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Ética e Deontologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Alessandra Aparecida Campos Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Conceitos Básicos • Ética e Deontologia: Conceitos e Aplicação na Área da Saúde • A Ética, a Virtude e os Vícios • A Ética Profissional • Deontologia • Declaração Universal dos Direitos Humanos • Abusos Cometidos e Reações da Sociedade • Legislação Atual Brasileira e Internacional • Equipes de Saúde, Multidisciplinar e Interdisciplinar · Iniciaremos os estudos sobre um dos grandes temas de discussões atuais, Ética e Deontologia, a ciência que estuda a forma de viver dos seres humanos e o seu convívio em sociedade. · Adiante conceituaremos termos importantes e sua aplicação na área da Saúde. OBJETIVO DE APRENDIZADO Conceitos Básicos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conceitos Básicos Ética e Deontologia: Conceitos e Aplicação na Área da Saúde Para podermos conceituar ética, será necessário um pouco de revisão histórica, pois desde muito antigamente o termo é vastamente discutido. É uma discussão que abrange milênios e o desenvolvimento humano está relacionado a este termo. O primeiro filósofo a trabalhar a palavra ética foi Sócrates (filósofo grego) quando começou a refletir sobre a condição humana e a estabilização da sociedade. Para Sócrates, a obediência à lei era o divisor entre a civilização e a barbárie. A ética coletiva deveria priorizar sobre a ética individual. A partir de então, definiu-se o período socrático, finalizado com Aristóteles, iniciador do pensamento científico, seguidor de Platão. Assista ao vídeo sobre ética disponível no Youtube https://youtu.be/Q-CcfQXJJhc Ex pl or Desde a antiguidade, os homens preocupam-se com questões éticas e morais, especialmente vinculadas ao comportamento humano, convivência social, natureza e política. Todos na tentativa de manter o equilíbrio entre o homem e a natureza. Somente o homem é capaz de ser considerado ético, devido à possibilidade do uso da razão, capacidade, liberdade e consciência dos seus próprios atos, que podem envolver a si mesmo e ao outro, dito sociedade. (OGUISSO E ZOBOLI, 2006). A grande discussão encontrada nos livros é a diferença entre ética e moral. Existe realmente diferença entre esses dois termos? Ou são apenas sinônimos? Ex pl or O termo ética origina-se etimologicamente do grego ethos, que significa costumes. O termo moral é proveniente do latim mores, também significa costumes.Ex pl or Alguns autores tentam diferenciar os dois termos, mas na maior parte das vezes chegam a um produto comum e os termos culminam como sinônimos. Segundo Camargo (2014), existe uma tendência de separação dos termos, como referir moral a um estudo de como os costumes devem ser em um determinado lugar ou época. E ética, ao contrário, seria um julgamento da moral que pode distinguir o bem e o mal. O exemplo dado é o de um contador, que ao fazer o balanço de uma empresa, deve zelar pelos interesses da mesma. Sendo papel de avaliação ética julgar se sonegar impostos é justo em um momento de dificuldade da empresa. Neste sentido, a ética contrapõe o sentido de moral. 8 9 Outra forma seria sistematizar a moral como parte teórica do estudo do comportamento humano e ética como a parte prática, que detalha como deve ser o comportamento. Esta forma também é contestada, visto que moral e ética em todos os tempos apresentam situações teóricas e práticas. Existem também correntes que definem moral como o comportamento de todas as pessoas e a ética seria a moral de um grupo organizado. Também é uma diferenciação fraca, pois hoje em dia clama-se por ética a todo momento e por moral em situações bem específicas, como o segredo profissional, por exemplo. Outra corrente apresenta uma proposta, sendo moral um fundamento teológico e ética como fundamento filosófico, baseado exclusivamente na razão, o que também não se fundamenta, pois existem termos como “moral filosófica” e “ética teológica”. Desta forma, pode-se considerar os dois termos como sinônimos, com suas variantes, respeitando-se a origem dos mesmos (CAMARGO, 2014). A Ética, a Virtude e os Vícios Diferenciar o bem e o mal é uma das principais atividades para se começar a exercer a ética, mas neste sentido, devemos conversar um pouco sobre a ética e a sua relação com a virtude. As virtudes asseguram as melhores condutas; dentre essas, podemos citar algumas como virtudes básicas e inerentes ao caráter de cada ser humano, como segue, denominadas de virtudes humanas ou cardinais: A prudência é a razão para discernir aquilo que se deve fazer ou evitar, respeitando o tempo de cada um. Ex. tempo de plantar e o tempo de colher os frutos. Também chamada de virtude mãe, pois dela derivam-se outras virtudes. A justiça, ou melhor, o senso de justiça, é a vontade de respeitar os direitos e os deveres, é o dar aos outros o que é seu por direito, de acordo com a sua natureza, a necessidade, sua base de vida. A fortaleza é a firmeza interior contra tudo aquilo que gera danos a pessoa, com a constância para vencer as dificuldades e os perigos, procurando o bem. A temperança é a regra, a condição de toda virtude; é o meio justo entre o excesso e a falta. