientes com DA precoce. A característica neuropatológica mais importante na DCL é a presença dos corpúsculos de Lewy e neurites de Lewy em todo o núcleo específico do tronco encefálico, substância negra, amígdala, giro do cíngulo em finalmente, neocórtex. Os corpúsculos de Lewy são inclusões citoplasmáticas intraneuroniais coradas pelo ácido periódico de Schiff (PAS) e pela ubiquitina, mas atualmente são identificados com anticorpos para a proteína pré-sináptica, alfa-sinucleína. Eles são compostos de neurofilamentos retos de 7 a 20 nm de comprimento com material amorfo circundante e contêm epítopos reconhecidos por anticorpos contra as proteínas fosforiladas e não fosforiladas dos neurofilamentos, ubiquitina e alfa-sinucleína. Um déficit colinérgico profundo, devido a envolvimento do prosencéfalo basal e do núcleo pedunculopontino, está presente em muitos pacientes com DCL, podendo ser um fator responsável pelas oscilações, falta de atenção e alucinações visuais. Nos critérios diagnósticos existe uma regra arbitrária na qual a demência deve anteceder ou suceder no máximo em um ano o sintomas parkinsonianos, para distinguir da demência na Doença de Parkinson. A flutuação cognitiva é o sintoma mais prevalente na DCL, podendo ocorrer em até 90% dos pacientes. Desta forma, há sonolência variável ao longo do dia e diferentes respostas cognitivas da atenção e do nível de consciência. 🎔 Demência Vascular : pode ser dividida em duas categorias gerais: demência por múltiplos infartos e doença difusa da substância branca. Indivíduos que tiveram vários AVE podem desenvolver déficits cognitivos crônicos, comumente denominados demência por múltiplos infartos. A ocorrência de demência parece depender, em parte, do volume total de córtex lesionado, porém também é mais comum em indivíduos com lesões do hemisfério esquerdo independentemente de qualquer distúrbio da linguagem. Os pacientes relatam tipicamente episódios anteriores distintos de súbita deterioração neurológica. Muitos pacientes com demência por múltiplos infartos têm história de hipertensão, diabetes, doença arterial coronariana (DAC), ou outras manifestações de aterosclerose difusa. O exame físico em geral demonstra déficits neurológicosfocais, como hemiparesia, sinal de Babinski unilateral, defeito dos campos visuais ou paralisia pseudobulbar. AVE recorrentes resultam em progressão escalonada da doença. Exames de neuroimagem revelam múltiplas áreas de infarto. A demência pode ter um início insidioso e progressão lenta, características que a diferenciam da demência por múltiplos infartos, porém outros pacientes exibem deterioração escalonada mais típica da demência por múltiplos infartos. Os sintomas iniciais são confusão leve, apatia, ansiedade, psicose e déficits da memória, habilidades espaciais ou função executiva. Mais tarde, surgem dificuldades acentuadas do discernimento e orientação, bem como dependência de outras pessoas para as atividades diárias. Euforia, exultação, depressão ou comportamento agressivo são comuns à medida que a doença avança. Um distúrbio da marcha aparece em pelo menos 50% desses pacientes. Na doença avançada, são frequentes incontinência urinária e disartria, com ou sem outras características pseudobulbares (p. ex., disfagia, labilidade emocional). Crises Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 epilépticas e abalos mioclônicos aparecem em uma minoria dos pacientes. Este distúrbio parece advir da isquemia crônica por causa da doença oclusiva das pequenas artérias e arteríolas cerebrais penetrantes (microangiopatia). Muitos desses pacientes mostram outros achados sugestivos de doença neurológica ou sistêmica, como oftalmoplegia, degeneração da retina, surdez, miopatia, neuropatia, ou diabetes. O diagnóstico é difícil, mas os níveis de lactato e piruvato no soro – ou (especialmente) do LCS – podem ser anormais, e uma biópsia do tecido afetado, preferencialmente músculo, pode ser diagnóstica. O tratamento da demência vascular deve concentrar-se na prevenção de lesão isquêmica nova por meio da estabilização ou remoção das causas subjacentes, como hipertensão, diabetes, tabagismo ou falta de exercícios. A recuperação da função cognitiva perdida não é provável, embora oscilações com períodos de melhora sejam comuns. 