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Thamirys Cavalcanti Gastroenterologia – P6 Colecistite aguda INtrodução · A colecistite aguda constitui um processo patológico inflamatório da vesícula biliar consequente à obstrução aguda do ducto cístico. · É mais frequente no sexo feminino, entretanto o número no sexo masculino aumenta de acordo com o avanço da faixa etária, chegando a 30% em casos acima de 65 anos. · É uma emergência cirúrgica e normalmente querer hospitalização para tratamento. · Associada com significativa morbimortalidade, principalmente em doentes idosos. Etiopatogenia · Causa mais frequente é a litíase, responsável por mais de 90% dos casos. · A colecistite aguda alitiásica (CAA) é uma inflamação da vesícula biliar sem a evidência de cálculos no seu interior. · A CAA pode correr tanto em adultos quanto em crianças, durante a nutrição parenteral prolongada e/ou quadros críticos, como o período pós-operatório de complicações que causem internação prolongada em terapia intensiva. A CAA é atribuída a fatores que podem atuar sinergicamente: Má perfusão tecidual causada por hipovolemia, sepse, estímulo adrenérgico, aterosclerose, aumento da concentração de bilirrubinas na bile acarretado por reabsorção de hematomas, poli transfusão e desidratação. · Estudos mostram que pacientes submetidos à alimentação parenteral que no início do tratamento não apresentavam doença litiásica biliar constaram maior espessamento da bile, espessamento da parede e dilatação da vesícula. A dificuldade de esvaziamento causada pela bile espessa pode ser um fator determinante da infecção biliar por via sistêmica ou portal. · Alterações da perfusão sanguínea também podem contribuir. · A colocação de próteses biliares pode ser fator de colecistite aguda que geralmente é grave, com áreas de necrose, uma vez que é sempre acompanhada de processo infeccioso secundário à contaminação inerente ao procedimento endoscópico. · Na AIDS a Colecistite Aguda também é Alitiásica, e cálculos vesiculares estão presentes em 14 a 29% dos casos. O quadro clínico evolui de modo mais lente e sem gravidade das outras CAA, e normalmente está associado a inflamação da vida biliar. FISIOPATOLOGIA · O mecanismo pelo qual se desencadeia a colecistite aguda é a impactação de cálculo no infundíbulo da vesícula ou no ducto cístico, causando distensão do órgão e fortes contrações (cólica biliar). · O cálculo, comprimindo a mucosa, acarreta edema e ulceração local. · A parede da vesícula produz fosfolipase-A, que age sobre as lecitinas da bile, produzindo lisolecitina (irritante de mucosas) e provavelmente as prostaglandinas, via ácido araquidônico, que desencadeiam o processo inflamatório. A inflamação aumenta o edema da vesícula e acaba comprimindo as circulações venosa e linfática, formando um ciclo vicioso que mantém o processo e com isso as complicações. · Na infecção secundária são encontrados patógenos intestinais aeróbios e anaeróbios. A infecção pode evoluir para empiema da vesícula, necrose em áreas delimitadas ou gangrena enfisematosa (devido a presença de anaeróbios). O processo de inflamação e necrose pode perfurar órgãos que estejam participando do bloqueio, causando fístula interna. E as fístulas vão propiciar a cronificação do quadro. · Síndrome de Mirizzi: A coalescência inflamatória do infundíbulo da vesícula com a via biliar. A sua apresentação mais característica é a icterícia obstrutiva. O processo inflamatório nessa área é o maior responsável por lesões cirúrgicas da via biliar. · Síndrome de Bouveret: Quando a coalescência inflamatória ocorre entre a vesícula e o duodeno, a necrose e fistulização permitem a passagem de grandes cálculos para intestino delgado, podendo causar obstrução intestinal, mais tipicamente na válvula ileocecal. Quadro clínico · O quadro mais frequente consiste de dor epigástrica forte, em cólica irradiada para o hipocôndrio direito ou esquerdo, às vezes até para a escápula, precórdio ou dorso, acompanhada