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos. Procura proporcionar o equilíbrio. Ex.: uma obra boa é aquela justa, em que não há nada a acrescentar nem a retirar. Assim como existem as virtudes, também existem os vícios. Estes são atitudes contrárias ao bem ou disposições para agir mal. Em termos éticos, os vícios são adquiridos pelo ser humano durante a sua existência. 9 UNIDADE Conceitos Básicos Como exemplos, podemos citar os principais vícios: o orgulho, a avareza, a gula, a luxúria, a inveja, a preguiça, a ira. Também são chamados de sete pecados capitais. Para contrapor os sete pecados capitais, existem as chamadas sete virtudes, sendo elas: humildade, castidade, caridade, paciência, temperança, generosidade e diligência. Como conclusão, segundo Camargo (2014), podemos dizer que as virtudes, bem como os vícios, constroem a pessoa a partir do que ela pretende com o seu ser, não isoladamente, mas com seus semelhantesem sua própria realidade. Para fundamentar a ética, devemos considerar que existem fundamentos objetivos e subjetivos que trabalharemos a seguir. Os fundamentos objetivos da ética se dão na própria natureza do ser humano, que considera este como um ser: · corpóreo (composto por vários órgãos que se relacionam), · volitivo (possui vontades, capacidade de tomar decisões), · inteligente, · emotivo (expressões afetivas), · social (necessidade de conviver em grupos), · espiritual (o homem não se contenta com o finito), · sexual (pertence a um determinado gênero), · cósmico (relação estrutural, um não existe sem o outro), · histórico (tem a capacidade de criar fatos), · estético (busca harmonia e beleza), · axiológico (definição de valores), · teórico (procura explicação das coisas), · prático (usa a criatividade para a criação de coisas), · político (procura o bem comum da cidade), · livre (a única limitação do ser humano é a própria natureza) e · responsável. É importante lembrar que estes aspectos apresentados não ocorrem de maneira isolada, mas relacionam-se entre si, portanto devem ser pensados de forma harmoniosa e de interação. É o todo de uma pessoa. A partir da análise destes aspectos, outros podem surgir, tais como a honestidade, a lealdade e outros. Sempre deve ser conservado o espírito de unidade e equilíbrio. Posições simplistas de ser contra ou a favor aos problemas éticos devem ser evitadas. Discussões existem para a compreensão, para uma melhor tomada de decisões. 10 11 Tratando-se de fundamento subjetivo para a ética, devemos considerar a consciência como o único. Desta forma, na linguagem vulgar significa a capacidade de agir sempre bem, ser honesto e justo; isso gera a formação de dois grupos, aqueles que possuem consciência e aqueles que não. A consciência ética é a voz da própria pessoa para ela mesma; fora da consciência, a pessoa está fora de si. É a lei suprema da conduta humana. É o caminho da procura da verdade objetiva que o ser humano vai desenvolvendo no decorrer de sua existência (CAMARGO, 2014). São meios para a formação da consciência: a procura e o zelo constantes na verdade, a atenção positiva dos acontecimentos, o reconhecimento dos próprios limites, a superação de elementos negativos, o testemunho da vida dos outros, o diálogo sobre si mesmo, o monólogo ou a reflexão consigo mesmo, o uso adequado da natureza, o bom senso, o equilíbrio e o autodomínio e o contato intermitente com a palavra de Deus para aqueles que possuem fé. Importante! É preciso fi car claro que a necessidade de estudar ética é premissa para qualquer pessoa que preze por sua dignidade de ser humano com a fi nalidade de desenvolvimento pessoal. Importante! Falando de ética, condutas, virtudes e vícios, não podemos deixar de tratar dos direitos e deveres. Kant (1936), em seus estudos, denominou como dever moral a consciência ética, que impõe um sentimento de cumprimento da mesma para garantir a vivência harmônica em sociedade e entre os diversos grupos formados, traduzindo assim uma obrigação perante as normas de convivência definidas. E o famoso jeitinho brasileiro? Acesse os vídeos e veja o que os Filósofos Mário Sérgio Cortella e Leandro Karnall falam sobre o assunto: https://youtu.be/9r996PBbbpI e