🎔 Demência Frontotemporal : frequentemente começa entre os 50 e os 70 anos, sendo nesta faixa etária quase tão prevalente quanto a DA. Pode ser 2 vezes mais comum em homens que em mulheres. Diferente da DA, os sintomas comportamentais tendem a predominar nos estágios iniciais da DFT. Na DFT, os sintomas iniciais dividem-se em anormalidades comportamentais, de linguagem e, às vezes, motoras, refletindo a degeneração das regiões frontais e temporais insulares anteriores, núcleos da base e neurônios motores. A avaliação cognitiva revela tipicamente memória preservada, mas deficiência do planejamento, discernimento ou linguagem. Decisões financeiras insensatas e dificuldade na organização dos planos de trabalho são comuns, e déficits da fala e linguagem surgem com frequência. Os pacientes com DFT muitas vezes mostram não perceber sua situação. As manifestações comportamentais comuns consistem em apatia, desinibição, ganho ponderal, modismos alimentares, compulsões e distância emocional ou perda da empatia. Os casos com lesão frontal esquerda assimétrica apresentam-se com afasias disfluentes, enquanto a degeneração temporal anterior esquerda caracteriza-se por perda do significado das palavras (demência semântica). Os casos com lesão frontal esquerda assimétrica apresentam-se com afasias disfluentes, enquanto a degeneração temporal anterior esquerda caracteriza-se por perda do significado das palavras (demência semântica). Diferentemente, os casos com lesões frontais ou temporais direitas mostram alterações profundas da conduta social, com predomínio de perda da empatia, desinibição e comportamento antissocial. A marca anatômica da DFT é a atrofia focal do córtex frontal, insular e/ou temporal, que pode ser visualizada nos exames de neuroimagem. Os achados microscópicos observados em todos os pacientes com DFT incluem gliose, microvacuolação e perda neuronal, mas a doença é subtipada de acordo com a composição da proteína das inclusões neuroniais e gliais, que com têm tau ou TDP-43 em pelo menos 90% dos pacientes, sendo que os 10% restantes apresentam inclusões que contêm FUS. Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 Alzheimer: Introdução: 🎔 é a demência mais comum. 🎔 é comumente esporádica, embora a suscetibilidade esteja relacionada a uma variedade de fatores de risco genéticos. 🎔 raramente, a doença exibe um padrão de herança autossômica dominante, particularmente em indivíduos mais jovens. 🎔 é uma doença crônica do envelhecimento, e tanto a incidência quanto a prevalência da doença aumentam com a idade. 🎔 é neurodegenerativa, que afeta a cognição, a memória de curto prazo, além de possuir uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos. Epidemiologia: 🎔 a frequência de DA aumenta a cada década da idade adulta, atingindo 20 a 40% da população com mais de 85 anos. 🎔 o sexo feminino também pode ser um fator de risco independente da maior longevidade das mulheres. 🎔 alguns pacientes com DA têm história prévia de traumatismo craniano com concussão. 🎔 é mais comum nos grupos com nível educacional inferior, porém acomete pessoas de todos os níveis intelectuais. 🎔 a duração média dos sintomas desde os primeiros sintomas perceptíveis até a morte é tipicamente de 10 a 20 anos ou mais. 🎔 em 2012, a DA foi considerada como quarta maior causa de óbito em todas as idades (42/100.000 população) em países de alta renda. Fatores de Risco: 🎔 Gerais : a depressão na vida avançada está associada à doença de Alzheimer, é provávelque os sintomas depressivos constituam, com frequência, manifestações precoces desse distúrbio demencial. Destacam-se também, hipertensão arterial, obesidade, níveis elevados de LDL e baixos de HDL colesterol na meia-idade, diabetes mellitus , tabagismo, traumatismo cranioencefálico e níveis elevados de homocisteína. Outros fatores, por sua vez, são considerados protetores contra o desenvolvimento da doença, como alta escolaridade, atividade intelectual produtiva, atividade física e fatores alimentares, como a dieta mediterrânea. Os efeitos da escolaridade e da atividade intelectual Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 ensejaram a teoria da “reserva cognitiva”, que se refere à habilidade de processar estratégias cognitivas alternativas e recrutar redes neurais análogas a fim de compensar os déficits resultantes das alterações patológicas da DA, atuando como fator protetor ao postergar o início dos sintomas. 