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Ana Victoria Soares 2021.2 Ana Victoria Soares 2021.2 ABORDAGEM CLÍNICA DA DENGUE Características gerais: Epidemiologia: A dengue é a doença transmitida por artrópodes mais comum e importante do mundo. A incidência da dengue aumentou dramaticamente nas últimas décadas, com estimativas de 40 a 50%. Estimativa de 390 milhões de casos novos por ano no mundo. São 4 sorotipos de dengue, no atual surto temos participação do DENV-1 e DENV-2 Manifestações: A doença tem um período de incubação médio entre 4 a 10 dias (variação de 3-14 dias) Sintomatologia: Os sintomas duram geralmente de 2 a 7 dias Muitos indivíduos com dengue podem apresentar febre isolada, associada ou não a mialgia que podem se manifestar como uma “dor nas costas”, sem outros sintomas. (dor de cabeça retro orbitaria) e exantema. Fisiopatogenia: A biopsia das lesões de pele em pacientes com dengue não fatal e não complicada revela anormalidade dos pequenos vasos sanguíneos, com aumento de volume endotelial, edema perivascular e infiltração de células mononucleares, isso indica que alguma coisa ta acontecendo com esse vaso, esse vaso ta sofrendo alguma agressão. A anatomia patológica já revela o que vai acontecer porque o mecanismo fisiopatológico na Dengue decorre da lesão endotelial direta pelo vírus (o vírus penetra por receptores na célula endotelial, que exatamente a célula que reveste todos os vasos sanguíneos. Através também da produção de anticorpos que reagem com o endotélio vascular, lesão por produção de TNF-alfa dos macrófagos, produção de quimosinas dos mastócitos, produção de várias citocinas por monócitos, levando a aumento de permeabilidade vascular e endotelial, com consequentemente extravasamento de líquido intravascular (soro, plasma) para o terceiro espaço. Ou seja, é uma lesão direta do endotélio vascular pelo vírus da dengue por anticorpos, imunocomplexos e através das quimosinas e citocinas se tem o aumento da permeabilidade celular do endotélio. A lesão inicial da dengue é uma lesão endotelial inicialmente por mecanismo direto, mecanismo de anticorpos e mecanismo de imunocomplexo que vão contribuir para o vazamento do líquido de dentro do vaso para fora do vaso. A medida que o dano vascular progride, maior é o extravasamento, inicialmente de líquido e proteínas que possuem força oncótica, que carregam mais líquido para fora, gerando hipoproteinemia, levando a edemas, se aumenta mais ainda a lesão, causa a saída de hemácias (levando a petéquias e sangramentos) com redução progressiva do conteúdo intravascular, e finalmente choque e hemorragia. O vírus da dengue pode danificar o endotélio vascular através de múltiplos mecanismos, incluindo fatores vasoativos de monócitos e linfócitos, e de células extravasculares como monócitos e macrófagos teciduais. Vários fatores produzidos por células T, monócitos, macrófagos e mastócitos tem sido propostos para aumentar a permeabilidade vascular, incluindo o fator de necrose tumoral (TNF), IL IL-1b, IL-6, IL-8, Fator de inibição da migração de macrófagos e metaloproteinases DV- Vírus da dengue O vírus da dengue vai ser penetrar pelo endotélio através do receptores. Ao penetrar na célula, o vírus ativa as proteínas não estruturais NS2B-2 e NS2B-3 que são fundamentais na clivagem de proteases, fazendo com que se tenha replicação do vírus da dengue na célula endotelial e ativações que vão pro núcleo, sendo eles o Nf-KB, gerando uma produção de sinais na célula que geram o mecanismo de apoptose das células endoteliais. Ao mesmo tempo, o DV induz a produção de quimosinas que atraem macrófagos pelas células dendríticas que estão nessa região. O DV recruta macrófagos pra também penetrar e se multiplicar dentro deles. Com isso, os macrófagos são ativados e começam a produzir uma série de substancias. Ao mesmo tempo, os macrófagos começam a recrutar linfócitos que começa todo o processo de ativação da resposta inata com produção de TNF. O TNF vai gerar ainda mais lesões endoteliais, que começa a vazar liquido primeiramente, proporcionalmente ao aumento da lesão, vão saindo proteínas, depois células sanguíneas em grande quantidade. O doente não morre de dengue porque ele vai morrer sangrando, ele morre por conta do vazamento de plasma, já que é muito mais fácil sair líquido do que célula. O líquido sai mais rápido. Na medida em que lesiona o endotélio. Em situações epidêmicas (de surtos) um paciente é considerado como suspeito para dengue se apresenta pelo menos um quadro febril inespecífico, sem achados segmentares (tais como dor de garganta, tosse ou dor ao urinar) Crianças menores que 15 anos geralmente apresentam- se como uma síndrome febril não específica, que pode ser acompanhada por exantema O doente com dengue morre de choque Doente com dengue e hipotenso necessita de terapia intensiva imediata Ana Victoria Soares 2021.2 Ana Victoria Soares 2021.2 Se o paciente chega em choque, hipotenso e com suspeita de dengue, ele deve ser imediatamente encaminhado pra terapia intensiva, pegando 2 acessos venosos rapidamente, droga vasoativa. O paciente desse perfil tem o conteúdo intravascular muito pouco, ele ta com o plasma todo no terceiro espaço, tecidos infiltrados, presença de cacifo +. O correto da dengue não é hemorrágica e sim dengue por extravasamento. DENGUE É UMA