de náuseas e vômitos reflexos. · A dor persiste por mais de 12 horas, com pouca melhora com analgésicos, diferentemente da cólica biliar, que é limitada. · Na evolução, quando a serosa é acometida, a dor localiza-se no hipocôndrio direito e piora com a movimentação e inspiração profunda. · A icterícia é observada em apenas 20% dos pacientes adultos e é mais frequente em crianças. · No sinal de Murphy, a palpação do hipocôndrio é dolorosa e obriga o paciente a interromper o movimento inspiratório quando se comprime. Sendo o sinal de Murphy, sinal patognomônico de colecistite aguda. · A palpação é prejudicada pela contração muscular causada pela irritação peritoneal, e a descompressão brusca dolorosa pode estar presente, assim como sinais de íleo paralítico. · Esse quadro clínico típico está ausente em um terço dos pacientes. · O quadro atípico ocorre nos casos em que a decisão rápida é fundamental: pacientes com reflexos diminuídos (Ex. idosos, diabéticos, imunossuprimidos...), essas pessoas apresentam sinais de sepse ou insuficiência orgânica. EXAMES AUXILIARES · A maior parte dos pacientes não tem histórico anterior, em torno de 60% dos casos a colecistite aguda é a primeira manifestação da presença de cálculos. · Em quadros atípicos ocorrem nos casos mais graves em que não pode haver demora para estabelecer uma conduta. · Análise criteriosa dos dados para estabelecer ou afastar a colecistite aguda com responsável pelo quadro abdominal agudo, pois o quadro clínico da colecistite aguda pode se confundir com outras causas de abdome agudo e até com a cólica biliar. · Os exames laboratoriais contribuem indiretamente porque são pouco específicos. · Foi estabelecido um consenso para orientar condutas, a partir disso são suficientes para o diagnóstico clínico: - Um dos achados de exame abdominal: Sinal de Murphy ou dor ou plastrão no hipocôndrio direito. - Um sinal sistêmico de inflamação (febre ou leucocitose ou PCR elevada) - Confirmado por um exame de imagem · Radiografia simples: Pode afastar outras causas de abdome agudo como perfuração de vísceras ocas, trombose mesentérica e obstrução intestinal. · O exame indicado especificamente no diagnóstico é a ultrassonografia. Ele pode mostrar a presença de cálculo impactado no colo da vesícula ou no ducto cístico. Corroborado por espessamento ou separação das camadas da parede vesicular ou lama biliar. · Existe também o sinal de Murphy sonográfico, representado pela dor determinada compressão do transdutor exatamente no local onde a vesícula é visualizada. Esse sinal somado a presença de cálculos, tem 90% de positividade diagnóstica. · A tomografia computadorizada do abdome e a ressonância nuclear magnética, mesmo não sendo a primeira indicação, contribuem para o diagnóstico pois demonstram a vesícula dilatada, espessamento difuso e focos de atenuação na parede vesicular. E ambas possuem resultados equivalentes. · Quando é necessário excluir colecistite aguda como causa do abdome agudo, é utilizada a colecintigrafia. Onde são empregados derivados do ácido iminodiacético com marcadores TC-99, e o DISIDA é o mais utilizado. tratamento · Inicialmente havia controvérsia no tratamento mais adequado, se seria a colecistectomia de urgência ou tratamento com antibiótico, com a ideia de controlar a inflamação e operar eletivamente no período de três meses, onde teoricamente existiriam melhores condições clínicas e técnicas. · Atualmente a conduta recomendada passou a ser a Colecistectomia na fase aguda. · Antibióticos com espectro para Gram-negativos devem ser iniciados durante o preparo para a operação e, dependendo da cirurgia, poderão ser suspensos após a operação ou mantidos e adequados. · A mortalidade pós-operatória no tratamento é pouco frequente. · O sucesso do tratamento depende da rapidez no diagnóstico e de cuidados pré-operatório e da indicação precoce de cirurgia. Referência: Tratado de Gastroenterologia
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