🎔 Fatores Genéticos : já foram identificadas mutações nos cromossomos 1, 14 e 21, condicionando início dos sintomas usualmente antes dos 65 anos (DA pré-senil), mais frequentemente antes dos 60 anos. O gene que codifica a proteína precursora do amilóide encontra-se no cromossomo 21, e a síndrome de Down, em que há trissomia desse cromossomo, leva ao desenvolvimento de alterações patológicas características da DA a partir de certa idade. Os cromossomos 14 e 1, por sua vez, relacionam-se com as proteínas pré-senilinas 1 e 2, respectivamente. Entre os casos de DA familial, em que anormalidades genéticas são identificadas, a maior parte (cerca de 50% dos casos) decorre de mutações no gene da pré-senilina 1, no cromossomo 14. Outro fator genético de grande importância é a presença do alelo ε4 do gene da apolipoproteína E, proteína plasmática relacionada com o transporte do colesterol. O gene codificador apresenta três alelos (ε2, ε3, ε4) e seis genótipos ou polimorfismos possíveis. A sua distribuição é variável nas diversas etnias, e estudos epidemiológicos demonstram que, em pacientes com DA, a frequência do alelo ε4 é desproporcionalmente alta, tanto em pacientes com doença esporádica de início tardio, quanto familial. A presença de um alelo ε4 aumenta o risco de desenvolvimento da doença em duas a três vezes, enquanto a homozigose para esse alelo aumenta o risco em cinco a 15 vezes. A associação entre a presença do alelo ε4 da apolipoproteína e a DA também já foi confirmada em estudos brasileiros. Observa-se maior risco de doença de Alzheimer em parentes de primeiro grau de indivíduos com a doença. Os irmãos de pacientes têm aproximadamente duas vezes o risco permanente esperado de desenvolver a doença. Os gêmeos monozigóticos apresentam uma concordância significativamente mais alta para a doença de Alzheimer do que os gêmeos dizigóticos. Fisiopatologia: 🎔 a degeneração mais precoce e mais grave geralmente é observada no lobo temporal medial (córtex entorrinal/perirrinal e hipocampo), córtex temporal lateral e núcleo basal de Meynert. Os achados microscópicos mais típicos são placas neuríticas e ENF. 🎔 caracteriza-se por dois aspectos neuropatológicos específicos: as placas amiloides extracelulares, que molecularmente consistem, em grande parte, em uma agregação fibrilar dos peptídios de 40 e 42 aminoácidos, Aβ40 e Aβ42, e os emaranhados neurofibrilares intracelulares, que consistem em polímeros filamentosos helicoidais pareados da proteína tau hiperfosforilada. 🎔 as placas neuríticas senis são lesões microscópicas esféricas com uma região central de Aβ extracelular infiltrada e circundada por fibras nervosas anormais (neuritos). Os peptídios Aβ40 e Aβ42 derivam da APP, uma proteína transmembrana presente na maioria dos tecidos. Uma região da APP reside dentro de um domínio intramembranoso de organelas intracelulares nos neurônios, e várias atividades enzimáticas proteolíticas, conhecidas como secretases, são responsáveis pela clivagem da proteína. Quando ocorre clivagem pela α-secretase, forma-se um derivado peptídico solúvel do amiloide. Entretanto, quando a APP é clivada pela β-secretase e, subsequentemente, pela γ-secretase, são gerados os peptídios Aβ40 e Aβ42. Esses monômeros de peptídeo Aβ sofrem agregação, formando oligômeros e, por fim, grandes polímeros, um processo que pode ser demonstrado in vitro e que presumivelmente resulta nas placas amiloides observadas na histologia. Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 🎔 além do depósito de amilóide no parênquima na doença de Alzheimer, ocorre, em quase todos os casos, angiopatia amilóide, que consiste no depósito de amiloide em torno dos vasos meníngeos e cerebrais. Essa condição é de gravidade e importância variáveis em diferentes pacientes, porém é acompanhada de propensão a hemorragias, as quais podem ser microscópicas, embora sejam visíveis na ressonância magnética (RM) gradiente-eco ponderada em T2, ou macroscópicas, com hemorragias lobares médias ou grandes. 