https://youtu.be/5kpqdwyZgfA Ex pl or O dever é uma lógica moral imposta pelo nosso cérebro, que nos estimula a cumprir certos modelos mentais e educacionais adquiridos ao longo de nossa convivência (SÁ, 2015). O dever vai se consolidando com todas as experiências desenvolvidas durante a existência. Ele provém e se consolida no espírito e tem poder de costume, que se manifesta de modo natural nos seres humanos. O cumprimento dos deveres éticos passa a reinar em pessoas consideradas bem formadas, dotadas de boa índole e com mentes sadias; para isso é fundamental um cuidado durante a infância e com os adolescentes, pois estes recebem modelos morais definidos pelo meio em que estão inseridos (SÁ, 2015). 11 UNIDADE Conceitos Básicos Não devemos confundir a ética com as leis definidas, pois devido ao dever ético desenvolvido podemos muitas vezes discordar de algumas leis, por entendê-las contrárias ao que a consciência determina. Estabelecido este conflito, entre a lei e a consciência, essas são cumpridas devido ao caráter obrigatório, mas não por vocação em realizá-las. A seguir passaremos a conceituar e estudar a ética profissional, afinal esse é o caminho que você está trilhando nestes estudos. A Ética Profissional Toda profissão gera para o indivíduo uma expressão social e moral e diante disso, o exercício profissional consegue elevar no homem o seu nível moral. É com a profissão que o ser humano torna-se útil para o meio social onde ele vive. Ex pl or Contudo, todos os dias nos deparamos com notícias divulgadas na mídia sobre a falta de ética, ou sobre condutas imorais dos nossos representantes. Isso se deve à heterogeneidade de comportamentos e a atitudes individualistas em detrimento do bem comum. A profissão insere na sociedade uma atividade específica, gerando benefícios recíprocos a quem executa e a quem recebe os serviços prestados. Nessas relações, portanto, é necessária a preservação de uma conduta que condiz com princípios éticos específicos para cada profissão. Cada conjunto de profissionais, para evitar desvios de condutas, deve seguir normas específicas para a sua área; esse conjunto de regras é chamado de Código de Ética Profissional. Existe um para cada profissão, pois as características profissionais se diferenciam conforme suas necessidades específicas. Para Sá (2015), não existem limites aos desonestos, traidores e ambiciosos. Esses, se deixados livres, cometem desatinos que geram prejuízos a terceiros. No campo da riqueza, a conduta pode se tornar agressiva e inconveniente; desta forma, os códigos de ética buscam maior abrangência. Desde a Idade Média existe a organização das classes trabalhadoras, inicialmente com os artesãos, que se transformaram em corporações. A união daqueles que realizavam o mesmo trabalho foi uma evolução natural, e com isso, o estabelecimento de regras que se transformaram em leis, consolidando as instituições de classe, tais como os hoje conhecidos conselhos federais. Assim como apresentamos virtudes referentes ao ser humano, a seguir citaremos algumas virtudes básicas e essenciais aos profissionais elencadas por Sá (2015). São elas: 12 13 · zelo; · honestidade; · sigilo; · competência. Ainda existem as virtudes complementares, tais como: · ética na orientação e assistência; · ética do coleguismo; · ética classista; · ética da remuneração; · ética da resposta; · ética da comunicação. Deontologia O termo deontologia vem dar significado à ética profissional, derivado do grego deon significando o obrigatório, o justo, o adequado e logos, significando tratado, ciência. Foi empregado pela primeira vez por Jeremias Bentham, no sentido de ciência que estuda os deveres que se devem cumprir a fim de alcançar o ideal utilitário do maior número possível de indivíduos. Deontologia é, pois, sinônimo de ciência moral ou ética. Divisão da Ciência Deontológica: Ética Geral – estudo que está centrado na natureza do ato moral e do dever moral. Ética Especial – estudo que trata dos meios que permitem atingir o fim da ação moral, que compreende duas subclasses: · Ética Individual, quando se estudam os deveres que concernem à perfeição individual da pessoa, isoladamente considerada, como, por exemplo, o dever da castidade, para o solteiro; · Ética Social, quando se estudam os deveres que concernem à perfeição do agente, não isoladamente, mas enquanto vinculado à promoção do bem comum e cuja conduta se reflete sobre o meio social, como seja, por exemplo, o dever do profissional liberal ou do comerciante. É na segunda subclasse que se enquadra a Deontologia, a qual pode ser definida como: “conjunto de regras e princípiosque regulam determinadas condutas do profissional, condutas de caráter não técnico, exercidas ou vinculadas, de qualquer modo, ao exercício da profissão e atinentes ao grupo profissional. É, na substância, uma espécie de urbanidade do profissional” (COSTA, 2013). 