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GT2 – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO Karen Soares – 2021.1 INTRODUÇÃO Pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões: os quais em conjunto causam sofrimento recorrente e grave a pessoa. Consomem tempo e interferem na rotina, funcionamento ocupacional, atividades sociais e relacionamentos. OBSESSÃO: pensamento, sentimento, ideia ou sensação recorrentes ou intrusivos; evento mental. COMPULSÃO: comportamento consciente, padronizado e recorrente (ex: contar, verificar ou evitar). Um indivíduo com TOC percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são egodistônicas (i.e., comportamentos indesejados). Nem sempre a queixa chega direto ao psiquiatra: EPIDEMIOLOGIA Prevalência na população geral: 2 a 3%. Quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum (depois de fobia, transtornos relacionados ao uso de substâncias e transtorno depressivo maior). Adolescentes: meninos > meninas. Idade média de início: 20 anos. 2/3 das pessoas afetadas apresentam sintomas antes dos 25 anos. Pessoas solteiras costumam ser mais afetadas que pessoas casadas. A maioria das pessoas com esse transtorno tem tanto obsessões quanto compulsões (até 75%). Indivíduos com TOC, especialmente os homens, têm maior índice de celibato. COMORBIDADES Pessoas com TOC têm prevalência de 67% de transtorno depressivo maior e de 25% de fobia social. Outros diagnósticos: transtornos por uso de álcool, TAG, fobia específica, transtorno de pânico, transtornos alimentares e da personalidade. O TOC exibe uma semelhança superficial com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que é associado com uma preocupação obsessiva por detalhes, perfeccionismo e outros traços semelhantes de personalidade. ETIOLOGIA TOC: doença idiopática. FATORES BIOLÓGICOS 1. SISTEMA SEROTONÉRGICO Desregulação de serotonina → sintomas de obsessão e compulsão. 2. SISTEMA NORADRENÉRGICO Há estudos que evidenciam a melhora dos sintomas de TOC com uso de clonidina (fármaco que reduz a quantidade de norepinefrina nas fendas pré-sinápticas). 3. NEUROIMUNOLOGIA Infecção estreptocócica de grupo Abeta-hemolítico pode causar febre reumática → 10 a 30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham (sequela neurológica) e exibem sintomas obsessivo-compulsivo. Estudos recentes mostram infecções de outros agentes. 4. TOMOGRAFIA CEREBRAL Funções alteradas do circuito neural entre o córtex orbitofrontal, o caudado e o tálamo → essas áreas estão envolvidas com a patologia do TOC por conta das rotas corticoestiatais. Na sequência: córtex orbitofrontal, núcleo caudado e tálamo. Caudados bilateralmente menores em pacientes com TOC. Outras áreas possivelmente afetadas: córtex cingulado anterior (CCA), tálamo, amígdala e córtex parietal. Na sequência: CCA e amígdala. 5. GENÉTICA Familiares de pessoas com TOC tem probabilidade 3 a 5 vezes maior de apresentar características de TOC. Outras condições associadas: TAG, transtornos de tique, transtorno dismórfico corporal, hipocondríase, transtornos alimentares e hábito de roer as unhas. Em crianças com TOC, estima-se que 45 a 65% tem caráter hereditário e o TOC durante a adolescência ou vida adulta, a questão hereditária é de 27 a 47%. FATORES COMPORTAMENTAIS OBSESSÕES: ESTÍMULOS CONDICIONADOS. - Estímulo neutro se torna associado com medo ou ansiedade por meio de um processo de condicionamento replicante ao ser associado com eventos que sejam nocivos ou que produzam ansiedade → objetos e pensamentos que antes eram neutros se tornam estímulos condicionados capazes de provocar ansiedade e desconforto. COMPULSÃO: - Quando descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, uma pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de compulsões ou comportamentos ritualísticos, para controlar a ansiedade → as estratégias de evitação se fixam como padrões aprendidos de comportamentos compulsivos. FATORES PSICOSSOCIAIS 1. Fatores de personalidade A maioria das pessoas com TOC não tem sintomas compulsivos pré-morbidos. Somente 15 a 35% dos pacientes com TOC tem traços obsessivos pré-morbidos. 2. Fatores psicodinâmicos Muitos pacientes com TOC podem se recusar a cooperar com tratamentos. Os pacientes podem se sentir motivados a manter a sintomatologia devido a ganhos secundários (ex: mãe fica em casa para cuidar dele – recebe atenção da mãe por conta do TOC). Com frequência, os familiares se esforçam para reduzir a ansiedade do paciente ou controlar suas expressões de raiva. Reconhecimento dos precipitantes que iniciam ou exacerbam os sintomas. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Insight: pode ser bom ou razoável, pobre, ausente/crenças delirantes. Típicas obsessões associadas com TOC incluem pensamentos sobre contaminação (“Minhas mãos estão sujas”) ou dúvidas (“Esqueci de desligar o fogão”) → sensação terrível de ansiedade. Compulsão: rediz a ansiedade associada com a obsessão. Em geral, as pessoas que sofrem de obsessão e compulsão sentem um forte desejo de resistir a elas. Pensamento mágico: minha ação (virar o chinelo) pode causar algo (morte da mãe). EXAME DO ESTADO MENTAL Podem exibir sintomas de transtornos depressivos (50% dos pacientes). Termos psicopatológicos: ecofonia, palilalia (repetir silabas das palavras que você fala), e ecolalia (repetir sílabas que outros falam); coprolalia. PADRÕES DE SINTOMAS CONTAMINAÇÃO Padrão mais comum. Obsessão de contaminação → lavagem ou evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. O objeto temido costuma ser difícil de evitar (ex: fezes, urina, pó ou germes). Pacientes podem chegar a arrancar a pele das mãos se lavando ou não conseguir sair de casa por medo dos germes. Apesar de a ansiedade ser a resposta emocional mais comum ao objeto temido, vergonha e nojo obsessivos também são frequentes. Indivíduos com obsessão por contaminação costumam acreditar que ela se espalha de objeto para objeto ou de pessoa para pessoa com mínimo contato. DÚVIDA PATOLÓGICA Segundo padrão mais comum. Obsessão de dúvida → compulsão por ficar verificado. A obsessão costuma implicar algum perigo de violência (ex: esquecer de desligar o fogão ou trancar uma porta). Por exemplo: a verificação pode envolver múltiplas viagens de volta para casa para verificar o fogão. Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo. PENSAMENTOS INTRUSIVOS Terceiro padrão mais comum. Pensamentos obsessivos intrusivos, mas sem uma compulsão. Pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. Os pacientes obcecados com pensamentos de atos sexuais ou agressivos podem se reportar à polícia ou se confessar a um padre. As ideias suicidas também podem ser obsessivas – avaliação cuidadosa sobre o risco de suicídio. SIMETRIA Quarto padrão mais comum. Necessidade de simetria ou precisão → compulsão de lentidão. Os pacientes costumam levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba. OUTROS PADRÕES Obsessões religiosas ou acúmulo compulsivo: são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva: são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva. DIAGNÓSTICO Requer que o paciente perca mais de 1 hora por dia com sua obsessão. A maioria dos pacientes com TOC tem mais de uma obsessão e compulsão. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Doenças do gânglio da base: coreia de Sydenham e doença de Huntington. Transtorno de Tourette: cerca de 90% das pessoas com Tourette apresentam sintomas compulsivos; o transtorno de Tourette está associado a um padrão de tiques vocaise motores recorrentes. Transtorno obsessivo-compulsivo vs Transtorno da personalidade obsessivo-compulsivo: o último está relacionado a preocupação excessiva com detalhar, perfeccionismo e outros traços de personalidade. Como diferenciar TOC da psicose? - Pacientes com TOC quase sempre podem reconhecer a natureza insensata de seus sintomas. - Doenças psicóticas são, em geral, associadas com diversos atributos que não são característicos de TOC. CURSO E PROGNÓSTICO Mais de 50% dos pacientes com TOC têm início súbito dos sintomas. Esse início costuma ocorrer após um evento estressante (ex: gestação, problema sexual ou morte de parente). O paciente pode esconder os sintomas e demorar de 5 a 10 anos para chegar a atenção psiquiátrica. O curso pode ser flutuante ou constante. Prognóstico é pior quando: pacientes cedem a compulsão, ela teve início na infância, compulsões bizarras, necessidade de hospitalização, transtorno depressivo maior coexistente, crenças delirantes, presença de ideias supervalorizadas e presença de transtorno de personalidade. TRATAMENTO FARMACOTERAPIA Efeitos costumam ser vistos após 4 a 6 semanas de tratamento. Abordagem padrão: iniciar com ISRS ou clomipramina → passar para outras estratégias caso as primeiras não forem efetivas. Devemos associar medicações quando coexistem patologias (TOC e depressão maior); pessoas que preferem tomar medicação por um menor tempo possível. INIBIDORES SELETIVOS DA RECEPTAÇÃO DE SE ROTONINA Fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, citaloptam. Doses mais altas: 80mg/ dia de fluoxetina. Efeitos colaterais: perturbação do sono, náuseas, diarreia, dores de cabeça, ansiedade e inquietação – são transitórios. CLOMIPRAMINA Tricíclica É a mais seletiva na receptação de serotonina vs norepinefrina → a potência de recaptação de serotonina da clomipramina é excedida apenas pela sertralina e pela paroxetina. Sua dosagem deve ser titulada para cima por 2 ou 3 semanas para evitar efeitos gastrintestinais adversos e hipotensão ortostática, e, como ocorre com as outras drogas tricíclicas, causa sedação e efeitos anticolinérgicos significativos, incluindo boca seca e constipação. OUTRAS DROGAS Caso os tratamentos de primeira linha não deem certo → aumentar clomipramina e adicionar valproato, lítio ou carbamazepina. Ainda podem ser utilizadas: venlafaxina, pindolol, IMAO, buspirona, 5-HT, L-triptofano e clonazepma. A adição de um antipsicótico atípico, como a risperidona, ajudou em alguns casos. TERAPIA COMPORTAMENTAL Exposição e prevenção da resposta → dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo. PSICOTERAPIA Psicoterapia orientada por insights. REFERÊNCIAS 1. LIVRO - SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria-: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Artmed Editora, 2016 (Otimização de tempo - gostei da organização das informações e de como o livro é estruturado, isso ajuda no meu aprendizado). 2. ARTIGO - GRANT, Jon E. Obsessive–compulsive disorder. New England Journal of Medicine, v. 371, n. 7, p. 646-653, 2014. (meu maior ganho com essa referência foi a exemplificação de possíveis manifestações clínicas do TOC, o que tornou meu conhecimento mais prático e palpável). 3. LIVRO - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014 (meu maior ganho com esta referência foi poder estar a par do material que guia e é referência para a medicina brasileira na área do TOC). 4. AULA AIS – Prof° Matias – A prescrição de psicofármacos na atenção primária, 2021 (meu maior ganho com esta referência foi relacionado a ampla e completa abordagem acerca de indicações, mecanismo de ação, características, efeitos colaterais e contraindicações dos psicofármacos, auxiliando na resolução de GT).
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