🎔 segundo a “teoria da cascata amiloide”, após o processo amiloidogênico, ocorre a patologia neurofibrilar, de natureza neurodegenerativa. Os emaranhados neurofibrilares têm como constituinte molecular principal a proteína tau hiperfosforilada. A proteína tau, em condições fisiológicas, está associada aos microtúbulos, participando da formação estrutural do citoesqueleto neuronal, responsável pelo transporte axonal. Essa proteína é codificada por um gene localizado no cromossomo 17. 🎔 na DA ocorre hiperfosforilação da proteína, que deixa de se ligar aos microtúbulos e forma filamentos helicoidais pareados insolúveis,que se agregam formando os emaranhados neurofibrilares. A densidade de emaranhados aumenta com o envelhecimento, tanto em indivíduos com demência quanto sem demência. Entretanto, a densidade de emaranhados neurofibrilares é maior nos pacientes com DA do que em indivíduos normais da mesma idade, nos quais a patologia neurofibrilar é restrita às estruturas límbicas. 🎔 uma característica patológica importante, porém inespecífica, da doença de Alzheimer consiste na perda disseminada e regionalmente específica de sinapses e, por fim, perda de neurônios. As perdas sinápticas são acompanhadas de uma grande variedade de déficits de neurotransmissores. Esses déficits incluem um declínio particular dos terminais colinérgicos no hipocampo e no córtex, aparentemente devido ao comprometimento degenerativo precoce e proeminente do núcleo basal de Meynert, cujos grandes neurônios colinérgicos se projetam amplamente. É esse déficit colinérgico que forma a base para o tratamento da doença de Alzheimer com fármacos que aumentam o tônus colinérgico. 🎔 a doença de Alzheimer também se caracteriza de modo variável por degeneração granulovacuolar de células piramidais do hipocampo, que constitui uma característica patológica pouco elucidada, depósito amiloide nos vasos sanguíneos e alterações gliais. Manifestações Clínicas: 🎔 as alterações cognitivas da DA tendem a seguir um padrão típico, começando com deficiência de memória e expandindo-se para déficits visuoespaciais e da linguagem. 🎔 nos estágios iniciais da doença (duração de, em média, de 2 a 3 anos), a perda de memória pode não ser percebida ou ser atribuída a esquecimento benigno. Alterações no ambiente (como férias ou internações) podem desorientar o paciente, o qual pode perder-se ao caminhar ou dirigir. O comprometimento dos núcleos colinérgicos, especialmente do núcleo basal de Meynert, acarreta redução significativa dos impulsos colinérgicos que aí se iniciam e se dirigem a todo o neocórtex. Esse estado hipocolinérgico cortical contribui para o déficit de memória. Ainda na fase leve, ocorre acometimento de estruturas paralímbicas como o cíngulo, especialmente em sua porção posterior, giro para-hipocampal, polo temporal, córtex orbitofrontal e também de áreas corticais mais recentes, como as dos neocórtices frontal dorsolateral e temporal, um pouco mais tarde. 🎔 nos estágios intermediários da DA (sua duração varia entre 2 e 10 anos), o paciente é incapaz de trabalhar bem como se perde e se confunde com facilidade, exigindo supervisão diária. As boas-maneiras, o comportamento rotineiro e a conversação superficial podem se mostrar surpreendentemente preservados. A Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 linguagem torna-se comprometida – primeiro a denominação, depois a compreensão e por fim a fluência. Em alguns pacientes, a afasia é um aspecto precoce e proeminente. 🎔 nos estágios avançados da doença, algumas pessoas mantêm-se ambulatoriais, mas vagam a esmo. A perda do discernimento e do raciocínio cognitivo é inevitável. Delírios são comuns, em geral simples, com temas comuns de furto, infidelidade ou identificação equivocada. Os padrões de sono-vigília são alterados, e o hábito de vagar durante a noite perturba o domicílio. Alguns pacientes apresentam marcha arrastada, com rigidez muscular generalizada associada à lentidão e inadequação dos movimentos. Os pacientes com frequência parecem parkinsonianos, mas raramente têm tremor em repouso, de alta amplitude e rítmico. Também podem ocorrer crises epilépticas generalizadas. 