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Universidade Veiga de Almeida Natália Lima Possebon TEORIAS DA HISTÓRIA Os fatos, as fontes, o tempo e a história Rio de Janeiro 2021 Universidade Veiga de Almeida Natália Lima Possebon Como no decorrer do século XIX e XX foram entendidos os elementos da história e como o entendimento desses elementos contribuíram para ressignificar a escrita da história? - É possível, através de um estudo de caso, perceber e analisar o tratamento que é dado a esses elementos? – Marc Bloch – Arlette Farge Rio de Janeiro 2021 A nova visão dos historiadores dos séculos XIX e XX foi inspirada por ideias como as de progresso e civilização. Negavam o Positivismo, com essa leitura filosófica e ideológica sobre os fatos históricos, muitas vezes eivada de uma verdade superficial, em sua maioria literal e com embasamentos em um contexto subjetivo e casual. No final do século XIX, o Historicismo começou a ganhar força e fontes como: visuais, audiovisuais e orais, passaram a ser consideradas fontes históricas. Assim, tem como fundamento que todo fenômeno social, político e cultural é histórico e só pode ser compreendido dentro da história, levando em consideração o processo histórico. Ainda, que os fatos sociais e os fatos naturais se diferenciam, e, portanto, as ciências sociais e naturais também. Por fim, não só o objeto, mas também o pesquisador, estão inseridos na história. A principal diferença entre o positivismo e o Historicismo está na ideia de que não existe objetividade total, isso significa dizer que não é possível haver verdade objetiva, mas apenas verdades parciais. Essa teoria é denominada Relativismo. Ainda no século XIX, começou o movimento materialista defendido por Marx e Engel. Essa teoria defende a ideia de que os acontecimentos históricos são determinados pelas condições materiais (econômicas) da sociedade. Dentre as ideias do materialismo histórico, relevam-se as questões das forças produtivas e relações de produção. A partir do século XX, uma nova escola ganha destaque: A escola de Annales. A partir dela o conceito de documento histórico passou a ser relativizado, no que tange a ideia de verdade e neutralidade, e enriquecido a partir da incorporação de novas formas de fontes históricas, além da escrita. Analisa o fato histórico por um ângulo mais amplo, desprendendo-se da visão heróis e grandes homens que são titulados responsáveis por transformações na sociedade e passa a buscar por explicações mais coerentes que atenda uma visão mais ampla de sociedade, política, economia, religião e cultura para entender realmente os fatos históricos e ligá-los ao presente. A escola de Annales teve uma segunda geração, que teve como percursor Fernand Braudel. Para essa escola o historiador deveria percorrer caminhos de tempo mais longo a fim de entrar em contato com a estrutura social e econômica da sociedade em questão. O estudo da relação entre o homem e o seu meio, seria de fundamental importância para o entendimento de uma sociedade. Por fim, temos a terceira geração da Escola de Annales, também conhecida como A Nova História. Essa geração criou novos objetos no estudo da história e defende que toda atividade humana é considerada história. Marc Bloch (1886 - 1944) O Capítulo 08 do livro " A Constituição da História como Ciência — De Ranke a Braudel", trata sobre o historiador francês Marc Bloch (1886-1944) e a relevância de sua obra. Bloch é considerado um dos mais importantes historiadores do século XX e, ao lado de Lucien Febvre, fundou a Revista Annales, vanguardista da escola historiográfica com mesmo nome. Filho do Professor de História Antiga Gustave Bloch, o jovem judeu Marc Bloch, teve uma excelente formação acadêmica o que ajudou a tornar-se um grande intelectual. Iniciou seu trabalho como pesquisador na Fundação Thiers, mas teve que interromper suas atividades para combater na Primeira Guerra Mundial. Aliás, o contexto histórico vivido por Bloch influenciou muito seu trabalho. Nascido nas últimas décadas do século XIX e nos primeiros anos do século XX, viveu duas grandes crises, atuando ativamente nas duas Grandes Guerras Mundiais. Após a Primeira Guerra, Bloch começou a desenvolver efetivamente sua carreira acadêmica. Quando ocupava a cadeira de História Econômica na Sorbonne, lançou a Revista Anneles, inspirada na quebra da bolsa de 1929, e alcançou sucesso mundial. Passou por universidades em Paris, Berlim e Leipzig concretizando um intenso trabalho, uma carreira universitária excepcional e uma destacada produção científica. Marc Bloch é o responsável pela renovação do pensamento histórico, publicou vários livros que se tornaram clássicos da historiografia. Além de diversos artigos impactantes. Sua vida curta, porém, única, fez dele uma eterna referência para os Historiadores razão pela qual tanto sua obra, como sua vida, continuam sendo