13 UNIDADE Conceitos Básicos Declaração Universal dos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento elaborado com base nos direitos humanos (direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade ou qualquer outro motivo), iniciada logo após a 2ª Guerra Mundial encerrada em 1945 e depois da criação da Organização das Nações Unidas (ONU), devido aos impactos das atrocidades cometidas no período de guerra; apoia-se na trindade de valores e ideias da Revolução Francesa, como a igualdade, fraternidade e liberdade entre os seres humanos. Outros documentos que tratavam sobre os desatinos produzidos durante e nos períodos pós-guerras já haviam sido produzidos na Inglaterra e na França, como, por exemplo: Declaração de Direitos Inglesa (elaborada em 1689, após as Guerras Civis Inglesas, para pregar a democracia) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (redigida em 1789, após a Revolução Francesa, com a finalidade de proclamar a igualdade para todos). Já em 1946, líderes de todas as partes do mundo decidiram complementar a promessa da comunidade internacional de nunca mais permitir atrocidades como as produzidas na guerra. Assim, elaboraram um guia para garantir os direitos de todas as pessoas e em todos os lugares do globo, esse seria o esboço da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada em 1948. A DUDH é composta por 30 artigos que abordam especificamente os direitos essenciais do ser humano, como, por exemplo, o artigo 3º, que diz: “Todo ser humano tem o direito à vida, a liberdade e à segurança pessoal”. Foi elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948, durante a 183ª reunião plenária. A garantia dos direitos humanos universais é feita por lei, na forma de tratados e de leis internacionais. No Brasil foi reconhecida e aprovada na mesma data de sua publicação internacional. Em 2012, entrou para o livro dos recordes, sendo considerada o documento mais traduzido no mundo. Segundo informações constantes no site oficial das Nações Unidas, tem-se atualmente 501 traduções deste documento. Segundo Leandro Karnall (2016), a DUDH é o texto que põe fim ao relativismo, cujo limite é definido por lei; é extremamente importante, visto que foi assinado por quase 200 países e que possuem por condição para entrar na ONU estar de acordo com tudo o que ele afirma. O Brasil é um dos primeiros países a integrar a ONU, portanto concorda com todos os 30 artigos da DUDH. A DUDH estabelece valores universais, é a carta universal do planeta Terra. A partir deste documento, outros foram criados, cuja finalidade principal sempre foi a sua complementação. São eles: 14 15 · Convenção para a prevenção e repressão do crime de genocídio (1948); · Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (1965); · Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres (1979); · Convenção sobre o direito das crianças (1989); · Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiências (2006). Abaixo apresentamos uma versão popular produzida por Frei Betto, para o conhecimento inicial desta declaração. Nossa sugestão é que você acesse o site para ter acesso à DUDH em sua íntegra, em seus 30 artigos. Acesse o link: https://goo.gl/tiq6eo Ex pl or Para ter acesso à Declaração Universal dos Direitos Humanos, acesse: https://goo.gl/RPY6xn Ex pl or Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos. Todos temos direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social. Todos temos direito de resguardar a casa, a família e a honra. Todos temos direito ao trabalho digno e bem remunerado. Todos temos direito ao descanso, ao lazer e às férias. Todos temos direito à saúde e assistência médica e hospitalar. Todos temos direito à instrução, à escola, à arte e à cultura. Todos temos direito ao amparo social na infância e na velhice. Todos temos direito à organização popular, sindical e política. Todos temos direito de eleger e ser eleito às funções de governo. Todos temos direito à informação verdadeira e correta. Todos temos direito de ir e vir, mudar de cidade, de Estado ou país. Todos temos direito de não sofrer nenhum tipo de discriminação. Ninguém pode ser torturado ou linchado. Todos somos iguais perante a lei. Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa. Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove a contrário. Todos temos liberdade de pensar, de nos manifestar, de nos reunir e de crer. Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor. Todos temos o dever de respeitar e proteger os direitos da comunidade. Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos. Após falarmos de Direitos Humanos, cabe agora discutir um pouco o tema Cidadania, pois este é outro aspecto importante para a discussão ética. Depois da DUDH, a cidadania passou a fundamentar-se no sentido de liberdade, de participação da vida coletiva em sociedade, na vida política e na medida de igualdade, pois todos somos iguais perante a Lei. O cidadão deixou de ser apenas de um Estado e passou a ser “cidadão do mundo”. 15 UNIDADE Conceitos Básicos O termo cidadania é derivado de cidadão, proveniente do latim civitas que significa as pessoas que constituíam as cidades. Este termo já sofreu muitas modificações e até hoje é bem discutido. Segundo Pinsky & Pinsky (2010), ser cidadão é ter direito à liberdade, à vida, igualdade perante a lei, enfim, possuir direitos civis. Assim, poder participar dos direcionamentos políticos e sociais de uma cidade, ou seja, votar e ser votado, ter direitos políticos. Cidadania não pode ser considerado um termo estanque, mas que possui muitas vertentes durante todas as mudanças históricas, passando a constituir um conjunto de valores sociais que determinam o conjunto de deveres e direitos de um cidadão. Abusos Cometidos e Reações da Sociedade Quando abordamos a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, falamos que a mesma foi motivada pelas atrocidades ocorridas na 2ª guerra mundial, principalmente relacionadas aos desmandos nazistas. Essa foi a grande reação da sociedade frente aos diversos abusos cometidos durante o período da guerra mundial. No Brasil, os relatos de reações da sociedade se refletem principalmente em relação à ditadura militar; a sociedade civil lutou ferrenhamente por valores democráticos contra os desmandos de repressão e censuras existentes. Figura 1 Fonte: Wikimedia Commons O grande levante da sociedade brasileira foi a manifestação pelas Diretas Já, em 1984, posteriormente seguido pelo movimento pelo impeachment do Presidente Collor (1992) e superado recentemente pela manifestação popular pró impeachment da presidenta Dilma Rousseff (2016). 16 17 Figura 2 Fonte: Imagem divulgação Outro importante marco produzido por movimentos sociais em nosso país foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), inserido no Artigo 5º da Constituição Federal de 1988. A proposta do estatuto partiu de entidades sociais, como o Movimento dos Meninos e Meninas de Ruas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que integraram a comissão nacional sobre o tema. O ECA foi publicado sobre a lei federal nº. 8069/90. Figura 3 Fonte: Wikimedia Commons Em 2006, tivemos no Brasil a promulgação de uma lei que hoje é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contraas mulheres, a chamada Lei Maria da Penha (lei 11.340/2006), motivada pela história da farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica durante 23 anos, em que seu marido tentou assassiná-la por duas vezes, uma com tiro de arma de fogo (tornando-a paraplégica) e outra vez por eletrocussão e afogamento. A farmacêutica tomou coragem e denunciou o marido, que foi punido somente 19 anos depois do ocorrido. 17 UNIDADE Conceitos Básicos Legislação Atual Brasileira e Internacional No campo de legislação internacional, existem acordos específicos, que devem ser ratificados no Brasil para terem a sua validade. A seguir destacamos alguns deles: Convenção OIT 168, de 01 de junho de 1988 - Relativa à promoção do emprego e proteção contra o desemprego. O Brasil ratificou através do Decreto 2.682, de 21 de julho de 1998. Declaração de Jomtien (Tailândia), de 09 de março de 1990 – Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Trata do plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Normas para Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência da ONU nº. 48/96, de 20 de dezembro de 1993 – Regras gerais sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiência, estabelece as medidas de implementação da igualdade de participação em acessibilidade, educação, emprego, renda, seguro social, etc. Convenção da Guatemala, de 28 de maio de 1999 - Eliminação de todas as formas de discriminação contra pessoas portadoras de deficiência e o favorecimento pleno de sua integração à sociedade. Define a discriminação como toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, ou em seus antecedentes, consequências ou percepções, que impeçam ou anulem o reconhecimento ou exercício, por parte das pessoas com deficiência, de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. Convenção ratificada pelo Brasil através do Decreto nº. 3.956, de 08 de outubro de 2001. Carta para o Terceiro Milênio, de 09 de setembro de 1999 - Esta Carta apela aos Países-Membros para que apoiem a promulgação de uma Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência como uma estratégia-chave para o atingimento destes objetivos. Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção de 31 de outubro de 2003 - Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003, ratificada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003 através do Decreto presidencial nº. 5.687, de 18 de janeiro de 2006. Estratégia Global da OMS Para Alimentação e Nutrição “Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde” – de 22 de maio de 2004. No Brasil hoje, a Carta Magna (Constituição de 1988) é o principal código de ética, está perto de completar 30 anos, e é a mais extensa da história do nosso país, no regime democrático. 18 19 Constituições Brasileiras · 1824 – Outorgada (imposta) por D. Pedro I logo após a independência do Brasil; · 1891 – Promulgada com a proclamação da República; · 1934 – Promulgada e durou apenas três anos; · 1937 – Outorgada (imposta) com o golpe de estado do período Vargas; · 1967 – Promulgada nova constituição, em um período extremamente autoritário, o que gerou diversas emendas, inclusive regulamentando os atos institucionais e os atos complementares do governo militar. · 1988 – Promulgada a Constituição, que está atualmente em vigor. Chamada de “constituição cidadã”, garantiu a democracia que todos almejavam até aquele momento. Figura 4 Fonte: Wikimedia Commons Neste período, o Brasil encontrava-se em uma desordem muito grande, visto que saía de um período de extremo autoritarismo para uma democracia que pretendia pôr fim ao racismo, às desigualdades sociais e além de tudo, estabe- lecer novos direitos, como, por exemplo, o estímulo ao trabalho, com os novos direitos trabalhistas. A Constituição de 1988 deu origem ao SUS (Sistema Único de Saúde), quando instituiu, em seu artigo 196, o direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado” e está regulado pela lei nº. 8.080/1990, a qual operacionaliza o atendimento público da saúde no país. 19 UNIDADE Conceitos Básicos Equipes de Saúde, Multidisciplinar e Interdisciplinar A partir da criação do SUS em 1988, fundamentado no princípio da universalidade, da integralidade e da equidade, uma verdadeira reforma ocorreu e diante disso, novos grupos se formaram, entre eles as equipes de saúde, que passaram a ter novas funcionalidades. Por definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde significa o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, como ficou definido por muito tempo. A saúde passou a possuir um valor comunitário e não apenas individualizado, no intuito de melhorar a qualidade de vida da população. Tornou-se um direito fundamental do ser humano, sendo assegurado sem distinção de sexo, raça, religião, condição socioeconômica ou ideologia política. A promoção de saúde visa intervir socialmente para garantir os direitos e estruturas econômicas no sentido de minimizar as desigualdades sociais; para isso foram instituídas as políticas de saúde. Segundo Pessini (2007), com o desenvolvimento de políticas de saúde, cabe conceituar um termo que se integra totalmente a esta, que é a saúde pública (arte e a ciência de promover, proteger e restaurar a saúde dos indivíduos e da coletividade, e obter um ambiente saudável por meio de ações e serviços resultantes de esforços organizados e sistematizados da sociedade). O objetivo principal da saúde pública é o processo de saúde-doença do coletivo, trabalhando principalmente os conceitos de interdisciplinaridade e multiprofissionalidade. Para isso, são necessários múltiplos agentes, cada um dentro da sua área de atuação, mas sempre com vistas ao coletivo. No Brasil hoje, a principal campanha de saúde pública é a campanha contra a Dengue, Febre amarela, Zika e Chikungunya, doenças transmitidas por um único mosquito (Aedes aegypti), mas que produzem diversos problemas para a sociedade. Essa campanha é um verdadeiro exemplo de trabalhos multiprofissionais, pois precisamos dos pesquisadores, dos médicos, dos políticos, da sociedade e inclusive dos profissionais da imprensa para a ajuda em disseminar informações para a conscientização da população. No trabalho realizado por Peduzzi (2001), ressalta-se que não existe uma definição específica para equipes de saúde e que o levantamento bibliográfico realizado demonstrou predominância da abordagem estritamente técnica, em que o trabalho de cada um é apreendido como conjunto de atribuições, tarefas ou atividades. Já Segundo Cid Velloso (2005), as necessidades demandadas de saúde e o desenvolvimento das atividades científicas e tecnológicas tiveram uma importante atuação na produção de estratégias e viabilizaram mecanismos no sentido de efetivar o trabalho em equipe. 