DOENÇA DE VAZAMENTO: O MÉDICO DEVE SER UM BOM ENCANADOR! Para tratar a dengue é preciso repor líquido, não se tem como parar o dano imediatamente porque ele é difuso, é no corpo inteiro. A droga vasoativa vai fazer o papel do encanador. Diagnóstico clínico da dengue: Pacientes com dengue clássica apresentam calafrios, exantema cutâneo, incluindo rash máculo eritematoso, ou petequeal ou morbiliforme, rubor facial que pode durar de 2 a 3 dias, cefaláia retro orbitária, mal-estar e astenia. Deve-se suspeitar de dengue em indivíduos que apresentam febre alta (39-40 graus) de início súbito, cefaleia retro orbitaria, dores musculares e articulares, náuseas, linfadenopatia satélite e exantema. Dengue = corpo quebrado Prova do laço: Medição indireta da permeabilidade vascular capilar Para fazer o teste da prova do laço deve-se desenhar, no antebraço, um quadrado com uma área de 2,5 x 2,5 cm e depois seguir esses passos: 1. Avaliar a PA da pessoa com esfigmanometro; 2. Insuflar novamente o manguito do esfigmanometro até o valor médio entre a pressão máxima e o valor minima. Feito um cálculo pela fórmula -> PA máx. + PA mín. dividido por 2, ou seja, se o valor de PA for 120x80, devese insulflar o manguito até os 100. 3. Esperar 5 minutos com o manguito insulflado na mesma pressão; 4. Depois de 5 minutos desinsulflar e retirar o manguito 5. Deixar o sangue circular por pelo menos 2 minutos. Coloca-se o esfigmo entre a pressão sistólica e diastólica para propiciar a entrada de sangue mas dificultar o retorno, e com isso aumentar a pressão no capilar. Como dengue tem lesão no capilar, esse capilar acaba abrindo o bico e vaza sangue (que aparece com petéquias) Se a quantidade de petéquias foi igual a 20 ou mais, considera que há um aumento da permeabilidade. (BASTA UM) Sinais de alarme são manifestações da gravidade dos distúrbios vasculares e sistêmicos A. Dor abdominal intensa (referida ou a palpação) e continua – vazamento de liquido na cavidade abdominal. (irritação) B. Vômitos persistentes – abdome agudo. A gravidade da DENGUE é PROPORCIONAL ao grau de VAZAMENTO pelos vasos sanguíneos: Se for pequeno o vazamento, sai soro; Se for maior, saem proteínas, o plasma Se for muito maior, saem células; Se for ainda maior, saem hemácias; Rash morbiliforme é a semelhança do sarampo, muita vermelhidão na região da pele Dengue = corpo quebrado Ana Victoria Soares 2021.2 Ana Victoria Soares 2021.2 C. Acumulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derramepericárdico). D. Hipotensão postural e/ou lipotimia. – Quantidade pouca de líquido intravascular E. Hepatomegalia maior do que 2cm abaixo do rebordo costal. – infiltração F. Sangramento de mucosa. – dano maior G. Letargia e/ou irritabilidade. – lesões do processo hemodinâmico H. Aumento progressivo do hematócrito. OBS: NÃO TEM PLAQUETA EM SINAL DE ALARME! Dengue grave: Representa o espectro mais grave de manifestação da doença Choque: ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do extravasamento, geralmente ocorrendo entre os dias 4 ou 5 da doença e frequentemente precedido por sinais de alarme. 1. Acúmulo de líquidos com desconforto respiratório. (infiltra o pulmão) 2. Sangramentos graves. 3. Disfunção orgânica envolvendo o coração, pulmões, rins, fígado e SNC. Choque: O quadro mais importante a ser diagnosticado é o do choque compensado pois nessa fase o doente necessita de apoio hídrico e eletrolítico mas não tem ainda sinais graves do que choque. Choque compensado: o doente tem taquicardia, extremidades frias, pulso fraco e filiforme, redução da pressão de pulso (>20mmHg) que é a diferença entre a PAS e a PAD – mas ainda não tem hipotensão clássica. Esse paciente frequentemente apresenta-se também taquipneico e oligúrico (<400-500mL/dia ou aproximadamente 20mL/hora em pacientes adultos) Não esquecer de medir TEC! Diagnóstico: O indivíduo hemoconcentrado em dengue está vazando líquido. Exames complementares RX tórax para avaliar derrame pleural e aumento área cardíaca (derrame pericárdico). USG abdômen para avaliação de liquido livre na cavidade abdominal e espessamento da parede da vesícula biliar. – quadro de colicistite aguda. Manejo da dengue: Ana Victoria Soares 2021.2 Ana Victoria Soares 2021.2 GRUPO A: Caso suspeito de dengue Não pertence a grupos especiais de atenção Ausência de sinais de alarme. Grupo B: Casos suspeito de dengue Ausência de sinais de alarme Apresenta sangramento espontâneo (petéquias) ou induzido (prova do laço positiva) ou pertence a grupos especiais de atenção ou paciente com comorbidades Grupo C: Caso suspeito de dengue Sinal de alarme No grupo C a diurese e avaliação da função renal são muito importantes!! Grupo D: Caso suspeito de dengue Presença de sinais de choque: taquicardia, PA convergente, enchimento capilar lento (>2seg), extremidades distais frias, pulso filiforme, hipotensão arterial, extravasamento líquido com insuficiência respiratória ou sangramento grave, disfunção grave de órgãos (coração, SNC, entre outros.) HIDRATAÇÃO ORAL: 60mL/kg por dia por 5 a 7 dias. Água, +eletrólitos. Ana Victoria Soares 2021.2 Ana Victoria Soares 2021.2 20ml/Kg em até 20 minutos!!! 60ml/Kg em 60 minutos!! A resolução da dengue se mostra com a resolução das plaquetas. Plaqueta sobe, doença vai melhorando.
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