🎔 com frequência, a morte decorre de desnutrição, infecções secundárias, embolia pulmonar, cardiopatia ou, mais comumente, aspiração. A duração típica da DA é de 8 a 10 anos, mas a evolução varia de 1 a 25 anos. 🎔 embora conhecidos como BPSD, os sintomas neuropsiquiátricos devem ser distinguidos isoladamente ou em grupamentos, tendo em vista as apresentações clínicas e neuropatológicas distintas dos mesmos. Nesse sentido, existem critérios provisórios propostos para o diagnóstico e escalas de avaliação para a caracterização individual de pelo menos 3 grupamentos de sintomas neuropsiquiátricos, a saber: depressão da DA, psicose da DA e apatia da DA. 🎔 na depressão da DA , redução da expressão afetiva positiva e do prazer frente a contato social e atividades usuais, isolamento social, recusa alimentar, irritabilidade, vocalização perturbadora e comportamento inoportuno podem estar presentes, além dos demais sintomas comuns nesse estado, tais como humor deprimido (choroso); perda ou ganho de peso significativo (5% do peso); insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva; capacidade diminuída de concentrar-se e pensar; pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida. 🎔 na psicose da DA , a demência precede o início da psicose (alucinações visuais ou auditivas e/ou ideias delirantes devem estar presentes há pelo menos 1 mês). 🎔 na apatia da DA constata-se perda ou redução de motivação em relação a um nível prévio em pelo menos 2 domínios: comportamento intencional (iniciar conversas, engajar-se em atividades de vida diária, buscar atividades sociais, manifestar preferências e participar em conversações ou em atividades sociais), pensamento intencional (manter interesse e curiosidade sobre eventos de rotina ou novidades, tais como tarefas desafiadoras, noticiário, assuntos de família e questões do relacionamento) e emocional (manter afeto espontaneamente pleno e capacidade de respostaa eventos potencialmente excitantes como conquistas, perdas, doença e catástrofes). Diagnóstico: 🎔 na prática clínica atual, no entanto, o diagnóstico se baseia na presença das alterações cognitivas, comportamentais e Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 funcionais descritas, aferidas por meio de instrumentos específicos, e na exclusão de outras causas de demência, por meio de exames laboratoriais e de neuroimagem estrutural. 🎔 na história é importante inquirir sobre a relação dos medicamentos em uso, prescritos ou não, condições clínicas associadas – “comorbidades” –, hábitos dietéticos, história de alcoolismo e intoxicações, doenças sistêmicas e neurológicas prévias. A história familial positiva para demências e a presença dos fatores de risco para doença cerebrovascular devem também ser exploradas. A cronologia dos fatos há de ser considerada, pois o ritmo de progressão do declínio cognitivo e a presença de determinadas alterações não cognitivas podem ser elucidativos para o diagnóstico. Sempre que possível, é interessante confrontar as informações obtidas com o paciente com o relato de um informante confiável. Deve-se avaliar a magnitude da interferência dos déficits apresentados nas atividades pessoais, sociais e ocupacionais do paciente. Informações sobre a personalidade prévia, o nível educacional, os passatempos e os históricos ocupacional e social podem servir não somente como auxílio importante para o diagnóstico, mas também para estimar o impacto da doença sobre o paciente e para facilitar a elaboração do plano de reabilitação mais adequado. 🎔 o exame neurológico, em geral, é normal, exceto nas fases mais avançadas da doença, quando podem ser observados sinais extrapiramidais (rigidez, alterações posturais e da marcha), mioclonias e reflexos primitivos. 🎔 os primeiros critérios organizados para o diagnóstico clínico da doença de Alzheimer foram estabelecidos, em 1984, por um esforço conjunto do National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke e da Alzheimer’s Association. 