20 21 Para o grupo de profissionais que atuam em função da melhoria de qualidade no atendimento de pacientes com um determinado tipo de enfermidade, é dado o nome de equipe multiprofissional, onde cada profissional atua dentro de sua área de conhecimento, mas com a realização de ações comuns. O grande desafio estabelecido para esses grupos é como fazê-los funcionar de modo homogêneo, democrático, agregador e, principalmente, de forma cooperativa. Ainda segundo Cid Velloso (2005), para o trabalho em equipe, três fatores devem ser abordados: capacitação profissional, a interface do trabalho dos profissionais e a autonomia dos profissionais. A capacitação profissional está diretamente relacionada com a formação acadêmica, com a qualidade das instituições de ensino, com os projetos político- pedagógicos dos cursos e com o controle social que deve ser exercido sobre os profissionais. É extremamente importante que os profissionais envolvidos saibam seus limites de atuação e ajudem os demais profissionaisa darem prosseguimento em suas atividades, evitando, principalmente, críticas ao trabalho desses profissionais por simples falta de entrosamento e vontade de aprender com os demais. A interface do trabalho dos profissionais é um tema complexo e difícil de equacionar. O grupo deve saber dimensionar as competências de cada profissional, mesmo que estas sejam comuns ou complementares. O que deve regulamentar e estabelecer rotinas de trabalho é o debate democrático da equipe e o estabelecimento de protocolos de trabalho conjunto, não sendo cabível criar leis para definir verticalmente essa interface. A autonomia dos profissionais é o ponto crucial da polêmica do trabalho em equipe. Cada profissional de saúde deve ter absoluta autonomia de trabalho naquilo que é específico de sua área de competência, não devendo um ser tutorado ou comandado pelo outro. Com o trabalho de equipe, o conjunto dos profissionais deve estabelecer o fluxo e a inter-relação de ações. Quando houver a necessidade de encaminhamento a outro profissional, é muito importante descrever o que já foi realizado e deixar que o outro profissional estabeleça o seu trabalho, sem a necessidade de ser descrito pelo profissional que encaminha o paciente o que deverá ser feito. É muito importante o diálogo entre os envolvidos. Velloso (2005) aposta que seria uma boa estratégia política a proposição de uma Lei com o objetivo de regulamentar o trabalho integrado em Saúde, com discussão que envolvesse entidades da área da Saúde, Conselhos de Saúde (mu- nicipais, estaduais e federal) e sociedade civil, culminando com a aprovação no Congresso Nacional. 21 UNIDADE Conceitos Básicos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Deontologia jurídica - ética das profissões Jurídicas COSTA, E. F. Deontologia jurídica - ética das profissões Jurídicas, 4ª edição. 2013 Vídeos Provocações sobre ética – Leandro Karnal. Palestra SABER FILOSÓFICO. Provocações sobre ética – Leandro Karnal. Palestra. PAPRH 4º Congresso sobre Gestão de Pessoas no Setor Público Paulista. https://youtu.be/-lto47d29JI Filmes O lobo de Wall Street O lobo de Wall Street – 2013 – Filme de Terence Winter, com Leonardo di Caprio, dirigido por Martin Scorsese. Relatos Selvagens Relatos Selvagens – 2014 – Filme de Pedro Almodovar, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015. Que horas que ela volta? Que horas que ela volta? – 2015 – Filme dirigido por Anna Muylaert, com Regina Casé, foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana, National Board of Review. Leitura Ética e cidadania - construindo valores na escola e na sociedade BRASIL. Ética e cidadania - construindo valores na escola e na sociedade. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007 https://goo.gl/JvQfRh 22 23 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 25 jan. 2017. BRASIL. Lei nº. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 08 ago. 2006. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 25 jan. 2017. CAMARGO, M. Fundamentos de ética geral e profissional. 13ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014. COSTA, E. Deontologia jurídica - ética das profissões jurídicas. 4ª ed. Ed. Forense, 2013. [Minha Biblioteca]. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com. br/#/books/978-85-309-5629-5/cfi/6/2>. Acesso em janeiro de 2017. KANT, I. Fundamento da metafísica dos costumes. São Paulo: Editora do Brasil, 1936. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_ kant_metafisica_costumes.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2017. OGUISSO, T.; ZOBOLI, L.C. P. E. (orgs.) Ética e bioética: desafios para a enfermagem e saúde. 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