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Autor: Lucas Braselino Borges BREVE HISTÓRIA Derivados da coca eram amplamente utilizados após o advento da anestesia inalatória, mas foram abolidos por causa dos efeitos indesejáveis, sendo eles psicotrópitos e cardiovasculares. Após isso surgiram outros anestésicos locais como, a procaína e a benzocaína que eram mais seguros, porém o período de ação era curto (cerca de 30 minutos) e eles produziam um metabólito chamado ácido paraminobenzóico (PABA) que tinha características alergênicas. Em 1948 foi sintetizada a lidocaína, o primeiro anestésico que era comercializado derivado de amida, o que era bom, pois ela não gerava o PABA, logo, menor chance de efeitos alergênicos. MECANISMO DE AÇÃO Essa modalidade de anestésicos consegue bloquear a condução nervosa dos estímulos nociceptivos de forma reversível, ou seja, ocasiona perda da sensibilidade motora e sensitiva retornando depois de algum tempo. Esses anestésicos agem bloqueando os canais de sódio nos axônios das fibras aferentes bloqueando o estímulo. *Os anestésicos locais são bases fracas tendo duas formas, a forma molecular neutra que consegue penetrar a membrana fosfolipídica das células facilmente adentrando o interior celular e a forma protonada que tem dificuldade em penetrar na membrana. Existe uma relação entre as duas formas (B+ H+ BH+) que se mantém dentro da célula, o que é importante, pois é a forma PROTONADA que vai bloquear os canais iônicos, impedindo a repolarização celular. VELOCIDADE DE BLOQUEIO Isso dependerá da anatomia da fibra aferente. As fibras C e Aδ são responsáveis por levar o estímulo doloroso, em contrapartida as fibras Aα e Aβ são responsáveis pelo estímulo de pressão, tato e propriocepção. O bloqueio acontece seguindo o seguinte roteiro: I. Primeiro temos o bloqueio das fibras mais finas e mielinizadas (fibras C e depois Aδ). II. Depois, fibras mais grossas e mielinizadas (fibras Aα e depois Aβ). Sequência de bloqueio: Dor Tato pressão Propriocepção *A volta do bloqueio acontece de forma inversa EFEITO O que vai influenciar no efeito? I. O VOLUME ADMINISTRADO é um fator importante para um efeito rápido e efetivo e está relacionado com a difusão de anestésico naquela área a ser bloqueada. II. LIPOSSOLUBILIDADE é um fator a ser considerado também, pois os anestésicos locais são muito lipossolúveis, essa característica pode atrapalhar a difusão do fármaco na região, pois ficará “preso” no tecido lipídico (principalpelmente em pacientes mais gordinhos). Autor: Lucas Braselino Borges III. A CONCENTRAÇÃO tem um papel importante no bloqueio locorregional, pois quanto maior a concentração menor o período de latência e maior o período de ação, contudo não se deve elevar demais a concentração, correndo o risco de toxicidade local (apesar dos anestésicos atuais não terem uma concentração muito alta a ponto de provocar a toxicidade) IV. O uso de VASOCONSTRITOR é importante, pois diminui a irrigação local atrasando a absorção sistêmica, aumentando o período de ação. ATENÇÃO!!!: Não usar anestésicos locais (com vaso constritor) em extremidades como, ponta de orelha, cauda, teto, extremidades de membros e bordas de feridas, pois pode haver necrose tecidual. PRINCIPAIS FÁRMACOS DESSA CLASSE: Lidocaína (mais utilizado na medicina veterinária) o Período de ação: [0,5%] 15 a 30 min [1%] 60 min [2%] 90 a 120 