🎔 esses critérios, conhecidos como critérios NINCDS-ADRDA, consistiam em três níveis de certeza clínica: definida, reservada apenas para os casos confirmados por necropsia, provável e possível. 🎔 os critérios incluíam uma história de deterioração progressiva da capacidade cognitiva, não explicável por outros distúrbios conhecidos, envolvendo a memória e pelo menos outro domínio cognitivo e causando prejuízo significativo no funcionamento do paciente. 🎔 os critérios foram aprovados pela American Academy of Neurology, em 2001, com a inclusão adicional de exames laboratoriais preferidos, como tomografia computadorizada (TC) ou RM, e exames laboratoriais opcionais, como teste sorológico para sífilis. Entretanto, com o passar do tempo, tornou-se evidente que esses critérios eram inadequados, devido à exigência de comprometimento da memória, distúrbio funcional e à falta de referência a exames de marcadores em líquidos biológicos e exames de imagem mais modernos e específicos. 🎔 Mini-mental (MEEM) : os testes cognitivos a serem incluídos na avaliação rotineira devem, idealmente, ser curtos, de fácil manuseio, de aplicação simples e rápida, apropriados para qualquer ambiente e, obviamente, devem propiciar o reconhecimento efetivo dos sinais e dos sintomas precoces de demências. Em média, tem uma sensibilidade de 83 e uma especificidade de 82% para a detecção de demência. Como vantagens, incluem-se a facilidade e o tempo curto para aplicação, a concisão e a baixa variabilidade Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 entre examinadores. Entre as limitações do MEEM, incluem-se: a baixa sensibilidade para a detecção de comprometimento cognitivo leve, as falhas para a distinção entre os indivíduos normais e aqueles com demência leve e as limitações para a avaliação do declínio cognitivo em fases avançadas de demências. Os escores medianos por escolaridade no Brasil são: para analfabetos, 20; para 1 a 4 anos, 25; para 5 a 8 anos, 26,5; para 9 a 11 anos, 28; para mais de 11 anos, 29. 🎔 Teste do Relógio : reflete o funcionamento frontal e temporoparietal e avalia as habilidades visuoespaciais e construcionais. Há de se considerar como limitações as diversas formas de interpretação com os 3 métodos propostos para pontuação e a influência do nível de escolaridade. 🎔 Teste de Fluência Verbal : avalia a produção espontânea do maior número possível de itens de determinada categoria semântica (animais, frutas, vegetais, lista de supermercado) ou fonêmica (palavras iniciadas por determinada letra) durante um espaço determinado de tempo (em geral um minuto), e o escore se dá pelo número de respostas corretas obtidas. O teste se relaciona com nomeação, solução de problemas, sequenciamento, perseveração e com vários aspectos da memória operacional, da capacidade de organização e da autorregulação. De acordo com alguns autores, na DA, a fluência semântica (relacionada com áreas temporais mesiais) encontra-se mais precocemente afetada do que a fluência fonêmica (relacionada com áreas frontais). 🎔 Teste de Memória Verbal : pode ser testada por listas de palavras apresentadas uma a uma, para repetição imediata e evocação tardia. Na lista de palavras do CERAD, 10 palavras são apresentadas por 3 vezes para repetição imediata e posterior evocação e reconhecimento. É esperada, em pessoas normais, uma melhora nas sucessivas tentativas. É importante sempre apresentar um fator de distração (preferencialmente materialnão verbal), e, para a seleção de palavras, devem ser evitadas associações semânticas ou fonêmicas ou efeito de saliência. Alternativamente, a memória verbal pode ser testada por meio de testes de memória de figuras nos quais as imagens devem ser reconhecidas entre uma série de outras, distratoras. Um dos testes mais conhecidos nessa categoria é o de memória de figuras da Escala de Memória de Wechsler. 