objetos de pesquisa e fontes de referência. A Relevância da Obra de Marc Bloch para a Historiografia: Para Marc Bloch, a história não é o acúmulo de todos os tipos de acontecimentos que sucederam no passado, mas a ciência das sociedades humanas. Logo, na visão desse pensador, o objetivo da história é voltar-se para o homem e para a sociedade por meio da pesquisa. Seu método deixa de lado o caminho tradicional de sequência de fatos com nomes e datas e parte do ponto de uma construção de análises que consideram a complexa relação entre o homem, a sociedade e o tempo. Segundo ele, os métodos de estudo histórico, devem basear-se também na observação histórica e em testemunhos, e não somente em documentos escritos. O conhecimento deve ser pautado em vestígios, ainda que não se tenha contato com o objeto de estudo. A relação entre o homem e o tempo é primordial, porque acreditava que o passado e o presente estão intimamente ligados e não devem ser separados por um breve espaço de tempo. Assim, para Marc Bloch a educação da história, é uma linha, que visa compreender o passado, baseando- se no presente. ‘’uma realidade nunca é compreendida melhor do que por suas causas ‘’ (BLOCH, 1997: 62). Por fim, tinha como técnicas de pesquisa a observação histórica, as testemunhas (conhecimento direto), vestígios (conhecimento indireto); reconhecer os limites da investigação; saber interrogar os textos, reunir os documentos que estima necessários, inventários de arquivos ou bibliotecas, catálogos de museus, repertórios bibliográficos. Arlette Farge (1941 -) Arlette Farge, nasceu em 1941 e é uma pesquisadora com profundo conhecimento dos arquivos, sobretudo daqueles gerenciados pela Biblioteca do Arsenal. Lá, estão custodiados os Arquivos da Bastilha que incluem os processos de prisioneiros, arquivos da Polícia de Paris, documentos privados dos agentes da Bastilha, entre outros. Farge é uma pesquisadora dos comportamentos e identidades das classes populares do século XVIII na França, além de ter grande representatividade no estudo da história da mulher. Em sua obra The Allure of the Archives, aborda com uma visão até mesmo íntima, sobre a vida dos pobres na França pré-revolucionária, particularmente das mulheres, destacando a diferença feminina, marcada pela inferioridade, mas, sobrelevada pelos papéis sociais de esposa e mãe. A contribuição de sua obra para a historiografia: Fazendo uma analogia a técnica utilizada pelo historiador anteriormente debatido, Marc Bloch, assim como ele que interrogava os textos, Arlette Farge utiliza os registros dos arquivos policiais da França no século XVIII, para revelar situações do contexto desse cotidiano social e, no olhar do pesquisador trazer à tona histórias que elucidam fatos, denunciando crimes, costumes, segredos da sociedade da época, trazendo aso um verdadeiro debate social. Para Farge, tais arquivos não são meras fontes a serem citadas, mas o seuvalor vem do que está escrito nas entrelinhas, o que a construção do discurso popular gera para a história, o que contribui para a identidade e o significado para si e para os outros. Para ela, até mesmo aquilo que não está escrito, o silêncio do acusado, ou até mesmo, a ausência do interrogatório, tem muito a dizer sobre contexto histórico e o cotidiano. Arlette Farge, embora seja usuária frequente de arquivos, utiliza-se, no entanto, de uma metodologia na história oral que propõe compreender o sujeito social e seu universo a partir dos seus depoimentos. Essa abordagem interdisciplinar por parte da arquivista, exige que se opere através de um processo intelectual complexo, pelo qual se estabelece um permanente diálogo com os usuários. “depois do prazer físico da descoberta do vestígio vem a dúvida mesclada à impotência de não saber o que fazer dele” (FARGE, O Sabor do Arquivo - p.18). Referências Bibliográficas: • BENTIVOGLIO, Julio & LOPES, Marcos Antônio (orgs.). A constituição da História como ciência: de Ranke a Braudel. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. Disponível na Biblioteca Virtual. • BENTIVOGLIO, Julio & AVELAR, Alexandre de Sá (orgs.). Afirmação da História como ciência no século XX: de Arlette Farge a Robert Mandrou. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. Disponível na Biblioteca Virtual. • Bibliografia: IGGERS, Georg. “Desafios do século XXI a historiografia”. In: Revista história e Historiografia, Ouro Preto, nº 04, março, 2010, p.105-124. • GRESPAN, Jorge. “Hegel e o Historicismo”. In: História Revista, p.55-78. • DOSSE, François. A História em Migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Edusc, 2003. • http://www.marcbloch.fr/bio.html • http://cmb.ehess.fr/document49.html#ftn1 • FARGE, Arlette. O sabor do arquivo. São Paulo: Edusp, 2009. http://www.marcbloch.fr/bio.html http://cmb.ehess.fr/document49.html#ftn1
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