min *Período de ação aumenta em 50% com uso de vasoconstritor. A lidocaína também pode ser utilizada com outras finalidades, como, antiarrítmico de classe 1B (COM FORMULAÇÃO SEM VASOCONSTRITOR!!!) em situações de taquiarritmias ventriculares (age nas fibras de Purkinje provocando um retardo na condução nervosa do miocárdio) Doses entre 1 – 2 mg/Kg IV Pode ser usada também em infusões contínuas, tendo efeitos analgésicos, de diminuição do consumo de anestésicos gerais, efeito pró-cinético e efeito anti-inflamatório (principalmente em pacientes que sofreram síndrome de reperfusão). Bupivacaína: anestésico local de longa duração (no mínimo 6 horas). Tem algumas desvantagens em relação a lidocaína: I. Período de latência bem longo, cerca de 20 minutos. II. NÃO pode ser usada em infusão contínua III. NÃO pode ser usada como antiarrítmico A bupivacaína pode provocar toxicidade central e cardiovascular com doses muito menores do que a lidocaína. Existe a levobupivacaína que é um isômero da bupi que tem esse efeito tóxico menor. A bupivacaína é utilizada principalmente em anestesias raquidianas ou epidurais, e em anestesias intra-articulares, mas pode ser utilizada em anestesias tumescentes ou procedimentos prolongados como, laparotomia em ruminantes. Esse fármaco promove bloqueio total das fibras C e Aδ, mas não das Aα e Aβ, então o animal não sente dor nenhuma e ainda tem alguma propriocepção. Ropivacaína: Tem as características muito próximas da bupivacaína, mesmo período de latência e de ação e Autor: Lucas Braselino Borges características de bloqueio, mas ainda é mais segura em relação à toxicidade. DOSES Lidocaína (período de ação: 1 – 2hs) Cães: dose máxima: 10 mg/Kg Antiarrítmico: 1 – 2 mg/Kg CRI: 1 – 2 mg/Kg + 25 – 50 mcg/Kg/min Gatos: dose máxima: 5 mg/Kg Antiarrítmico: 1 – 2 mg/Kg Equinos: dose máxima: 6 mg/Kg Antiarrítmico: 1 – 2 mg/Kg CRI: 1,5 – 2,5 mg/Kg + 25 – 50 mcg/Kg/min Bovinos: dose máxima: 6 mg/Kg Antiarrítmico: 1 – 2 mg/Kg CRI: 1 – 2 mg/Kg + 25 – 100 mcg/Kg/min Bupivacaína (período de ação: 3 – 10hs) Cães: 2 mg/Kg Gatos: 1 mg/Kg Equinos: 2 mg/Kg Bovinos: 2 mg/Kg Levobupivacaína (período de ação: 3 – 10hs) Cães: 3 mg/Kg Gatos: 1,5 mg/Kg Equinos: 3 mg/Kg Bovinos: 3 mg/Kg Ropivacaína (período de ação 3 – 6hs) Cães: 3 mg/Kg Gatos: 1,5 mg/Kg Equinos: 3 mg/Kg Bovinos: 3 mg/Kg *Nunca usar a dose máxima do anestésico, para ter uma boa margem de segurança. RISCOS E TOXICIDADE I. Punção neural ao invés de aplicação Peri neural, com risco de seccionar o nervo. Sempre bom usar técnicas guiadas, por ultrassom por exemplo. II. Até administrações Peri-neurais podem trazer toxicidade local, acontece quando aplicamos lidocaína a 4% ou bupivacaína a 2% (não estão disponíveis no Brasil nessas concentrações). III. A toxicidade sistêmica e SNC acontece quando utilizamos doses muito elevadas por bloqueio locorregional ou infusão Autor: Lucas Braselino Borges contínua, podendo ser observados os seguintes sinais de intoxicação: o Sedação o Depressão o Ataxia o Ansiedade o Convulsões o Inconsciência o Coma o Choque Bulbar *Também podem existir efeitos cardiotóxicos quando doses elevadas são administradas e geralmente são observados após os efeitos no SNC. Os efeitos cardiotóxicos são: o Depressão do miocárdio com bradicardia o Diminuição da contratilidade cardíaca o Até parada cardíaca
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