🎔 Exames Complementares : o exame neuropsicológico é útil para estabelecer a extensão do prejuízo cognitivo em termos de domínios afetados e em termos de grau de comprometimento em comparação com pessoas de idade, sexo e educação comparáveis (resultados normativos). O exame dos resultados em comparação com pessoas de um grupo semelhante possibilita melhor avaliação dos resultados em uma base absoluta, devido à ampla variação geral no desempenho desses testes, que estão relacionados, em grande parte, com a educação da pessoa. Também é útil para acompanhar a evolução. Os exames laboratoriais de rotina de sangue, urina e LCS são inespecíficos na doença de Alzheimer. Para descartar diagnósticos diferenciais solicita-se, dosagem Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 de vit B12, creatinina sérica, TSH, albumina, enzimas hepáticas, ácido fólico, cálcio, sorologia para sífilis e sorologia para HIV. O eletroencefalograma e outras medidas neurofisiológicas são inespecíficos, revelando um alentecimento do ritmo de fundo ou outras alterações que não são diagnósticas de qualquer distúrbio cerebral em particular. Quanto aos exames de imagem por TC ou RM não revelam nenhuma anormalidade estrutural macroscópica, a não ser a atrofia, particularmente no início da evolução da doença. Posteriormente, na evolução da doença, observa-se tipicamente a ocorrência de atrofia cortical e subcortical significativa, alargamento de sulcos e ventrículos, atrofia dos giros e do hipocampo. A maioria dos estudos com positron emission tomography (PET) e single-photon emission computed tomography (SPECT) em pacientes com DA mostra tipicamente uma redução bilateral e frequentemente assimétrica do fluxo sanguíneo e metabolismo em regiões temporais posteriores ou temporoparietais, porém tais alterações podem estar ausentes nas fases iniciais da doença ou ocorrem em outros tipos de demência, como a vascular e a doença de Parkinson. Tornou-se evidente que tanto o LCS quanto o exame de imagem funcional do cérebro podem exibir marcadores relativamente sensíveis e específicos da doença de Alzheimer. Um biomarcador , ou marcador biológico, pode ser definido como uma alteração mensurável na composição física de um organismo que indica a presença de uma doença. Os biomarcadores podem ser divididos entre aqueles de patologia (beta-A 1-42, proteína tau e fosfotau no LCR; PET com marcador para amiloide), estruturais (RM) e clínicos (avaliação cognitiva). O uso desses biomarcadores foi sugerido para o diagnóstico da DA, ainda na forma pré-clínica ou nas fases clínicas muito iniciais, antes do comprometimento funcional e de outras funções cognitivas, além da memória. Para a DA, existe recomendação para um marcador biológico ideal que: ● Reflita um aspecto fundamental da fisiopatologia da DA; ● Indique a presença real da DA e não meramente um risco aumentado; ● Exiba alta sensibilidade e especificidade (80% ou mais); ● Seja eficaz na predição na DA precoce ou pré-clínica; ● Permita monitorar a gravidade da doença ou a razão de progressão; ● Indique a eficácia da intervenção terapêutica; e ● Seja não invasivo, econômico e disponível. Diagnóstico Diferencial: 🎔 no início da evolução da doença, devem-se excluir as outras etiologias da demência. 🎔 no diagnóstico possível, há a presença de uma síndrome demencial e ausência de anormalidades neurológicas, psiquiátricas ou sistêmicas suficientes para causar a demência; no entanto, há a presença de variações no início, na apresentação e no curso clínico ou ainda a presença de doença secundária sistêmica ou cerebral que poderia ser a causa do quadro, mas não é considerada a causa. 🎔 outros diagnósticos diferenciais são o estado confusional agudo (delirium), os transtornos psiquiátricos funcionais (depressão maior, esquizofrenia), o comprometimento cognitivo leve, a deficiência intelectual e os transtornos específicos de aprendizagem e outros transtornos do neurodesenvolvimento. Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 Tratamento: 🎔 as metas primárias do tratamento da DA são: melhorar a qualidade de vida, maximizar o desempenho funcional dos pacientes e promover o mais alto grau de autonomia factível pelo maior tempo possível em cada um dos estágios da doença, ou seja, prover eficácia sustentada ao longo do tempo. Para isso, o enfoque principal do tratamento é direcionado para as medidas de intervenção sobre as alterações cognitivas, do humor e dos sintomas psicológicos e do comportamento na tentativa de reduzir o ritmo de progressão da doença, reduzir ou pelo menos estabilizar os seus principais sintomas, proporcionar um impacto positivo sobre o cuidador, reduzir a dependência funcional e a necessidade de institucionalização. 🎔 Tratamento Específico : procedimentos que impeçam a formação do peptídeo beta-A, seu depósito no parênquima nervoso ou seu efeito tóxico, ou que promovam sua eliminação, ou ain-da que impeçam a hiperfosforilação da proteína tau são os principais candidatos a bons resultados em um futuro que não está muito distante. Fármacos que bloqueiam a ação da gama-secretaseou da beta-secretase, ou que estimulam a da alfa-secretase, ou que retiram o amiloide depositado estão em fase de testes. As medicações ainda estão em testes. 🎔 Tratamento Sintomático : o tratamento farmacológico atualmente disponível para a DA é de natureza sintomática, com drogas que atuam nas vias colinérgicas (inibidores da colinesterase ou IChE) ou glutamatérgicas (antagonista de receptores NMDA do glutamato). Três IChE são utilizados na prática clínica, sendo indicados para o tratamento da DA leve a moderada: donepezila, galantamina e rivastigmina. A donepezila também está aprovada para o tratamento da DA grave, enquanto a galantamina está indicada para o tratamento da DA com doença cerebrovascular associada. As três drogas inibem a acetilcolinesterase (e, no caso da rivastigmina, também a butirilcolinesterase), enzimas responsáveis pela inativação da acetilcolina, aumentando assim a disponibilidade do neurotransmissor na fenda sináptica. Os principais eventos adversos dos IChE são náuseas, vômitos e diarreia, decorrentes de estimulação colinérgica periférica. A titulação lenta da dose é a medida mais efetiva na redução desses efeitos, embora em alguns casos não seja suficiente e o tratamento deva ser interrompido, podendo-se fazer a troca de um agente por outro. A recomendação é de que as doses sejam aumentadas a cada quatro semanas, ou mesmo após períodos maiores, dependendo da ocorrência de eventos adversos. Os IChE podem causar síncope e bradicardia em pacientes suscetíveis, de modo que é recomendável que pacientes com antecedente de arritmias cardíacas ou com anormalidades no eletrocardiograma sejam avaliados por cardiologista antes da introdução do medicamento. Nas fases moderada a grave da doença, a memantina (antagonista não competitivo dos receptores NMDA do glutamato) é eficaz, levando à melhora cognitiva e funcional e à redução do grau de dependência. A posologia inicial recomendada é de 5 mg/dia, com aumento de 5 mg/dia a cada semana. A posologia final recomendada é de 10 mg a cada 12 horas (ou 20 mg uma vez ao dia) e a tolerabilidade é usualmente muito boa. A memantina pode ser combinada a qualquer um dos três IChE em pacientes com DA moderada a grave, oferecendo benefícios clínicos e funcionais superiores ao efeito do IChE isoladamente, sem maior incidência de eventos adversos. Para os pacientes que não respondem ao tratamento com IChE ou memantina, a prescrição de antipsicóticos é bastante frequente na prática clínica. No entanto, o uso desses medicamentos neste contexto clínico não tem aprovação por parte das agências Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P7 reguladoras, além de já terem sido associados a aumento de mortalidade em pacientes idosos com demência. 🎔 Grupos de Apoio : os grupos e associações de apoio são outra opção muito válida para promover o bem-estar dos familiares e dos cuidadores, para informar e orientar sobre o manejo dos pacientes, para proporcionar a troca de informações e dicas, para capacitar novos cuidadores, para divulgar informações sobre pesquisas e sobre métodos efetivos de tratamento, para estimular a difusão do conhecimento sobre a DA e para lembrar os familiares e os demais cuidadores da necessidade de se cuidarem. No Brasil, a ABRAz – Associação Brasileira de Alzheimer, Doenças Similares e Idosos de Alta Dependência - encontra-se presente em 21 estados, com várias sub-regionais. Referências: Tratado de Neurologia de Merritt, Neurologia Clínica de Harrison, Clínica Médica da USP, Tratado de Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia e Tratado de Geriatria e Gerontologia.
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